Forças russas controlam grande parte de escola em Beslan
da France Presse, em Beslan
da Folha Online
As forças especiais russas controlam quase toda a escola na cidade de Beslan, na Ossétia do Norte, onde um grupo armado manteve como reféns centenas de pessoas desde a quarta-feira (1), anunciou o comitê de crise citado pela agência de notícias Interfax.
As forças especiais tiveram de entrar em ação no momento em que um primeiro grupo de cerca de 40 mulheres e crianças conseguiu fugir e alguns terroristas começaram a disparar contra eles, explicou o comitê.
Imagens da televisão mostraram mulheres e crianças, algumas feridas, que eram levadas em ambulâncias, enquanto os helicópteros das forças russas sobrevoavam a escola. Habitantes de Beslan teriam abrigado alguns dos reféns que fugiam.
Alguns membros do comando também conseguiram escapar, disparando contra a multidão, e outros se refugiaram em uma casa particular, próxima da escola, enquanto o tiroteio continuava.
A agência de notícias Interfax afirma, citando um oficial do comitê de crise, que duas das mulheres que mantinham os reféns dentro da escola também conseguiram fugir. Elas vestiam roupas brancas.
Houve tiroteio e explosões. Segundo a Interfax, parte do teto da escola desabou. Informações não confirmadas dão conta que cinco terroristas teriam morrido no confronto. Segundo Lev Dzugayev, assessor do presidente Vladimir Putin, mais de 200 pessoas ficaram feridas.
Número de reféns
A imprensa de Moscou revela nesta sexta-feira que vários reféns libertados informaram que havia pelo menos mil pessoas dentro da escola ocupada em Beslan.
"São 1.020 reféns" na escola, informa "A Gazeta", citando uma mulher libertada. "A televisão fala em 350 reféns, mas não está certo. Há pelo menos 1.500 pessoas na escola", revela uma professora libertada com sua filha ao diário "Zvestia".
A disparidade sobre o número de reféns começou na própria quarta-feira. As agências de notícias informaram que havia cerca de 400 pessoas dentro da escola. Pouco depois, informaram que os reféns eram entre 120 e 150. Ontem, o serviço secreto russo (FSB) elevou novamente o número afirmando haver cerca de 350 pessoas sendo mantidas como reféns. Até o momento, o número continua incerto.
Vladimir Putin
Em suas primeiras declarações desde a invasão da escola na quarta-feira (1), logo após o final da cerimônia de volta às aulas, Putin afirmou ontem: "Nossa principal tarefa é, claro, salvar a vida e a saúde daqueles que se tornaram reféns".
"Entendemos que estes atos não são apenas contra pessoas em particular, mas contra a Rússia como um todo (...) O que está acontecendo na Ossétia do Norte é horrível", afirmou.
As declarações de Putin pareciam uma tentativa de evitar repetir uma tragédia como a de outubro de 2002, quando 129 reféns morreram em um teatro em Moscou, também tomado por terroristas tchetchenos. Ele adiou uma viagem à Turquia para acompanhar as negociações.
Ameaças e exigências
Logo após a captura dos reféns, o grupo armado ameaçou matar 50 crianças para cada combatente morto e 20 para cada combatente ferido. O Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia disse que o grupo era formado por 17 pessoas (homens e mulheres) e que algumas delas estariam usando cintos com explosivos.
O grupo exigia, além da libertação de presos envolvidos em atividades terroristas na Inguchétia, que as tropas russas fossem retiradas da Tchetchênia e o fim das ações militares nesta república, segundo informou Aslanbek Aslakhanov, assessor do presidente Putin, citado pela Interfax.
De acordo com o jornal "The New York Times", um correspondente chegou a falar com os ocupantes da escola por telefone, e disse que o homem que se apresentou como porta-voz deles falava russo com sotaque tchetcheno.
Aslakhanov também confirmou que os terroristas queriam negociações com os presidentes da Inguchétia e da Ossétia do Norte e com o pediatra Leonid Roshal.
Terror na Rússia
Esta é a terceira ação terrorista ocorrida na rússia em pouco menos que duas semanas. Na terça-feira (31), dez pessoas morreram e 51 ficaram feridas em um ataque perto de uma estação de metrô no centro de Moscou.
O grupo islâmico Brigadas Islambouli [supostamente ligado à Al Qaeda] assumiu a responsabilidade pelo atentado, segundo um comunicado divulgado em um site na internet. A explosão ocorreu uma semana após dois aviões caírem no sul de Moscou, matando todas as 89 pessoas que estavam a bordo, o que foi classificado como "ato terrorista".
As autoridades russas disseram ter achado o mesmo explosivo nos escombros dos aviões e duas mulheres tchetchenas foram consideradas suspeitas. O mesmo grupo, Brigadas Islambouli, reivindicou o "seqüestro" dos aviões.
Fonte: Folha de São Paulo (03/09/2004 - 08h18)