Operação Nó Górdio (Moçambique - 1970)

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PereiraMarques

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Operação Nó Górdio (Moçambique - 1970)
« em: Novembro 22, 2005, 01:42:12 pm »
Os nossos "historiadores" de serviço, não arranjam pormenores sobre a operação "Nó Gordio" realizada em Moçambique em 1970, sobre orientação do Kaulza de Arriaga? Foi uma batalha importante até pela quantidade de meios e tropas envolvidas...

Cumprimentos
B. Pereira Marques
 

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Yosy

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(sem assunto)
« Responder #1 em: Novembro 22, 2005, 07:59:41 pm »
Epá se eu tivesse um scanner passava para aqui o artigo que está no Guerra Colonial - o melhor livro alguma vez feito sobre a dita cuja. Saiu em fascículos no DN à 10 anos +/- mas acho que foi reeditado. A não perder para qualquer historiador militar que se preze.

Pelo que sei a Nó Górdio foi (mais) uma estupidez de Kaulza de Arriaga - usar operações convencionais em guerra de guerrilha já tinha sido provado que simplesmente não funciona. Além disso a operação era uma cópia a papel químico de outras feitas pelos americanos no Vietname e que tinham falhado.
 

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(sem assunto)
« Responder #2 em: Novembro 22, 2005, 09:07:55 pm »
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     O General, aliás Marechal certamente por serviços relevantes e excepcionais prestados à Pátria, Francisco Costa Gomes, no seu livro " Sobre Portugal", manifesta, com evidente má fé, a opinião de que a operação " Nó - Górdio" , realizada na primeira fase do meu Comando-Chefe em Moçambique, foi, além de onerosa ( imagina cento e tal mortos e inúmeros feridos ), inconveniente para as Forças Armadas Portuguesas, por ter transferido para o inimigo a inciativa operacional e o ascendente nas operações. E manifesta, com igual má fé, a opinião de que as outras operações que se seguiram, como a operação " Fronteira", foram também caras, inúteis ou mesmo prejudiciais.

     Porém, a Verdade, conhecida e inequivocamente reconhecida por quantos, isentos, estão de facto dentro do assunto, é bem diversa .

     Na realidade, quando assumi o Comando-Chefe das Forças Armadas em Moçambique, em fins de Março de 1970, a situação em Cabo Delgado, e apenas em Cabo Delgado, tinha acentuada gravidade. O inimigo mostrava-se em plena força, bem enraízado no terreno, considerando as suas "bases" inexpugnáveis, com grande domínio sobre as comunicações terrestres. Acabava de lançar a sua grande ofensiva – a operação "Estrada" – que tinha por objectivos o isolamento das nossas unidades, através do lançamento maciço de minas, e uma profunda progressão para Sul. Visava, seguidamente, formar ou consolidar um " exército de libertação " com base na etnia Maconde, e, com ele, atingir o coração de Moçambique, separando a Província em três partes – Tete, o Norte e o Sul. De início, não poucas das nossas unidades foram efectivamente isoladas e a Frelimo progrediu em verdade, mas muito limitadamente, para Sul, bordejando os aldeamentos do rio Messalo.

     Em consequência, desde logo tive de determinar disposições e acções urgentes e de mandar preparar um plano de fundo que neutralizasse e destruísse as intenções do inimigo e trouxesse a iniciativa para o lado português.

     Assim, depressa foi executada uma grande operação de reabastecimento aéreo das unidades isoladas e foi reforçada a faixa de aldeamentos do rio Messalo. Seguidamente ,foi realizada uma também grande operação de levantamento de minas e foi lançada a primeira operação heli-móvel ao longo do rio Rovuma da qual resultou a destruição e ocupação das bases fronteiriças da Frelimo. Outras operações de menor vulto, mas de acentuado interesse, tiveram ainda lugar.

     Mais tarde, na sequência do plano de fundo acima referido, lançou-se a maior operação (na operação foram empenhados cerca de 8000 homens) que talvez tenha tido lugar no Ultramar Português – a operação "Nó-Górdio". A operação, na qual se utilizaram novas tácticas com fundamento, por um lado, em tropas mecanizadas de engenharia e em tropas especiais de assalto e, por outro, no heli-assalto, foi um sucesso. Destruíram-se e ocuparam-se todas as bases significativas do inimigo e este foi completamente desarticulado e posto em fuga. As suas baixas, se bem que inflingidas no menor número possível, foram muito volumosas. Não mais alguém pensou no "exército Maconde" nem na sua progressão para Sul. Restabeleceu-se o domínio português sobre as comunicações terrestres e as nossas forças passaram a ter inteira liberdade de acção e plena iniciativa. Na exploração do sucesso, levada a efeito sobretudo por forças aeromóveis, o inimigo restante em Cabo Delgado quase desapareceu, refugiando-se na Tanzânia. Por outro lado, a operação foi extremamente rendosa pois aqueles, diria espetaculares , resultados custaram às nossas tropas, não os cento e tal mortos e inúmeros feridos imaginados por Costa Gomes, mas sim 26 mortos e 27 feridos graves.
   
     O conjunto de todas estas operações, iniciadas com o reabastecimento aéreo e terminadas com a exploração do sucesso da operação "Nó-Górdio", venceu drasticamente a Frelimo em Cabo Delgado (a Frelimo nesta ocasião, foi salva de destruição total pela proximidade imediata do "santuário" da Tanzânia) – o que foi confirmado após o " 25 de Abril", por elementos qualificados desta Frelimo, como consta do livro "País sem Rumo" do General Spínola. E os seus dirigentes em Dar-es-Salaam entraram em estado de choque e de desvario. Começaram, em tentativa de justificação da sua derrota, por afirmar ser eu, Kaúlza de Arriaga, o segundo melhor perito do Mundo em guerra subversiva, logo a seguir a Giap – célebre chefe militar nas guerras da Indochina e do Vietnam. Depois puseram-me a cabeça a prémio, considerando que, enquanto eu vivesse, a Frelimo não tinha qualquer "chance", facto confirmado, já depois do que se chama a independência de Moçambique, também por elementos qualificados da Frelimo, na presença de oficiais portugueses. Finalmente, levaram todo o seu problema à Organização da Unidade Africana.

     E foi nesta Organização, distante dos acontecimentos, mais calma, mas menos realista, que, em face da situação em Cabo Delgado e do início da construção da barragem de Cabora Bassa, se decidiu uma mudança de manobra da Frelimo no sentido de transferir o esforço principal, até aí feito, com base na Tanzânia, directamente em Cabo Delgado, para, igualmente com base na Tanzânia, mas agora através da Zâmbia, o fazer, como última hipótese de sucesso, em Tete ou mais precisamente sobre aquela barragem e acessos, tentando impedir a sua construção. A manobra, dadas as grandes distâncias entre as bases tanzanianas da Frelimo, através da Zâmbia e parte de Tete, até aos objectivos, teria só por si forçosamente de esgotar a já enfraquecida Frelimo, o que realmente estava sucedendo (a Frelimo foi agora salva pela 2ª vez da destruição pelo "25 de Abril"). Esta situação foi, também, confirmada depois do "25 de Abril", igualmente por elementos qualificados da Frelimo, como é referido no mesmo livro "País sem Rumo".

 

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Johnnie

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« Responder #3 em: Novembro 22, 2005, 09:08:50 pm »
No campo puramente militar pode não ter adiantado muito, mas deve ter causado algum impacto psicológico quer junto da população, quer junto do inimigo e mesmo junta da NT.
«When everything is coming your way... You are in the wrong lane!!!!"
 

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brunopinto90

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Re: Operação Nó Górdio (Moçambique - 1970)
« Responder #4 em: Fevereiro 06, 2012, 04:05:05 pm »

Um documentário sobre esta operação.

Isto tem mias 6 partes ou mais, é só procurar no youtube.