Botafogo de Futebol e Regatas

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Paisano

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Botafogo de Futebol e Regatas
« em: Agosto 09, 2004, 01:01:20 am »
Olá pessoal,

Quero pedir desculpas a todos os não botafoguenses deste Fórum, mas o meu Fogão comemora 100 anos no próximo dia 12, e postar aqui o texto abaixo foi a maneira que eu encontrei para homenageá-lo.

Tudo começou com Salomé

Roberto Porto

O que teria a ver a legendária e sensual Salomé com o Botafogo? Aparentemente nada. Mas recentes e aprofundados estudos perpetrados por alvinegros apaixonados reviraram Livros Sagrados e de História Geral e descobriram que sinais, obviamente premonitórios, da chegada do glorioso alvinegro da estrela solitária à face da Terra foram sentidos em tempos bíblicos e pós-bíblicos. O Botafogo seria, assim, um predestinado a conquistar a paixão de pelo menos 12 milhões de brasileiros.

Herodes Antipas, tetrarca (um dos quatro reis) da Galiléia, viajou a Roma por volta de 27 DC e lá, de maneira sórdida e insidiosa, seqüestrou Herodíades, mulher de seu irmão Herodes Felipe. Diga-se de passagem que Herodes Felipe também não era lá flor que se cheirasse, porque a bela Herodíades vinha a ser sua sobrinha. O fato é, porém, que quando Herodes Antipas retornou à Galiléia, levando a nova mulher e a enteada Salomé a tiracolo, rolou um grande barraco na província, com o povo escandalizado com o gesto. João Batista, que batizou Jesus Cristo nas águas do Rio Jordão, foi o primeiro a botar a boca no trombone.

O resultado foi péssimo para Herodes Antipas. O tetrarca mal podia se locomover pelas ruas, em companhia de Herodíades e Salomé, sem que o povo o vaiasse estrepitosamente. João Batista chefiava a oposição e não lhe dava trégua, alegando, não sem razão, que Herodes aviltara as leis de Moisés.

Resultado: sem alternativa, disposto a terminar com a grita geral, Herodes Antipas apelou para a velha solução e encarcerou João Batista. Mas a situação iria piorar. No aniversário de Herodes Antipas, Salomé deu um show sensual de dança, deixando os convivas com água na boca. E Herodes Antipas — que também já deveria estar de olho na enteada — disse à jovem que, tão espetacular havia sido a sua exibição que ela poderia pedir o que quisesse como prêmio. A loura Salomé, cabecinha oca, pouquíssimo intelectualizada, decidiu perguntar à mãe o que deveria ganhar. Cheia de ódio, Herodíades foi vingativa:

— Peça a cabeça de João Batista numa bandeja de prata...

Quinze séculos depois, ainda chocados com a macabra vingança, os portugueses, católicos por excelência, lançaram ao mar o poderosíssimo barco de guerra São João Batista. Na linguagem do gentio do cais lisboeta, o galeão ficou conhecido como O Botafogo. Originalmente, botafogo era o apelido dado ao artilheiro, que, de acordo com a história e a definição de Aurélio Buarque de Hollanda, ateava fogo às peças dos canhões das fortalezas terrestres e dos barcos de combate das marinhas de guerra. Mas isso estava prestes a mudar.

E assim São João Batista virou Botafogo

Portugal, uma das mais vitoriosas nações desbravadoras dos mares nunca dantes navegados, de acordo com o célebre poema de Luiz de Camões, passou a contar, então, no reinado de Dom João III, com o referido e impressionante São João Batista, dotado de nada menos do que 200 peças de artilharia. Tão poderoso e destruidor era o São João Batista, pois parecia deitar fogo pelas ventas, que os próprios nobres lusitanos passaram a chamá-lo de Botafogo. Portugal chegou a emprestá-lo à Espanha, a fim de reforçar a esquadra espanhola que combatia o pirata otomano Barba Roxa, em 1535.

Barba Roxa era mau e tinha nascido na ilha grega de Lesbos, onde o homossexualismo feminino era lugar-comum.

De nome de barco de guerra, Botafogo virou sobrenome de família. E ainda no século do descobrimento, João Pereira de Souza Botafogo veio dar com os costados no Brasil, como lugar-tenente do governador-geral Antônio Salema, encarregado da defesa do Rio de Janeiro. Tão bem se houve no cargo, numa cidade sempre cobiçada pelos franceses, que João Pereira de Souza Botafogo ganhou do rei uma extensa sesmaria na Enseada de Francisco Velho — mais tarde, Praia de Botafogo.

O local, porém, permaneceria inabitado por mais de 250 anos. A rigor, a conquista da sesmaria só teria início com a chegada da família real ao Brasil, no início do século XIX. Carlota Joaquina, mulher de Dom João VI, foi, com certeza, uma das primeiras moradoras do bairro.

Dona Chiquitota manda mudar o nome do Eletro

Na tarde de 12 de agosto de 1904, uma sexta-feira, Flávio da Silva Ramos e Emanoel de Almeida Sodré, livres das aulas no Colégio Alfredo Gomes, reuniram amigos e adeptos do novo esporte da bola e decidiram fundar o a princípio Eletro Club. Francisca Teixeira de Oliveira, conhecida como dona Chiquitota, avó de Flávio Ramos, detestou o nome escolhido a esmo, em razão de um talão de recibos de um extinto grêmio de pedestrianismo, e mudou o nome para Botafogo, a 18 de setembro. Os garotos aprovaram e o novo clube entrou para a história. Estava mais do que consagrado o histórico nome Botafogo.

Naquele já tão distante 12 de agosto, uma coincidência do destino teria lugar. O matutino "Correio da Manhã", numa pequena nota de pé de página, publicaria a seguinte notícia: "Ontem foi dado um aviso à Estação de Bombeiros da Rua Humaitá de que lavrava pavoroso incêndio na Rua General Severiano. Comparecendo ao local, os briosos soldados do fogo verificaram tratar-se de um rebate falso."

Hoje, cem anos depois, percebe-se que a notícia não era tão falsa assim. Certamente, como nos tempos bíblicos de São João Batista, tratava-se de uma premonição do que aconteceria anos depois. O clube que tornaria a rua tão famosa seria realmente o incendiário Botafogo. E o general Severiano da Fonseca — irmão do marechal Deodoro, o proclamador da República — também inscreveria, embora indiretamente, seu nome na história do futebol brasileiro e mundial. Afinal, o Botafogo foi apontado pela Fifa como um dos clubes do século XX.

Fonte: Jornal dos Sports
« Última modificação: Janeiro 07, 2010, 01:21:48 am por Paisano »
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« Responder #1 em: Agosto 09, 2004, 11:32:38 am »
Não conhecia essa do "S. João Baptista" e do Botafogo!
Obrigado Paisano!  :G-Ok:
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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JLRC

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« Responder #2 em: Agosto 09, 2004, 01:02:44 pm »
Parabéns ao Grande Botafogo.

O nosso Glorioso Benfica também fez este ano 100 anos.

Um abraço a todos os adeptos do Botafogo
 

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Paisano

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« Responder #3 em: Agosto 09, 2004, 03:41:46 pm »
A lenda de Biriba

Roberto Porto

— Baduca, meu filho, venha cá...

— Pronto, seu Carlito... O que é que o senhor manda?

— Olha, Baduca: infelizmente você não vai poder embarcar...

— Por que, seu Carlito? Fiz alguma coisa de que o senhor não gostou?

— Não, Baduca. Até que você tem se comportado muito bem...

— Então, por que não posso viajar com o time?

— Lamento, Baduca. Lamento muito... Mas o Biriba vai a São Paulo no seu lugar...

— Mas, seu Carlito!!! O Biriba é um cachorro!!!

— É, meu filho, sei que o Biriba é um cachorro. Mas ele nos ajudou muito a conquistar o campeonato... Fica para outra vez, Baduca...

O diálogo, inusitado mas verdadeiro, ocorreu no saguão do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, mais precisamente no dia 16 de janeiro de 1949. Dele participaram Carlos Martins da Rocha, o Carlito Rocha (1894-1981), então presidente do Botafogo de Futebol e Regatas, e o atacante Osvaldo Monteiro da Silva, o Baduca, que não chegou a tomar parte como titular do inesquecível Campeonato Carioca de 1948. Baduca, cabisbaixo, apertado num mal-ajambrado paletó e gravata, pegou um táxi e desapareceu.

A rigor, no entanto, não foi precisamente a mascote Biriba, supostamente um fox terrier, que tomou o lugar de Baduca no avião. Quem seguiu para São Paulo, a bordo do DC-3 da Panair do Brasil, foi o antigo zagueiro alvinegro Macaé, orgulhoso proprietário do cachorro. Protegido pelo todo-poderoso Carlito Rocha, Macaé sentou-se confortavelmente na poltrona reservada a Baduca e, com jeito, acomodou o Biriba no colo. Acostumado aos jogadores, Biriba teve comportamento irrepreensível durante o vôo. E bebeu suco de laranja e comeu biscoitos servidos pelas aeromoças da então mais famosa companhia aérea do país.

Em São Paulo, nas comemorações pelo título de 1948, o Botafogo enfrentou o Santos duas vezes, na Vila Belmiro, além de São Paulo e Corinthians, no Pacaembu.

Nílton Santos e Octávio Sérgio de Moraes, presentes à aventura acima relatada, continuam aí mesmo para confirmar a história. Nílton está com 79 anos e Octávio, um dos artilheiros do Carioca de 1948, fez 81. Infelizmente, o companheiro Geraldo Romualdo da Silva, do JORNAL DOS SPORTS, que acompanhou aquela delegação alvinegra, já não está entre nós.

Das tiras de quadrinhos para os estádios

Há várias explicações para a origem do nome da mais famosa mascote surgida até hoje no futebol brasileiro, no fim dos anos 40 e início da Era do Maracanã. Mas o mais provável é que Macaé, que encontrou o cachorro vagando nas proximidades da Rua Miguel Lemos, em Copacabana, tenha se baseado nas tiras de histórias em quadrinhos. Várias delas faziam sucesso com o público leitor, mas uma das mais lidas era sobre o casal Pafúncio e Marocas, de autoria do americano George McManus (1913-1954). Vez por outra, para azucrinar a boa vida de Pafúncio e justificar fatos injustificáveis em sua casa, surgia um bilhete misterioso: "Biriba esteve aqui."

A partir daí, o carioca passou a atribuir ao indecifrável Biriba de Pafúncio & Marocas tudo o que ocorria de estranho e inesperado na cidade. E foi esse nome que Macaé escolheu para o cachorro que adotou, passando a tratá-lo com o que havia de melhor — evidentemente, de acordo com suas minguadas posses.

Ex-zagueiro do clube e alvinegro de coração, a 25 de julho de 1948 Macaé decidiu assistir ao jogo Botafogo x Madureira, em General Severiano, em companhia do Biriba. O cachorro fez um tremendo sucesso na arquibancada do velho estádio, até porque Macaé chegou cedo, a ponto de testemunhar a goleada de 10 a 2 que os reservas aplicaram no Tricolor Suburbano. A festa ficou completa quando Biriba entrou em campo com a equipe titular, que goleou por 6 a 0. A partir daí, o supersticioso Carlito Rocha tomou-se de amores pelo cachorrinho e passou a exigir a presença dele, com Macaé, em todos os compromissos do clube da Estrela Solitária.

A 26 de setembro daquele ano, o primeiro incidente. A diretoria do Vasco decidiu proibir a presença de Biriba em São Januário. Não foi um ato arbitrário ou reacionário, como muita gente pensou. Os dirigentes cruzmaltinos queriam apenas evitar problemas com a arbitragem, entregue aos ingleses Ford, Barrick, Lowe e Dewine, além dos brasileiros Mário Vianna e Alberto da Gama Malcher. Carlito Rocha, porém, não aceitou a proibição. Entrou em São Januário de paletó e gravata com Biriba nos braços e foi claro diante do porteiro:

"Vocês podem barrar o Biriba, mas o presidente do Botafogo, não..."

A partir daí, Biriba reinou absoluto em todos os estádios do Rio, entrando em campo com a equipe titular e sempre que o jogo estava difícil. Os árbitros ingleses iam à loucura quando a mascote perseguia a bola, ameaçava abocanhar as pernas dos jogadores adversários e retardava o reinício das partidas.

Em 1954, a última aventura do cãozinho sortudo

O último e quase dramático episódio de 1948 ocorreu em dezembro, às vésperas da decisão do título, com o Vasco, que, no início do ano, no Chile, havia se sagrado campeão dos campeões sul-americanos. De repente, em General Severiano, correu a notícia de que torcedores cruzmaltinos, de maneira sorrateira, pretendiam envenenar Biriba. Carlito Rocha (foto) entrou em pânico. E a sua providência não poderia ter sido mais arbitrária: obrigou Macaé a se mudar para uma das torres do palacete de estilo mourisco da Wenceslau Braz, levando o Biriba. Mais: desconfiado ao extremo, segundo relatou o jornalista Sandro Moreyra, Carlito Rocha obrigou Macaé a provar a comida que era servida ao cachorro. Se veneno houvesse, Macaé morreria mas o Biriba estaria são e salvo.

A 12 de dezembro (reparem aí o cabalístico número na história do clube), em General Severiano, o Botafogo derrotou o Vasco por 3 a 1 e conquistou o título carioca — o único obtido no seu estádio. No ano seguinte, Biriba, além de posar ao lado dos jogadores alvinegros no Pacaembu, também esteve várias vezes no Maracanã e em São Januário, freqüentando assim os três maiores estádios brasileiros.

O último registro da presença do Biriba ocorre em 12 de agosto de 1954, numa foto ao lado dos remanescentes fundadores do clube — entre eles Flávio Ramos, Emmanoel Sodré e Augusto Paranhos Fontenele —, durante as comemorações do cinqüentenário do Botafogo. Há 50 anos.

A partir daí, o cachorro nas cores preta e branca não foi mais visto. Mas em todos os estádios do Rio e no Pacaembu deveria haver uma placa:

"Biriba esteve aqui."

Eu não creio em bruxas, mas que elas existem...

Mas fica aí a pergunta: terá sido Carlito Rocha o introdutor da superstição alvinegra? Todos os registros contidos no livro "O Futebol no Botafogo — 1904-1950", de Alceu Mendes de Oliveira Castro, indicam que sim. O calção branco foi adotado em 1948 (8 + 4 = 12) e o Botafogo passou a utilizá-lo seguidamente até 1956, quando Carlito, cismado, já na época de João Saldanha, decidiu retornar aos calções negros (oficiais, segundo o estatuto). E o Botafogo, de calções pretos, foi campeão de 1957 (cinco mais sete, 12).

A partir daí surge no cenário o roupeiro Aloísio, que obriga os jogadores a vestirem camisas de mangas compridas até o bicampeonato carioca sobre o Flamengo, por 3 a 0, no dia 15 de dezembro (olha o mês 12 aí).

O auge da superstição alvinegra acontece a 21 (12 ao contrário) de junho de 1989. Depois de 20 anos, o Botafogo torna a ser campeão, vencendo o Flamengo com um gol aos 12 minutos do segundo tempo. O placar do Maracanã marcava 21º de temperatura e Maurício, camisa 7, aproveitou o cruzamento de Mazolinha, o 14, para pôr a bola na rede rubro-negra. E 7 mais 14 dá 21 — ou seja, 12 ao contrário.

Será preciso mais? Será preciso falar nas meias cinzas, nas cortinas amarradas na sede de General Severiano? No terno marrom que Carlito Rocha usou durante todo o Carioca de 1948? Será ainda necessário dizer que o Botafogo recuperou General Severiano em 1993 (9 + 3 = 12)? Será que é importante dizer que o clube foi campeão da Copa Conmebol ainda em 93? E, por fim, será preciso dizer por que a Fifa incluiu o Botafogo entre os 12 maiores clubes do século 20?

Fonte: Jornal dos Sports
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« Responder #4 em: Agosto 09, 2004, 03:48:10 pm »

Biriba e a equipe do Botafogo, campeã Carioca de 1948.
Fonte: Jornal dos Sports
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Spectral

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« Responder #5 em: Agosto 10, 2004, 02:50:10 pm »
Parabéns pelos 100 anos!  :P

E como vai o Botafogo nos últimos tempos ? Tenho seguido pouco o campeonato brasileiro...
I hope that you accept Nature as It is - absurd.

R.P. Feynman
 

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« Responder #6 em: Agosto 11, 2004, 02:07:59 am »
Olá Spectral,

Infelizmente no ano do centenário o Fogão não vai nada bem. Atualmente está ocupando a 21ª colocação no campeonato brasileiro, ou seja, se o campeonato terminasse hoje ele estaria rebaixado para a 2ª divisão. :sil:  :sil:

A crise financeira é muito grande e não há dinheiro para contratar jogadores de nível de seleção. O presidente Bebeto de Freitas tem tirado água de pedra para tentar pagar os salários do jogadores em dia e por isso não sobra nada para contratações.
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« Responder #7 em: Agosto 11, 2004, 03:31:49 am »
Honra lavada com sangue em 1909

Roberto Porto

Geralmente pela madrugada, viajo mentalmente através dos anos em busca de uma resposta para a insuspeitada dramaticidade do signo de Leão que rege a existência do Botafogo, surgido a 12 de agosto de 1904. A máquina do tempo instalada em meu cérebro me conduz então ao início do século 20, quando uma bala disparada pelo revólver do escritor Euclides da Cunha (1867-1909) foi se alojar no pescoço do zagueiro Dinorah Cândido de Assis (1890-1921), de apenas 20 anos, após um tiroteio do qual ele nem sequer tomou parte. O episódio, de grande repercussão, abalou o Rio de Janeiro.

Mas, afinal de contas, o que tem a ver o Botafogo com o escritor Euclides da Cunha, autor da monumental obra "Os Sertões" A princípio, nada, rigorosamente nada. Mas aqueles que conhecem a literatura e a história brasileiras sabem que houve um mortal e indireto elo entre Euclides da Cunha e Dinorah Cândido de Assis, campeão de 1910 e um dos responsáveis pelo apelido de Glorioso.

A história começou quando Dinorah e seu irmão mais velho, Dilermando, alugaram um quarto numa pensão na Rua Senador Vergueiro, no bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio. Lá, Dilermando Cândido de Assis (1889-1952) conheceu Ana Sólon da Cunha, 33 anos, mulher do escritor. O doutor Euclides viajava muito e Ana, para cuidar dos filhos, não queria ficar sozinha. Apesar da diferença de idade para Dilermando, jovem de apenas 21 anos, Ana apaixonou-se e os dois iniciaram um romance supostamente secreto.

Os comentários chegaram aos ouvidos do escritor. Dilermando e Dinorah decidiram então deixar a pensão para viver numa casa modesta e distante. Mas na manhã chuvosa de domingo 15 de agosto de 1909 — há quase 95 anos — Euclides da Cunha, de volta ao Rio, tomou um trem em direção ao subúrbio de Piedade. Lá, perguntando aqui e ali, soube que Dilermando e Dinorah viviam na casa de número 214 da Estrada Real de Santa Cruz. Euclides da Cunha estava transtornado. Queria lavar com sangue a sua honra.

Por volta das 10 horas da manhã daquele longínquo domingo, Euclides da Cunha bateu à porta da casa e foi recebido por Dinorah. O escritor, então com 43 anos, foi claro em sua intenção:

— Diga a seu irmão que vim para matar ou morrer!

Ao perceber que Euclides invadira sua casa, Dilermando subiu rapidamente ao quarto para vestir a túnica do Exército. No momento em que, já armado, descia as escadas, Euclides da Cunha fez o primeiro disparo, acertando a virilha de Dilermando. Em seguida, atirou novamente no peito do homem que lhe roubara o amor da mulher.

Ao ver o irmão ferido, Dinorah tentou socorrê-lo mas acabou alvejado na nuca pelo terceiro tiro do escritor. Foi quando Dilermando, apesar de ferido, descarregou a arma sobre Euclides da Cunha, que, antes de morrer, ainda acertou um tiro de raspão no rival.

Naquele dia fatídico, o corpo de Euclides da Cunha foi recebido na Central do Brasil por Olavo Bilac, poeta que já se ligara ao Botafogo, além do jornalista Irineu Marinho, pai de Roberto Marinho, então apenas um menino de 5 anos, e do médico datiloscopista Félix Pacheco.

Dilermando escapou, apesar da gravidade dos ferimentos, o mesmo acontecendo com Dinorah, ambos atendidos pelo médico Capanema de Souza. Mas a bala alojada na nuca do jogador alvinegro só pôde ser removida em 1913. E ele, apesar de enfrentar o Fluminense ainda em 1909, e se sagrar campeão carioca de 1910, vestiu a camisa do Botafogo pela última vez a 25 de junho de 1911, não mais como zagueiro e sim como goleiro: já não tinha a agilidade necessária.

As seqüelas provocadas pela bala encravada numa vértebra cervical foram gradativamente prejudicando os movimentos do jovem jogador. E Dinorah, hemiplégico, impedido de jogar futebol e desesperançado, mudou-se para Porto Alegre. E na capital gaúcha cometeu suicídio, atirando-se no Rio Guaíba.

Aos 31 anos, o glorioso campeão de 1910 morreu afogado em 1921. Ana Sólon da Cunha e Dilermando morreram no Rio de Janeiro em 1951. Ela aos 74 anos, ele, aos 63.

Fonte: Jornal dos Sports
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« Responder #8 em: Agosto 13, 2004, 01:18:21 am »
O aniversário de cem anos do Botafogo é o tema do 'Fifa on this day' nesta quinta-feira:

http://www.fifa.com/modules/onthisday_p ... nguageId=S
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« Responder #9 em: Junho 23, 2008, 01:06:14 am »
O clube de capa-e-espada*

Fonte: Jornal dos Sports - 18/08/1956

Citar
O único clube rapaz é o Botafogo. Explica-se: foi o único clube que nasceu rapaz. Os outros, pelo menos, procuraram nascer homens. Já o Botafogo teve a preocupação de ser o oposto do Fluminense, que era o homem-feito. O Fluminense foi um clube que não nasceu assim , de um repente. Com o time formado, com tudo o que seria ele, demorou um ano. Surgiu depois de muito estudado, de muito pensado. O Botafogo, pelo contrário, só precisou de uma apresentação ao Fluminense para virar clube. É um detalhe que não deve ser esquecido por quem tentar compreender o Botafogo. Os rapazes que não pensavam em formar clube algum foram levados ao campo do Fluminense para serem do Fluminense. Diante do Fluminense, eles se sentiram, logo e logo, Botafogo.

Não se tratava só dos bigodes dos jogadores do Fluminense. O Fluminense também tinha bigodes. Havia, entre os rapazes do Colégio Abílio e o Fluminense, uma distância de idade. Essa idade não se contava apenas pelos anos do Fluminense, dois, ou dos jogadores do Fluminense, alguns ainda rapazes. Era a concepção da vida, vamos dizer. Os rapazes do Fluminense tratavam logo de se adaptar, de usar bigodes imaginários. Os rapazes do Botafogo queriam também ser homens, mas continuando rapazes. Daí se sentirem quase imberbes diante dos homens-feitos do Fluminense. A reação deles, forte, e renovada sempre pela rivalidade que foi a primeira do futebol carioca, tornou-os mais rapazes ainda, marcou-os eternamente rapazes.

Pouco importava que um Flávio Ramos, com dezessete anos e o primeiro Presidente do Botafogo, se sentisse rapaz demais para ser presidente do mesmo Botafogo. O homem-feito, procurado e encontrado, que foi ser Presidente do Botafogo, não mudou o que já era imutável. Ser do Botafogo era ser rapaz. A gente vê velhos Botafoguenses, curvados pelos anos, e até estranha um pouco. Serão ainda Botafoguenses? Mexam com o Botafogo e verão. Os velhos endireitam logo a espinha, estufam o peito, reacendem a chama do olhar e estão prontos. E não é difícil mexer com o Botafogo. Não há clube de mais sensibilidade à flor da pele, com mais orgulho de Grande de Espanha que o Botafogo. Eis porque ele está sempre disposto a topar paradas, a se meter em encrencas, a arriscar até a própria vida por uma coisinha.

Nada que o atinja e mesmo que não o atinja, mas que ele julgue que foi para atingi-lo, é coisinha para ele. Ele devia ter nascido em outra época. É a única flor retardatária de capa-e-espada que surgiu depois dos 1900. Trata-se mais de um gascão, de um D'Artagnan, sempre pronto a desembainhar a espada. Ouve muito mais a voz do coração do que a da cabeça. Qual era o clube capaz de largar uma Liga, sem outra Liga para ir, por causa da suspensão de um jogador? Aconteceu isso em 1911, justamente no ano em que o Fluminense preferiu perder um time a deixar de ser o que era, isto é, o Fluminense (NR: O autor se refere à cisão tricolor que resultou no início do futebol no Flamengo). O Botafogo fez o contrário, para continuar mais Botafogo do que nunca.

O que o Fluminense fez, só o Fluminense faria. Mas também só o Botafogo arriscaria tudo por um jogador. Não se tratava da falta que esse jogador poderia fazer ao time, embora ele se chamasse Abelardo De Lamare. E aí temos uma amostra do d'artagnanismo do Botafogo. Um por todos e todos por um. Abelardo De Lamare era um deles, era eles também, era o Botafogo. Eles não se separavam, não se distinguiam, fundindo-se no Botafogo. Assim o bofetão de Abelardo De Lamare em Gabriel de Carvalho (NR: Botafogo 1 x 1 América, em 25/06/1911, no antigo campo de Voluntários da Pátria) não foi o bofetão de um jogador noutro jogador. Foi o bofetão de um clube. Todos assumiram a mesma responsabilidade e se recusaram a aceitar a punição de um só. O Campeão de 1910 abandonou o campeonato e ficou um ano jogando na pedreira.

E aquele gesto, que seria de indisciplina, serviu para mostrar um dos mais belos traços do Botafogo. Saindo da Liga o Botafogo podia perder todos os jogadores. Era o time Campeão de 1910, justamente o que tinha realizado uma revolução no futebol carioca. Até 1910, os jogadores usavam bigodes. Mesmo os jogadores sem bigodes eram como se os tivessem. O Botafogo foi campeão com um time rapaz, com um time que tinha vindo do Botafogo mirim, o Carioca, viveiro do "Glorioso". E aí os outros clubes trataram de fazer o mesmo. O futebol que, para se dar ao respeito, tinha de nascer homem-feito, já podia dar-se ao luxo de ser jovem, de ser rapaz. E esta foi uma obra do Botafogo.

Qual era o clube que não quereria os jogadores do Botafogo? O Botafogo, porém, não perdeu um jogador. Todos ficaram juntos jogando na pedreira, que era um campo do Morro da Viúva. Era o que se chamava de um campeonato de Liga barbante. Os jornais não tomavam conhecimento dele. Assim, os jogos se realizavam, por assim dizer, anonimamente. E lá estavam os craques Campeões de 1910, o Glorioso em carne e osso, jogando com os clubes da pedreira como se esse fossem Fluminenses. Com o mesmo entusiasmo, com a dedicação, com o mesmo Botafoguismo, palavra que significa o mesmo que quixotismo. Eram uns Dom-Quixotes os jogadores do Botafogo.

Ou eram simplesmente rapazes. Continuavam a ser rapazes, levados pelos impulsos generosos da mocidade. Cometiam erros: no erro e no acerto tinham o mesmo élan. Podiam reconhecer o erro, mas não voltavam atrás. Era o tal orgulho de Grande de Espanha, idêntico na riqueza e na pobreza. Como saíra sozinho de uma Liga, mais tarde seria o único a ficar com uma Liga em nome de um amadorismo que não existia. Por isso muita gente não entendeu o Botafogo. É que se queria julgar o Botafogo pelos padrões normais. Como se ele fosse um clube igual aos outros. Então o Botafogo não via que estava arriscando a própria vida?

O que decidiria qualquer outro clube a mudar de rumo tornou ainda mais irredutível o Botafogo. Para ele, era uma questão de honra e ninguém o podia demover. Ficou com trezentos sócios, e cada sócio que saía unia mais o Botafogo. É que ficavam e ficariam os verdadeiros Botafogo, os Botafogos para a vida e para a morte. Aí mesmo é que não acabavam com o Botafogo, com aquela legião de rapazes de todas as idades, alguns que tinham visto nascer o Clube, mas rapazes ainda e mais rapazes do que nunca, porque nem o rolar dos anos havia tirado deles o ardor da mocidade.

Bastaria, porém, conhecer as origens do Botafogo para compreendê-lo, admirá-lo, mesmo discordando dele. Realmente chega a comover um encontro assim com D'Artagnan no século XX. Não é possível, dirão uns, e eis o Botafogo. Ainda é um personagem de romance de capa-e-espada, com noções de honra dos velhos tempos, ofendendo-se por um nada. E se a gente quiser ir mais longe, deixar os Juizes da França e os Grandes de Espanha, pode chegar até as Cruzadas para descobrir Botafoguenses.

Noutros tempos, ele foi popular. Mas a popularidade, então, era o nome que se dava a um clube com centenas de sócios e alguns milhares de torcedores. O grande campo era o do Fluminense e lá cabiam, estourando, 5 mil pessoas. O Botafogo tem mais gente do que a gente pensa. Mas ser Botafogo é escolher um destino e dedicar-se a ele. Não se pode ser Botafogo como se é outro clube. É preciso ser de corpo e alma. E é preciso, antes de ser Botafogo, ser rapaz, mesmo velho. Ser um Dom Quixote, um D'Artagnan, um Grande de Espanha, embora sem sangue nobre e sem riqueza, um Grande de Espanha mesmo decaído e por isso mais Grande de Espanha.

*Mário Filho
As pessoas te pesam? Não as carregue nos ombros. Leva-as no coração. (Dom Hélder Câmara)
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zocuni

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« Responder #10 em: Junho 23, 2008, 04:05:33 am »
Opa,Paisano

O Botafogo é o clube de minha preferência por terras brasileiras.Sem dúvida um clube com muito carisma.Grande Botafogo.O clube da estrela solitária.




Saudações botafoguenses,
zocuni
 

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« Responder #11 em: Junho 23, 2008, 08:17:59 am »
Credo, um tópico sobre os nacionais-madeirenses, que renasce das Cinzas!!!!!!  c34x  :wink:
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
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JLRC

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« Responder #12 em: Junho 23, 2008, 12:52:19 pm »
Ó Pzinho será que o FOGÃO é a gás ou elétrico?
 

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« Responder #13 em: Junho 23, 2008, 01:24:50 pm »
é a pedais :lol:
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Paisano

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« Responder #14 em: Junho 23, 2008, 03:37:42 pm »
Tópico sobre os nacionais-madeirenses é o  :evil:  s1x2x
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