Os heróis esquecidos da nossa história

  • 100 Respostas
  • 60655 Visualizações
*

André

  • Investigador
  • *****
  • 3555
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • +110/-1
(sem assunto)
« Responder #45 em: Abril 27, 2009, 01:20:37 pm »
Pena que todo esse esforço e sofrimento fosse por água abaixo, quando a Etiopia nos virou as costas no Século XVII por questões religiosas ...  :(  :cry:

 

*

TOMSK

  • Investigador
  • *****
  • 1445
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • Enviou: 1 vez(es)
  • +1/-0
(sem assunto)
« Responder #46 em: Abril 27, 2009, 02:12:35 pm »
Citação de: "André"
Pena que todo esse esforço e sofrimento fosse por água abaixo, quando a Etiopia nos virou as costas no Século XVII por questões religiosas ...  :(  :cry:

O que é que se passou ?
 

*

André

  • Investigador
  • *****
  • 3555
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • +110/-1
(sem assunto)
« Responder #47 em: Abril 27, 2009, 02:23:21 pm »
Citação de: "TOMSK"
O que é que se passou ?


Assim muito resumidamente os missionários estavam a fazer um trabalho que os Imperadores não estavam a gostar que era substituir a religião Copta pela Católica no seu pais foi como no Japão e assim cortaram as relações com a nação que os salvou o poleiro ...  :roll:  :roll:

 

*

TOMSK

  • Investigador
  • *****
  • 1445
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • Enviou: 1 vez(es)
  • +1/-0
(sem assunto)
« Responder #48 em: Abril 27, 2009, 02:42:11 pm »
Citação de: "André"
Assim muito resumidamente os missionários estavam a fazer um trabalho que os Imperadores não estavam a gostar que era substituir a religião Copta pela Católica no seu pais foi como no Japão e assim cortaram as relações com a nação que os salvou o poleiro ...  :roll:  :roll:


Nâo sabia, obrigado!
É que para além da ajuda militar, os portugueses deram um grande impulso ao desenvolvimento do país em termos de infra-estruturas.
Sei que ainda restam algumas pontes portuguesas, que estão no entanto em mau-estado de conservação, devido ao alheamento do governo.
Será que as relações permanecem cortadas? País ingrato...

Mas quem quiser saber mais, este livro, como toda a colecção, é dos melhores que por aí se encontram:
 

*

André

  • Investigador
  • *****
  • 3555
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • +110/-1
(sem assunto)
« Responder #49 em: Abril 27, 2009, 03:52:10 pm »
Citação de: "TOMSK"
Citação de: "André"
Assim muito resumidamente os missionários estavam a fazer um trabalho que os Imperadores não estavam a gostar que era substituir a religião Copta pela Católica no seu pais foi como no Japão e assim cortaram as relações com a nação que os salvou o poleiro ...  :roll:  :lol:  :lol: há umas décadas atrás um presidente Etiope até veio a Portugal, inclusive foi por flores no tumulo do Vasco da Gama em forma de agradecimento ...  :wink:

 

*

comanche

  • Investigador
  • *****
  • 1779
  • Recebeu: 1 vez(es)
  • +0/-0
(sem assunto)
« Responder #50 em: Abril 29, 2009, 12:26:58 am »
Para lá do tratado de Tordesilhas, segue-se uma breve descrição dos feitos de Pedro Teixeira.


Acuña, Pedro Teixeira, e o Rio das Amazonas


"Parte de Cametá a expedição de Pedro Teixeira, capitão-mor por Sua Majestade, das entradas e descobrimentos de Quito e do rio das Amazonas. Levava um regimento dado pelo rei. Devia fazer a exploração do rio Amazonas, descobrir uma comunicação fluvial com Quito e escolher o limite mais conveniente entre os domínios das duas coroas e o local para uma povoação na linha divisória". (Barão do Rio Branco)




Cristobal de Acuña

Filho de família nobre e influente nasceu em Burgos, em 1597. Ingressou na Companhia de Jesus, em 1612, e tão logo recebeu as ordens sacras foi enviado para a América. Foi professor de Teologia moral no Colégio de Cuenca (Quito) e mais tarde reitor daquele estabelecimento. Em fevereiro de 1639, juntamente com outro irmão da ordem, o padre André de Artieda, foi designado para acompanhar Pedro Teixeira na sua viagem de volta pelo rio das Amazonas chegando à Belém em dezembro do mesmo ano.






Citar



Pedro Teixeira



As informações sobre a data de nascimento de Pedro Teixeira são conflitantes. O ’Conquistador da Amazônia’, de ascendência nobre, nasceu em São Pedro de Cantanhede, distrito de Coimbra, Portugal em 1587 (ou 1570). Foi Cavaleiro da Ordem de Cristo e Moço Fidalgo da Casa Real e, na localidade de Praia, nos Açores, casou-se com Ana Cunha, filha do Sargento-Maior Diogo de Campos Moreno. Veio para o Brasil em 1607 com 20 (ou 37) anos onde contribuiu de forma notável para manutenção da soberania portuguesa na Terra Brasilis e na expansão da fronteiras amazônicas para além do tratado de Tordesilhas.

 

O currículo de Pedro Teixeira é vasto e impressionante e, por isso, reproduziremos somente algumas de suas operações mais importantes. Como alferes, em fevereiro de 1614, enfrentou os franceses na Batalha de Guaxenduba e, em 1616, juntamente com Francisco Caldeira Castelo Branco, fundou a cidade de Belém do Pará. Ainda em 1616, com duas canoas armadas bateu uma nau holandesa na foz do Xingu e, em maio de 1623, destruiu a Fortificação de Mariocay, onde havia se instalado uma guarnição de holandeses e ingleses, e neste mesmo local construiu a fortificação de Santo Antônio de Gurupá.

 

"Em 23 de maio de 1625, Pedro Teixeira, tendo às suas ordens os Capitães Pedro da Costa Favela e Jerônimo de Albuquerque, ataca e toma o forte holandês de Maniutuba, na foz do Xingu. O comandante inimigo Oudaen consegue fugir, com parte da guarnição, em uma lancha, para a ilha de Tucujus". Após a vitória do dia anterior, Pedro Teixeira desembarca na ilha de Tucujus (Amazonas), onde os ingleses, comandados por Philipp Pursell, tinham três fortins. Os dois primeiros foram tomados quase sem resistência, fugindo os defensores. Adiantando-se então, teve o Capitão Favela de sustentar viva peleja com os ingleses e holandeses, que vinham ao encontro. Os dois chefes inimigos, Pursell e Oudaen, ficaram no campo entre os mortos. O outro fortim rendeu-se a Pedro Teixeira". (PARANHOS)

 

Em Maio de 1625 impede uma nova tentativa de ocupação pelos holandeses das ilhas da Foz do Amazonas; em 21 de Outubro de 1625 expulsa os holandeses da Fortificação de Torrego, na confluência do Maracapucu.

 

Em 21 de junho de 1629, "o Capitão Pedro da Costa Favela parte de Belém do Pará com a missão de tomar ou render o forte de Taurege (Torrego), construído pelos ingleses na margem esquerda do Amazonas. Nada consegue e suspende as hostilidades, retirando-se para a aldeia de Mariocai. O forte de Torrego só foi tomado, no dia 24 de outubro, por Pedro Teixeira". (PARANHOS)

 

24 de outubro de 1629, "o Capitão Pedro Teixeira, que assediava com forças do Pará o forte inglês de Taurege, pelos nossos chamados Torrego, derrota um corpo inimigo, que vinha em socorro dos sitiados. O assédio começara no dia 24 de setembro, em que Teixeira ai desembarcou, vencendo a oposição do inimigo. Duas sortidas foram repelidas, e, vencido o socorro que esperava, rendeu-se no mesmo dia o comandante do forte, James Pursell, com 80 soldados e alguns índios. Arrasada a fortificação, seguiu Teixeira para a aldeia de Mariocai, depois Vila de Gurupá. A guarnição inglesa foi conduzida para o Pará e seu chefe remetido para Lisboa. O forte de Taurege ficava na margem esquerda do Amazonas, junto ao rio hoje chamado Toheré. Cumpre não confundir este James Pursell com Philip Pursell, morto em combate na ilha de Tucujus". (PARANHOS)

 

Em 26 de outubro de 1629, "chegava o Capitão Pedro Teixeira com as tropas, que dois dias antes haviam rendido o forte de Taurege, e com os prisioneiros ingleses, à aldeia de Maiocai (10 anos depois Vila de Gurupá), quando o Capitão North, que trazia reforços para o inimigo em 2 navios maiores, 1 patacho e 2 ou 3 lanchas, tentou um desembarque. Repelido este ataque, foram os ingleses fundar o forte de Camaú, na ponta de Macapá, só conquistado pelos nossos a 9 de julho de 1932". (PARANHOS)

 

A expansão da soberania portuguesa



No século XVII a região amazônica era palco de disputa pelas potências européias, como Castela, França, Holanda e Inglaterra. O governador do Estado do Grão-Pará e Maranhão, Jácome Raimundo de Noronha, em outubro de 1636, no período em que os portugueses se encontravam sob o jugo castelhano (Coroa Ibérica - 1580/1640), idealizou a expansão da soberania portuguesa na bacia amazônica antevendo que o período da restauração se avizinhava. Para concretizar o audacioso empreendimento, nomeou Pedro Teixeira para a chefia da expedição, com o propósito de estender os domínios de Portugal até as terras peruanas fundando povoados que marcassem o limite das terras da Coroa Portuguesa no Amazonas. O motivo para a escolha de Pedro Teixeira, além de suas qualidades militares, era seu profundo conhecimento da região e a política que implementava em relação aos indígenas.



A narrativa



Cristobal de Acuña escreveu, em 1641, a ’Relación del Descubrimiento del rio de las Amazonas’, a obra teve a sua primeira edição publicada em Madrid, pela ’Imprensa del Reyno’. A crônica do padre jesuíta é leve, dividida em pequenos capítulos, com explicações objetivas e interessantes tornando sua leitura amena e agradável.


Pedro Teixeira começa a sua viagem



"Saiu, pois, este bom caudilho dos confins do Pará aos 28 de outubro de mil seiscentos e trinta e sete anos, com quarenta e sete canoas de bom tamanho e nelas setenta soldados portugueses, mil e duzentos índios de voga e guerra, que, juntos ás mulheres e moços de serviço, passariam de duas mil pessoas. Durou a viagem cerca de um ano, tanto pela força das correntes, como também pelo tempo que, em preparar subsistência para tão numeroso exército, era forçoso se gastasse, e principalmente por caminharem sem guias certos, que os pudessem dirigir sem rodeios nem dilações pelos caminhos mais curtos".

 

O capitão-mor chega a Quito



"Com esta confiança e poucos companheiros, continuou Pedro Teixeira em seguimento do seu coronel, que já se encontrava desde alguns dias na cidade de Quito. Aí foram bem recebidos e agasalhados, tanto dos Seculares como dos Eclesiásticos, mostrando todos o prazer que sentiam em ver, em seu tempo, e por vassalos de Sua Majestade não só o descoberto, senão também navegado, desde a sua foz até suas primeiras nascentes, ao afamado rio Amazonas".

 

Resolução do vice-rei do Peru



"Recebida naquela Real Audiência de Quito a notícia. que bastava para dar plano concreto do muito que às duas Majestades Divina e humana importava acudir com brevidade ao bom êxito de negócio tão importante, não se atreveram os senhores Presidente e Ouvidores a resolver coisa alguma, sem primeiro dar conhecimento ao vice-rei do Peru, que era então o Conde de Chinchón.

 

Conde de Chinchón: Jerônimo Fernandez de Cabrera Bobadilla y Mendoza chegou a Lima, como vice-rei do Perú em 14 de janeiro de 1629 e governou até 18 de dezembro de 1639. Seu nome está ligado à cinchona, a quina, usada como remédio contra a malária.

 

Este, depois de consultar sobre o assunto a gente mais ponderada da cidade de Lima, Corte daquele Novo Mundo, resolveu por carta sua ao Presidente de Quito (que era o licenciado D. Alonso Perez de Salazar), datada de dez de novembro de seiscentos e trinta e oito, que o Capitão Pedro Teixeira voltasse logo com toda a sua gente à cidade do Pará, pelo mesmo caminho por onde tinha vindo, dando-se-lhe todo o necessário para a viagem, pela falta que tão bons capitães e soldados fariam sem dúvida naquelas fronteiras, que de ordinário são infestadas pelo inimigo Holandês, mandando juntamente que, se fosse possível, se depusessem as coisas de modo que fossem em sua companhia duas pessoas dignas, às quais se pudessem dar fé pela Coroa de Castela, de todo o descoberto e do mais que na viagem de volta se fosse descobrindo".

 

A real audiência nomeia o padre Cristobal de Acuña para esta jornada

 

"(...) nomeou em primeiro lugar, para esta empresa, ao padre Cristobal de Acuña, religioso professo, e atual reitor do colégio da Companhia na cidade de Cuenca, jurisdição de Quito; e em segundo lugar, por seu companheiro, ao padre Andrés de Artieda, lente de Teologia no dito Colégio da mesma cidade de Quito. Aceita pelos senhores da Real Audiência a nomeação dos dois Religiosos da Companhia de Jesus, se lhes mandou uma Provisão Real (cuja cláusula pusemos no começo desta narrativa), na qual se lhes ordena que, sendo com ela requeridos, partam imediatamente da cidade São Francisco de Quito, em companhia do Capitão-Mor Pedro Teixeira, e chegando à do Pará, passem à Espanha, a dar conita ao rei, nosso Senhor, em sua real pessoa, de tudo o que cuidadosamente tiverem notado no decurso da viagem".


Peixe Boi e Pescados deste Rio

 

"Contudo do que mais se alimentam e que, dizem, lhes faz pratos, é o incontave1 pescado, que com incrível abundância colhem todos os dias, às mãos cheias, neste Rio. Mas entre todos o que como Rei aí domina, e do qual está povoado todo o Rio, desde as suas nascentes até que deságua nos mares, é o Peixe-boi, peixe que de tal só tem o nome, pois não há pessoa que, quando o come, não o tenha por carne temperada; é do tamanho de um bezerro de ano e meio e na cabeça, se tivesse chifres e orelhas, não se diferenciaria dele; tem por todo o corpo alguns pelos, não muito compridos, a modo de cerdas moles, e se move dentro d’água com dois braço curtos, que em forma de pás lhe servem de remos, de baixo dos quais mostra a fêmea os seus peitos, com que nutre com leite os filhos que pare. Do couro, que é muito grosso, fazem adargas os guerreiros, e tão fortes, que bem curtido, não o atravessa uma bala de arcabuz.

 

Este peixe só se sustenta de erva que pasce, como se fosse boi verdadeiro, donde adquire a sua carne tão bom gosto, e é de tanta sustância, que com pequena quantidade fica uma pessoa mais satisfeita e com mais força que se comesse o dobro de carneiro. Debaixo d’água sustém pouco o anhélito e assim, onde quer que ande, levanta amiúde o focinho para cobrir novo alento, donde vem a sua total destruição, pois ele mesmo se vai mostrando ao seu inimigo; vêem-no os índios e o seguem em pequenas canoas, e esperam que, querendo respirar, tire fora d’água a cabeça, e cravando-o com os seus arpões, que fazem de conchas, lhe tiram a vida; dividem-no em porções médias, que assadas em grelhas de pau, duram, sem estragar-se, mais de um mês. Não fazem dele chacinas para o ano todo (e que são de muito preço) por não haver sal em abundância, que o que empregam para temperar as suas comidas é muito pouco, e feito de cinzas de certa qualidade de palmeiras, que mais é salitre que sal".

 

Tartarugas do Rio e como as guardam

 

"Mas já que não lhes é dado conservar estas chacinas, não lhes falta indústria para terem carne fresca durante todo o inverno, que, embora não seja tão gostosa como aquela, é mais sã e não menos proveitosa. Fazem para isto uns currais grandes, cercados de paus, e cavados por dentro, de modo que, como lagoas de pouco fundo, conservem sempre em si a água de chuva. Feito isso, no tempo em que as tartarugas saem a desovar nas praias, eles também deixam as suas casas, e emboscando-se nos postos conhecidos, por elas mais frequentados, esperam que, saindo à terra, venha cada qual ocupar-se em fazer a cova onde pretende deixar os ovos; saem nesta ocasião os índios, cercam-nas pelo lado da praia, por onde devem fazer a sua retirada para a água, e de chofre acometendo sobre elas, em breve tempo se vê,em senhores de grande quantidade, sem outro trabalho que o de as virar de pernas para o ar, com o que, sem se poderem mexer, as mantêm todo o tempo que querem, até que colocadas todas em vários cordéis, por uns furos que lhes fazem no casco, lançadas na água, remando eles em suas canoas, as levam a reboque sem nenhum trabalho, até mete-las nos currais que fizeram, onde as soltam, dando-lhes por prisão aquele estreito cárcere, e alimentando-as com ramos e folhas de árvores, as mantêm vivas por todo o tempo que necessitam.

 

São estas tartarugas tão grandes e maiores que rodelas de bom tamanho; é sua carne como de vitela; as fêmeas tem no bucho, quando as matam, mais de duzentos ovos cada uma, um pouco maiores e quase tão bons como os de galinha, embora de mais difícil digestão. Estão nesse momento tão gordas, que de duas se tira uma botija de manteiga, a qual, temperada com sal, é tão boa, mais gostosa e dura muito mais que a cozida de vacas; serve para frigir peixe e para quaisquer gêneros de guisados, em que aqui se usa a melhor e mais delicada manteiga. Apanham estas tartarugas em tal abundância, que não há um destes currais que não tenha de cem tartarugas para cima, com o que nunca sabem estes bárbaros que coisa seja a fome, pois uma só basta para satisfazer uma família, por muita gente que tenha".

 

Modos de pescar que usam

 

"(...) O modo de pescar é diferente, conforme as variações do tempo e as enchentes ou vazantes das águas. Assim, quando estas baixam tanto que já os lagos secam, sem ter comunicação com o Rio, usam de uma espécie de trovisco, que naquelas costas chamam timbó, da grossura de um braço, pouco mais ou menos, e tão forte, que machucados dois ou três destes paus, e batendo com eles a água que ainda naqueles lagos mantém os peixes, apenas estes chegam a provar do seu vigor, todos se deixam apanhar com as mãos. Mas o modo ordinário com que em todos os tempos e ocasiões se apoderam de quanto peixe vive neste abastecido rio, é com as flechas que com uma mão arremessam de uma pazinha que sustentam, e cravadas no peixe, lhes faz o ofício de bóia, para conhecer onde, depois de ferida, se retira a presa, a que com presteza se arrojam, e agarrando-a, a recolhem nas canoas.

 

Arpão de bico: formado por uma haste de madeira nobre de mais de dois metros de comprimento e, em cuja ponta é adaptado um bico em forma de ponta de flecha. No bico é amarrada uma corda de fibra vegetal de mais de uma dezena de metros e a outra ponta da corda é amarrada na popa da embarcação. Depois de arpoado o peixe o bico se solta da haste e esta faz o papel de bóia e, o pescador pode conduzi-lo, depois de cansado, como se faz com uma linha de pesca.

 

Este modo de pescaria não se limita a uma ou outra qualidade particular de peixe, mas em geral se estende a todos, que nem uns por grandes, nem os outros por pequenos, são privilegiados, passando todos pela mesma rasoura. Com ser estes peixes, como já disse, de tão diversas qualidades, são muito bons de gosto, e muitos deles de particularíssimas propriedades, como é a de um peixe, que os índios chamam Poraque, que é a modo de uma enorme enguia, ou por melhor dizer, como um pequeno congro, o qual tem a propriedade que, enquanto estiver vivo, quantos lhes tocam tremem do corpo inteiro enquanto dura o contacto, como se tivessem um calafrio de quartans, cessando tudo no instante em que dele se apartam".

 

As ferramentas que usam

 

"As ferramentas de que se utilizam para trabalhar, não só as suas canoas, mas também as suas casas e o mais de que hão mistér, são machados e enxós, não temperados por bons oficiais nas ferrarias de Viscaia, mas forjadas nas frágoas de seus entendimentos, tendo por mestra, como em outras coisas, a necessidade. Esta lhes ensinou a cortar no casco mais duro da tartaruga, que é a parte do peito, uma prancha de um palmo de comprimento e pouco menos de largura, que curada no fumeiro, e afiada numa pedra, é presa num cabo, e com ela, como bom machado, embora não com tanta presteza, cortam o que desejam. Deste mesmo metal fazem as suas enxós, servindo-lhes de cabo para elas uma queixada de peixe-boi, que a natureza formou com a sua volta, de propósito para tal fim. Com estas ferramentas lavram tão perfeitamente, não só as suas canoas, mas também mesas, taboas, assentos e outras coisas, como se tivessem os melhores instrumentos de nossa Espanha.

 

Em algumas nações são estes machados de pedra trabalhada a poder de braços, que adelgaçam de modo que, com menos receios de quebrar-se, e mais depressa que com os outros de tartaruga, cortam qualquer árvore, por grossa que seja. Seus escopros, goivas e cinzéis para obras delicadas, que as fazem com grande primor, são dentes e colmilhos de animais, os quais encabados em seus paus, não fazem menos bem o seu ofício que os de fino aço. Quase todos tem em suas províncias algodão, uns mais, outros menos; mas nem todos dele se aproveitam para vestir-se, mas antes quase todos andam nus, tanto os homens como as mulheres, sem que a vergonha natural os vexe, a não querer parecer que estão no estado de inocência".

 

Rio das Amazonas

 

"Estas mulheres varonis tem sua sede entre grandes montes e altíssimos cerros, dos quais o que mais se alteia entre os outros, e que, como o mais soberbo, é combatido dos ventos com mais rigor, pelo que sempre se mostra descalvado e limpo de vegetação, se chama Yacamiaba. São mulheres de grande coragem, e que sempre se conservaram sem o comércio ordinário de varões, e mesmo quando estes, pelo acordo que tem com elas, vêm uma vez por ano às suas terras, recebem-nos com as armas nas mãos, que são arco e flechas, que atiram durante algum tempo, até que cientes de que vêm de paz os conhecidos, deixando as armas, acodem todas às canoas ou embarcações dos hóspedes, e tomando cada qual a rede que encontra mais à mão, que são as camas em que eles dormem, a levam para casa, e pendurando-a em sítio onde o dono a reconheça, o recebem por hóspede aqueles poucos dias, passados os quais eles voltam para as suas terras, repetindo-se todos os anos esta viagem pela mesma época.

 

As filhas fêmeas que nascem desta união, conservam e criam entre elas, porque são as que hão de levar adiante o valor e costumes de sua nação, mas os filhos varões não se sabe com certeza o que fazem com eles. Um índio que, sendo pequeno, tinha ido com seu pai a esta entrada, afirmou que os filhos varões eram entregues aos pais, quando no ano seguinte voltavam a sua terras. Mas contam os outros, e parece o mais certo por ser mais corrente, que reconhecendo-os como tais, lhes tiram a vida. O tempo descobrirá a verdade, e se estas são as famosas Amazonas dos historiadores, que guardam em sua comarca tesouros que dão para enriquecer o mundo todo".


 

Entra no mar o rio das Amazonas


"A vinte e seis léguas da ilha do Sol, debaixo da linha Equinocial, espraiado em oitenta e quatro de boca, tendo pelo lado do Sul o Zaparará e do oposto o Cabo do Norte, deságua no Oceano o maior pélago de águas doces que há no descoberto, o mais caudaloso rio de todo o Orbe: a Fenix dos rios, o verdadeiro Maranhão, tão suspirado e nunca acertado dos do Perú, Orellana antigo e, para dize-lo de uma vez, o grande rio das Amazonas, depois de haver banhado com as suas águas mil trezentas e cinquenta e seis léguas de extensão, depois de sustentar com suas riquezas infinitas nações de Bárbaros, depois de fertilizar imensas terras e depois de haver passado pelo coração de todo o Perú e, como canal principal, recolhido em si o melhor e mais rico de todas as vertentes.


Este é em suma o novo descobrimento deste grande rio que, encerrando em si grandiosos tesouros, a ninguém repele, mas antes, a todo gênero de gente convida liberal a que deles se aproveite. Ao pobre oferece sustento, ao trabalhador recompensa do seu trabalho, ao mercador empregos, ao soldado ocasiões de mostrar o seu valor, ao rico maiores riquezas, ao nobre honras, ao poderoso estados, e ao próprio Rei um novo Império. (...)"


Fontes:
ACUÑA, Cristobal de - Novo Descobrimento do Rio Amazonas - Uruguai, Montevidéu,1994 - Editora Oltaver.

PARANHOS, José Maria da Silva (Barão do Rio Branco) - Efemérides Brasileiras (1845-1912) - Brasil - Rio de Janeiro, 1946 - Imprensa Nacional.






http://www.brasilwiki.com.br/noticia.ph ... icia=10381
 

*

rpedrot

  • Membro
  • *
  • 26
  • +0/-0
dois herois e pedido de informacaoes
« Responder #51 em: Maio 05, 2009, 12:42:27 pm »
boas

proponho miguel pereira forjaz. organizou a defesa pátria nas invasoes francesas e terá proposto a política da terra queimadahttp://en.wikipedia.org/wiki/Peninsular_War que seria depois adoptada pelos russos (várias vezes aliás)

gostaria que me dissessem mais algumas coisas sobre este homem.

um navegador teixeira queirós que terá explorado muito do pacífico e que cook dizia ter sido um dos presumíveis descobridores da austrália (sem contar com o quinhentista herédia).

a mesma coisa sobre este
"Se se observar sempre uma mesma coisa, não é possível vê-la" Antonio Porchia
 

*

André

  • Investigador
  • *****
  • 3555
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • +110/-1
Re: dois herois e pedido de informacaoes
« Responder #52 em: Maio 05, 2009, 12:56:52 pm »
Citação de: "rpedrot"
um navegador teixeira queirós que terá explorado muito do pacífico e que cook dizia ter sido um dos presumíveis descobridores da austrália (sem contar com o quinhentista herédia).

a mesma coisa sobre este


Deve estar a confundir com Pedro Fernandes de Queirós que trabalhou para os Filipes no Pacifico ...  c34x



Fernandes Queirós nasceu em Évora, Portugal. Ainda jovem veio a estar ao serviço da Dinastia Filipina, quando o Rei de Portugal era simultaneamente o Rei de Espanha. Ao serviço da coroa e da marinha espanhola, tornou-se um experiente marinheiro e navegador. Em 1595, serviu como piloto de Álvaro de Mendaña de Neira nas suas explorações do sudoeste do Oceano Pacífico e, após a sua morte, conduziu o único navio restante da expedição até às Filipinas.

Sendo um católico devoto, Queirós visitou Roma em 1600, onde obteve o apoio do Papa Clemente VIII para prosseguir as explorações. Navegou até ao Peru em 1603 com intenção de encontrar a Terra Australis, o mítico grande país a sul, por forma a reclamá-lo para a coroa espanhola e para a Igreja. Comandando três navios, San Pedro y Paulo, San Pedro e Los Tres Reyes, deixou El Callao, importante porto peruano, em 21 de Dezembro de 1605, com 300 tripulantes e soldados.

Em 22 de Janeiro de 1606, passaram a Ilha da Encarnação, acostaram na Ilha Sagitária, agora Taiti, em 10 de Fevereiro, e descobriram a 7 de Abril, a Ilha Toumako, onde o nativo Rei Tamay lhes forneceu importantes informações geográficas.

Em 25 de Abril de 1606, ou talvez já em Maio, a expedição alcançou as ilhas posteriormente designadas por Novas Híbridas e agora sendo a nação independente de Vanuatu. Queirós aportou numa grande ilha que considerou ser parte do tal continente a sul que procurava, a que chamou de Terra Austral ou Austrália do Espírito Santo. A ilha, uma das maiores do arquipélago de Vanuatu, ainda se chama actualmente Ilha do Espírito Santo. Ali, fundou uma colónia a que chamou Nova Jerusalém. O fervor religioso de Queirós levou-o a fundar uma nova Ordem de Cavalaria, os Cavaleiros do Espírito Santo. No entanto, a colónia acabou por ser rapidamente abandonada devido à hostilidade dos nativos e a desacordos entre a tripulação.

Após algumas semanas, Queirós fez-se ao mar novamente. Devido a mau tempo, acabou por se separar dos outros navios e foi incapaz, ou pelo menos assim o afirmou mais tarde, de voltar à costa. Assim, velejou até Acapulco, no México, onde chegou em Novembro de 1606. O seu braço direito no comando, o também português Luís Vaz de Torres, depois de procurar Queirós em vão, deixou a Ilha do Espírito Santo e dirigiu-se a Manila onde acabou por chegar passando pelas Molucas.

Queirós regressou a Madrid em 1607. Passou os próximos sete anos em pobreza, escrevendo numerosos relatos das suas viagens. Implorou ao Rei Filipe III de Espanha que lhe fosse dado financiamento para novas viagens. Foi então enviado para o Peru com cartas abonatórias, apesar do Rei não possuir qualquer intenção de financiar nova expedição. Queirós morreu no Panamá em 1615.

Feitos de Navegação

Durante a sua travessia do Oceano Pacifico, nenhum dos seus marinheiros morreu o que constituiu um feito incomum, devido à prevalência do escorbuto no início do Século XVII. é provável que Queirós conhecesse a solução para a doença, transportando frutos frescos e sumos a bordo. No entanto, ninguém soube desta relação entre a dieta contendo vitamina C, encontrada nas frutas e legumes, nos 150 anos seguintes à morte de Queirós. Crê-se que Queirós talvez tenha escrito sobre esta sua descoberta mas nada foi encontrado nos arquivos espanhóis, algo similar à informação sobre o estreito entre a Nova Guiné e a Austrália encontrado por Luís Vaz de Torres, que ainda hoje se chama Estreito de Torres, mas cuja descoberta só veio a ser publicada pelo geógrafo escocês Alexander Dalrymple em 1759. É provável que James Cook, que finalmente navegou pelo Estreito de Torres em 1770 e que também distribuía sumo de fruta aos seus marinheiros, tivesse tido acesso à informação escrita por Queirós e Torres.

Fernandes de Queirós e a Austrália

O nome de Pedro Fernandes de Queirós é actualmente bem conhecido na Austrália. Muitos historiadores creditam a Queirós a cunhagem da palavra "Austrália", por ter assim designado as ilhas do arquipélago de Vanuatu e que ele acreditava ser parte de um vasto continente. Cook incluiu a designação "Astralia del Espiritu Santo" (faltando a letra "u") no seu diário, em Agosto de 1770, numa referência à viagem de Queirós. A palavra "Australia" foi então usada em 1794 por George Shaw na sua obra Zoology of New Holland (Zoologia da Nova Holanda) quando se refere à "vasta ilha, ou melhor, Continente da Australia, Australásia, ou Nova Holanda, que só tão tarde atraiu particular atenção."

No relato da viagem de Matthew Flinders, em 1814, em torno do continente australiano, menciona que o termo "Australia" é "agradável ao ouvido, e assemelha-se aos nomes de outras grandes zonas da Terra." Este ponto de vista foi fortemente defendido pelo Governador Lachlan Macquarie, em 1817, que escreveu um relatório para Londres, onde afirmava que "o Continente da Australia, o qual espero que venha a ser o nome dado a este país no futuro, ao invés do incorrecto e mal aplicado nome de 'Nova Holanda', o qual, na verdade, apenas se pode aplicar a uma parte deste imenso Continente." Com este impulso de Macquarie, Austrália veio a provar-se ser a escolha mais popular.

No Século XIX, alguns católicos australianos, a viver sobre o domínio protestante, afirmavam que havia sido Queirós que na verdade descobriu a Austrália, muito antes dos protestantes Abel Tasman e James Cook. O arcebispo de Sydney entre 1884 a 1911, Francis Cardinal Moran, afirmava que isto era um facto, sendo este o ensino oficial das escolas católicas por muitos anos. Ele afirmava que o verdadeiro local da colónia estabelecida por Queirós, Nova Jerusalém, situava-se perto de Gladstone em Queensland.

Baseado nesta teoria, o poeta católico australiano, James McAuley (1917-1976) escreveu um poema épico intitulado Captain Quiros (Capitão Queirós), em 1964, no qual descrevia Queirós como um mártir pela causa da civilização da Cristandade Católica, apesar de não referir que Queirós tenha descoberto a Austrália. O tom extremamente político do poema foi friamente recebido pelos intelectuais e governantes australianos, numa época de grande rivalidade entre as facções católicas e protestantes. O escritor australiano John Toohey publicou um romance, inspirado e intitulado Quiros (Queirós), em 2002.

Na verdade, a afirmação de que os portugueses terão sido os primeiros a chegar à Austrália é cada vez mais consensual. Os argumentos avançados a favor desta ideia lembram que, na primeira metade do Século XVI, os navegadores portugueses percorriam não apenas os mares da Austrália, mas estavam firmemente estabelecidos na região, em ilhas como Timor, Solor e outras. Depois, ao se observar os mapas portugueses do Século XVI, aparecem terras com uma configuração semelhante à actual Austrália. A razão porque aí não se terão fixado talvez se prenda com a enorme distância que separa este continente de Portugal, implicando mais de um ano de viagem marítima. Outra razão para a não colonização do território tem a ver, sobretudo, com a ausência de população com quem se pudesse fazer comércio ou utilizar como mão-de-obra. Ainda hoje, a simples análise de um mapa denuncia os vestígios da presença portuguesa na região. A costa noroeste da Austrália inclui um local de nome Abrolhos, que não será mais do que a reminiscência de uma frase portuguesa que ecoa, através dos tempos, os gritos dos marinheiros portugueses ao navegarem por estas águas traiçoeiras: "Abre os olhos!". A situação toponímica do local alterou-se desde então tendo passado estas pequenas ilhas a ser hoje designadas por "Houtman Abrolhos Islands", sendo que se afirma que este nome data do Século XVI. A povoação de Geraldton, com cerca de 25.000 habitantes, tem uma Catedral de São Francisco Xavier. Um topónimo cuja origem ainda não foi possível deslindar foi o da "Lusitania Bay" (Baía Lusitânia), na Ilha de Macquarie a sudoeste da Tasmânia, considerada Reserva Natural desde 1933.

A relação entre os exploradores portugueses e a Austrália continua apaixonar muitos investigadores e historiadores.

wikipédia

 

*

rpedrot

  • Membro
  • *
  • 26
  • +0/-0
fernandes queiros
« Responder #53 em: Maio 05, 2009, 01:59:04 pm »
obrigado, é mesmo esse...
"Se se observar sempre uma mesma coisa, não é possível vê-la" Antonio Porchia
 

*

André

  • Investigador
  • *****
  • 3555
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • +110/-1
(sem assunto)
« Responder #54 em: Maio 09, 2009, 10:45:20 pm »
O outro Matias de Albuquerque




Para estudarmos a História dos portugueses no Oriente no período dos Descobrimentos necessitamos de compreender um pouco a forma como funcionava a “carreira militar”, digamos assim, dos homens que partiam para a Índia. A vida de Matias de Albuquerque constitui um bom exemplo do nobre guerreiro típico, que passou toda a sua vida no Oriente ao serviço de El-Rei de Portugal. A partida numa armada para a Índia era uma uma boa oportunidade para prestar serviços, conseguir mercês do rei, ou mais simplesmente fazer fortuna. No caso de um elemento da alta nobreza, como o presente caso, era uma forma de conseguir tudo isto. Foi de facto, o que conseguiu Matias de Albuquerque, que conseguiu aliás atingir o topo da hierarquia do Estado, mas que não deixou de ser atingido pelas contingências da sua própria carreira.

Matias de Albuquerque nasceu em Lisboa em 1547, de família da alta nobreza (o famoso Afonso de Albuquerque era seu tio-avô). Cerca de 1559 entra ao serviço do rei D. Sebastião, tendo sido educado como convinha a um fidalgo. Aos 19 anos parte como soldado para a Índia. Recebeu o seu baptismo de fogo numa expedição marítima no Malabar, na costa ocidental indiana, comandada por Álvaro Pais de Souto Maior, tendo aí prestado os seus primeiros serviços. Logo aqui se revelou um excelente soldado, bom organizador e comandante militar. Esta era uma característima essencial na vida militar de então, sobretudo no Oriente, onde o papel do vigor pessoal dos capitães tinha muitas vezes um efeito decisivo no desfecho de uma batalha. Nos anos seguintes Matias de Albuquerque prestou serviços em diversas regiões do Estado da Índia, nomeadamente em Damão, Goa, Chalé e Cochim. Em 1572, com apenas 25 anos de idade, Matias de Albuquerque recebe os primeiros louvores por parte do rei, que lhe reconheceu os serviços, sendo-lhe concedida a capitania da fortaleza de Ormuz, no Golfo Pérsico. Esta era uma das mais ricas e rendosas fortalezas do Oriente, pelo que a sua atribuição a Matias de Albuquerque revela quer a sua origem nobre, quer a qualidade dos serviços prestados. Porém, apenas exercerá este cargo mais tarde.

Em 1574, ao que parece devido a doença, Matias de Albuquerque regressou a Portugal, sendo recebido por D. Sebastião em Almeirim. Aqui prosseguiu a vida militar, tendo prestado serviço em Almada e no Algarve.

Em 1575 o nosso homem regressa á Índia, desta vez com um cargo de maior responsabilidade: capitão de uma armada que parte directamente de Lisboa a socorrer a fortaleza portuguesa de Malaca. Esta era uma das praças mais importantes do Estado da Índia e a chave da presença portuguesa no Extremo Oriente, nomeadamente do rico comércio com a China e o Japão, e encontrava-se seriamente ameaçada pelas forças do sultanato de Achém, tradicional inimigo dos portugueses. A situação era difícil, e o próprio facto de ter sido enviada uma armada directamente de Lisboa é um bom indicador da sua gravidade. Porém, Matias de Albuquerque foi bem sucedido na sua empresa, conseguindo afastar a ameaça que pairava sobre Malaca e garantir novamente a segurança na região para a navegação portuguesa. O êxito desta missão abriu-lhe novas portas: chegado a Goa, que era o centro da administração de todo o Estado da Índia (que ía de Moçambique ao Japão) foi nomeado comandante da armada de patrulhamento da costa do Malabar (1580-1584), após o que, por fim, entrou na capitania de Ormuz, para a qual tinha sido anteriormente nomeado. Aqui procedeu aos trabalhos de reparação da fortaleza, que se encontrava em mau estado, tendo inclusivamente mandado construir grandes cisternas. Foi este período uma época de pausa na sua vida de guerreiro, continuada com a decisão de voltar novamente a Portugal, o que faz em 1588.

Após voltar novamente a Portugal, onde casou com D. Filipa de Vilhena e defendeu Lisboa dos ataques do famoso corsário inglês Francis Drake (em 1589), Matias de Albuquerque foi, finalmente, designado para o mais alto cargo na Índia: o de vice-rei. Partiu então de Lisboa em 1590 para ocupar o cargo, que exerceu entre 1591 e 1597, seis anos portanto, o dobro do tempo habitual que era geralmente exercido por um vice-rei. Aqui, Matias de Albuquerque aplicou todas as suas capacidades de organização e comando para resolver os grandes problemas com que os portugueses se confrontavam, cada vez com maior gravidade. Estes resultavam quer do agravamento geral da situação do Estado da Índia, quer da má gestão e erros cometidos por vice-reis e governadores anteriores. Os principais problemas diziam respeito á má situação financeira, á corrupção generalizada e situação preocupante quer do estado das armadas e das fortalezas, quer da própria carência de soldados.

A sua principal e primeira preocupação foi a de mandar fortificar imediatamente as fortalezas, assim como enviar socorros militares ás que corriam maiores riscos. Também reorganizou o aparelho fiscal e da justiça e governou com a prudência e o rigor que se tornavam cada vez mais necessários. É evidente que não foi isento de defeitos e de suscitar inimizades, sobretudo por parte dos jesuítas e da Inquisição. Estas inimizades resultavam sobretudo da sua acção contra a corrupção e o clientelismo, o que desagradava evidentemente a parte da gente que rodeava o vice-rei, quer funcionários quer fidalgos.

Em 1597 regressa a Portugal, mas a sua partida foi marcada por um episódio grave: estando prestes a partir, uma das naus pegou fogo, perdendo assim uma parte considerável dos bens e da sua riqueza, que esperava enviar com destino a Portugal. Regressado ao reino, recolheu-se á sua quinta de Santo Amaro, mas as inimizades que havia criado provocaram-lhe graves problemas. Acabou por ser preso, mercê da campanha que lhe moveram os seus inimigos, mas conseguiu livrar-se de todas as acusações.

Assim, Matias de Albuquerque constitui um modelo exemplar do nobre guerreiro do século XVI, como homem de armas e notável chefe, autor de importantes decisões e empresas numa época de crise crescente para o Estado da Índia, e é simultaneamente o exemplo acabado da carreira militar bem sucedida, desde soldado até vice-rei.

Carreira da Índia
« Última modificação: Maio 11, 2009, 12:44:03 am por André »

 

*

André

  • Investigador
  • *****
  • 3555
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • +110/-1
(sem assunto)
« Responder #55 em: Maio 10, 2009, 04:00:17 pm »
Fernando de Oliveira


A época dos Descobrimentos foi fértil em vidas aventurosas, de que são conhecidos tantos exemplos. Ficou célebre, entre outras, a de Fernão Mendes Pinto, descrita pelo próprio na sua Peregrinação. Mas outras personagens, igualmente interessantes e não menos curiosas, viveram no século XVI uma vida recheada de peripécias. Entre elas destaca-se uma, pouco conhecida ou mesmo geralmente ignorada. Trata-se do Padre Fernando de Oliveira, de cuja vida verdadeiramente excepcional e obra ímpar vamos hoje falar.

Fernando de Oliveira nasceu em 1507, em Aveiro, não se possuindo informações seguras sobre a sua ascendência. Estudou durante a sua juventude em Évora, no Convento de S. Domingos, Ordem na qual ingressa. Cedo se distinguiram os seus dotes académicos, sobretudo na disciplina de Gramática. Porém, Fernando Oliveira aliava a mais fina inteligência a um carácter irrequieto e desassossegado, que lhe causaria diversos problemas ao longo da sua vida. O primeiro surgiu cedo quando, aos 25 anos, o nosso homem, por motivos desconhecidos, deserta da Ordem religiosa e e foge para Castela. Mas alguns anos mais tarde está de regresso. Publica então uma Gramática de Língua Portuguesa, a primeira que se conhece. Até 1545 exerce a profissão de professor, chegando a dirigir a educação dos filhos de João de Barros, o célebre cronista. Fernando de Oliveira ganha a amizade de gente poderosa, que mais tarde lhe seria necessária em tempos de dificuldades. Sabe-se que por esta altura viajou a Itália, desconhecendo-se os motivos de tal estadia. De qualquer modo, o seu carácter irrequieto não se adaptava a uma vida sedentária, pelo que não ficou muito tempo em Lisboa. Nesse ano de 1545 alista-se como piloto, e com nome falso, numa armada francesa, ao serviço de Francisco I. Esta parte rumo a Inglaterra, com o objectivo de defrontar as armadas inglesas. Fernando Oliveira participa nos combates que se seguem, alcançando uma grande notoriedade junto do almirante francês. Acabou por ser feito prisioneiro pelos ingleses, e levado para Inglaterra. Os seus dotes diplomáticos, a sua habilidade, inteligência e cultura levaram a que alcançasse grande prestígio na corte inglesa, mesmo junto do rei Henrique VIII. Vive durante alguns anos em Inglaterra, regressando depois a Lisboa, onde entrega a D. João III uma carta do rei inglês.

As aventuras de Fernando Oliveira, a sua estadia em Inglaterra, a simpatia que sentia pela religião protestante, o contacto com o rei inglês que se havia revoltado contra o Papa, acabaram por lhe criar problemas. Pouco depois do seu regresso a Portugal é denunciado à Inquisição como hereje, preso e interrogado. Só em 1551, e devido á amizade de gente influente, é posto em liberdade. Este período difícil não o fez esmorecer no seu gosto pela aventura. Embarca imediatamente numa armada com destino a Marrocos. Esta é atacada por uma frota de piratas argelinos, e derrotada. Tal deveu-se em grande parte á má preparação dos marinheiros portugueses que navegavam na armada, que rapidamente se desorientaram, como ficou escrito numa das suas obras:

Os marinheiros eram lavradores de Entre Douro e Minho, e soldados vagabundos de Lisboa (…); desta feição equipadas as nossas caravelas, com a vista dos Turcos desatinou a gente delas de tal maneira que ferviam de uma para outra sem ordem, como formigueiro esgravatado. Uns faziam vela sem haver vento, (…) outros cortavam as amarras sem olhar para onde viravam as proas, outros deixavam os navios como homens que não cuidavam o que faziam. (…) A graça toda foi (…) quererem depois de perdidos dar a culpa uns a outros, tendo-a todos (…)”.

Foram os portugueses levados como prisioneiros para Argel, e mais uma vez conseguiu o nosso homem destacar-se, sendo encarregue das negociações com vista á obtenção do resgate. Regressado uma vez mais a Lisboa, segue para Coimbra, onde exerce o ofício de revisor na Imprensa da Universidade. Entre 1554 e 1555, Fernando Oliveira rege na mesma Universidade a cadeira de Humanidades. Mas os seus problemas não tinham ainda terminado. Fernando Oliveira era o que se pode chamar de um homem “sem papas na língua”, rebelde e irrequieto; a sua sinceridade e frontalidade grangeavam-lhe grandes amizades, mas criavam igualmente grandes inimigos. De qualquer modo, em 1555 é novamente preso pela Inquisição, que lhe criou problemas até ao fim da sua vida. Não sabemos a data da sua morte, e pouco conhecemos dos últimos anos da sua vida. Apenas sabemos que, mais tarde, quando contava cerca de 58 anos de idade, D. Sebastião lhe concedeu uma pensão vitalícia de 20 000 reis.

O padre Fernando Oliveira deixou-nos algumas obras escritas, sendo as mais importantes as que tratam de náutica e construção naval, onde revela ser um profundo conhecedor. A mais famosa chama-se “A arte da guerra do mar”. É um tratado de guerra naval, verdadeiramente notável e avançado para a época, onde se pode notar a lucidez e inteligência do autor ao tratar de problemas ainda actuais no nosso tempo. Eis como define ser a guerra justa:

Mal feito é fazer guerra sem justiça, e os cristãos a não podemos fazer a nenhuns homens que seja, de qualquer condição nem estado. (…) doutro modo seria falso nosso nome, e poder-nos-iam culpar de hipócritas, como aqueles de que Cristo diz; dizem e não fazem. Os quais ele mesmo chama hipócritas, que quer dizer falsos e mentirosos. Mentiroso é aquele que apregoa vinho e vende vinagre, aquele que se nomeia pacífico e faz guerra sem justiça.”

No resto da obra, o padre Fernando Oliveira traça o quadro completo da vida naval, desde a qualidade das madeiras para a construção dos navios, a escolha, treino e comportamento dos marinheiros e soldados, as tácticas navais, os equipamentos, materiais e mantimentos adequados, as condições de navegação, os ventos e marés. Tal decorria do conhecimento prático que tinha dos navios e navegação, do contacto com as gentes e lides do mar. Veja-se, por exemplo, e para terminar, o que diz acerca dos mantimentos adequados para os navios:

O biscoito, que é a principal vitualha, de trigo é o melhor, porque o centeio e cevada são mais húmidos e frios, e o pão deles toma mais bolor e corrompe-se mais cedo; o melhor é muito seco, e sendo muito cozido segundo se requere para biscoito por tempo esboroa-se e desfaz-se em pó.”

Pouco antes de falecer, defendeu António I de Portugal, Prior do Crato, contra Felipe II, com duas obras historiográficas a sustentarem a legitimidade do candidato português e contestarem a solução da Monarquia Dual, aprovada nas Cortes de Tomar (1581).


Carreira da Índia

 

*

TOMSK

  • Investigador
  • *****
  • 1445
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • Enviou: 1 vez(es)
  • +1/-0
(sem assunto)
« Responder #56 em: Maio 10, 2009, 11:34:06 pm »
Citação de: "André"
O outro Matias de Albuquerque


Obrigado André, não conhecia esta personagem. :P
 

*

JLRC

  • Investigador
  • *****
  • 2505
  • Recebeu: 1 vez(es)
  • +4/-85
(sem assunto)
« Responder #57 em: Maio 11, 2009, 01:40:32 am »
Afonso de Albuquerque não foi vice-rei, foi somente governador. Nem todos os governadores foram vice-rei. Só os membros da alta nobreza tinham o titulo de vice-rei.
O 1º vice-rei foi o 1º governador, D. Francisco de Almeida (1505-1509), o 2º foi o 6º governador, D. Vasco da Gama (1524).
 

*

André

  • Investigador
  • *****
  • 3555
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • +110/-1
(sem assunto)
« Responder #58 em: Maio 11, 2009, 01:45:48 am »
Nuno Álvares Botelho
O último grande capitão da Índia Portuguesa


A História da presença portuguesa no Oriente está recheada de histórias de grandes feitos militares, sobretudo na sua época áurea, o século XVI. Entre os grandes capitães figuram os nomes de Francisco de Almeida, Afonso de Albuquerque, D. João de Castro, Duarte Pacheco Pereira e outros, que são geralmente citados como exemplos de coragem, bravura e capacidade de liderança no campo de batalha. Na verdade, apontam-se geralmente estes nomes, entre outros, para ilustrar uma época de prosperidade, a Idade de Ouro do Império Português no Oriente, em oposição ao século XVII, geralmente visto como uma era de decadência económica e derrocada militar. Na verdade, porém, podemos constatar que nesta época de dificuldades incomparavelmente maiores, quando os ingleses e holandeses faziam guerra sem tréguas aos portugueses enfraquecidos, outras figuras destacaram-se igualmente em diversos domínios, seja no campo das reformas administrativas, da política ou da guerra. Neste último caso convém destacar devidamente a figura de um grande capitão, por vezes esquecido, que provou ser, em condições nítidamente adversas, um excelente estratega e um comandante militar de primeiro plano: Nuno Álvares Botelho, considerado por alguns como o último grande capitão português da Índia.

Nuno Álvares Botelho começou a sua vida militar muito novo. Originário da alta nobreza da corte, teve ocasião de, durante mais de 15 anos, aprender as lides da guerra no mar nas armadas de vigia das costas de Gibraltar e Marrocos, entre 1598 e 1616. Aqui teve oportunidade de dominar perfeitamente os conhecimentos e as técnicas da luta naval, de que se tornou um exímio mas prudente capitão. O seu conhecimento não se esgotou, porém, nas costas africanas. Seria na Índia que se destacaria como o melhor comandante português, procedendo a arrojadas empresas que o tornariam numa personagem lendária, ainda em vida. Nuno Álvares Botelho foi por duas vezes á Índia entre 1617 e 1620, como comandante da armada da carreira Lisboa-Goa. A terceira foi definitiva, e ocorreu em 1624, com uma forte armada destinada a aliviar a aflitiva situação militar que os portugueses enfrentavam por todo o Índico.

A situação dos portugueses no Oriente havia-se degradado progressivamente desde os finais do século XVI. Nesta data haviam chegado ás águas do Índico os primeiros navios holandeses e ingleses, inimigos dos espanhóis, logo, dos portugueses que tinham agora um rei comum. Ingleses e Holandes haviam-se instalado no Oriente e tornavam-se a cada dia mais poderosos, ameaçando directamente as posições portuguesas. Durante as primeiras décadas, os portugueses, á custa de enormes despesas e de um grande esforço humano e financeiro, haviam conseguido resistir aos assaltos inimigos, mas a situação tendia a agravar-se. Em 1622 o primeiro grande golpe é desferido sobre Ormuz, cidade-chave de controle do Golfo Pérsico e que Afonso de Albuquerque havia tomado em 1515. Naquela data, o Xá da Pérsia, aliado aos ingleses, tomara a cidade de assalto, perante a impotência das forças portuguesas. A armada que Nuno Álvares Botelho comanda em 1624 destina-se precisamente a disputar o domínio do Estreito de Ormuz. Em Fevereiro de 1625 a armada portuguesa trava combate com uma frota anglo-holandesa muito superior em número e poder naval. Embora não fosse conclusiva, a batalha permitiu aos portugueses recuperar o prestígio na região e, provavelmente, salvar Mascate das investidas inglesas.

Durante os anos seguintes, ou seja até 1628, todo o esforço das autoridades portuguesas na Índia estava virado para a recuperação de Ormuz e a retomada do controle da região. Nuno Álvares Botelho empreendeu incessantes acções com este fim, onde se destacou a sua capacidade de comando e de conhecimento das tácticas de guerra naval. Não conseguiu, porém, por falta permanente de meios, atingir os seus objectivos. Pelo contrário, constata que o poderio naval dos inimigos, quer holandeses quer ingleses, crescia sem parar, ameaçando outras posições portuguesas, pelo que se tornava necessário enviar socorros a todo o lado ao mesmo tempo.

Devido ao agravamento da situação militar por todo o Índico, Nuno Álvares Botelho recolhe-se a Goa, onde faz uma pausa para retomar depois a sua actividade. O sinal de alarme surge imediatamente, desta vez do outro lado do Índico: Malaca estava cercada pelo sultão do Achém, velho inimigo dos portugueses, que já anteriormente havia assaltado a cidade sem êxito, mas que agora havia conseguido reunir uma formidável armada de 236 velas. Chegado o pedido de socorro a Goa, Nuno Álvares Botelho oferece-se para ir. Entretanto, havia integrado um triunvirato de Governadores da Índia, pelo falecimento do governador anterior. Resolvida a questão da sucessão, prepara-se então a armada de socorro a Malaca, que parte finalmente em Setembro de 1629 comandada pelo capitão Álvares Botelho. Era relativamente pequena, composta apenas de 28 navios pequenos, de remo, mas que a habilidade do comandante conseguiria ultrapassar.

Enquanto a armada fazia o caminho para Malaca, Achém atacava a fortaleza, mas não conseguindo vencer a determinação dos portugueses da cidade assim como as robustas fortificações de que estava provida. Chegada entretanto a armada de socorro, procedeu-se então ao confronto, em que a habilidade do capitão em combate com a desorientação do general malaio Lançamane se saldou por uma desastrosa derrota para a armada inimiga, com a destruição total da sua frota, já que dos 236 navios e dos dezanove mil homens que foram à conquista de Malaca nem um só regressou ao seu país. Nuno Álvares Botelho foi então recebido em triunfo na cidade pelo capitão português da praça Gaspar de Melo de Sampaio, procedendo-se á avaliação do valioso saque, sobretudo em peças de artilharia cujo número ultrapassava as 130.

Nuno Álvares Botelho tinha tanto de bom capitão como de modéstia. Era dotado, de facto, de uma personalidade excepcional. Enquanto outros se vangloriavam de pequenos e irrelevantes serviços, este capitão escrevia ao vice-rei de Goa com grande modéstia pessoal, nos termos seguintes:

Descerquei Malaca, conservei a armada em que sirvo e destruí a dos inimigos, de que sempre se devem infinitas graças a Deus; os capitães e soldados cumpriram tão pontualmente com as suas obrigações como eu desejo que façam sempre todas as minhas coisas.”

A situação dos portugueses na região de Malaca não era melhor do que a existente no Estreito de Ormuz. Na verdade, os portugueses haviam sido aqui quase completamente ultrapassados pelos holandeses, que dominavam o comércio das especiarias das Molucas e de outras ilhas da Insulíndia Oriental. Restava aos portugueses o comércio da China, que conseguiria subsistir aos assaltos inimigos. Os holandeses haviam fundado a sua capital no Oriente em Batávia, bem perto de Malaca, pelo que a cidade sufocava lentamente com o aumento do poderio holandês.

Nuno Álvares Botelho tentou, logo após a sua vitória, aliviar a difícil situação em que a cidade se encontrava, fazendo frente ás armadas holandesas que proliferavam na região. Porém, quis o destino que o general português não prolongasse por muito mais tempo as suas façanhas militares. Na verdade, pouco depois da sua retumbante vitória em Malaca, Nuno Álvares Botelho morreu em pleno combate, não sem antes conseguir aprisionar diversas embarcações holandesas que carregavam pimenta na costa norte de Samatra. Foi a 5 de Maio de 1631, quando, em pleno combate com uma nau holandesa, é atingida a pequena fusta em que seguia, morrendo afogado. Foi levado para Malaca onde foram celebradas as exéquias solenes, sendo enterrado na capela-mor. Assim morreu o último grande capitão português na Índia, cujos feitos militares causaram grande impressão na época, nomeadamente entre os cronistas que não deixaram de registar a sua biografia.

Carreira da Índia
« Última modificação: Maio 11, 2009, 06:09:12 pm por André »

 

*

TOMSK

  • Investigador
  • *****
  • 1445
  • Recebeu: 2 vez(es)
  • Enviou: 1 vez(es)
  • +1/-0
(sem assunto)
« Responder #59 em: Maio 11, 2009, 10:51:45 am »
Citação de: "JLRC"
Afonso de Albuquerque não foi vice-rei, foi somente governador. Nem todos os governadores foram vice-rei. Só os membros da alta nobreza tinham o titulo de vice-rei.
O 1º vice-rei foi o 1º governador, D. Francisco de Almeida (1505-1509), o 2º foi o 6º governador, D. Vasco da Gama (1524).


Eu sei isso. Mas entendeu-se o que eu queria dizer.
E o 3º Vice-Rei for D. Garcia de Noronha (que já não tinha estofo para aquelas andanças) e o 4º D. João de Castro, que foi nomeado Governador, mas pelos altos serviços desempenhados, foi posteriormente indigitado Vice-Rei.
E por aí fora...
Este D. João de Castro marca no entanto um fim de um ciclo. A partir da sua morte a Índia Portuguesa entrou numa decadência progressiva que jamais recuperou.