Bandeiras do Império, Bandeirantes na Expansão do Brasil

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Bandeiras do Império, Bandeirantes na Expansão do Brasil
« em: Fevereiro 05, 2010, 07:11:18 pm »
A Ordem de Cristo - Bandeira Histórica de São Paulo






"São Paulo não é conduzida, conduz"

Entradas e Bandeiras
No Brasil, no século XVII, alguns homens valentes se introduziram no sertão, movidos pelo desejo de encontrar jazidas de metais preciosos e outras riquezas e, ainda, aprisionar selvagens, a fim de vendê-los como escravos aos colonizadores. Arriscavam-se muitíssimo, e algumas vezes foram massacrados por índios ferozes. Levavam provisões de mandioca, milho, feijão, carne seca e pólvora, bem como redes, onde dormiam. Faziam-se acompanhar dos filhos maiores de 14 anos, de escravos e alguns homens do povoado, que também ambicionavam riquezas. Não raro, ficavam longos períodos afastados da família, alguns deles nem mesmo regressando, vítimas de febres ou picadas de cobras, quando não de flechas indígenas.

Todavia, apesar do objetivo não muito elevado de sua missão, que foi bastante combatido pelos jesuítas, prestaram grande serviço ao Brasil, pois dilataram-lhe as fronteiras, conquistando terras que pertenciam à Espanha, como Goiás, Mato Grosso, grande parte de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.

Entravam pelas selvas em geral seguindo o curso dos rios ou as trilhas dos índios: daí o nome «entradas». A denominação «bandeiras» ê aplicada à entrada empreendida pelos desbravadores saídos de São Paulo, os que mais se dedicaram a essas expedições. Diz-se que o nome vem do fato de os desbravadores levarem uma bandeira à frente do grupo; outros crêem ser devido ao hábito dos paulistas de provocarem guerras entre os indígenas com o fito de enfraquecê-los, para mais facilmente conseguirem escravizá-los, o que eles próprios classificavam como «levantar bandeira».

Vestiam-se com camisa e calça de algodão, chapéu de abas largas; alguns usavam botas de cano alto e outros, a exemplo dos índios, iam descalços, apenas envolvendo as pernas em perneiras de couro. Protegiam o peito de possíveis flechadas com uma espécie de gibão de couro, acolchoado com algodão.

As bandeiras atravessaram o Brasil em todos os sentidos, chegando, como a de António Raposo Tavares, até o Amazonas, tendo partido de São Paulo. As mais importantes foram as de Fernão Dias Pais e seu genro Borba Gato, que exploraram a região de Minas Gerais, fundando inúmeros povoados, bem como a de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, que encontrou ouro perto de Goiás.

Segundo a tradição, para conseguir dos Índios a revelação do exato local onde se achava o ouro cobiçado, Bueno usou de um estratagema: ateou fogo a um pouco de álcool que transportava em um recipiente, ameaçando-os de fazer o mesmo com os rios e fontes, caso se negassem a revelar o que lhes pedia.

Os indígenas atenderam-no, atemorizados, e apelidaram-no de Anhanguera, que significa em tupi «diabo velho» ou «espírito mau».

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ENTRADAS E BANDEIRAS
A partir de 1700, é iniciado no Brasil um processo de alargamento de suas fronteiras com o objetivo de dominar e exterminar os indígenas e as missões dos jesuítas espanhóis, mapeamento do território brasileiro, mineração de ouro e esmeraldas além de outros metais e pedras preciosas, e obtenção de mão-de-obra escrava. As Entradas e Bandeiras surgiram predominantemente em um período em que o Brasil já contava com inúmeros centros populacionais espalhados pelo seu territórios.

Os movimentos originaram-se no nordeste para a região do amazonas e posteriormente para o centro do país. Por outro lado, as Bandeiras partiram de São Vicente, em São Paulo, em direção ao Rio Grande do Sul, além de incursões pela região Centro-Oeste. O movimento das Entradas antecederam às Bandeiras, e ambos possuíram características diversas entre si.

Entradas
Grande parte do território brasileiro era ainda desconhecido: neste período, portanto, as terras ignotas possuíam, para o colonizador, uma aura de mistério que os levava a crer nas grandes riquezas em fontes perenes de metais preciosos ainda não exploradas. Assim nascem as entradas, tendo por objetivos a busca do ouro e o combate e a captura aos "selvagens hostis".

As entradas, portanto, foram os primeiros responsáveis pela dizimação em grande escala das tribos indígenas no Brasil. A ação dos catequizadores, ao passo que se opunha a esta caçada humana, acabava por facilitar o trabalho dos entradistas: a catequização dos índios, que se aglomeravam em aldeias, tornava mais facilitada a própria aniquilação deste povo. Os portugueses ainda aproveitavam as hostilidades entre certas tribos inimigas e jogavam-nas umas contra as outras, tirando grande partido disto. Apesar destes fatos, a luta dos portugueses não se desenvolveu sem perdas: os índios, de grande tradição caçadora e guerreira, opuseram grande resistência ao português. Mas a caçada portuguesa aos indígenas, ainda assim, foi implacável.

Bandeiras
São Paulo foi o grande centro irradiador das Bandeiras. Enquanto as primeiras Entradas possuíam por característica o recrutamento de uma gente aventureira, sem compromissos oficiais, as primeiras Bandeiras foram oficialmente organizadas pelo Governador-geral D. Francisco de Sousa. Possuíram as Bandeiras caráter mais pacífico que guerreiro, embora algumas das bandeiras, com seus sertanistas experientes, foram contratadas para o extermínio de índios ainda rebeldes à colonização e aos negros fugitivos estabelecidos nos quilombos.

Um dos movimentos bandeirantes organizados chegou a percorrer as maiores distâncias de que se tem notícia entre todos os movimentos exploratórios continentais: as jornadas empreendidas por Antônio Raposo Tavares chegaram a somar distâncias percorridas de dez mil quilômetros, abrangendo pioneiristicamente o espaço continental sul-americano. Através das bandeiras, iniciou-se também a exploração do espaço amazônico.

Também a expedição comandada por Fernão Dias Pais foi importante: à procura do ouro, Dias Pais morreu sem vislumbrar seu paraíso de riquezas. Porém, seu filho, Garcia Pais, e seu genro, Manuel de Borba Gato, prosseguiram na busca, fixando-se em Minas Gerais, uma região que atraía muitas outras expedições bandeirantes. Estas que vieram descobriram finalmente as tão almejadas minas auríferas na região das Minas Gerais.

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ENTRADAS E BANDEIRAS
Expedições de desbravamento no interior do Brasil na época da colônia. Organizadas com maior freqüência no século XVII, seus principais objetivos são o reconhecimento territorial, a captação de mão-de-obra indígena, a submissão ou eliminação de tribos hostis e a procura de metais preciosos.

As entradas têm seu centro principal de propagação no litoral nordestino, saindo da Bahia e de Pernambuco para o interior em missão geralmente oficial de mapeamento do território. Também combatem os grupos indígenas que ameaçam ou impedem o avanço da colonização, como os caetés, os potiguares, os cariris, os aimorés e os tupinambás. A atuação das entradas estende-se do Nordeste à Amazônia e ao Centro-Oeste, abrangendo ainda áreas próximas do Rio de Janeiro.

As bandeiras, em sua maioria, saem de São Vicente e de São Paulo para o Sul, Centro-Oeste e região mineira. São quase sempre expedições organizadas por paulistas e formadas por familiares, agregados, brancos pobres e muitos mamelucos que têm como meta atacar as missões jesuíticas e trazer índios cativos ou ir em busca de minas de ouro e pedras preciosas. Entre as principais bandeiras destacam-se as de Antônio Raposo Tavares, Fernão Dias Pais Leme, Bartolomeu Bueno da Silva e Domingos Jorge Velho.

Expansão territorial
Oficiais ou particulares, as entradas e bandeiras têm importância fundamental para a expansão territorial e o desenvolvimento da economia colonial. São essas expedições que devassam a Amazônia e ali dão início ao extrativismo das "drogas do sertão" (ervas, resinas, condimentos e madeiras nobres). Entram pelo rio São Francisco, abrindo caminho para o gado, chegam às serras mineiras e descobrem ouro e diamante. Os sertanistas também são usados no combate a escravos negros aquilombados e índios que se opõem à colonização branca. É o caso da bandeira de Domingos Jorge Velho, contratada no final do século XVII para destruir o Quilombo dos Palmares e depois liquidar a resistência dos cariris no Nordeste, na chamada Guerra dos Bárbaros, que se estende de 1685 a 1713.

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ENTRADAS E BANDEIRAS


A partir de 1700, é iniciado no Brasil um processo de alargamento de suas fronteiras com o objetivo de dominar e exterminar os indígenas e as missões dos jesuítas espanhóis, mapeamento do território brasileiro, mineração de ouro e esmeraldas além de outros metais e pedras preciosas, e obtenção de mão-de-obra escrava. As Entradas e Bandeiras surgiram predominantemente em um período em que o Brasil já contava com inúmeros centros populacionais espalhados pelo seu territórios. Os movimentos originaram-se no nordeste para a região do amazonas e posteriormente para o centro do país. Por outro lado, as Bandeiras partiram de São Vicente, em São Paulo, em direção ao Rio Grande do Sul, além de incursões pela região Centro-Oeste. O movimento das Entradas antecederam às Bandeiras, e ambos possuíram características diversas entre si.

Entradas
Grande parte do território brasileiro era ainda desconhecido: neste período, portanto, as terras ignotas possuíam, para o colonizador, uma aura de mistério que os levava a crer nas grandes riquezas em fontes perenes de metais preciosos ainda não exploradas. Assim nascem as entradas, tendo por objetivos a busca do ouro e o combate e a captura aos "selvagens hostis".

As entradas, portanto, foram os primeiros responsáveis pela dizimação em grande escala das tribos indígenas no Brasil. A ação dos catequizadores, ao passo que se opunha a esta caçada humana, acabava por facilitar o trabalho dos entradistas: a catequização dos índios, que se aglomeravam em aldeias, tornava mais facilitada a própria aniquilação deste povo. Os portugueses ainda aproveitavam as hostilidades entre certas tribos inimigas e jogavam-nas umas contra as outras, tirando grande partido disto. Apesar destes fatos, a luta dos portugueses não se desenvolveu sem perdas: os índios, de grande tradição caçadora e guerreira, opuseram grande resistência ao português. Mas a caçada portuguesa aos indígenas, ainda assim, foi implacável.

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Bandeiras


São Paulo foi o grande centro irradiador das Bandeiras. Enquanto as primeiras Entradas possuíam por característica o recrutamento de uma gente aventureira, sem compromissos oficiais, as primeiras Bandeiras foram oficialmente organizadas pelo Governador-geral D. Francisco de Sousa. Possuíram as Bandeiras caráter mais pacífico que guerreiro, embora algumas das bandeiras, com seus sertanistas experientes, foram contratadas para o extermínio de índios ainda rebeldes à colonização e aos negros fugitivos estabelecidos nos quilombos.

Um dos movimentos bandeirantes organizados chegou a percorrer as maiores distâncias de que se tem notícia entre todos os movimentos exploratórios continentais: as jornadas empreendidas por Antônio Raposo Tavares chegaram a somar distâncias percorridas de dez mil quilômetros, abrangendo pioneiristicamente o espaço continental sul-americano. Através das bandeiras, iniciou-se também a exploração do espaço amazônico.

Também a expedição comandada por Fernão Dias Pais foi importante: à procura do ouro, Dias Pais morreu sem vislumbrar seu paraíso de riquezas. Porém, seu filho, Garcia Pais, e seu genro, Manuel de Borba Gato, prosseguiram na busca, fixando-se em Minas Gerais, uma região que atraía muitas outras expedições bandeirantes. Estas que vieram descobriram finalmente as tão almejadas minas auríferas na região das Minas Gerais.

Antes de surgir a primeira vila, antes de surgirem as primeiras plantações de cana-de-açúcar, os portugueses entravam no sertão brasilerio em busca do ouro. Mas quando o açúcar passou a concentrar todas as atenções da Coroa Portuguesa, as entradas tornaram-se raras, a vida da colônia ficou resumida ao litoral.

Os paulistas, vivendo numa pobre cidadezinha do interior, no planalto, longe do açúcar, longe dos rebanhos e do pau-brasil, buscavam sua subsistência na 'caça ao índio'.

No final do Séc. XVI, começou um movimento para o interior, pois o Governo Geral deu impulso à busca de ouro e prata, dando um caráter oficial às bandeiras. E ainda, após choques com os colonos, os jesuítas fundaram missões (reduções) no interior. Isso despertou a cobiça dos bandeirantes, pois existiam milhares de nativos acostumados ao trabalho agrícola, muito mais valiosos que os 'índios bravos'. Dessa forma começaram a atacar as reduções.

Anos depois, quando os índios das missões receberam armas dos espanhóis para defenderem-se, os bandeirantes penetraram cada vez mais no sertão. Foi essa penetração que traçou os contornos aproximados do Brasil atual. O Tratado de Tordesilhas tornou-se uma relíquia do passado e o ouro surgiu como recompensa aos desbravadores do sertão.

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ENTRADAS E BANDEIRAS
A Organização das bandeiras


São Paulo era uma povoação acanhada. O mato crescia por toda parte. Mas era para esse povoado que retornavam os bandeirantes cansados das aventuras, como Raposo Tavares.

Na primeira década do século XVII, logo após o regresso de Nicolau Barreto com inúmeras "peças" (assim eram chamados os escravos, índios ou negros) capturadas, os paulistas lançaram-se ao sertão.

Sucederam-se, desse modo, as bandeiras de Diogo de Quadros (1606), Manuel Preto (1606-1607), Belchior Dias Rodrigues (1607-1609). Os primeiros guerrearam os carijós, Manuel Preto voltou da região do Guairá com índios, utilizados em sua fazenda de Nossa Senhora da Expectação (atual bairro da Freguesia do Ó). As outras duas entradas seguiram para a região dos índios "bilreiros", tribo não identificada, provavelmente situada entre os rios Paraná, Paraguai e Araguaia. O certo é que a expedição de Martim Rodrigues foi totalmente destruída.

Em 1610 partiram as entradas de Clemente Álvares, Cristóvão de Aguiar e Brás Golçalves, todas dirigidas ao sertão dos carijós. No ano seguinte foi a vez de Diogo Fernandes e Pêro Vaz de Barros - este último à frente de uma bandeira organizada por D. Luís de Souza, filho de D. Francisco de Souza, destinada a apresar índios nas missões do Guairá para o trabalho nas minas de Araçoiaba. Em 1612, Sebastião Preto seguiu para o Guairá, retornando com muitos índígenas. Três anos depois, Lázaro da Costa tomou rumo sul, enquanto Antônio Pedroso Alvarenga conduzia sua bandeira para os sertões goianos, atingindo o Tocantins e seus afluentes.

Uma vila despovoada de homens
Em 1623, partiram tantas bandeiras que São Paulo tornou-se quase que uma povoação só de mulheres e velhos. Nesse ano, penetraram no sertão, entre outros, Henrique da Cunha Gago e Fernão Dias Leme (tio de Fernão Dias Pais), além de Sebastião e Manuel Preto, que voltavam, mais uma vez, a caçar índios. No ano seguinte, os bandeirantes protestavam, indignados, contra uma provisão do governador, que destinava à Coroa a quinta parte dos indígenas capturados. O apresamento havia-se tornado uma atividade econômica de vulto. Devia, protanto, pagar impostos, da mesma forma que a pesca da baleia e o comércio de pau-brasil.

Organização das bandeiras
Por essa época, as expedições de apresamento e as de prospecção apresentavam formas de organização vastante diferentes. As primeiras, estruturadas militarmente pro D. Francisco de Souza e, mais tarde, pelos mestres-de-campo Manuel Preto e Antônio Raposo Tavares, reuniam milhares de índios, liderados por algumas centenas de mamelucos (mestiços) e portugueses. Dividiam-se me companhias com estados-maiores, vanguardas e flanqueadores. O armamento básico era o arco e flecha, mas contavam também com armas de fogo. As bandeiras de prospecção eram bem menores: alguamas dezenas de sertanistas que se esgueiravam pelas matas, procurando passar despercebidos às tribos guerreiras. Seu armamento era leve, para defesa contra eventuais ataques indígenas e de animais.

Entre os pontos comuns aos dois tipos de expedição estavam a ausência de animais de carga e o fato de evitarem vias fluviais. As regiões serem percorridas eram pedregosas ou cobertas pela mata, mais facilmente cruzadas por homens que estavam em marcha. Quanto aos rios, era junto a eles que estava localizada a amioria das tribos: o percurso por via fluvial teria anulado qualquer efeito de surpresa, essencial para o êxito do apresamento. só no sécvulo XVIII, quando foram descobertas as minas de Cuiabá, é que as monções começaram a seguir pelo rio Tietê - ou Anhembi, como era então denominado - rumo aos centros mineradores de Mato Grosso.
« Última modificação: Fevereiro 13, 2010, 02:53:34 pm por Templário »
Ensinam estas Quinas que aqui vês,
Que o mar com fim será grego e romano:
O mar sem fim é português
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
 

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Re: Os Bandeirantes - Bandeiras
« Responder #1 em: Fevereiro 05, 2010, 07:14:05 pm »


Nota minha, para acrescentar: A Expedição liderada por António Raposo Tavares de 1648 a 1652 uniu pela primeira vez o sul do Brasil (As bacias do Prata e do Paraguai) a cordilheira dos Andes, toda a Amazónia, Rio Madeira, a bacia Amazonas e Belém e abraçou grande parte do Brasil(e America do Sul). A maior de sempre nas Americas e aproximadamente o correspondente a meia volta ao mundo. Crê-se que tenha percorrido cerca de 12000 Km.









Entradas e Bandeiras


A partir de 1700, é iniciado no Brasil um processo de alargamento de suas fronteiras com o objetivo de dominar e exterminar os indígenas e as missões dos jesuítas espanhóis, mapeamento do território brasileiro, mineração de ouro e esmeraldas além de outros metais e pedras preciosas, e obtenção de mão-de-obra escrava. As Entradas e Bandeiras surgiram predominantemente em um período em que o Brasil já contava com inúmeros centros populacionais espalhados pelo seu territórios. Os movimentos originaram-se no nordeste para a região do amazonas e posteriormente para o centro do país. Por outro lado, as Bandeiras partiram de São Vicente, em São Paulo, em direção ao Rio Grande do Sul, além de incursões pela região Centro-Oeste. O movimento das Entradas antecederam às Bandeiras, e ambos possuíram características diversas entre si.

Entradas
Grande parte do território brasileiro era ainda desconhecido: neste período, portanto, as terras ignotas possuíam, para o colonizador, uma aura de mistério que os levava a crer nas grandes riquezas em fontes perenes de metais preciosos ainda não exploradas. Assim nascem as entradas, tendo por objetivos a busca do ouro e o combate e a captura aos "selvagens hostis".

As entradas, portanto, foram os primeiros responsáveis pela dizimação em grande escala das tribos indígenas no Brasil. A ação dos catequizadores, ao passo que se opunha a esta caçada humana, acabava por facilitar o trabalho dos entradistas: a catequização dos índios, que se aglomeravam em aldeias, tornava mais facilitada a própria aniquilação deste povo. Os portugueses ainda aproveitavam as hostilidades entre certas tribos inimigas e jogavam-nas umas contra as outras, tirando grande partido disto. Apesar destes fatos, a luta dos portugueses não se desenvolveu sem perdas: os índios, de grande tradição caçadora e guerreira, opuseram grande resistência ao português. Mas a caçada portuguesa aos indígenas, ainda assim, foi implacável.

Bandeiras
São Paulo foi o grande centro irradiador das Bandeiras. Enquanto as primeiras Entradas possuíam por característica o recrutamento de uma gente aventureira, sem compromissos oficiais, as primeiras Bandeiras foram oficialmente organizadas pelo Governador-geral D. Francisco de Sousa. Possuíram as Bandeiras caráter mais pacífico que guerreiro, embora algumas das bandeiras, com seus sertanistas experientes, foram contratadas para o extermínio de índios ainda rebeldes à colonização e aos negros fugitivos estabelecidos nos quilombos.

Um dos movimentos bandeirantes organizados chegou a percorrer as maiores distâncias de que se tem notícia entre todos os movimentos exploratórios continentais: as jornadas empreendidas por Antônio Raposo Tavares chegaram a somar distâncias percorridas de dez mil quilômetros, abrangendo pioneiristicamente o espaço continental sul-americano. Através das bandeiras, iniciou-se também a exploração do espaço amazônico.

Também a expedição comandada por Fernão Dias Pais foi importante: à procura do ouro, Dias Pais morreu sem vislumbrar seu paraíso de riquezas. Porém, seu filho, Garcia Pais, e seu genro, Manuel de Borba Gato, prosseguiram na busca, fixando-se em Minas Gerais, uma região que atraía muitas outras expedições bandeirantes. Estas que vieram descobriram finalmente as tão almejadas minas auríferas na região das Minas Gerais.



Antes de surgir a primeira vila, antes de surgirem as primeiras plantações de cana-de-açúcar, os portugueses entravam no sertão brasilerio em busca do ouro. Mas quando o açúcar passou a concentrar todas as atenções da Coroa Portuguesa, as entradas tornaram-se raras, a vida da colônia ficou resumida ao litoral.

Os paulistas, vivendo numa pobre cidadezinha do interior, no planalto, longe do açúcar, longe dos rebanhos e do pau-brasil, buscavam sua subsistência na 'caça ao índio'.

No final do Séc. XVI, começou um movimento para o interior, pois o Governo Geral deu impulso à busca de ouro e prata, dando um caráter oficial às bandeiras. E ainda, após choques com os colonos, os jesuítas fundaram missões (reduções) no interior. Isso despertou a cobiça dos bandeirantes, pois existiam milhares de nativos acostumados ao trabalho agrícola, muito mais valiosos que os 'índios bravos'. Dessa forma começaram a atacar as reduções.

Anos depois, quando os índios das missões receberam armas dos espanhóis para defenderem-se, os bandeirantes penetraram cada vez mais no sertão. Foi essa penetração que traçou os contornos aproximados do Brasil atual. O Tratado de Tordesilhas tornou-se uma relíquia do passado e o ouro surgiu como recompensa aos desbravadores do sertão.

Bandeirismo de Preação


A partir de 1619, os bandeirantes intensificaram os ataques contra as reduções jesuíticas, e os artesãos e agricultores guaranis foram escravizados em massa. No entanto, muito antes de surgirem os primeiros aldeamentos na bacia do Prata, os paulistas já percorriam o sertão, buscando na preação do indígena o meio para sua subsistência.

Essa "vocação interiorana" era alimentada por uma série de condições geográficas, econômicas e sociais. Separada do litoral pela muralha da serra do Mar, São Paulo voltava-se para o sertão, cuja penetração era facilitada pela presença do rio Tietê e de seus afluentes que comunicavam os paulistas com o distante interior. Além disso, apesar de afastada dos principais centros mercantis, sua população crescera muito. É que boa parte dos habitantes de São Vicente haviam migrado para lá quando os canaviais plantados no litoral por Martim Afonso de Sousa entraram em decadência, já na segunda metade do século XVI, arruinando muitos fazendeiros.

Ligados a uma cultura de subsistência baseada no trabalho escravo dos índios, os paulistas começaram suas expedições de apresamento (ou preação) em 1562, quando João Ramalho atacou as tribos do vale do rio Paraíba.

As reduções organizadas pelos jesuítas no interior do continente foram, para os paulistas, um presente dos céus: reuniam milhares de índios adestrados na agricultura e nos trabalhos manuais, bem mais valiosos que os ferozes tapuias, de "língua travada". No século XVII, o controle holandês sobre os mercados africanos, no período da ocupação do Nordeste, interrompeu o tráfico negreiro. Os colonos voltaram-se então para o trabalho indígena. Esse aumento da procura provocou uma elevação nos preços do escravo índio, considerado como "negro da terra", e que custava, em média, cinco vezes menos que os escravos africanos. O bandeirismo de preação tornou-se, assim, uma atividade altamente rendosa. Para os paulistas, atacar as reduções jesuíticas era a via mais fácil para o enriquecimento.

Diante dos ataques, os jesuítas começaram a recuar para o interior e exigiram armas ao governo espanhol. A resposta foi nova ofensiva, dessa vez desencadeada pelas autoridades de Assunção (Paraguai), que possuíam laços econômicos com os colonos do Brasil. Mesmo após o término da União Ibérica, em 1640, quando os guaranis finalmente receberam armas dos espanhóis os paulistas foram apoiados pelo bispo D. Bernardino de Cárdenas, inimigo dos jesuítas e governador do Paraguai. Os reinos ibéricos podiam lutar entre si na Europa; no entanto, as "repúblicas" comunitárias guaranis eram o inimigo comum de todos aqueles que estivessem interessados na exploração sem limites das terras americanas.

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Entradas e Bandeiras


Cronologia do bandeirismo de preação
1557 - Os espanhóis edificam Ciudad Real, próximo à foz do Piquiri, no Paraná.
1562 - João Ramalho ataca as tribos do rio Paraíba, enquanto os jesuítas ajudam a dissolver a Confederação dos Tamoios.
1576 - Os espanhóis fundam Vila Rica, na margem esquerda do rio Ivaí.
1579 - Jerônimo Leitão ataca as aldeias das margens do Anhembi (Tietê).
1594-1599 - Afonso Sardinha e João do Prado investem contra as tribos do Jeticaí.
1595 - Uma carta régia proíbe a escravização dos indígenas.
1597 - Martim Correia de Sá parte do Rio de Janeiro e chega ao rio Sapucaí ou Verde. 1602 - Nicolau Barreto percorre os sertões do Paraná, Paraguai e Bolívia, atingindo as nascentes do rio Pilcomayu.
1606 - Manuel Preto segue rumo ao sul, à frente de uma bandeira.
1607 - Outra expedição, dessa vez chefiada por Belchior Dias Carneiro, dirige-se para o sul do Brasil.
1610 - Jesuítas castelhanos fundam os povoados de Santo Inácio é Loreto, na margem esquerda do Paranapanema.
1619 - Manuel Preto ataca aldeias de Jesus, Maria e Santo Inácio (província do Guairá) 1620 - Os jesuítas iniciam o povoamento do atual Rio Grande do Sul, com duas administrações: a província do Tape, com seis "povos", e a do Uruguai, com dez reduções. 1623-1630 - Onze aldeias compõem a província do Guairá, limitada pelos rios Paranapanema, Itararé, Iguaçu e Paraná (margem esquerda).
1626 - Surge a província do Paraná, com sete reduções, entre os rios Paraná e Uruguai.
1628 - Manuel Preto e Antônio Raposo Tavares destroem as reduções do Guairá, em várias campanhas que terminam em
1631 - Os jesuítas criam a província do Itatim a sudeste do atual Mato Grosso.
1633 - Antonio Raposo Tavares inicia a invasão do atual Rio Grande do Sul.
1639 - A Espanha concede permissão para que os índios se armem.
1640 - Os jesuítas são expulsos de São Paulo.
1648 - Uma expedição chefiada por Raposo Tavares percorre as regiões de Mato Grosso, Bolívia, Peru (chegando ao Pacífico) e Amazônia, retomando a São Paulo em 1652.
1661 - Fernão Dias Pais atravessa os sertões do sul até a serra de Apucarana.
1670 - Bartolomeu Bueno de Siqueira atinge Goiás.
1671-1674 - Estêvão Ribeiro Baião Parente e Brás Rodrigues de Arzão cruzam o sertão nordestino.
1671 - Domingos Jorge Velho chefia uma expedição ao Piauí.
1673 - Manuel Dias da Silva, o "Bixira", atinge Santa Fé, nas missões paraguaias.
Manuel de Campos Bicudo percorre terras entre as bacias platina e amazônica. Em Goiás, encontra-se com Bartolomeu Bueno da Silva.
1675 - Francisco Pedroso Xavier destrói Vila Rica del Espíritu Santo (a sessenta léguas de Assunção).
1689 - Manuel Álvares de Moraes Navarro combate tribos do São Francisco e chega ao Ceará e ao Rio Grande do Norte. - Convocado pelo governo-geral, Matias Cardoso de Almeida enfrenta os "índios bravos" do Ceará e do Rio Grande do Norte em sucessivas campanhas que terminam em 1694.

Bandeirismo de prospecção
Embora a caça ao índio tenha ocupado a atenção dos bandeirantes até meados do século XVII, desde os primeiros tempos da colonização houve tentativas de descobrir metais preciosos no sertão brasileiro. Ouro e prata eram, na verdade, a primeira coisa que os europeus procuravam em toda parte no período das grandes navegações. Devido à intensificação do comércio, desde o fim da Idade Média a Europa sofria escassez de metais preciosos. Os navegantes ibéricos foram encontrá-los na África, depois na Asia. E logo começaram a buscá-los também na América, onde lendas indígenas falavam de um lugar chamado Eldorado, de riquezas incalculáveis.

Primeiras expedições
No Brasil, a primeira expedição desse gênero de que se tem notícia aconteceu em 1524. Um português de nome Aleixo Garcia, náufrago da armada de João Dias de Solís , partiu do litoral de Santa Catarina em busca do território dos Charcas (atual Bolívia) e voltou com amostras de prata. Isso reforçou a crença de que havia uma serra da prata nessa parte da América do Sul - miragem que Martim Afonso de Sousa andou perseguindo antes de fundar Sâo Vicente em 1532. Durante seu govemo-geral, Mem de Sá enviou de Sâo Vicente pelo menos duas expedições em busca das legendárias riquezas do sertão, em 1560 e 1561. Exceto por amostras mínimas de ouro e pedras verdes, essas expedições voltaram de mãos abanando. Pequenos resultados eram, no entanto, o bastante para manter vivo o sonho. Consta que, entre 1570 e 1584, um explorador de origem alemã, Heliodoro Eobanos, partindo do Rio de Janeiro, descobriu ouro nas regiões de Iguape, Paranaguá e Curitiba.

De São Vicente partiu o mameluco Afonso Sardinha, que, na década de 1590, fez descobertas do metal na serra da Mantiqueira. Atraído por essas notícias, D. Francisco de Sousa, governador-geral do Brasil entre 1591 e 1602, mudou-se da Bahia para São Vicente a fim de dirigir de perto as pesquisas sertão adentro. Antes de retomar a Portugal, mandou ao interior as entradas de André de Leão e Nicolau Barreto. Regressando ao Brasil em 1606, enviou a entrada de Simão Álvares, o Velho, que em 1610 deixou São Paulo rumo ao rio Casca, em Minas Gerais.
A prospecção nas capitanias "de cima"

São Paulo, nessa época, era a região mais pobre do Brasil: sem canaviais e engenhos, a capitania de São Vicente vivia de uma mirrada agricultura de subsistência. Além disso, era habitada por muitos índios e mamelucos que, ao contrário dos europeus e negros das outras regiões, conheciam bem o sertão. E estava localizada num ponto estratégico do planalto, na "boca do sertão". Por tudo isso, a maioria das bandeiras saiu de São Paulo. Contudo, também nas capitanias "de cima", isto é, do Nordeste, procurou-se ouro. Da Bahia, seguindo os passos de Francisco Bruzza de Espinosa ( 1554), várias entradas se embrenharam pela região do rio São Francisco, chegando à chapada Diamantina e à região de Minas Novas. Do Sergipe partiu, entre outras, a bandeira de Belchior Dias Moréia, neto de Caramuru, que ficou no sertão durante oito anos, desde 1595. Em 1603, partia do Ceará a expedição de Pêro Coelho de Sousa, enviada pelo governador-geral Diogo Botelho. Os holandeses também se preocuparam com a existência de metais preciosos no interior do Nordeste e Maurício de Nassau organizou pelo menos três expedições que percorreram o sertão. Finalmente, do Espírito Santo partiram entradas buscando esmeraldas: a de Diogo Martins Cão, em 1596, a de Agostinho Barbalho Bezerra, em 1664, e outras.
« Última modificação: Fevereiro 13, 2010, 02:52:03 pm por Templário »
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Re: Os Bandeirantes - Bandeiras
« Responder #2 em: Fevereiro 05, 2010, 07:15:33 pm »


Entradas e Bandeiras
São Paulo era uma povoação acanhada. O mato crescia por toda parte. Mas era para esse povoado que retornavam os bandeirantes cansados das aventuras, como Raposo Tavares.

Na primeira década do século XVII, logo após o regresso de Nicolau Barreto com inúmeras "peças" (assim eram chamados os escravos, índios ou negros) capturadas, os paulistas lançaram-se ao sertão.

Sucederam-se, desse modo, as bandeiras de Diogo de Quadros (1606), Manuel Preto (1606-1607), Belchior Dias Rodrigues (1607-1609). Os primeiros guerreou os carijós, Manuel Preto voltou da região do Guairá com índios, utilizados em sua fazenda de Nossa Senhora da Expectação (atual bairro da Freguesia do Ó). As outras duas entradas seguiram para a região dos índios "bilreiros", tribo não identificada, provavelmente situada entre os rios Paraná, Paraguai e Araguaia. O certo é que a expedição de Martim Rodrigues foi totalmente destruída.

Em 1610 partiram as entradas de Clemente Álvares, Cristóvão de Aguiar e Brás Golçalves, todas dirigidas ao sertão dos carijós. No ano seguinte foi a vez de Diogo Fernandes e Pêro Vaz de Barros - este último à frente de uma bandeira organizada por D. Luís de Souza, filho de D. Francisco de Souza, destinada a apresar índios nas missões do Guairá para o trabalho nas minas de Araçoiaba. Em 1612, Sebastião Preto seguiu para o Guairá, retornando com muitos índígenas. Três anos depois, Lázaro da Costa tomou rumo sul, enquanto Antônio Pedroso Alvarenga conduzia sua bandeira para os sertões goianos, atingindo o Tocantins e seus afluentes.

Uma vila despovoada de homens
Em 1623, partiram tantas bandeiras que São Paulo tornou-se quase que uma povoação só de mulheres e velhos. Nesse ano, penetraram no sertão, entre outros, Henrique da Cunha Gago e Fernão Dias Leme (tio de Fernão Dias Pais), além de Sebastião e Manuel Preto, que voltavam, mais uma vez, a caçar índios. No ano seguinte, os bandeirantes protestavam, indignados, contra uma provisão do governador, que destinava à Coroa a quinta parte dos indígenas capturados. O apresamento havia-se tornado uma atividade econômica de vulto. Devia, protanto, pagar impostos, da mesma forma que a pesca da baleia e o comércio de pau-brasil.

Organização das bandeiras
Por essa época, as expedições de apresamento e as de prospecção apresentavam formas de organização vastante diferentes. As primeiras, estruturadas militarmente pro D. Francisco de Souza e, mais tarde, pelos mestres-de-campo Manuel Preto e Antônio Raposo Tavares, reuniam milhares de índios, liderados por algumas centenas de mamelucos (mestiços) e portugueses. Dividiam-se me companhias com estados-maiores, vanguardas e flanqueadores. O armamento básico era o arco e flecha, mas contavam também com armas de fogo. As bandeiras de prospecção eram bem menores: alguamas dezenas de sertanistas que se esgueiravam pelas matas, procurando passar despercebidos às tribos guerreiras. Seu armamento era leve, para defesa contra eventuais ataques indígenas e de animais.



Entre os pontos comuns aos dois tipos de expedição estavam a ausência de animais de carga e o fato de evitarem vias fluviais. As regiões serem percorridas eram pedregosas ou cobertas pela mata, mais facilmente cruzadas por homens que estavam em marcha. Quanto aos rios, era junto a eles que estava localizada a amioria das tribos: o percurso por via fluvial teria anulado qualquer efeito de surpresa, essencial para o êxito do apresamento. só no sécvulo XVIII, quando foram descobertas as minas de Cuiabá, é que as monções começaram a seguir pelo rio Tietê - ou Anhembi, como era então denominado - rumo aos centros mineradores de Mato Grosso.

Fonte: http://www.historiaonline.pro.br

Entradas e Bandeiras
Entradas e bandeiras eram os nomes atribuídos às expedições empreendidas no Brasil no período colonial com o fim de explorar o território, buscar riquezas minerais e aprisionar escravos indígenas ou mesmo negros.

Enquanto as Entradas eram financiadas pelos cofres públicos e com o apoio total do governo em nome do rei de Portugal, as Bandeiras eram iniciativas de bravos particulares que com recursos próprios adentravam pelos sertões brasileiros.

Jaime Cortesão é um historiador que chama a atenção para «a precocidade, em Porto Seguro, do movimento de entrada para oeste, em busca de ouro e pedras. Apenas São Vicente e São Paulo se volverão, logo após a chegada do primeiro donatário, centro de uma precoce e espontânea penetração por parte dos primeiros colonos.» Em Porto Seguro, diz ele em seu livro Cabral e as origens do Brasil, «é que se vai formar a lenda da serra das esmeraldas, que levará ao descobrimento definitivo das minas e à exploração intensiva dos sertões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.»

Eram tempos em que a prata era o metal mais estimado, e depois da atroz conquista do México e do Peru pelos espanhóis, a América a tinha derramado no mundo, o tesouro era levado pelos galeões para a Europa. Em 1542 foram descobertas as minas de Potosi, no Alto Peru (hoje, Bolívia) e como a terra era separada da do Brasil por uma linha imaginária, havia a crença geral de que a América portuguesa possuiria também muita prata. Capistrano de Abreu conta que à preocupação pelas minhas já haviam cedido «Cristóvão Jacques e Martim Afonso de Sousa. Nas suas capitanias, esperavam descobri-las João de Barros e sócios. Duarte Coelho contava descobri-las no rio São Francisco e só deixou de ir pessoalmente pesquisá-las por cirscunstâncias alheias à sua vontade. Em Porto Seguro correram notícias de ouro uns quarenta anos depois da viagem de Pedro Álvares Cabral.»

Ao primeiro governador-geral Tomé de Sousa havia sido insistentemente recomendado pela Corte descobrir as minas de ouro e prata. Mandou uma galé ao norte, para ver se, entrando pelos rios dentro na direção onde fica o Peru, se encontravam indícios de minas - mas o barco desapareceu. O historiador Varnhagen diz: « Ás notícias vindas de São Vicente (...) se tinham seguido outras mandadas de Pernambuco pelo provedor-mor Antônio Cardoso; (...) mas eram especialmente as recém-chegadas de Porto Seguro, onde estava o capitão Duarte de Lemos, que mais visos tinham de verdadeiras. Uma partida de gentios, ali arribada do sertão, dava conta de que, para as bandas do grande rio São Francisco, se encontravam serras com esse metal amarelo que iam ter aos rios; e ao mesmo tempo apresentavam mostras de várias pedras finas, entrando neste número algumas verdes como esmeraldas.»

O capitão Duarte de Lemos escreveu ao rei em julho de 1550, de Porto Seguro: garante-lhe que ali «é a terra onde está o ouro, porque de nenhuma destas partes podem ir melhor a ele que por esta» já que o Peru «está na altura de dezessete graus que é onde esta capitania está»... O argumento português era portanto geográfico: devia haver ouro, porque as terras eram contíguas às do Peru.

Entrada de Porto Seguro, 1554
Teve lugar no governo de Tomé de Souza, sob o comando do castelhano Francisco Bruzo de Espinhosa (que consta do processo movido contra o donatário Pero do Campo Tourinho). Teria descido pelo litoral, enveredado pelo vale do rio Pardo, com numerosa expedição, atravessando o vale do rio Jequitinhonha, chegando ao rio São Francisco, cruzando assim o sertão do que hoje é o Estado da Bahia, saindo no atual Estado de Minas Gerais onde se ergue em sua homenagem a cidade de Espinosa. Percorreu tabuleiros de pastagens naturais onde havia até jazidas de sal, e por isso mesmo a zona mais tarde se encheria com numerosos rebanhos, sobretudo a partir do século XVII, com a ação do grande senhor dos sertões, Antônio Guedes de Brito.

Bandeiras
Os integrantes destas expedições recebiam a denominação de Bandeirantes e seu objetivo claro era adentrar no território para além da linha imaginária do Tratado de Tordesilhas, garantindo ainda a expansão do território para Portugal.

Drogas do sertão
Algumas especiarias extraídas do chamado sertão brasileiro na época das entradas e das bandeiras receberam o nome de Drogas do sertão, como por exemplo o urucum e o guaraná.

Caminho geral do sertão
Por décadas os bandeirantes do Vale do Paraíba que rumavam para as terras do ouro, hoje Minas Gerais, mas na época conhecidas como sertão da capitania de São Paulo, à qual pertenciam, cruzavam a Garganta do Embaú, com notável altitude de 1.133m no alto daSerra da Mantiqueira. Era o ponto mais baixo dos cumes da serra, visível de longe, e a partir dela, embrenhavam-se pelo chamado "caminho geral do sertão".

Por esta passagem cruzaram bandeiras como as de Fernão Dias Pais, ntonio Delgado da Veiga e de Miguel Garcia. O caminho, mais tarde, foi trecho da antiga Estrada Real, que fazia descer o ouro de Minas Gerais ao porto de Parati, nos arredores do Rio de Janeiro.

Partida de uma Bandeira

« Última modificação: Fevereiro 06, 2010, 04:49:39 pm por Templário »
Ensinam estas Quinas que aqui vês,
Que o mar com fim será grego e romano:
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Re: Os Bandeirantes - Bandeiras
« Responder #3 em: Fevereiro 05, 2010, 07:19:22 pm »


Antonio Raposo Tavares (Monumento no Museu Paulista)



“O Último Bandeirante” (A Esfera dos Livros), de Pedro Pinto, apresentado a 18 de Março na Embaixada do Brasil
14/03/2009


“O Último Bandeirante”, romance de estreia do jornalista da TVI Pedro Pinto (editado por A Esfera dos Livros), vai ser apresentado a 18 de Março (quarta-feira) na Embaixada do Brasil em Lisboa. A cerimónia terá lugar às 18h30 na Sala dos Atos da Embaixada do Brasil, cabendo a apresentação a Isabel Stilwell e a Luís Alves de Fraga.

Entretanto no sábado 14 de Março, às 16h00, Pedro Pinto estará no Continente do Colombo para uma sessão de autógrafos, o mesmo sucedendo no domingo 15 de Março às 10h30, desta vez no Continente de Oeiras.

“O Último Bandeirante” é um romance histórico cujo protagonista é Raposo Tavares. Quando este atacou a Missão Jesuíta de Jesus Maria, o seu objectivo era conquistar a região do Tape em nome da Coroa portuguesa e destruir o sonho do Superior Diego de Trujillo. Contudo, estava longe de imaginar que começava ali uma corrida de vida e morte à maior bandeira de sempre em terras do Brasil.

Com as mãos sujas de sangue, a roupa a cheirar a queimado e milhares de índios aprisionados, Raposo Tavares, o maior bandeirante de todos os tempos, regressou à vila de São Paulo; voltou a casa e ao fabrico das suas estranhas infusões, ao desenho dos seus mapas e aos braços apaixonados de Maria Teresa. No entanto, era hora de regressar ao mato, para definir as fronteiras de Tordesilhas e procurar, a contragosto, o Eldorado.

Só que, três anos depois, quando regressou a São Paulo, Raposo Tavares era um homem quase irreconhecível, marcado pela maldição do Amazonas.

Pedro Pinto, de 37 anos e jornalista desde 1997, é coordenador e apresentador do “Jornal Nacional” da TVI. É também formado em Relações Internacionais e Mestre em Desenvolvimento e Cooperação Internacional pelo ISEG, assim como professor na Universidade Autónoma de Lisboa desde 1996, onde é responsável pelas cadeiras de Integração Económica e de Newsroom.




Pedro Pinto – Entrevista a propósito de “O Último Bandeirante”
27/03/2009
Pedro Pinto, jornalista da TVI, estreou-se em Março de 2009 como romancista com “O Último Bandeirante”, respondendo assim a um desafio lançado pela Esfera dos Livros.  O seu gosto pela História e pelos grandes descobridores, nomeadamente os mais esquecidos, levaram-no a optar, para protagonista, por António Raposo Tavares, o maior bandeirante de todos. Inspirado por um grande quadro com que se deparou no Museu de Arte de São Paulo, “partiu” para uma viagem pela Amazónia de há 400 anos.

Em entrevista por e-mail, Pedro Pinto revelou ao blog Porta-Livros as suas motivações, tanto quanto ao tema escolhido como relativamente à opção pela escrita de ficção.

Ciente do “estigma” que carregam os jornalistas/pivots que se dedicam à escrita, foi esclarecedor: “As pessoas podem gostar mais ou menos da história, podem achar ‘O Último Bandeirante’ mais ou menos bem escrito, mas ninguém me vai poder acusar, a não ser de forma desonesta ou maldosamente, de me ter sentado e em três dias ter escrito um livro só porque sou conhecido e eventualmente popular.”

 

Sendo jornalista e por isso tratando todos os dias de temas da actualidade, optar pelo romance histórico é uma espécie de escape?

Acima de tudo tenho gosto pela História e por grandes descobridores, por grandes portugueses que fizeram a História de Portugal e do Mundo. Muitas vezes esquecidos, como este António Raposo Tavares, português de Beja, alentejano que chegou ao Brasil já com 20 anos. Injustamente esquecido, diga-se, depois de uma viagem notável e inigualável. As notícias do dia-a-dia são importantes, mas há um traço na grande História que perdura para sempre.

 

O que o levou a optar por este tema e por esta época?

Sobretudo um quadro enorme do tamanho de toda uma parede, à entrada do Museu de Arte de São Paulo, e que me deixou fascinado com a dimensão da viagem, feita há 400 anos e sem meios, debaixo de um ambiente físico impiedoso, numa Amazónia apaixonantemente bela mas agressiva. E uma viagem capaz de engrandecer Portugal e os Portugueses, ao nível de que foi feita por grandes navegadores e que coloca qualquer David Crockett a um canto!

 

Controlou sempre o enredo da sua história, ou chegou a ser surpreendido pelo rumo que a acção de “O Último Bandeirante” foi tomando?

Sabia como ia acabar, porque esse era e é um dado e um facto histórico imutável. Mas o enredo da história foi sendo construído e alterado à medida que eu próprio me surpreendia com a teia de interesses sociais e económicos que marcavam o Brasil da época e que me levaram mais de um ano de investigação. Sobretudo, uma corrida de morte entre Portugueses e Espanhóis que, embora debaixo do mesmo rei – relembro que estamos em período filipino – cada um procurava expandir a sua influência naquelas terras. Para além de uma profunda oposição entre jesuítas e bandeirantes. Uns a espalhar a palavra de Deus aos indígenas, a tentar criar um verdadeiro Novo Mundo, na fé e na palavra de Deus, outros a destruir missões, a escravizar os índios e a tentar marcar território para Portugal.  

 

O que o levou a enfrentar este desafio de escrever um romance?

O gosto pela História, pela aventura, a curiosidade por um herói português pouco conhecido dos portugueses, até maltratado pela memória colectiva, atreveria mesmo a dizer, e a resposta a um repto feito pela Esfera dos Livros, que me desafiou a escrever um romance histórico.

 

Escrever um romance foi para si uma tarefa solitária, ou tratou-se antes de um processo em que procurava auxílio e apoio de outras pessoas para o ajudar nesta fase nova/diferente da sua carreira?

Escrever foi uma tarefa solitária, que alternava muitas vezes entre a exaltação da descoberta ou o prazer do enredo e a angústia de poder, eventualmente, estar a contar uma história capaz de não interessar a ninguém. No fundo, de estar a sacrificar uma série de coisas, durante dois anos, para nada.

 

Acha que os jornalistas têm mais facilidade em se tornarem escritores por estarem habituados à pressão diária da escrita no exercício da sua função? Ou estar habituado a esse tipo de escrita pode, pelo contrário, ser nocivo quando se entra num ritmo “mais lento”?

Não consigo ter uma resposta concreta e muito menos generalista. No meu caso, ser jornalista acho que me ajudou na capacidade de síntese de algumas matérias históricas e na criação de imagens que ajudassem o leitor a “viver” o século XVII. Mas escrever um pivot para uma peça de televisão nada tem que ver com a escrita de um romance. Nesse aspecto, tenho uma forma muito lenta de escrever.

 

Considera “O Último Bandeirante” apenas uma experiência ou pensa seguir efectivamente esta carreira?

Eu sou jornalista e professor universitário. Essas são as minhas carreiras. Nesta altura, cheguei ao fim de um projecto e quero apenas desfrutar de tudo o que tive de me privar para que ficasse completo. Neste momento, só o ócio e poder estar mais tempo com a minha família é que me preocupa.

 

Quais são as suas referências a nível literário?

Gosto de autores muito diferenciados: Paul Auster, Phillip Roth, Ferreira de Castro, Eça de Queiroz e Jorge Amado, Milan Kundera e John Le Carré, Vasquez-Figueroa ou Luis Sepúlveda. E gosto também muito de Hugo Pratt e do seu Corto Maltese. Um grande contador de histórias. Mas adoro sobretudo um bom livro que nos faça viver outras vidas ou outros tempos.

 

Não teme ser catalogado como “mais um jornalista de televisão que quer ser escritor” e por isso não ser levado a sério?

Não é uma questão de temer ou não temer. Tenho a certeza que muitos pensarão assim. Mas eu impus a mim mesmo uma regra, uma fronteira, tal como Raposo Tavares: as pessoas podem gostar mais ou menos da história, podem achar “O Último Bandeirante” mais ou menos bem escrito, mas ninguém me vai poder acusar, a não ser de forma desonesta ou maldosamente, de me ter sentado e em três dias ter escrito um livro só porque sou conhecido e eventualmente popular. E isso foi desde o início um ponto de honra, uma questão de dignidade para comigo próprio, da qual nunca estive disposto a abdicar.

 

Tem, com certeza, noção que o facto de ser figura pública o ajuda na promoção do livro. Isso incomoda-o?

Não me incomoda. As coisas são como são! Mas uma promoção, por melhor que seja feita, não torna um livro mau num livro bom. Não torna uma leitura desagradável numa leitura empolgante. E, falando como leitor, só me deixo enganar uma vez…

 
O que diria a alguém para o convencer a ler “O Último Bandeirante”?

Esta é uma história de um grande português que fez uma viagem notável por terras exóticas e desconhecidas, cheias de mitos de riqueza e de maldição, por entre a oposição dos jesuítas e as agruras da natureza, que se aventurou por onde nunca ninguém tinha estado e foi decisivo para que a Amazónia, e grande parte do território do Brasil, tivessem passado a pertencer a Portugal e não a Espanha.

Ensinam estas Quinas que aqui vês,
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Re: Os Bandeirantes - Bandeiras
« Responder #4 em: Fevereiro 06, 2010, 11:47:10 pm »
Antônio Raposo Tavares
Bandeira de Raposo Tavares



Antônio Raposo Tavares

Além do apresamento de índios e da busca de ouro, as bandeiras tinham ainda outra função importante para a Metrópole: serviam de ponta de lança da conquista e povoamento do interior, numa época em que Espanha e Portugal estavam longe de ter definido a fronteira de seus domínios no coração da América do Sul. Em algumas expedições, essa função política e militar se destacou. Foi o caso da bandeira chefiada por Antônio Raposo Tavares, que deixou São Paulo em 1648 para desbravar milhares de quilômetros do sertão até o Amazonas.

Com a chancela do rei
Português nascido em São Miguel da Beja em 1598, vindo para o Brasil aos vinte anos, Antônio Raposo Tavares já era um experiente preador de índios quando se envolveu naquela que seria a maior façanha de sua vida. Consta que esteve em Portugal, traçando os planos da expedição, junto com altas autoridades do Reino. O objetivo era aumentar a área do interior sul-americano sob domínio português, descobrindo novos territórios e, se possível, reservas de metais preciosos. Já nessa época conhecia-se a rota de São Paulo ao Peru; pelo menos um bandeirante, Antônio Castanho da Silva, chegara até lá em 1622. Acredita-se até que as reduções jesuíticas do Itatim foram formadas para bloquear essa via de acesso aos paulistas.


Três anos pelo sertão
Preparado para enfrentar qualquer bloqueio, Raposo Tavares dividiu a bandeira em duas colunas. A primeira, chefiada por ele próprio, reunia 120 paulistas e 1 200 índios. A segunda, um pouco menor, era comandàda por Antônio Pereira de Azevedo. Viajando separadamente, os dois grupos desceram o Tietê até o rio Paraná, de onde atingiram o Aquidauana. Em dezembro de 1648, reuniram-se às margens do rio Paraguai, ocupando a redução de Santa Bárbara.

Depois de unificada, a bandeira prosseguiu viagem em abril de 1649, alcançando o rio Guapaí (ou Grande), de onde avançou em direção à cordilheira dos Andes. Estava em plena América espanhola, entre as cidades de Potosí e Santa Cruz de la Sierra (hoje território da Bolívia). Aí permaneceu até meados de 1650, explorando o mais possível a região. De julho de 1650 a fevereiro de 1651, já reduzida a algumas dezenas de homens, empreendeu a etapa final: seguiu pelo Guapaí até o rio Madeira e atingiu o rio Amazonas, chegando ao forte de Gurupá, nas proximidades de Belém. Diz a lenda que os remanescentes da grande expedição chegaram exaustos e doentes ao forte e que, voltando a São Paulo, Raposo Tavares estava tão desfigurado que nem seus parentes o reconheceram. Como resultado da aventura, vastas regiões desconhecidas entre o trópico de Capricórnio e o equador passavam a figurar nos mapas portugueses.

Fonte: http://www.geocities.com

Antônio Raposo Tavares

Não existem caminhos.

Cada movimento deve ser conquistado a golpes afiados que dilaceram a vegetação, derrubam as feras, sangram os que atrevem a enfrentá-los. Os paulistas estão penetrando por um mundo selvagem. O menor descuido e a vegetação pune, a fauna agride, o inimigo mata. Mas eles não param. Uma luta a cada palmo, esses homens progridem sempre.

Avançam em busca da fortuna em ouro, prata ou índios para escravizar. Avançam para combater os espanhóis, derrotá-los, desalojá-los. Avançam na aventura de descobrir novos lugares, devassar novas florestas. Avançam.

Atrás deles ficam as rotas abertas, o verde vencido, a terra mansa. Um passo à frente e o País cresce mais um metro. Aonde vão, os homens levam consigo os limites da terra brasileira. No seu percurso, as fronteiras desabem. Longo e árduo trajeto espera uma bandeira. Mas, qualquer que seja seu rumo, é quase sempre em São Paulo que os caminhos se iniciam.

Da pequena vila no planalto de Piratininga, partem e chegam as bandeiras. Quando retornam, trazem consigo índios apresados, a experiência do sertão desbravado, o cansaço das longas caminhadas, histórias de muitas lutas que tiveram de vencer para continuar vivos. Mas nem todos vencem sempre, e a bandeira traz também notícias de mortes. Por isso, o regresso é bem diverso da partida, que é toda feita de esperança.

Bandeirante brasileiro (Beja de São Miguel, Alentejo, Portugal, c. 1598 – São Paulo, 1658).

Fixou-se em São Paulo em 1622, quando o pai assumiu o cargo de capitão-mor e governador da capitania de São Vicente. Empenhou-se em assegurar a posse das terras dos atuais Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, ocupadas então pelas reduções jesuíticas. Partindo de São Paulo em 1647, pôs-se à frente da chamada bandeira dos limites, que foi até a Amazônia, retornando a São Paulo em 1650, num périplo superior a 12.000km, a maior de todas as expedições de reconhecimento geográfico realizadas no Brasil.

Fonte: http://www.cotianet.com.br

Antônio Raposo Tavares
Bandeirante português (1598-1658).

Responsável pela expansão das fronteiras brasileiras, ao deter o avanço dos espanhóis; também desempenha papel importante no combate aosinvasores holandeses no Nordeste. Antônio

Raposo Tavares nasce em Beja de São Miguel, no Alentejo. Em 1618 vem para o Brasil com o pai, Fernão Vieira Tavares, governador da capitania de São Vicente. Em 1622 fixa-se em São Paulo, de onde parte sua primeira bandeira cinco anos mais tarde.

Ela chega a Guaíra, no Rio Grande do Sul, expulsa os jesuítas espanhóis e amplia as fronteiras do Brasil. De volta a São Paulo, em 1633 Raposo Tavares torna-se juiz ordinário, cargo de que desiste no mesmo ano para ser ouvidor da capitania de São Vicente.

Três anos depois parte em outra expedição, agora para expulsar jesuítas espanhóis da localidade de Tapes, também no Rio Grande do Sul. De 1639 a 1642 integra as forças que lutam contra os holandeses, combatendo na Bahia e em Pernambuco.

Sua última expedição parte de São Paulo em 1648, em busca de prata, e dura três anos, percorrendo um total de 10 mil quilômetros em direção ao norte.

Atravessa a floresta Amazônica e alcança Gurupá, no Pará, com a tropa reduzida a 59 brancos e alguns índios. Morre em São Paulo.

Fonte: http://www.algosobre.com.br

Antônio Raposo Tavares
Bandeirante paulista do século XVII nascido em São Miguel de Beja, Portugal em 1598. Em 1628 convicto de que lucros ambiciosos jaziam no sertão, desafiando a coragem dos audaciosos, Raposo dedicou-se a organizar uma bandeira que realizasse o seu sonho.

Aprontou uma das maiores e mais...poderosas que foram organizadas. Em setembro Tavares deixou São Paulo, acompanhado de sua gente, que eram 3.000 homens.

Tomando o caminho do Sul, e seguindo até alcançar as cabeceiras do Nordeste, fixou-se em pontos convenientes daquela região. Empenhou-se em assegurar a posse dos atuais Estado do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso; ocupados então pelas reduções jesuítas. Na confusão da luta, vários indígenas conseguiram fugir, indo refugiar-se no aldeamento jesuístico em Guaíra; em terras espanholas.

O bandeirante não se conformou. Não podia deixar fugir assim aquele lucro esperado, certo de que afinal julgava merecido. Não hesitou, ordenou seus comandantes a capturar os fujões. Aquela povoação não ia abrigar mais nenhum índio medroso.

Mandou incendiá-la completamente, capturando não só os que haviam refugiado, como também os 3.000 escravos indígenas que depois foram vendidos a outras capitanias brasileiras.

Durante certo tempo os índios representavam o que de maior havia no sertão. Era muito mais fácil encontrá-los do que descobrir minas ou batear rios. Nome completo: Antônio Raposo Tavares

Fonte: http://www.e-biografias.net

Antônio Raposo Tavares
Raposo Tavares – Antônio Raposo Tavares
Bandeirante que expandiu as fronteiras brasileiras ao deter o avanço dos espanhóis. Desempenhou papel importante no combate aos holandeses no Nordeste. Nasceu em 1598, em São Miguel de Beja, no Alentejo, Portugal.

Em 1618 vem para o Brasil com o pai. Dedica-se ao aprisionamento de índios para o trabalho escravo nas fazendas coloniais. Em 1622 fixa-se em São Paulo, de onde parte a sua primeira bandeira seis anos mais tarde. Ela chega a Guairá (RS), expulsa os jesuítas espanhóis e amplia as fronteiras do Brasil.

Seus ataques às missões jesuíticas também asseguram a posse dos atuais estados do Paraná, de Santa Catarina e de Mato Grosso. De volta a São Paulo, em 1633, Raposo Tavares torna-se juiz ordinário, cargo de que desiste no mesmo ano para ser ouvidor da capitania de São Vicente.

Três anos depois parte em outra expedição, agora para expulsar jesuítas espanhóis da localidade de Tapes, também no Rio Grande do Sul. De 1639 a 1642, integra as forças que lutam contra os holandeses, combatendo na Bahia e em Pernambuco.

Sua última expedição, a Bandeira de Limites, parte de São Paulo em 1648, em busca de prata, dura três anos e percorre 10 mil quilômetros. È considerada a primeira viagem em torno do território brasileiro. Morre em 1658, em São Paulo.

Fonte: http://www.eaprender.com.br

Antônio Raposo Tavares
Data desconhecida, 1598, São Miguel de Beja, Alentejo, Portugal
Data desconhecida, 1658, São Paulo (SP)

O bandeirante Antônio Raposo Tavares expandiu as fronteiras brasileiras frente aos domínios espanhóis. Nasceu na cidade de Beja, hoje capital do Baixo Alentejo, a 180 quilômetros de Lisboa. Chegou ao Brasil em 1618, aos 20 anos, na companhia do pai, Fernão Vieira Tavares, governador da capitania de São Vicente.

Dedicou-se ao aprisionamento de índios para o trabalho escravo nos engenhos coloniais. Em 1622 fixou-se em São Paulo, de onde partiu a sua primeira bandeira, seis anos mais tarde. Essa expedição, em direção ao Guaíra, iniciou o processo de expulsão dos jesuítas espanhóis da região, ampliando as fronteiras do Brasil e assegurando a posse dos territórios dos atuais estados do Paraná, de Santa Catarina e de Mato Grosso do Sul.

Ao retornar a São Paulo, em 1633, Raposo Tavares tornou-se juiz ordinário, cargo que deixou no mesmo ano para ser ouvidor da capitania de São Vicente. Três anos mais tarde partiu em nova expedição, desta vez para expulsar os jesuítas espanhóis estabelecidos na região do Tapes, também no atual Rio Grande do Sul.

De 1639 a 1642 integrou as forças que lutaram contra as invasões holandesas, combatendo na capitania da Bahia e na de Pernambuco. A sua última expedição foi a chamada bandeira de Limites. Considerada a primeira viagem em torno do território brasileiro, partiu de São Paulo em 1648, com 1.200 homens - brancos, mamelucos e índios.

A expedição percorreu mais de 10 mil quilômetros em três anos, tendo seguido os cursos dos rios Paraguai, Guaporé, Madeira e Solimões-Amazonas, navegando até Gurupá, no atual estado do Pará, com a tropa reduzida a 59 brancos e alguns índios. Os sobreviventes retornaram a São Paulo, e dizem que Raposo Tavares estava tão desfigurado que nem os seus parentes o reconheceram.

Fonte: educacao.uol.com.br

Antônio Raposo Tavares

O NOME
Antônio Raposo Tavares, nasceu em Beja de São Miguel, no Alentejo, Portugal, por volta de 1598. Filho de Fernão Vieira Tavares, governador da capitania de São Vicente, veio para o Brasil em 1618 e se radicou em São Paulo em 1622. As bandeiras de Raposo Tavares, classificadas no grupo das despovoadoras, destinavam-se primordialmente a aprisionar indígenas. Asseguraram também a presença portuguesa, evitando a ampliação do domínio espanhol.

Em 1628, convicto de que lucros ambiciosos jaziam no sertão, desafiando a coragem dos audaciosos, Raposo dedicou-se a organizar uma bandeira que realizasse o seu sonho. Aprontou uma das maiores e mais poderosas que foram organizadas. Em setembro Tavares deixou São Paulo, acompanhado de sua gente, que eram 3.000 homens. Tomando o caminho do Sul, e seguindo até alcançar as cabeceiras do Nordeste, fixou-se em pontos convenientes daquela região. Empenhou-se em assegurar a posse dos atuais Estado do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso; ocupados então pelas reduções jesuítas. Na confusão da luta, vários indígenas conseguiram fugir, indo refugiar-se no aldeamento jesuístico em Guaíra; em terras espanholas. O bandeirante não se conformou. Não podia deixar fugir assim aquele lucro esperado, certo de que afinal julgava merecido. Não hesitou, ordenou seus comandantes a capturar os fujões. Aquela povoação não ia abrigar mais nenhum índio medroso. Mandou incendiá-la completamente, capturando não só os que haviam refugiado, como também os 3.000 escravos indígenas que depois foram vendidos a outras capitanias brasileiras. Durante certo tempo os índios representavam o que de maior havia no sertão. Era muito mais fácil encontrá-los do que descobrir minas ou batear rios.

De regresso a São Paulo, exerceu o cargo de juiz ordinário em 1633, função que abandonou no mesmo ano pelo cargo de ouvidor da capitania de São Vicente. Foi então excomungado pelos jesuítas, além de deposto pelo governador. Absolvido pela ouvidoria geral do Rio de Janeiro e reposto no cargo, participou de outra expedição em 1636. Nessa ocasião dirigiu-se ao Tape, no centro do atual estado do Rio Grande do Sul. Expulsos os jesuítas, Raposo Tavares voltou a São Paulo, onde era considerado herói. "Temos de expulsar-vos de uma terra que é nossa, e não de Castela", dizia o bandeirante Raposo Tavares, aos espanhóis, para anexar terras ao Brasil.

Entre 1639 e 1642, Raposo Tavares dedicou-se a ações militares. Como capitão de companhia, integrou o contingente enviado do sul para prestar socorro às forças sitiadas na Bahia. Em missão semelhante esteve em Pernambuco, onde tomou parte na longa batalha naval contra os holandeses. A última e maior de suas bandeiras, em busca de prata, iniciou-se em 1648 e durou mais de três anos. A expedição que percorreu dez mil quilômetros, saiu de São Paulo, seguiu pelo interior do continente, atravessou a floresta amazônica e chegou ao atual estado do Pará. Foi a primeira viagem de reconhecimento geográfico em território brasileiro. Raposo Tavares morreu na cidade de São Paulo em 1658.

O BRASÃO
Num pentágono formado de cabos de ouro e encimado pela coroa naval: em campo verde, um braço de carnação, semivestido de prata com realces de vermelho e movente do flanco da sinestra empunhando uma espada de século XVII, de lâmina de prata e cabo de ouro, disposta em banda e apontada para o alto; em contrachefe, três faixas ondadas de prata.

Explicação
RAPOSO TAVARES

Nome por que celebrizou-se o denodado bandeirante Antonio Raposo Tavares (1598-1658), um dos líderes máximos da epopéia das Bandeiras.

O verde do campo, a exprimir pujante vegetação, refere-se ao grandioso interior brasileiro valentemente desbravado pelo intimorato Chefe, que, em sua empolgante atuação, com inexcedível coragem e marcante determinação, palmilhou impressionate extensão do território pátrio em heróico percurso pelo sertão; as três faixas ondadas de prata em contrachefe, lembram os Rios Guaporé, Madeira e Amazonas, de cujos cursos o intrépido Mestre-de-Campo, título que recebeu em 1642, acompanhou os rumos, buscando ainda mais engrandecer a Pátria ao atravessar pela primeira vez a densa floresta amazônica, consolidando os mais altos ideais de expansão nacional; o braço semivestido empunhando a espada com galhardia, ao evocar predicados de combatividade, destemor e despendimento do consagrado Chefe-de-Bandeira que a História imortalizou, recordando aquele bravo reporta-se ao próprio navio que lhe tem o nome.

O Brasão foi aprovado pelo Aviso 0985 de 22 de outubro de 1973 do EMA (Bol.117 de 26/04/1974/1093)

Fonte: http://www.naval.com.br

Antônio Raposo Tavares
Nasceu em Portugal e chegou ao Brasil em 1618.

Aprisionou 10 mil índios para trabalhar em sua fazenda ou vendê-los como escravos aos fazendeiros de açúcar do Nordeste.

Suas expediçðes cobriram grande parte da América do Sul.

Percorreu 12 mil quilômetros, enfrentando chuvas, pântanos e doenças.

Partindo de São Paulo, chegou até onde hoje ficam Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Pará.

Atravessou pela primeira vez a Floresta Amazônica.

Fonte: www.guiadoscuriosos.com.br

« Última modificação: Fevereiro 07, 2010, 05:24:23 pm por Templário »
Ensinam estas Quinas que aqui vês,
Que o mar com fim será grego e romano:
O mar sem fim é português
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Só encontrará de Deus na eterna calma
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Re: Bandeiras do Império, Bandeirantes na Expansão do Brasil
« Responder #5 em: Fevereiro 07, 2010, 04:47:37 pm »
Antônio Raposo Tavares
ELE TINHA BOTAS DE SETE LÉGUAS
Raposo Tavares começou caçando índios. Depois, aventurou-se pelo desconhecido e imenso território, alargando o Brasil.

Inacreditável. Para as gerações de hoje, acostumadas a medir as distâncias pelo ronco ensurdecedor dos grandes jatos que desafiam o tempo, é quase impensável o que Antonio Raposo Tavares fez. Partir de São Paulo até o Paraná a pé que dá para entender (mesmo considerando a sua ida aos extremos do País, inclusive dentro da floresta apenas para admirar as crianças. Mas Raposo Tavares andou. E, como nas histórias infantis, ele poderiaser lembrado como o homem das botas de sete léguas, um incansável aventureiro que rasgou as fronteiras do acanhado Brasil de então, dividido ao meio pela imaginária linha do Tratado de Tordesilhas. Ele e seus homens, munidos de pouca comida e dependendo do que encontrassem pela frente, saíam em suas loucas expedições, principalmente à procura de índios, para escravizá-los. Para tornar possíveis seus " cruéis intentos" , como escreveu Afonso d' Escragnolle Taunay, Raposo Tavares ignorava os castigos prometidos pela Igreja Católica e embrenhava-se floresta adentro, caçando os índios em suas aldeias ou arrasando com as missões jesuíticas que os abrigavam. Mas ele não fazia isso por puro instinto de caçador. Obedecia às ordens das Câmaras Municipais de Santos, São Vicente e da Vila de São Paulo, que lhe pediam para guerrear e aprisionar os índios tupiniquins e carijós, "por esta a terra pobre, sem escarvaria e hostilidade pelos selvagens". E o mesmo devotamento a essas ordens Raposo demostrava em relação à Coroa Portuguesa, que desejava a expansão de seus domínios. Ele odiava os jesuítas espanhóis e não gostava de ouvir que as terras em que pisava eram da Coroa da Espanha. Em seu primeiro encontro com um jesuíta espanhol, o padre Justo Mansilla, ouviu dele o desafio: que saísse, "vassalo rebelde", que era.

A resposta de Raposo Tavares foi pronta: "Ide-vos vá daqui, que estais em terras de Portugal!" E, contra a cruz do jesuíta, falava mais alto o caçamarte e a espada. Mas esse aspecto dos "cruéis intentos" de Raposo Tavares não pode ofuscar, segundo os históriadores, o grande papel que representou para a ampliação do território brasileiro. Por esse motivo, o mesmo Afonso d' Escragnolle Taunay chamou-o de "o bandeirante magno, vulto formidável da nossa história" . E também por esse motivo ele ganhou uma estatua em Quintaúna, São Paulo, onde morreu com um pedestal onde se lê: "Mestre-do-Campo Antonio Raposo Tavares (1598-1659). Conquista aos Espanhóis; O Paraná, o Sul de Mato Grosso, E o Norte do Rio Grande do Sul, Guairá, 1629;Itatim, 1632, Tape, 1636; Comanda o Socorro Paulista; Contra os Holandeses, 1639;Acalma D. João IV em São Paulo, 1641;Vence em Armas os Andes do Peru; E da Nova Granada; E a Selva Amazônica, 1648-1651;Atingue a Foz do Amazonas, 1655;Encerrando o Maior Ciclo de Devassamento das Terras Americanas".

RAPOSO TAVARES
Não existiam caminhos.

Cada movimento deve ser conquistado a golpes afiados que dilaceram a vegetação, derrubam as feras, sangram os que se atrevem a enfrentá-los.

Os paulistas estão penetrando por um mundo selvagem. O menor descuido e a vegetação pune, a fauna agride, o inimigo mata. Mas eles não param. Uma luta a cada palmo, esses homens progridem sempre.

Avançam em busca da fortuna em ouro, prata ou índios para escravizar. Avançam para combater os espanhóis, derrotá-los, desalojá-los. Avançam na aventura de descobrir novos lugares, devassar novas florestas. Avançam. Atrás deles ficam as rotas abertas, o verde vencido, a terra mansa. Um passo à frente e o País cresce mais um metro. Aonde vão, os homens levam consigo os limites da terra brasileira. No seu percurso, as fronteiras desabam. Longo e árduo trajeto espera uma bandeira. Mas, qualquer que seja seu rumo, é quase sempre em São Paulo que os caminhos se iniciam.

Da pequena vila no planalto de Piratininga, partem e chegam as bandeiras. Quando retornam, trazem consigo índios apresados, a experiência do sertão desbravado, o cansaço das longas caminhadas, histórias de muitas lutas que tiveram de vencer para continuar vivos. Mas nem todos vencem sempre, e a bandeira traz também notícias de mortes. Por isso, o regresso é bem diverso da partida, que é toda feita de esperança.


À FRENTE UMA BANDEIRA COLORIDA
Os paulistas já estão acostumados ao espetáculo da partida, nem por isso menos concorrido. As ruas de terra batida estão cheias de gente. Há despedidas e ordens de comando. Gritos, alaridos, choro de crianças. As vozes confundem três línguas: português, tupi, castelhano e até uma mistura de tudo isso. Os poucos brancos vestem a coira de anta, que funciona como couraça, e carregam arcabuzes, escopetas e mosquetões. Centenas de índios, inteiramente nus, se confundem com os mamelucos, um pouco mais vestidos, filhos de mulheres índias e portuguesas.


Também levam armas: cunhas machados, enxós, foices e facões. Mas a arma mais eficiente é o arco e a flecha, silenciosa, rápida, de fácil fabricação, imune à ação da chuva e da umidade tropical. Estranha e bizarra formação guerreira. Uns atrás dos outros, carregam baús de couro cheios de pólvora e chumbo, redes para dormir e cobertores, pratos, tachos e cuias de estanho. As arcas de provisões levam uns bolos de farinha de mandioca cozida: é o pão de "farinha de guerra", que pode durar mais de um ano. Mel, peixe e caça, conseguidos durante a viagem, completarão a alimentação.

É toda a bagagem. Roupas, os brancos só tem as do corpo e uma espécie de lenço, chamado pano de cabeça que usam por baixo de uma carapuça de couro e do chapéu de abas largas. Ouve-se o barulho de correntes. São muitas, pesadas correntes de ferro, com 4 metros e meio de comprimento, cada uma com trinta colares fechados por cadeados. Servirão para agrilhoar e conduzir prisioneiros, pois os homens estão partindo para o sertão. É lá que eles trabalham, aprisionando índios que depois serão negociados. É uma marcha paulista, que pode durar anos. Quantos voltarão "Quantos irão morrer: O dia-a-dia de todos é uma longa e incerta aventura. E dessa aventura depende a sobrevivência econômica das famílias de Piratininga.

Uma bandeira colorida aparece na frente da tropa. Antonio Raposo Tavares, o chefe, dá a ordem de partida. Em pouco tempo, a coluna desaparece no caminho do sertão e a calma volta à pequena Vila de São Paulo.

VENCIDA A SERRA, A CONQUISTA DO PLANALTO
Os bandeirantes que partem vão repetir contra os índios o que com os próprios índios haviam aprendido. Quando os primeiros portugueses chegaram ao Sul do Brasil, descobriram que os indígenas costumavam organizar expedições - depois chamadas malocas - para aprisionar e escravizar índios inimigos. Os jesuítas logo combateram esse hábito dos índios. A principio, os colonos não se interessaram pelo problema: a maioria deles estava preocupada em plantar cana e com ela fazer a riqueza da capitania de São Vicente. Mas não custou muito para que percebessem ser impossível concorrer com o açúcar do Nordeste da Colônia: lá, a terra era melhor e Pernambuco ficava mais perto dos mercados consumidores da Europa. A gente de São Vicente venceu a serra do Mar e Piratininga, sonhando com ouro, prata, diamantes. E, enquanto a fortuna não aparecia, plantavam apenas o necessário para sobreviver, já enato ajudados por uns poucos índios apresados.

Tamoios e carijós constantemente ameaçavam São Paulo, fundada em 1554.


Para melhor se defenderem, os homens do planalto passaram ao ataque, na Segunda metade do século XVI, fazendo rápidas investidas para destruir os principais aldeamentos dos índios. Mas, pouco a pouco, as expedições avançam pelos vales dos rios Tietê, Paraíba e Moji-Guaçu, até que, em 1581, Jerônimo Leitão, capitão-mor de São Vicente, rumou para o rio Paranapanema, na direção do Guiara - território espanhol - , de onde retornou com os primeiros escravos guaranis.

De repente, a pobre Vila de São Paulo também encontrou uma fonte de renda. Os paulistas não descobriram ouro, seu açúcar não podia concorrer com o dos engenhos do Nordeste, mas podiam dar à Colônia o que ela mais precisava: mão-de-obra. Começava a primeira fase do bandeiras substituíram o apresamento de índios pela procura de metais preciosos.


A capitania açucareira de Pernambuco já estava comprando escravos da África. Mas o negro era caro, e ainda em número insuficiente.

A escravidão foi um fenômeno comum na época. Europeus e árabes escravizavam-se mutuamente, quando conseguiam aprisionar seus adversários na guerra. Nas colônias americanas despovoadas, a escravidão tornara-se uma imposição econômica, pois dela dependia a agricultura de exportação. Mas no Brasil, para submeter o índio, era preciso ir busca-lo onde estivesse, enfrentar a floresta, as feras, as cobras. E por fim vencer o homem cor de bronze, capaz e corajoso, dono do silêncio das matas e do silvo das flechas.
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EM PORTUGAL, NASCE UM BANDEIRANTE

Corria o ano de 1598. Enquanto em São Paulo se organizavam as primeiras bandeiras, nascia em Portugal Antonio Raposo Tavares, filho de Fernão Vieira Tavares e Francisca Pinheiro da Costa Bravo. Apenas aos vinte anos Raposo chega ao Brasil, acompanhado o pai, que vem representar Dom Álvaro Pires de Castro, donatário das capitanias de Itamaracá, Santo Amaro e São Vicente, embora a posse desta última lhe fosse contestada judicialmente.

Com, o titulo de "capitão loco-tenente", o pai de Raposo Tavares assume a direção da capitania de São Vicente, da qual fazia parte a ainda insignificante Vila de São Paulo. Sua primeira missão, determinar os limites entre as capitanias. E junto de Fernão Vieira, esteve sempre seu filho Raposo Tavares, aprendendo a conhecer a nova terra. Aos 24 anos. Raposo Tavares casa-se com Beatriz Furtado de Mendonça, filha do bandeirante Manuel Pires. O casamento trouxe-lhe dois filhos e fez de Raposo, definitivamente, um homem de Piratininga. Mais tarde. Ele perderia a mulher e, depois de dez anos de viuvez, voltaria a casar-se, agora com Lucrécia Leme Borges de Cerqueira, também viúva e mãe de oito filhos. De novo, Raposo Tavares liga-se à grande "família" dos bandeirantes: Lucrécia era filha de Fernão Dias Pais, o velho, e tia de Fernão Dias, que a história chamaria para sempre de "O Caçador de Esmeraldas" . Do seu segundo casamento, Raposo Tavares teve uma única filha.

Em poucos anos de Brasil, Raposo já era um bandeirante, tornando sua pequena fazenda, situada para os lados de Quintaúna (na região em que hoje fica Osasco, município vizinho de São Paulo), importante ponto de partida para expedições ao sertão. Mais um pouco e Raposo é homem rico, poderoso e influente, com interesses e negócios que chegam até o Rio de Janeiro, onde possui dois trapiches.

UM NEGÓCIO COMO OUTRO QUALQUER

Capturar índios e vende-los dava dinheiro. Inutilmente, o papa excomungava os caçadores e traficantes de índios. De pouco valiam as ordens do Governo português, declarando "todos os gentios livres conforme o direito e seu nascimento natural" , determinando que não fossem constrangidos "a serviço nem a coisa alguma" , colocando-os sob a proteção dos jesuítas, mandando restituir a liberdade às vitimas de injusto cativeiro. Quem resolvia quando a guerra e o cativeiro eram justos ou injustos: A política da Metrópole era imprecisa, a guerra "justa" fácil de ser provocada e a legislação da Colônia vacilante.

Para a gente de São Paulo, nas primeiras décadas do século XVII, nada havia de condenável ou imoral em garantir sua sobrevivência e prosperidade escravizando índios.

" Justas" - no entender dos sertanistas - eram todas as lutas travadas com os índios, de nada adiantando os esforços em contrário dos jesuítas que, mesmo vencidos na guerra, prolongariam até o século XVIII a sua luta em favor da libertação do índio. As autoridades locais condenavam, mas raramente podiam executar as penas.

EM GUAIRÁ, OS SINOS NÃO PARAM DE TOCAR
Só Raposo Tavares recebeu várias ordens de prisão, tanto por ser apontado como " cabeça de bandeiras ilegais", como por reunir em Quintaúna grande numero de "peças", índios para serem negociados.

Não importavam os decretos reais": os bandeirantes sabiam que no sertão quem mandava eram eles. E por isso, ao falarem de suas expedições, referem-se a "buscar o remédio para a sua pobreza, buscar a sua vida, o seu modo de lucrar". Ser bandeirante era ter uma profissão. E quem não podia ir para as selvas, financiava bandeiras sempre que possível, fornecendo o dinheiro para a expedição.

Graças àqueles homens nus e bronzeados que perseguiam, os paulistas foram aprendendo a desenvolver uma fantástica capacidade de vencer longas distâncias, descobrindo como esquecer o cansaço, achar água, caminhar na floresta. Graças aos índios, os paulistas viraram bandeirantes.

O comércio de indígenas foi incrementado, sobretudo a partir de 1624, quando a Holanda - em guerra com a Espanha, então governada por Filipe IV, que também ocupava o trono português - atacou a Bahia e passou a dificultar a vinde de escravos africanos.

Ao mesmo tempo que os holandeses atacavam o Recôncavo baiano, a Câmara Municipal de Salvador lançava um apelo aos paulistas:

queriam índios para trabalhar na lavoura e enfrentar os inimigos. Raposo Tavares dispôs-se a arranja-los. As atas da Câmara Municipal da Vila de São Paulo registram o que fez Raposo, reunindo companheiros e montando uma bandeira que em 1627 seguiria para a selva, em direção ao Paraguai. Seu objetivo, Guairá, uma região de muitas aldeias de índios catequizados pelos jesuítas espanhóis. Eram milhares e milhares de índios organizados em algumas missões, coisa sabida de há muito pelos paulistas, pois já haviam estado alguns bandeirantes - entre eles, Manuel e Sebastião Prêto e Pedro Vaz de Barros, sertanistas de muita fama - que trouxeram índios guaranis para São Paulo. Agora, no comando da nova bandeira, outra vez Manuel Preto, com quase setenta anos. Mas o jovem e ativo Raposo Tavares é quem toma iniciativa, faz os planos e dá as ordens. A expedição, contudo só se concretizaria no ano seguinte.
« Última modificação: Fevereiro 07, 2010, 05:02:31 pm por Templário »
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Re: Bandeiras do Império, Bandeirantes na Expansão do Brasil
« Responder #6 em: Fevereiro 07, 2010, 04:57:51 pm »
Antônio Raposo Tavares
SÃO PAULO ESTÁ EM GUERRA
Em agosto de 1628, quase todos os homens adultos da Vila de São Paulo estão armados para investir contra o sertão. Eram novecentos brancos e 3 mil índios, formando a maior bandeira que ate então se organizara.


O destino era Guaíra, para expulsar os jesuítas espanhóis e prender quantos índios pudessem, para despeja-los na Bahia, a vida de braços para o trabalho.

A bandeira caminha dividida em quatro seções, sob o comando de Antonio Raposo Tavares, Pedro Vaz de Barros, Brás Leme e André Fernandes.

São semanas e semanas de mata virgem, de travessia de grandes rios, do peso das muitas correntes. A vanguarda, uma pequena coluna chefiada por Antonio Pedroso de Barros, livre de quase todo equipamento, seguia mais depressa. Já a 8 de setembro cruza o rio Tibagi, bem em frente à missão de Encarnación. Ali, Pedroso de Barros manda erguer uma cerca de estacas e fica à espera.

Durante mais de três meses, a vanguarda permaneceu frente a frente com os inimigos, aguardando a vinda da bandeira. Somente em dezembro, toda a tropa reunia-se novamente. Agora, tudo está pronto para a guerra. Falta apenas um pretexto, um motivo de guerra, para justificar o ataque.

A fuga de uns poucos índios - aprisionados no local - que procuram abrigo na missão próxima de San Antônio dá aos paulistas o motivo de que precisam. Imediatamente, a bandeira deslocasse para essa missão e Raposo Tavares lança um últimato: ou os jesuítas espanhóis entregam os índios, ou... Os padres não cedem, os presos não são devolvidos a Raposo e sua gente.

A luta começa. O céu escurece com as nuvens de flechas. À medida que o cerco aperta, tiros, facas, paus e a forca bruta fazem mortos dos dois lados. Os jesuítas, roupas manchadas de lama e sangue, congregam os índios numa tentativa desesperada de salvar a missão. Os sinos da igreja repicam sem parar. Alguns padres batizam às pressas os últimos pagãos. Os paulistas, duros como a terra em que caem, quase tão selvagens como aqueles índios nus que os auxiliam, esses paulistas, gritando e atirando, vencem os muros de pedra de San Antonio.

A 30 de janeiro de 1629, o barulho cessa.

San Antonio deixara de existir. O Brasil crescera mais um pouco.E os 2 mil índios sobreviventes, que se renderam em massa, vão ocupar as argolas de ferro nas correntes trazidas para eles.

Nem a heróica dedicação da Companhia de Jesus conseguiu evitar o sacrifício de tantos homens. O trabalho de construção das fronteiras fazia-se na luta dos bandeirantes, mas custava a vida ou a liberdade para milhares de índios anônimos.


Existiam, entretanto, outras missões espanholas na região de Guairá. E atrás delas vai Raposo, implacável. Não descansará antes de arrasar o último aldeamento espanhol e prender a última "peça". E, enquanto lhe sobram forcas, um a um vão caindo os redutos dos jesuítas e seus índios: San Miguel, Jesus María, Encarnación, San Pablo, Arcangelos, San Tomé.

Em San Miguel, o Padre Cristóbal de Mendoza, perplexo, indaga das razoes da guerra. E Raposo Tavares respondeu: "Temos de expulsar-vos de uma terra que é nossa, e não de Castela". E assim as bandeiras iam incorporando ao Brasil as regiões do oeste do Paraná e Mato Grosso do Sul.

Menos perplexo, talvez, estivesse o governador do Paraguai, Don Luís de Céspedes y Xeria, que nada fez para impedir a destruição de Guairá, apesar de ter assistido em São Paulo aos preparativos da bandeira. Casado com uma luso-brasileira que conheceu no Rio de Janeiro, quando vinha da Espanha para ocupar seu posto no Paraguai, Don Luís deve ter encontrado Raposo Tavares em São Paulo. Com ele teria travado contato e conseguido chegar 'as proximidades de Asunción. Corriam rumores de que havia sido subornado para ficar calado, recebendo dos paulistas engenhos de açúcar e índios escravos. Outros diziam que Don Luis nada podia fazer, já que sua mulher estava no Brasil, como se fosse mais tarde o Governo da Espanha tomou-lhe todos os títulos e confiscou-lhe os bens.

Mas Guairá estava destruída. Em maio de 1629, depois de dez meses de sertão, vitoriosos mas exaustos, os paulistas voltam a Piratininga.

Com o grosso da bandeira vieram dois jesuítas, os padres Mancilla e Mazzeta, que preferiram acompanhar os índios escravizados que iam para o cativeiro. Foram esses padres os autores da "Relación de los Agravios", peça preciosa para a reconstituição da expedição.

Terminara a guerra-relâmpago e nela tudo quanto os bandeirantes planejavam havia sido conseguido. Raposo Tavares entrou em São Paulo, trazendo, segundo dizem, 20 mil "peças" de escravos que ele arrastara pelos sertões, espicaçando-os para que vencessem centenas de quilometros de matas, rios campos queimados pelo sol, pântanos, tudo sob o peso de grossas correntes de ferro. E, entre todos os brancos, ninguém como Raposo tanto se parecia com os prisioneiros. Como os índios, também ele parecia de bronze.

UMA NOVA TAREFA: DOMINAR A REGIÃO DO TAPE - AS NOVAS FRONTEIRAS
Quanto aos jesuítas, uma longa história ainda os esperava. Vencidos por Raposo Tavares e seus companheiros, não renunciam aos seus planos: sonham com uma civilização crista de tipo novo em terras da América, catequizando índios, fazendo-os viver em harmoniosas comunidades onde cultivavam mate e criavam gado, negociando as duas coisas, principalmente em Buenos Aires. Com o dinheiro que iam conseguindo, os padres construíam mais igrejas, melhoravam as aldeias, davam aos índios tempo para fazer arte, aprender música, trabalhar em cerâmica. Ainda que sempre assediadas pelos bandeirantes, as missões dos jesuítas sobreviveram por perto de 150 anos, embora - ao menos pela lei - proibidas de usar armas de fogo. A grande aventura só iria terminar em 1768, quando os jesuítas foram expulsos da América Espanhola.


Nesse tempo, com 78 padres, administravam 33 missões com mais de 100000 indígenas, em terras hoje pertencentes ao Uruguai, Paraguai, Argentina e Brasil. A saída dos jesuítas, a entrega das aldeias a outras ordens religiosas ou a leigos e a fuga dos índios iam acabar com o sonho iniciado no Guairá: uma "república" religiosa no coração do continente.

Foram homens como Raposo Tavares que afastaram a possibilidade do domínio castelhano - leigo ou religioso - nesses territórios. A campanha de Guairá garantiu a primeira base para o posterior recuo do Tratado de Tordesilhas, que limitava as terras de Espanha e de Portugal, e permitiu que o Governo lusitano reivindicasse a posse pelo uso daquela região. A confirmação foi dada em 1750, pelo Tratado de Madri, que revogou o de Tordesilhas.

PEQUENA PAUSA PARA ADMINISTRAR
Três anos depois dos combates de Guairá, Raposo Tavares, que já era juiz ordinário da Vila de São Paulo, ganha novo e mais importante posto na Justiça da Colônia, passando a Ouvidor de toda a capitania de São Vicente. Mas aquele homem não nascera para ser um bom administrador, fazendo com que as leis fossem cumpridas.


Pelo contrário, Raposo era um desafiador de leis. E bastou que surgisse uma disputa entre os jesuítas e as autoridades civis de São Paulo, pela posse dos índios de Barueri - lugar perto da vila - para que Raposo lançasse fulminante ataque aos jesuítas, expulsando todos e tomando-lhes os indígenas.

Os jesuítas portugueses, tal como os espanhóis, também sabiam lutar pelo que queriam: recorreram ao governador-geral e às autoridades eclesiásticas em Roma. Em conseqüência, Raposo Tavares foi demitido do cargo de Ouvidor e excomungado. Mas Raposo Tavares não sabia perder.

Por isso, segue para o Rio, defende-se junto à Ouvidoria-Geral, e lembra uma lei de 1611, determinando que apenas podiam prestar serviços aos índios os padres que se submetessem à jurisdição civil. Ora, a aldeia de Barueri, embora confiada aos jesuítas, devia obediência à administração civil. E, ao apoiar a Câmara contra os jesuítas, ele podia alegar que nada fizera senão cumprir a lei.

A argumentação de Raposo Tavares convenceu a Ouvidoria-Geral. O bandeirante recuperou seu posto de Ouvidor da capitania de São Vicente. Raposo Tavares vencera também dentro da lei.
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DE NOVO NO SUL, AINDA OS JESUÍTAS

Mais três anos se passam, até que - em 1636 - Antonio Raposo Tavares parte para outra bandeira, tendo, entre outros companheiros, Fernão Dias Pais, sobrinho de sua segunda mulher. O destino da expedição era o Tape, no centro do atual Estado do Rio Grande do Sul.

A missão de Raposo no Rio Grande era neutralizar a influência dos jesuítas espanhóis, que lutavam contra o tráfico de índios tapes. Os portugueses e os tupis haviam feito acordo, pelo qual os caciques dessa última tribo vendiam seus prisioneiros. E a isso se opunham os jesuítas.

NA DERROTA, O CAMINHO ABERTO A FERRO E FOGO
Em maio de 1636 marchou a nova bandeira de Raposo Tavares, formada de 120 paulistas e mamelucos e mil índios tupis. Seguiram para o Sul, quase em linha reta, aproveitando em parte os vales dos rios. Foram sete meses de viagem até o atual município de Estrela, na região do rio Taquari, lugar onde Raposo mandou erguer barreiras de pau-a-pique, para dentro delas reunir os índios aprisionados pelo caminho. Em torno da "vila" improvisada, os bandeirantes plantaram o que puderam, pois a comida acabava e ninguém sabia quanto duraria a guerra.

No dia 3 de dezembro, Raposo investe contra a aldeia missionaria de Jesús María, uma espécie de arsenal, campo de exercícios militares, fortaleza e sede do comando.

Bem armados, empunhando escopetas e arcabuzes, os índios - comandados pelos padres - enfrentaram a bala os paulistas. A luta durou horas e o sangue correu dos dois lados. Por fim, pela segunda vez - tal como em Guairá - Raposo Tavares destruía uma missão de jesuítas com o nome de Jesús María.

Duas semanas se passam. Raposo agora cerca as missões de San Cristóbal e Sant' Ana, quando contra ele são lançados 1500 índios convertidos pelos espanhóis. Mas não o conseguem cercar: Raposo recua, reagrupa seus homens e às vésperas do Natal ocupa também as duas aldeias. Estava aberto o caminho para as reduções jesuíticas da região dos índios tapes, ao lado dos rios Pardo e Jacuí. Terminara a tarefa de Raposo Tavares, ele podia voltar a São Paulo. Para desalojar do Rio Grande do Sul os espanhóis que restavam, ficaram André Fernandes e Fernão Dias Paes.

No início de 1638, Raposo voltou a São Paulo. Tinha só quarenta anos. Para seus compatriotas era um herói. Para os espanhóis, um diabólico chefe militar. Para os índios, a personificação da morte.

UMA LONGA RETIRADA
Enquanto no Sul os bandeirantes combatiam os espanhóis, o Nordeste continuava ameaçado de conquista pela Holanda. Expulsos da Bahia (1625), os holandeses voltaram a atacar, capturando Pernambuco (1630) e estendendo seu domínio por uma ampla região, que inclui os atuais Estados do rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas.

 
 Agora, em 1639, o Nordeste pede homens, índios ou brancos, para ajudar a combater o invasor. E Raposo Tavares atende ao apelo. Mal chega do Sul, já começa a preparar as tropas paulistas de socorro. Por sua própria conta forma um pequeno exército de 150 homens, tendo então sido nomeado capitão-de-companhia e perdoado de todos os crimes que "porventura tivesse cometido".

A pequena tropa de Raposo junta-se com os quase 3 mil homens do exército do governador-geral, Dom Fernando de Mascarenhas, Conde da Torre, e - em vários navios - seguem todos para a Bahia e depois Pernambuco. Em novembro de 1639, ocorre o primeiro choque naval com os holandeses. Os paulistas de Raposo pareciam peixe fora da água: onde estavam a floresta, o zumbir dos insetos e das flechas, a luta em campo aberto: Para quem combate no mar, coragem apenas não basta. Quatro vezes se enfrentaram os holandeses, hábeis homens do mar, e a esquadra do Conde da Torre. No fim da última batalha, a frota estava reduzida a menos da metade dos 3 mil homens que haviam iniciado o combate. O contingente brasileiro em fuga, conseguiu desembarcar no porto de Touro (cabo de São Roque), Rio Grande do Norte, em plena área sob domínio da Holanda. E a fuga continua por terra.

Um Pernambuco, Barbalho Bezerra, comandava a retirada. Os paulistas, experientes nas longas caminhadas pelo sertão, formavam a vanguarda. Além deles, havia uma tropa da Bahia e mais um grupo de negros e outro de índios, chefiados por homens que se tornariam famosos: Henrique Dias e Filipe Camarão.


Foi uma dura caminhada. A princípio, a coluna seguiu pelas terras do litoral, atacando e muitas vezes vencendo as guarnições holandesas das vilas por onde passavam. No entanto, um exercito poderoso vinha do Recife em perseguição aos retirantes.

Muitos feridos, outros doentes, os brasileiros não podiam apressar a marcha e, para evitar o cerco, só tinham um recurso: abandonar o litoral e meter-se pelos matos do interior.

Perseguidos, sem ter o suficiente para comer, seguem lentos, carregando seus feridos. Já quase não há munições, a região não oferece abrigo. Para continuar viva, uma tropa em farrapos começa a comer os cavalos. Quando os cavalos acabam, chega a vez de mascar o couro dos animais e de se alimentar de raízes.

A MARCHA HERÓICA RASGA O CONTINENTE
Durante quatro meses, esta é a vida dia após dia. Os mortos ficam pelo caminho, os vivos se arrastam como podem. Mesmo os melhores já começam a fraquejar, quando atingem as margens de um grande rio. Era o São Francisco. Do outro lado estava a Bahia, terra amiga, em poder dos brasileiros. E, entre risos e alegria, a longa marcha estava terminada. Haviam percorrido 2700 quilometros. Como se a fadiga não o atingisse, Raposo Tavares voltou imediatamente da Bahia para São Paulo, onde se dedicou a recrutar voluntários que enviou ao Nordeste para combater os inimigos.

Nesse mesmo ano, 1640, Portugal livrava-se do domínio espanhol. E, quando a notícia chega a Piratininga, Raposo é o terceiro a assinar a aclamação do novo rei português, Dom João IV. Mais dois anos e a Coroa reconhece o quanto o bandeirante já fizera por seus interesses, dando-lhe o título de mestre-de-campo.

 
 De 1642 a 1648, como por encanto, a figura de Raposo Tavares se perde na história, os documentos não mais falam de suas façanhas. É possível, entretanto, que nesse período o bandeirante tenha viajado para Portugal, como faz supor uma procuração passada por vereadores e moradores da vila de Parnaíba - perto de São Paulo - , autorizando Raposo Tavares, em abril de 1642, a representa-los em todo o Brasil e no Reino de Portugal, "diante de El-Rei Nosso Senhor Dom João IV e onde fosse necessário no dito Reino".
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EM BUSCA DAS MINAS DE PRATA
Em fins de 1648, Raposo Tavares, já com cinqüenta anos, aparece no comando de mais uma bandeira de duzentos paulistas e mil índios.

Expulsos do Sul, os jesuítas e seus indígenas catequizados estão vivendo na região do Itatim, a sudoeste do atual Mato Grosso do Sul, entre o rio Paraguai e a serra de Amambaí, zona ainda sujeita ao Governo de Asunción.


E, mais uma vez, bandeirantes e padres espanhóis se cruzariam no interior do continente: para ir aprisionar os índios serranos, que vivem perto dos Andes, e procurar as ricas minas de prata do Potosí, exploradas pelos espanhóis, os paulistas precisavam atravessar a área de Itatim.

Primeiro passo: atacar Santa Bárbara e Mboimboi, as duas principais reduções jesuíticas no Itatim. Por motivos táticos, a bandeira segue dividida em dois blocos, um comandado por Raposo, outro pelo Capitão Antonio Pereira de Azevedo, que seguiu à frente. Fazem parte da tropa outros bandeirantes experimentados, como André Fernandes, Gaspar Vaz Madeira e o Alferes Souza da Silva.

Os dois grupos seguiram caminhos diferentes, a fim de se juntarem nas proximidades de Santa Bárbara. Raposo cruzou o pantanal mato-grossense e em seguida fez erguer um arraial para proteger sua gente das chuvas que não cessavam de cair. Enquanto isso, Antonio Azevedo atacava e destruía a redução de Mboimboi. Algum tempo depois, Raposo Tavares via chegar um punhado de homens alquebrados, em farrapos.

Era o que restava do grupo de Antonio de Azevedo, perseguido pelos índios, dizimado pela peste e até pela sede.

Mesmo assim, Raposo prepara o assalto a Santa Bárbara. Mas nem foi preciso iniciar o combate: a simples presença de Raposo Tavares foi suficiente para por em fuga os jesuítas com seus índios. Por quatro meses, entretanto, os paulistas permanecem no arraial, explorando a região em busca de minas. Abril de 1649: a bandeira de Raposo Tavares começa novamente a sua marcha, mas não esta voltando para São Paulo: caminha para o interior da América do Sul, em busca da sonhada prata. Seguindo na direção das serras de São José (hoje território da Bolívia), e rumando para o norte, não chegou a se aproximar de Potosí. Em vez de riquezas, surgem tempestades, ataques de índios, doenças. E estão apenas na metade daquilo que o Padre Vieira considerou "uma das viagens mais notáveis que até hoje se tem feito no mundo".

Sempre na busca das minas de prata, Raposo atinge o rio Guaporé e depois se embrenha na floresta amazônica. Está em plena selva equatorial, o ar é úmido, o calor abrasa. Marcha por caminhos pantanosos infestados de cobras, insetos. A selva é densa e fechada, grossos cipós, árvores imensas, vegetação intrincada, um emaranhado infernal que precisa ser destruído, centímetro a centímetro, para que possam passar. O progresso é lento, penoso. Mas Raposo não pára, só os mortos ficam para trás. Depois de passar as cachoeiras do Madeira, chega finalmente ao Amazonas.

1651: Raposo entra em Santo Antonio do Gurupá, nas proximidades da atual Belém, no Para, 'a frente de apenas 58 homens.


Os outros 1142, que constituíam sua tropa inicial, haviam desertado ou caído pelos caminhos abertos de um continente. Sem a prata sonhada, muitos companheiros mortos no sertão, o bandeirante chega a São Paulo, magro e desfigurado. Ninguém pôde sequer reconhecer o grande sertanista, depois dessa última viagem, nem mesmo seus familiares. Muitos até já o davam como morto. Do Atlântico à Bolívia, da Bolívia ao Amazonas, passando do trópico de Capricórnio a Equador, Raposo Tavares realizara a primeira viagem de reconhecimento geográfico do espaço continental da América do Sul e uma das maiores expedições exploradoras deque já se teve notícia.

Dez mil quilometros percorridos, três anos de viagem. E, enquanto a bandeira permanecia isolada no sertão, muitas coisas aconteceram. Em 1648, Salvador Correia de Sá e Benevides conseguira recuperar Angola, expulsando os holandeses que ali se haviam estabelecido. Voltava ao domínio de Portugal a principal zona exportadora de escravos da África ocidental.

A consequência imediata foi o rápido aumento do fluxo de negros para o Nordeste brasileiro. Alguns anos depois (1654), os holandeses eram derrotados e retiravam-se em definitivo do Brasil. Facilitava-se mais ainda o tráfico de negros. Os fazendeiros de Pernambuco e da Bahia desinteressaram-se da compra dos índios vindos do Sul. As "peças" perdiam muito do seu valor. A partir de então, destruídas as missões, os bandeirantes necessitavam ir cada vez mais longe, caçar os índios cada vez mais escassos e recebiam cada vez menos pelo trabalho.
 

De outro lado, surgiam nas Antilhas outras regiões produtoras de açúcar e os canaviais do Nordeste entravam em decadência. Com isso, o bandeirismo indianista caminhava para a extinção, substituído pelas bandeiras de mineração.

Raposo Tavares derrotara o Amazonas, mas também fora batido.

O homem forte que saíra do planalto se gastara na floresta imensa. Em seu lugar regressava um farrapo, passos indecisos, cabelos cor-do-tempo, magro pouco mais que um esqueleto.

São Paulo não reconheceu o fantasma. Três anos de pântanos, montanhas e selva, e Raposo Tavares perdera a destreza, o ímpeto, a força. O bandeirante terminara e um velho doente regressava ao lar. Para sempre.

Passariam ainda seis ou sete anos, mas sem lutas, sem índios escravizados nem terras selvagens. Não mais fronteiras a expandir, invasores a atacar, aventuras para viver.

Apenas um velho, que se aproveita do derradeiro raio de sol. E a tarde se esgotando. A história, desinteressada do herói que agonizava, não registrou seus últimos dias.

Fonte: http://www.pick-upau.org.br

ANTÔNIO RAPOSO TAVARES
Antônio Raposo Tavares o Velho (São Miguel de Beja, 1598 — São Paulo, 1658) foi um bandeirante paulista que expandiu as fronteiras brasileiras às custas dos domínios espanhóis. Muito serviu a D. Francisco de Sousa, e por isso foi por ele armado cavaleiro da Casa Real, no alvará de 20 de maio de 1601 por seus serviços. Teve diversos cargos na vila de São Paulo e foi ativo sertanista.

Reinol, pois nascido em São Miguel de Beja, Portugal, chegou ao Brasil em 1618 com o pai, Fernão Vieira Tavares, designado capitão-mor governador da capitania de São Vicente em 1622. Era assim preposto do conde de Monsanto, donatário da capitania de São Vicente. A mãe era Francisca Pinheiro da Costa Bravo. Antônio Raposo, aliás, nunca perderia contacto com os interesses da Coroa.

Fixou-se em São Paulo pelo casamento com Beatriz Furtado de Mendonça, filha de Manuel Pires, sertanista, e fundou a grande fazenda de Quitauna, onde reunia os índios que começou a apresar no sertão.

Dedicou-se ao apresamento de índios para o trabalho escravo nos engenhos. Foi capitão na bandeira do mameluco Belchior Dias Carneiro, morto em junho de 1608 no sertão. Em dezembro de 1608 entrou em São Paulo com parte da tropa, pois o resto só chegaria nos primeiros meses do ano seguinte. O cunhado de Belchior, Mateus Luís Grou, trazia algum ouro, colhido ao acaso.

Morto o pai (1622), transferiu-se para o planalto de Piratininga, fixando-se na vila de São Paulo, onde logo se entusiasmou em participar nas expedições destinadas a aprisionar índios.

A grande bandeira de 1628
De São Paulo partiu sua primeira bandeira, da qual era chefe nominal Manuel Preto, com um efetivo de cem paulistas e 2 mil índios auxiliares, seis anos mais tarde (1628). Esta expedição, dividida em quatro companhias, rumou para o Guaíra (no atual Rio Grande do Sul) e diz-se que ela iniciou o processo de expulsão dos jesuítas espanhóis, ampliando as fronteiras do Brasil e assegurando a posse dos territórios dos atuais estados do Paraná, de Santa Catarina e de Mato Grosso do Sul. À frente de novecentos brancos e mamelucos e dois mil indios, uma verdadeira cidade em marcha.

A vanguarda de sua bandeira, pequena coluna comandada por Antônio Pedroso de Barros, livre de quase todo equipamento, seguia mais depressa. A retaguarda era chefiada por Salvador Pires de Mendonça. Pedro Vaz de Barros, Brás Leme e André Fernandes comandavam companhias. Formando sistema com a bandeira, outra tropa comandada por Mateus Luís Grou varou os sertões de Ibiaguira nas cabeceiras do rio Ribeira. Comandados, seguiam na bandeira Frederico de Melo, João Pedroso de Barros, Antônio Bicudo, Simão Álvares (com eles ia o cacique Tataurana, capturado no local) e outros.

Andavam semanas percorrendo mata virgem, atravessando grandes rios. A 8 de setembro, cruzaram o rio Tibagi, bem em frente à missão de Encarnación onde levantaram paliçada. Pedroso de Barros manda erguer uma cerca de estacas e ficou à espera. Durante mais de três meses a vanguarda permaneceu frente a frente com os inimigos, aguardando a vinda do resto da bandeira. Em dezembro a tropa inteira se reuniu novamente. Tudo estava pronto para a guerra, só faltava o pretexto para justificar o ataque. A fuga de uns poucos índios (do cacique Tataurana) - aprisionados no local - que procuravam abrigo na missão próxima de San Antonio deu o motivo. Imediatamente, a bandeira deslocou-se para a missão e Raposo Tavares lançou um ultimato aos jesuítas espanhóis para entregar os índios. Os padres não cederam, os presos não foram devolvidos e a luta começou. Há relatos românticos que descrevem as nuvens de flechas, os tiros, facas e paus que fazem mortos dos dois lados. Os jesuítas, manchados de lama e sangue, congregam os índios na tentativa desesperada de salvar a missão, mandam repicar os sinos, enquanto os paulistas vencem os muros de pedra. A 30 de janeiro de 1629, o barulho cessa. A redução de San Antonio deixara de existir, dizimada. O Brasil crescera mais um pouco. Dois mil índios sobreviventes, que se renderam, foram carregados com as argolas de ferro das correntes trazidas para eles.

Dos cem mil índios que havia na redução teriam sobrado doze mil. Os jesuítas fugiram do Guairá (como se chamava a zona entre o rio Paraná e o rio Paraguai) para o Sul, região do Uruguai e Taipe, atual Rio Grande do Sul, e para oeste, na zona de Itatim.

Em 23 de março foi arrasada por Antônio Bicudo de Mendonça a redução de São Miguel, onde se refugiara o superior da Redução de Santo Antônio, destruída em janeiro. Ao mesmo tempo, Manuel Morato Coelho destruía a redução de Jesus Maria. As companhias de Brás Leme e de Antônio Pedroso de Barros pelejavam com os índios não reduzidos do Caairu, sofrendo reveses. A leva de Mateus Luis Grou ficou agindo no sertão de Ibiaguira. Os Paulistas destruiram ainda as doutrinas de Encarnação, São Pedro, Arcanjos e São Tomé.

Os sucessos permitiram-lhe fundar uma grande fazenda nas margens do rio Tietê, que contava com mais de uma centena de indígenas escravizados.

Encargos outros
Em janeiro de 1633 foi eleito juiz ordinário, e logo a seguir, desistiu do cargo pois foi provido pelo conde de Monsanto no ofício de Ouvidor da Capitania de São Vicente.

Em julho de 1633, foi assaltado o colégio e a igreja dos jesuítas em Barueri, povoação perto de São Paulo, expulsos os padres e pregadas as portas. Os assaltantes (Antônio Raposo Tavares, Pedro Leme, Paulo do Amaral, Manuel Pires, Lucas Fernandes Pinto, Sebastião de Ramos) eram todos homens poderosos contra os quais os padres lançaram processo de excomunhão julgado, por ausência do Reitor Padre João de Mendonça em Cananéia, pelo Padre espanhol Juan del Campo y Medina. Mas os autores do atentado zombaram da sentença trazida pelo Padre escrivão do processo Antônio de Medina, rompendo-a de suas mãos. A violência contra os Padres, os paulistas justificavam porque a lei de setembro de 1611 determinava que nas aldeias de índios assistissem apenas clérigos, debaixo da imediata jurisdição real ou civil. Achando-se a 25 de julho a aldeia de Barueri em poder dos jesuitas, exclusivamente, o Procurador do Conselho requereu que a Câmara fosse dela tomar conta, em nome do Rei, defendendo assim o que considerava uma usurpação do clero. A Câmara deferiu o requerimento e pouco depois convocou reunião dos maiorais da vila, realizada a 21 de agosto. Nesta reunião houve solidariedade de todos: a posse da aldeia tinha mesmo que ser à força.

Os jesuítas se queixaram ao governador geral Diogo Luís de Oliveira. O caso se arrastaria pelo menos até 1635, pois em dezembro de 1633 houve provisão ao Governador geral alegando que a posse fora embuste para encobrir o verdadeiro motivo dos Paulistas, que era a escravização dos índios, ordenando a devolução da aldeia e da igreja aos padres, cassando o mandato de Ouvidor a Raposo Tavares. Como devia servir ainda mais dois anos, Raposo Tavares opôs um embargo. Que o Ouvidor do Rio de Janeiro, Francisco da Costa Barros, recebeu em julho de 1635, para o efeito de o manter no cargo de ouvidor...

A bandeira de 1638 ao Tape
Em 1638 partiu em nova expedição, para expulsar os jesuítas espanhóis estabelecidos nas reduções da região do Tapes, hoje Rio Grande do Sul. Deixou São Paulo em janeiro, com 120 paulsitas e mil índios, e voltou em novembro. José Ortiz de Camargo seguia no troço do capitão Diogo Coutinho de Melo, fazendo a chamada «campanha dos araxás».

Em novembro a bandeira chegou ao sertão dos tapes - província que compreendia a Oeste o alto rio Ibicuí, ao Norte a serra Geral, a leste o vale do rio Cai e ao Sul a vizinhança da serra dos tapes - o centro do atual Rio Grande do Sul. A 2 de dezembro atingiu e atacou a redução de Jesus Maria, na margem esquerda do rio Jacuí, e depois de seis horas de luta arrasou a redução, fazendo prisioneiros. Depois, atacou a redução de San Cristóbal, no rio Pardo, e no rio Jacuí; logo depois tomou a redução de Santana. De acordo com a tática usada, a bandeira ia dividida em companhias, dispersas em vários pontos, guardando porém unidade de ação. Uma dessas companhias, a de Diogo de Melo Coutinho, ficou agindo no chamado «sertão dos carijós».

Est bandeira voltou a São Paulo a 20 de janeiro de 1637, mas permaneceu no Tape Antônio Raposo Tavares.

A luta contra os holandeses
De 1639 a 1642 integrou as forças paulistas, organizadas por D. Francisco Rendon de Quebedo a pedido de Salvador Correia de Sá e Benevides, que lutaram contra as invasões holandesas, combatendo na capitania da Bahia e na de Pernambuco.

A 7 de agosto de 1639 D. Fernando de Mascarenhas, 1º conde da Torre, lhe deu patente de capitão, pois juntara em São Paulo à sua custa 150 soldados que conduziu à Bahia. Foi-lhe mandado agregar-se ao terço do mestre de campo Fernando da Silveira.

A última expedição
Antônio Raposo Tavares estivera em Portugal no ano de 1647, sendo «encarregado de uma missão em grande parte secreta». A sua última expedição foi chamada aBandeira de Limites ou a grande bandeira aos «serranos», limites do Peru. Considerada a primeira viagem em torno do território brasileiro, partiu de São Paulo em maio de 1648, do porto de Pirapitingui, descendo o rio Tietê rumo aos sertões do baixo Mato Grosso. Contava com brancos, mamelucos e mais de mil índios. Um de seus principais auxiliares foi Antônio Pereira de Azevedo, baiano.

Oficialmente se destinava à busca de minas, sobretudo de prata. Diz Jaime Cortesão em seu livro «Raposo Tavares e a formação territorial do Brasil» que a parte oficial era descobrir metais preciosos mas a outra parte secreta seria conhecer conhecer melhor o Brasil para identificar os interesses de Portugal na região.

Em novembro de 1648 Antônio Raposo ordenou decisivo ataque a destru~ição das reduções do Itatim, combatendo 200 paulistas e mil índios mansos, e seu auxiliar ainda foi o velho, sexagenário, Capitão André Fernandes (que morreria no início da ação, em 1649, em local tão oposto ao sertão do Sabaraboçu onde sempre desejara e prometera ir). Ficaram destruídas as reduções jesuítas da serra de Maracaju e Terecañi, e depois Bolaños, Xerez e outras. O ataque produziu êxodo, mas partiu de Assunção um exército tão grande que os paulistas resolveram abandonar a província. A bandeira se dividiu em duas companhias. Na companhia comandada por Raposo, era alferes Manuel de Souza da Silva. A outra era chefiada pelo baiano Antônio Pereira de Azevedo.

Iniciaram assim em 1648 a famosa volta que duraria até 1651, subindo o rio Paraguai, descendo o rio Mamoré e o rio Amazonas, regressando a São Vicente com apenas 59 brancos e alguns indios. Teria subido pelo rio Itatim e pelo rio Paraguai até a nascente, internando-se de tal modo que se encontrou com os castelhanos no Peru, depois desceu em jangadas o rio Guaporé, o rio Mamoré e o rio Madeira, entrando no Amazonas. deteve-se na fortaleza de Gurupá, no Pará. André Fernandes pereceu no sertão com toda sua tropa, da qual apenas dois índios retornariam a São Paulo.

A expedição percorreu mais de 10.000 quilômetros em três anos, tendo usado o curso do rio Paraguai, do rio Grande, do rio Mamoré, do rio Madeira e do rio Amazonas. Ao chegar à foz do Amazonas, em Gurupá, no Pará, a tropa estava reduzida a 59 brancos e alguns índios. Da cidade de Belém do Pará, os sobreviventes à épica travessia da floresta Amazônica, retornaram a São Paulo, onde o bandeirante viria a falecer.

Casamentos e posteridade
Sua descendência é descrita por Silva Leme no volume III da «Genealogia Paulistana». Viúvo da castelhana Antolina Requeixo de Peralta, casou em São Paulo com Isabel de Góis.

Fonte: pt.wikipedia.org
Ensinam estas Quinas que aqui vês,
Que o mar com fim será grego e romano:
O mar sem fim é português
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
 

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gaia

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Re: Bandeiras do Império, Bandeirantes na Expansão do Brasil
« Responder #7 em: Fevereiro 08, 2010, 10:46:14 am »
É espantosa , a vida deste sertanista.
 

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Templário

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Re: Bandeiras do Império, Bandeirantes na Expansão do Brasil
« Responder #8 em: Fevereiro 10, 2010, 01:47:38 pm »
19 Setembro, 2007
Os Bandeirantes eram judeus (Anita Novinsky)
Texto de Mario Cesar carvalho publicado Folha de São Paulo - Cotidiano - 5/9/2004) - envido a nós por Carlos Cavalheiro.
"Os historiadores nunca primaram pelo equilíbrio ao retratar Antônio Raposo Tavares (1598-1658), um dos mais mitológicos bandeirantes. Ou era guindado ao céu como o "bandeirante magno, vulto formidável", segundo a descrição de Affonso Taunay, ou era jogado no inferno como assassino, herege e matador de padres.


A historiadora Anita Novinsky, professora de pós-graduação na USP, reuniu documentos encontrados em Portugal segundo os quais Raposo Tavares teria razões religiosas para queimar igrejas: sua madrasta, Maria da Costa, foi presa pela Inquisição em 1618 sob a acusação de "judaísmo" e só saiu do cárcere seis anos depois."

(...)

"Há razões ideológicas na fúria dos bandeirantes contra a igreja. Ela representava a força que tinha destruído suas vidas e confiscado seus bens em Portugal", diz Novinsky, autora de oito livros sobre a Inquisição. Raposo Tavares matou jesuítas porque eles eram comissários da Inquisição na América, segundo a historiadora.


Uma outra história

Segundo a nova perspectiva, Raposo Tavares e bandeirantes que atacavam igrejas podem ser vistos como "subversivos", desafiadores da hegemonia católica, na visão de Novinsky. Entre os bandeirantes, eram cristãos novos Raposo Tavares, Fernão Dias Paes e Brás Leme. Baltazar Fernandes, fundador de Sorocaba, matou com um tiro na cabeça o padre Diogo de Alfaro, que tinha sido enviado pela Inquisição para investigar os paulistas.

(...)

Os ataques das bandeiras às reduções, áreas em que os jesuítas agrupavam os índios para catequizá-los, ocorreram na primeira metade do século XVII. O mais célebre dos ataques foi contra as reduções na região de Guairá, hoje território paraguaio, em 1628. Raposo Tavares teria saído de São Paulo com 900 brancos e 3.000 índios.
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Por outro lado...


Os conflitos entre a Igreja, o Estado português e os colonos europeus na América sobre a escravidão indígena são constantes durante todo o período colonial, desde quando Colombo desembarcou na América e começou a usar os índios como mão-de-obra forçada, houveram opiniões favoráveis e contra os métodos realizados (dentro e fora da igreja), discutiu-se se os índios possuíam mesmo alma, se a escravidão não era uma forma de catequização, etc.


Os jesuítas também não representavam diretamente a opinião da Igreja, nem o Estado os apoiou sempre, eles foram uma das faces do poder religioso na época e durante um certo período um dos braços do poder colonial. Em 1750 o Estado português resolveu expulsa-los de seus domínios, mas isso não quis dizer que o Estado tenha se tornado anti-clerical (como o raciocínio acima pode levar a crer), pelo contrario, o Estado se apoiou em outros grupos religiosos.


Os defensores desta tese (a do ódio religioso) tentam desqualificar os argumentos econômicos em detrimentos dos religiosos (ideais), os argumentos religiosos ideais são realmente muito importantes mas estavam intimamente interligados aos interesses político e comercial. Não dá para lutar contra o fato de que, na colônia portuguesa (hoje Brasil), os jesuítas, usando-se da mão de obra escrava, tenham montado um império (econômico-religioso) dentro do Império português independente de seu Estado, na região amazônica eles tinham até mesmo monopólio sobre o comércio; na região sul a catequização forçada dos índios se opunha ao aprisionamento do gentio por parte dos bandeirantes e ambos rivalizavam.


Nos séculos XVII e XVIII, no contexto das disputas fronteiriças entre a colônia portuguesa e a espanhola, os jesuítas ergueram fortalezas e impediam a penetração dos portugueses nas regiões sob litígio, o que resultou em conflitos armados.


Boa parte das expedições bandeirantes dirigidas contra as reduções jesuíticas do sul partiram de Sorocaba, mas isto não tem relação com o fato de os bandeirantes serem cristãos-novos, pode até ter ajudado mas o fundamento era outro. E Baltazar Fernandes também não era judeu, era mestiço de índio com europeu, talvez um europeu cristão-novo.
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Bandeirantes tinham origem judaica
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MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

Os historiadores nunca primaram pelo equilíbrio ao retratar Antônio Raposo Tavares (1598-1658), um dos mais mitológicos bandeirantes. Ou era guindado ao céu como o "bandeirante magno, vulto formidável", segundo a descrição de Affonso Taunay, ou era jogado no inferno como assassino, herege e matador de padres.

A historiadora Anita Novinsky, professora de pós-graduação na USP, reuniu documentos encontrados em Portugal segundo os quais Raposo Tavares teria razões religiosas para queimar igrejas: sua madrasta, Maria da Costa, foi presa pela Inquisição em 1618 sob a acusação de "judaísmo" e só saiu do cárcere seis anos depois.

Em 1496, D. Manuel, rei de Portugal, decretou que os judeus deveriam ser expulsos do país. Só poderiam ficar os que aceitassem a conversão ao catolicismo, chamados de cristãos novos.

Raposo Tavares foi criado até os 18 anos na casa da madrasta, uma cristã nova que seguia a tradição religiosa como "uma judia fervorosa", na definição de Novinsky. A mãe de Raposo Tavares também era cristã nova.

"Há razões ideológicas na fúria dos bandeirantes contra a igreja. Ela representava a força que tinha destruído suas vidas e confiscado seus bens em Portugal", diz Novinsky, autora de oito livros sobre a Inquisição. Raposo Tavares matou jesuítas porque eles eram comissários da Inquisição na América, segundo a historiadora.

Os documentos serão debatidos no simpósio "O Legado dos Judeus para a Cidade de São Paulo", em novembro. O simpósio é promovido pelo Laboratório de Estudos sobre a Intolerância, da USP, e pelo clube A Hebraica.

Uma outra história

Segundo a nova perspectiva, Raposo Tavares e bandeirantes que atacavam igrejas podem ser vistos como "subversivos", desafiadores da hegemonia católica, na visão de Novinsky. Entre os bandeirantes, eram cristãos novos Raposo Tavares, Fernão Dias Paes e Brás Leme. Baltazar Fernandes, fundador de Sorocaba, matou com um tiro na cabeça o padre Diogo de Alfaro, que tinha sido enviado pela Inquisição para investigar os paulistas.

"A história do período colonial precisa ser reescrita", defende. Os novos documentos mudam as histórias das bandeiras e do Brasil, de acordo com a historiadora.

Os ataques das bandeiras às reduções, áreas em que os jesuítas agrupavam os índios para catequizá-los, ocorreram na primeira metade do século 17.

O mais célebre dos ataques foi contra as reduções na região de Guairá, hoje território paraguaio, em 1628. Raposo Tavares teria saído de São Paulo com 900 brancos e 3.000 índios.

Foi nesse episódio que Raposo Tavares fez a sua confissão de judaísmo, na visão de Novinsky. Uma carta de Francisco Vasques Trujillo escrita em 1631 menciona que, ao ser questionado com que autoridade moral os paulistas atacavam os índios, ele responde que era com a autoridade "que lhes dava os livros de Moisés".

O saldo da batalha para os bandeirantes foi a escravização de 2.000 índios que estavam sendo catequizados. Com a expulsão dos jesuítas espanhóis, Portugal ganhou o território onde ficam os Estados do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso. A escravização dos índios acabou consagrando a teoria de que os bandeirantes eram movidos por razões econômicas.

O historiador John Monteiro, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), autor de "Negros da Terra: Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo", diz que os documentos reunidos por Novinsky mostram que a razão econômica é insuficiente para explicar os embates entre colonos e jesuítas. Não há dúvida de que ambos lutavam pelos índios para usufruir da mão-de-obra barata. Mas por que os confrontos com os bandeirantes paulistas foram os mais cruentos?

A questão religiosa pode explicar a ferocidade, afirma Monteiro. É uma peculiaridade da colonização de São Paulo que não se repete em outros lugares: "Tenho certeza de que as disputas não eram só econômicas. Passavam por alianças de famílias e pela identidade religiosa".

Fuga para São Paulo

Paulo Prado (1869-1943), o milionário do café e patrono da Semana de Arte Moderna de 1922, foi o primeiro a mencionar a influência dos judeus na São Paulo dos séculos 16 e 17. No livro "Paulística Etc." (1925) ele cita atas da Câmara de 1578 e 1582 que fazem referências a "judeus cristãos".

O isolamento de São Paulo, segundo Prado, levava judeus de Pernambuco e da Bahia a migrar para a cidade: "(...) nenhum outro sítio povoado do território colonial oferecia melhor acolhida para a migração judia. Em São Paulo não os perseguia esse formidável instrumento da Inquisição, que nunca chegou aqui".

Prado não sabia à época que dois cristãos novos que moravam em São Paulo haviam sido executados pela Inquisição: Theotonio da Costa, em 1686, e Miguel de Mendonça Valladolid, em 1731.

No livro que publicou em 1958 sobre Raposo Tavares, o historiador português Jaime Cortesão levantou a hipótese de que o bandeirante era cristão novo e que tivera problemas com a Inquisição.

Onze anos depois, José Gonçalves Salvador, professor aposentado da USP,
escreveu o primeiro artigo sobre cristãos novos em São Paulo e sobre a origem judaica de Raposo Tavares.

Havia razões sérias para que cristãos novos escondessem suas raízes judaicas, diz o historiador Paulo Valadares, um dos autores do "Dicionário Sefaradi de Sobrenomes" --sefaradi ou sefaradita é a forma como são designados os judeus da península Ibérica.

"A Inquisição foi uma forma de apartheid. Os que tinham origem judaica tinham de pagar mais tributos e não tinham acesso a certos cargos", afirma Valadares.

Para ingressar em ordens religiosas ou no exército, o candidato precisava provar que não tinha antepassado judeu, árabe, negro ou índio por até sete gerações.

Para ascender, era necessário renegar o passado. A prática era corrente em São Paulo desde sua fundação, em 1554. Segundo Valadares, a mãe de Anchieta era cristã nova e seu trisavô foi queimado pela Inquisição.
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Nota e comentário ao que é escrito acima: haveria concerteza alguns com origem judaico-portuguesa ou "Cristã-nova" e o geral "Cristão-velho"(discriminação entre Portugueses a que as reformas Pombalinas mais tarde puseram, felizmente, termo); a Inquisição não estava directamente no Brasil, ao contrário do que acontecia na América espanhola, pois só fazia visitações ao Brasil português, e sobre São Paulo de Piratininga no Planalto, não chegava a Inquisição ou pouco poder tinha.
Isto precisa de mais investigação, no caso de se confirmar, a verdade andará mais como no caso porventura de Antonio Raposo Tavares e familia geneológica claro, em origens ambas e legado sincrético português mais comum e judaicoportuguês lusitanos(nascidos em Portugal de norte a sul e Ilhas, vários dos Açores uns, ou já descendentes nascidos no Brasil outros) num sincretismo, podemos imaginar; e Português e Alentejano mais precisamente, de São Miguel do Pinheiro, Mértola-Beja, lembrando o caso do Bandeirante ímpar lusobrasileiro.
Ensinam estas Quinas que aqui vês,
Que o mar com fim será grego e romano:
O mar sem fim é português
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
 

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Re: Bandeiras do Império, Bandeirantes na Expansão do Brasil
« Responder #9 em: Fevereiro 26, 2010, 01:22:23 pm »
De "PORTAL DOS BANDEIRANTES"

RESGATANDO A MEMÓRIA
DA FIGURA MÁXIMA DO BANDEIRISMO


Jaime Cortesão

       Começou a interessar-nos mais de perto a figura de Raposo Tavares, já lá vão quatorze anos, quando iniciamos no Itamarati o Curso de História da Cartografia do Brasil logo transformado em História da formação territorial do Brasil.
       Breve entrevimos a excepcional grandeza do bandeirante, que devassara os sertões desconhecidos da América do Sul e alargara por forma inigualável os alicerces geográficos do Brasil.
       Mas a história da maior das suas empresas, que o levara à frente duma bandeira desde São Paulo à foz do Amazonas, passando, segundo certos testemunhos, pelos Andes, estava cheia de obscuridades e enigmas, a começar pelos objetivos e a terminar com o roteiro da expedição.

       Desde logo se nos afigurou também que havia apaixonado excesso nos severos juízos dos jesuítas espanhóis sobre ela e seus companheiros, os bandeirantes paulistas, mas que, não obstante, historiadores brasileiros de tamanho vulto, como Capistrano de Abreu, haviam subscrevido.
       Seduziu-nos a idéia de fazer alguma luz sobre a vida do homem, o ambiente social que o determinara e as razões por que os seus feitos foram envolvidos em sombras e juízos infamantes.

       E deitamos mãos à obra.

       As lições mimeografadas dos nossos cursos no Itamarati atestam o estorço progressivo para arrancar Raposo Tavares e os bandeirantes, em geral, à lenda negra que lhes deturpara a memória, e restituí-los, tanto quanto possível, a uma visão mais correta. Mas erguer o homem a toda a sua altura exigia vasta monografia, incompatível com as lições dum curso, que abrangia a história do Brasil.

       Fomos, pois, reunindo pouco a pouco os materiais para um livro a publicar em ocasião azada. Chegamos a entender-nos com um editor paulista para esse fim.

Entretanto éramos encarregados de organizar a Exposição Histórica de São Paulo no quadro da História do Brasil, comemorativa do IV Centenário da fundação da cidade, tarefa que absorveu todos os nossos esforços e cuidados. E o projeto foi adiado.

       Ora um dia que nos encontrávamos em casa do Senhor Ricardo Seabra, nosso velho e querido amigo, o Embaixador Assis Chateaubriand, que ali coincidia e já nos ouvira discorrer longamente sobre o tema deste livro, apregoou em termos calorosos a conveniência de que nos lançássemos a escrever a obra renovadora sobre o português, que soubera tornar-se a figura máxima do bandeirismo e tamanha importância assumia na história do Brasil.

       Depois dessa conversa, Ricardo Seabra procurou-nos e instou afetuosamente conosco para que realizássemos esse trabalho, que ele julgava também indispensável, oferecendo a sua Casa para correr com os encargos da edição.

       Aceitamos. E queremos aqui agradecer ao Embaixador Assis Chateaubriand a generosa insinuação e a Ricardo Seabra o estímulo eficaz e amigo que nos resolveu ao trabalho presente e a que prometemos lançar-nos de seguida. Tudo isto se passou há mais de dois anos.

       A empresa era maior do que julgávamos. Tivemos de renovar pesquisas. Novas e copiosas fontes nos surgiram.

       E como a figura de Raposo Tavares, por muito grandiosa ou singular que se afigure, é apenas um elo duma cadeia, juntamente efeito e causa, intérprete e motor duma época cujas condições peculiares havia que estudar até às suas contradições e conflitos íntimos, a obra, longe de resumir-se a uma biografia, teve que alargar-se e pretende ser a história dum período tão cheio de lições e tão mal estudado, como é o dos fins do domínio filipino e dos primeiros anos da Restauração nas suas relações entre Portugal e o Brasil.

       Veremos, pois, como se formou em São Paulo e floresceu de raiz luso-tupi um gênero de vida novo, o bandeirismo; como Raposo Tavares, mercê de condições próprias e de formação social, quer na metrópole, quer na colônia, se tornou o seu maior intérprete; como a revolução restauradora da independência portuguesa começou, em verdade, no Brasil, sob o impulso de causas econômicas locais, das imperiosas necessidades da formação geográfica do Estado e dum ambiente de maior liberdade que em Portugal — tudo intimamente ligado com o movimento das bandeiras; e como, por todos estes motivos, o choque de interesses nacionais opostos se iniciou aqui entre bandeirantes e jesuítas espanhóis.

       Dedicaremos especial atenção a um capítulo quase desconhecido da política de D. João IV no Brasil, cujos planos temerários e ambiciosos encontraram aqui, para realizá-los, personalidades tão vigorosas e representativas, como a dos grandes navegadores e pioneiros portugueses do século de Quinhentos.
       Finalmente, buscaremos situar Raposo Tavares no plano duma comunidade cultural luso-brasileira; no plano nacional, quer no Brasil, quer de Portugal; e no da história universal, como precursor ou realizador de novos conceitos do Estado moderno.

       O desenvolvimento deste plano não podia deixar de ser árduo e demorado.

       Acrescentamos em Apêndice alguns documentos inéditos, dos que mais esclarecem os enigmas que nos propusemos decifrar. Faz exceção a carta do Pe. Antônio Vieira, dos começos do ano de 1654, sobre a maior das expedições de Raposo Tavares, já anteriormente publicada por João Lúcio de Azevedo. Mas mutilada e desfigurada como foi, estava exigindo uma rigorosa análise critica, trabalho que procuramos realizar nas copiosas notas que a acompanham. Cremos com isso ter valorizado esse texto, já de tão singular importância.
       A nossa interpretação de certos fatos, muito discutidos, estava exigindo a apresentação das provas, dever de probidade a que não nos furtamos.

Jaime Cortesão
in Raposo Tavares e a
Formação Territorial do Brasil, MEC, Rio de Janeiro, 1958

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RAPOSO TAVARES
O CONQUISTADOR


De Batista Cepelos

 

 
O CONQUISTADOR


1
Por selvas nunca dantes palmilhadas,
As famosas Bandeiras de paulistas,
Ao sopro de ambições alevantadas,
Marchavam de conquistas em conquistas;
E o pico das montanhas agulhadas,
Desafiando os valentes sertanistas,
Como um dedo de pedra, no ar suspenso,
Era a baliza do sertão imenso.  
2
Para narrar a sobre humana empresa
Daqueles destemidos corações,
Ora busco uma nobre singeleza,
Ora calço os coturnos de Camões;
De maneira que a língua portuguesa,
Numa orquestra de intensas vibrações,
Cante no bronze do meu verso ufano,
Como canta no verbo de Herculano!

 3
Ah! pátria brasileira! hoje figuras
Na vanguarda do Novo Continente,
E, esquecendo o passado, não procuras
Honrar o nome dessa heróica gente,
Que te arrancou das verdes espessuras,
Como o mergulhador, no mar do Oriente,
Afunda, a se bater de fraga em fraga,
E uma perola arranca à tona d’água!
 4
A ingratidão e a inveja (homens mesquinhos!)
Sempre hão de ser o trágico laurel,
Que à fronte de Jesus cobre de espinhos
E à boca da Verdade enche de fel;
Deixa Homero a vagar pelos caminhos,
No abandono da sorte mais cruel,
E faz com que Cipião um dia exclame:
“Não te lego os meus ossos, pátria infame

5
Mas se os homens vos negam monumentos,
Meus ilustres Avós conquistadores,
Semearei vossa fama aos quatro ventos,
Na forte envergadura dos condores,
E quem ler estes versos marulhentos
Há de ouvir um marulho de tambores
E há de enxergar, como no tempo heleneo,
A glória em três relâmpagos de gênio!

 6
Se há um primeiro lugar nesta epopéia,
Cabe a Antônio Raposo esse lugar,
Que entre os vultos da heróica Paulicéia
Se destaca, brilhante e singular:
Bem merece, de fato, uma odisséia
Esse glorioso lutador sem par,
Que, espalmando em S. Paulo as asas grandes,
Vai pousar no pináculo dos Andes!  
 7
Afrontando à serpente e à suçuarana,
Mergulha na espessura das ramagens,
E, na gloriosa Redução Indiana,
Vence e reduz mais de cem mil selvagens;
Depois, no ardor de uma bravura insana,
Eis que invade o Peru, força passagens,
Extermina espanhóis e, ousadamente,
Prossegue na jornada para a frente!

 8
Da Natureza as rígidas entranhas
Rompe, como um feroz desvirgador,
E enquanto, do cabeço das montanhas,
Lança em torno um olhar dominador,
Planeja novas lutas e façanhas,
Afiando as garras de conquistador:
Até que surge nas remotas zonas
Onde correm as águas do Amazonas.  
9
E ei-lo, numa jangada perigosa,
Sobre aquela marítima planura...
Guaia-lhe aos pés a música horrorosa
Dos crespos vagalhões de imensa altura,
E o herói, de pé, numa atitude airosa,
Não vacila, não treme, não murmura,
Mas, como um novo Ulisses, calmo e atento,
Deixa que ruja o bárbaro elemento!

10
Voga, valsando à voz da ventania,
A rude embarcação. Ora um boléu
Atira-a aos dentes de uma penedia,
Ora a espuma a recobre, como um véu.
E o tempo vai passando, dia a dia,
Enquanto, num medonho macaréu,
A água, rasgando as abismais entranhas,
Vai parindo montanhas e montanhas!
11
Por vezes, de entre um bosque ramalhudo,
Que, junto ao rio, como um rio ondeia,
Feios selvagens de quadril desnudo,
Manejando uma flecha, que se arqueia,
Olham em roda, examinando tudo...
E, na praia, se arrasta, sobre a areia,
Enchendo o chão de riscos e de rugas,
Uma frota de enormes tartarugas!

12
Agora, numa enseada lisa e mansa,
Em que se espelha o firmamento azul,
A jangada, pacífica, descansa;
Em torno às vagas, num vaivém taful,
Atiram flores, sacudindo a trança;
E, alta, cortando o céu, rumo do sul,
Como um desenho sobre talagarça,
Passa uma triste e solitária garça...
13
A jangada prossegue. O Sertanista
Passeia ao longe, como um leão sereno,
A deslumbrada, a cobiçosa vista...
Ah! rio colossal, ainda és pequeno
Para o seu grande sonho de conquista,
Que, num pujante e sacudido aceno,
Como um vasto pendão que se desfralda,
Abrange esse infinito de esmeralda!

14
Erra no ambiente essa melancolia
Que sofre a Natureza tropical,
À quente vibração do meio-dia...
As próprias ondas, num langor geral,
Arrebentando com monotonia,
Como que sentem um quebranto igual:
É a saudade, talvez, daqueles montes
Em que nasceram-pequeninas fontes...  
15
Vitórias régias... de um matiz ardente,
Entre um gracioso círculo de espumas,
Passam boiando, vitoriosamente...
Trinçam gaivotas, sacudindo as plumas...
E muito longe, no rubor do poente,
Volteiam vagas, vaporosas brumas...
E tomba o sol, como um zimbório que arde,
E abre-se a lua, como um lírio à tarde...!

  16
Um silêncio vastíssimo e profundo
Vai-se estendendo pelo espaço além...
Como que se ouve o coração do Mundo
Soltar queixumes, palpitar também;
E até o grande Amazonas iracundo
Sofreia as águas, o furor contém,
E ei-lo, na praia, compungido e brando,
Um rosário de pérolas desfiando...  
17
Noite. Na vastidão do céu imenso,
Entre ondulantes nebulosidades,
Sobe disperso um vaporoso incenso,
Que, nimbando as etéreas claridades,
Anda sem rumo, pelo azul, suspenso,
Como um longo suspiro de saudades...
Nesse momento, o olhar do Aventureiro
Longamente se crava no Cruzeiro

18
Oh! eloqüência sem verbo, alta e tranqüila,
A desses olhos em contemplação!
A sua alma arrebenta-lhe à pupila,
Num vibrante transporte de paixão!
É que perante o seu olhar desfila
O porvir da sonhada Promissão,
E, aos bafejos da glória e da esperança,
A bandeira da pátria se embalança...

19
Assim, vencendo as águas marulhantes,
Aporta em Gurupá, onde em festejos
É recebido pelos habitantes;
Alarmam-se em redor os sertanejos,
Ouvindo peripécias retumbantes,
Cortadas de tão belos relampejos
De bravura, de força, de ousadia,
Que a verdade parece fantasia!  
20
E, novamente, o pertinaz mateiro
Penetra nos profundos matagais...
Oh! sangue de Paulista, aventureiro,
Que mais deseja quanto alcança mais!
Tantas vezes é feito prisioneiro
Pela corja dos índios canibais,
Porém, mais forte que um pau d’alho antigo,
Não se deixa esmagar pelo inimigo!

 21
Debalde o enfurecido mato grosso,
Procura castigar-lhe o atrevimento,
E, como o Adamastor, ergue o pescoço
Um monte, que faz sombra ao firmamento:
O Paulista lá vai, dobra o colosso,
Norteado por um forte pensamento,
E elefantinamente ergue a cabeça,
E rasga o seio da floresta espessa!  
22
Fura a garganta dos despenhadeiros,
Em cujos pavorosos solapões
Rolam rugindo rápidos ribeiros,
Espadanando as águas em caixões!
Outras vezes, encontra, hospitaleiros,
Sítios amáveis como corações
Onde, em gostosa languidez, dormita,
Como num colo de mulher bonita.

23
Linda é a luz da manhã, dourando as matas,
Acendendo os orvalhos matutinos
E irisando o respiro das cascatas.
Hinos de vida, luminosos hinos
Sobem da terra, em melodias gratas,
Como um sonoro bimbalhar de sinos,
E o herói medita, ébrio de luz e aroma,
Em cidades maiores do que Roma!
24
Aves adejam, sacudindo as penas,
Numa bizarra ostentação de cor,
Dizendo, em suas módulas avenas,
Sentidas queixas de magoado amor;
E as borboletas, par a par, serenas,
Curvelineando vão de flor em flor,
Por entre os galhos que, em febris adejos,
Como que trocam delirantes beijos!

  25
Sob a cúpula enorme da espessura
(Tanto uma copa de outra se aproxima)
O olhar se perde na ramada escura;
E ah! que prazer, como não há o que exprima,
Quando a pesada abóboda se fura
E uma nesga de céu fulge lá em cima,
De um azul tão mavioso e transparente
Que o olhar o bebe demoradamente!
 26
Mas, de noite, há um momento de tristeza,
Quando Raposo e os companheiros, sós,
Em meio à adormecida Natureza,
Ouvem o pipilar dos curiangós:
Crepitam brasas, na fogueira acesa,
E eles, ouvindo essa dolente voz
Cortar a solidão do acampamento,
Volvem para bem longe o pensamento!

 27
Então, para entreter a nostalgia,
Enquanto as chamas dançam na fogueira,
Todos eles relatam, em porfia,
Histórias dessa marcha aventureira...
Assim, desponta o rosicler do dia
E a luz vai penetrando na clareira,
A luz, beijo de Deus, que a vida encerra
E faz pulsar o coração da Terra.  
28

E quando o sol, em pleno céu, dardeja,
Em sua imensa glória tropical,
Já a valente companhia sertaneja:
Léguas atravessou de matagal.
Oh! gente, em cujo sangue arde e lateja
Uma forte consciência nacional,
Altiva, reservada, calculista,
Segundo a nobre sisudez paulista!

29
Não há perigos, intempéries, nada
Que os detenha na rota triunfante;
Si uma grande montanha ergue a cumeada,
Ao longe, desafiando o céu radiante,
« Adiante! » -o chefe destemido brada,
E a bandeira prossegue para diante,
E a alta montanha, que no azul se alteia,
Calcam, em breve, como um grão de areia!  
30
E assim vencem.
Por certo que há um segredo
Nessas feituras imortais, que até
Dão a idéia de um mar e de um rochedo
Posto no mar, gloriosamente em pé!
Causam deslumbramento e causam medo
À minha geração de pouca fé
Esses homens de egrégia heroicidade,
Cuja força reside na vontade!

31
E um dia (são passados tantos anos!)
Chega Raposo à pátria bem-querida,
Mas, na fronte e no olhar, revela os danos
Da sua errante e trabalhosa vida!
Partiu moço e gentil, cheio de enganos,
E em decadência tal volve da lida,
Que até mesmo os parentes, nesse instante,
Desconhecem o velho Bandeirante!
32
Enfim, Conquistador de imenso porte,
Na terra do teu berço fica em paz!
Quem tantas vezes desafiou à morte
E nunca soube dar um passo atrás,
Quem segue um sonho assim, másculo e forte,
Executando um pensamento audaz,
Foi grande, na terrena trajetória,
E para sempre viverá na História!
Ensinam estas Quinas que aqui vês,
Que o mar com fim será grego e romano:
O mar sem fim é português
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
 

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Re: Bandeiras do Império, Bandeirantes na Expansão do Brasil
« Responder #10 em: Fevereiro 26, 2010, 01:34:31 pm »
(EXPEDIÇÃO DE RECONHECIMENTO: DIMENSÕES)


       O empreendimento de Raposo Tavares foi também a primeira expedição de reconhecimento geográfico que abrangeu todo o espaço continental da América do Sul, compreendido entre as ribas do Atlântico e a cordilheira andina, entre o trópico de Capricórnio e o Equador, alargando-se por cerca de vinte e três graus de latitude e vinte de longitude.

       Tornou-se, por isso mesmo, a maior e mais árdua de quantas expedições de descobrimento se realizaram em toda a América, não só até à sua data, mas ainda até aos começos do século XIX.

       Pondo de parte o trajeto andino e considerando apenas o percurso fluvial, do Tietê ao Paraguai, e daí por terra ao Guapaí, e, baixando por ele, o Mamoré, o Madeira e o Amazonas até Belém, esse vasto périplo mede 10.000 quilômetros, números redondos. Se lhe acrescentarmos a travessia do Chaco, as explorações desde os morros chiquitanos para oriente e os desvios e flutuações da grande aventura na região andina, ela terá excedido, por certo e de muito, os 12.000 quilômetros.




Jaime Cortesão
in Raposo Tavares e a
Formação Territorial do Brasil,
MEC, Rio de Janeiro, 1958


CONSPIRAÇÃO CONTRA RAPOSO TAVARES


       Sobre a memória de Raposo Tavares pesou durante cerca de três séculos a conspiração do silêncio, urdida pelos jesuítas e consentida pelos governantes de Lisboa, contra o homem que uns e outros consideravam o inimigo nº 1 do Estado, ou melhor, duma - das suas instituições fundamentais naquela época — a Companhia de Jesus.
       (...) De tal sorte que, ao terminar esta obra, temos a sensação de haver levantado, com pesado esforço, a tampa de granito dum sepulcro, onde um gigante dormisse.


  Jaime Cortesão
in Raposo Tavares e a
Formação Territorial do Brasil,
MEC, Rio de Janeiro, 19

RAPOSO TAVARES
HERÓI NA HISTÓRIA DO BRASIL,
DE PORTUGAL E NA HISTÓRIA MUNDIAL

       A PERSONALIDADE de Raposo Tavares pertence
       à história de dois países — Portugal e o Brasil — que durante o século XVII, embora formando dois Estados, faziam parte da mesma comunidade nacional;
       à história da formação territorial e política do Brasil e, em geral, dos Estados sul-americanos;
       à história das grandes viagens descobridoras em todos os continentes;
       e , enfim, à história universal,
       já como um dos grandes realizadores do Estado moderno nas suas tendências para afirmar e alargar, por forma ilimitada, a soberania sobre os territórios dos Novos-Mundos,
       já como pioneiro na luta contra a subordinação das culturas naturais de cada raça, povo ou grupo social, a uma planificação estiolante, em nome de razões sobrenaturais.
       Reduzido à sua expressão genérica, Raposo Tavares é um dos mais altos e lídimos representantes do português do século XVII, — bravo, cavaleiroso, plasmador e plástico, capaz de relances de grande visão política, e católico dum catolicismo sui-generis, sempre identificado com a consciência da grei.


Jaime Cortesão
in Raposo Tavares e a
Formação Territorial do Brasil,
MEC, Rio de Janeiro, 19


Monumento aos Bandeirantes - São Paulo
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