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Geopolítica-Geoestratégia-Política de Defesa => Portugal => Tópico iniciado por: papatango em Outubro 05, 2006, 08:09:11 pm

Título: 5 de Outubro: Tratado de Zamora / Independência de Portugal
Enviado por: papatango em Outubro 05, 2006, 08:09:11 pm
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5 de Outubro, 1143: Tratado de Zamora

Comemora-se hoje, dia 5 de Outubro de 2006, o 863º aniversario do tratado de Zamora.

Nesta data, naquele ano do século XII, os selos reais, reconheciam pela primeira vez o Reino de Portugal, e D. Afonso Henriques como seu suserano.

A data é da maior importância para a História do país, dado representar e demonstrar no papel e em documentos escritos, a determinação de D. Afonso Henriques e dos homens livres, especialmente da burguesia da região de entre Douro e Minho, que nunca aceitou que a capital da antiga Gallaecia, situada em Braga, se tivesse transferido de Braga para a actual cidade de Lugo na Galiza, onde a nobreza visigótica estava protegida pelas muralhas romanas.

Desde aí, que a norte e a sul do Minho se criou uma cisão entre um povo outrora homogéneo, e que resultou numa guerra civil entre portugueses e galegos, que acabou com a separação e a criação do Reino de Portugal.

O Rei de Leão e Castela, um suserano medieval, tinha dificuldade em manter os seus vários domínios e preferia dar-lhes autonomia e garantir a sua lealdade que com a manutenção de unidades nacionais, que na altura não faziam sentido, como aliás não fazem hoje.

Com o sul aberto à reconquista contra os árabes, o reino português teve por isso a possibilidade de se expandir para sul, atingindo o Algarve no século seguinte, e deixando o Reino de Leão enclausurado entre Portugal e Castela e marcando assim a sua destruição e absorção por parte do seu vizinho castelhano.

O Estado Português, comemora no entanto a implantação da República Portuguesa. Um regime imposto aos portugueses por um golpe de estado feito contra a vontade do povo e do qual se aproveitaram organizações criminosas como a Maçonaria, que dois anos antes tinha dado ordens para o assassínio do monarca.

O golpe, foi também dado com o objectivo a médio prazo, e em conjugação com as organizações congéneres em Espanha, destituir a monarquia de Afonso XIII e criar finalmente a República Ibérica de raiz Hispânica.

De muitos pontos de vista, a comemoração do 5 de Outubro de 1910, é a comemoração de um crime, e a conclusão da primeira fase dos planos da Maçonaria portuguesa, propostos pela geração de 70, absolutamente crente que Portugal tinha chegado ao fim e que já nada restava que não fosse o suicídio e o desaparecimento de Portugal. Apenas alguns meses depois, começaram os primeiros contactos com a Inglaterra com vista a perguntar se esse país se oporia à absorção, e apenas a I Guerra Mundial complicou os planos da Maçonaria, que no entanto aproveitou para enviar o exército para morrer na França, quando se sabia que o exército era essencialmente monárquico.

Numa altura em que de novo as organizações Maçónicas de forma cada vez mais aberta conspiram para assassinar Portugal, é sintomático que se comemore o crime, e se esqueça o acto fundador na Nação a que temos orgulho de pertencer.

A República, embora não referendada, transformou-se em instituição legítima, mas a sua legitimidade ganharia se houvesse coragem de perguntar aos portugueses se de facto a querem, e se respeitasse a História do país, lembrando o acto fundador de 1143 e da conferência de Zamora, da qual resultou o tratado que transformou Portugal numa realidade até hoje.
Título:
Enviado por: NBSVieiraPT em Outubro 06, 2006, 09:27:27 am
Tem toda a razão Papatango :Palmas:

Tenho vindo a dizer isso estes dias. Mas parece que está tudo "vendado" pela Imprensa.
Ainda apareceu o Duque de Bragança a comemorar este belo dia como ele devia ser. Acho que foi o único que apareceu na TV...
Título:
Enviado por: Pantera em Outubro 06, 2006, 09:59:41 am
Viva Portugal :!:
Título:
Enviado por: Doctor Z em Outubro 06, 2006, 12:08:56 pm
Duma certa forma, seria mais legítimos festejar a independência de Portugal,
que és mais importante do que a mudança de regime.
Título:
Enviado por: Luso em Outubro 06, 2006, 06:34:28 pm
" (...) É provável que o país já consiga conviver tranquilamente com a génese do regime, filho legítimo do terrorismo da Carbonária (é à força da Carbonária que se deve a implantação da República, e não aos discursos do institucional Partido Republicano Português, que se manteve mais ou menos à margem da revolução do 5 de Outubro). A Carbonária (a nossa mãe) não era propriamente recomendável - era uma organização terrorista. (...)"

Ana Sá Lopes, no DN



A Ana Sá Lopes tem toda a razão. E se o sr. Anacleto fizesse uma revolução, impondo ao país o seu regime, mais montado na legitimidade da força que nos 5% de sufrágios que o levaram ao parlamento ? Ora, foi isso que fizeram os republicanos em 1910. Puro banditismo político, como diria Francisco Homem Cristo. A história da 1ª República é uma crónica digna dos anais policiais. De uma violência desconhecida na pacata sociedade portuguesa, os republicanos mataram, dinamitaram e intimidaram antes de se decidirem pelo assalto ao Estado. Depois, no poder, fizeram tábua-rasa de todas as promessas redentoristas e exilaram, prenderam, silenciaram e censuraram meio país. Logo que se apossaram por completo do Estado, voltaram-se uns contra os outros, como bandidos de estrada que, feito o assalto e esbulhadas as vítimas, se dizimam pela posse do saque. A República foi a desgraça deste país. De tudo o que a levou ao poder e de tudo o que obrou naqueles 16 anos subsequentes nasceu um país doente, irado, invejoso e devorado por ódios de camarilha. Foi a República que nos tirou da Europa, foi a República que fez Salazar, foi a República que tornou possível o PREC e a descolonização. Compreendo agora que ninguém tenha acorrido ontem às comemorações.

http://combustoes.blogspot.com/ (http://combustoes.blogspot.com/)
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Outubro 06, 2006, 06:49:33 pm
Pois é e o João Franco foi lá posto pelo Pai Natal...o que o autor esqueceu-se de dizer é que a bandalheira da I República não foi mais do que a continuação do que se foi passando ao longo do século XIX durante a Monárquica Constitucional...E depois que tenha sido a Maçonaria (ou as várias Maçonarias) que tenham implantado a República...República não é sinónimo de Maçonaria, assim como Monárquia não é sinónimo de Absolutismo, ou Direita sinónimo de Fascismo, ou Esquerda sinónimo de Comunismo...É mais um com visões maniqueístas, dum lado estão os "bom", do outros os "maus"... :roll: Haja paciência...
Título:
Enviado por: C. E. Borges em Outubro 06, 2006, 08:05:44 pm
«Pois é e o João Franco foi lá posto pelo Pai Natal...»

Não, não foi o "Pai Natal", foi o Rei D. Carlos I que suspendeu, e bem, um Parlamento de oligarcas corruptos, incompetentes e inimputáveis.

Mas o que o Sr Pereira Marques há-de gostar de saber é que o revolucionário comandante do velho «Adamastor» que, a partir do Tejo, deu o «sinal» para se desencadear o 5 de Outubro de 1910 - e cujo nome não menciono aqui por uma questão de cortesia - é exactamente o mesmo que vamos re-encontrar em 1926  na qualidade de primeiro Primeiro-Ministro da Ditadura Militar.

Não, não foi o "Pai Natal" que o elegeu Primeiro-Ministro de uma Ditadura Militar. Quem poderá ter sido ?
O destino tem destas ironias ...


Viva o 5 de Outubro da Fundação de Portugal.
Título:
Enviado por: papatango em Outubro 06, 2006, 08:29:40 pm
A ditadura de João Franco, foi o resultado da anarquia a que o país havia chegado.

O Rei, não tinha mais saidas, a situação tinha chegado a um ponto de rotura e a instituição de um governo que não caísse 15 dias depois era absolutamente necessária.

É claro que nem todos os repúblicanos são maçónicos, nem todos os esquerdistas são comunistas, mas a critica é para um sistema, o actual, que comemora um golpe, que não teve apoio popular e esquece uma data que merecia mais que ser lembrada num fórum na Internet.

A Maçonaria repúblicana (e não os republicanos) foi das principais beneficiárias com a instabilidade politica e com o golpe de 1910.

Isto não coloca em causa a República com o instituição ou forma legítima de governo.

Mas se a República em democracía é legítima, também o é a Monarquia constitucional.

E a actual República, com a actual Constituição. PROÍBE outra forma de governo que não seja a forma repúblicana.

Será que alguém coloca em causa a influência de personalidades ligadas à Maçonaria no Portugal de 1910 e no de 1976?

A Constituição de 1976, como a lei que surgiu depois de golpe de 1910, consagra o principio maçónico (muito digno aliás) da Meritocracía.

Ou seja: Para estas pessoas o "Zé", não pode decidir sobre as coisas mais importantes.

É por isso que a Maçonaria VETOU o direito de os portugueses se expressarem por via referendaria, que só numa revisão constitucional passou a ser permitida.

Se não fosse estarmos nos anos 70 do século 20, nem as mulheres tinham direito de voto, nem os analfabetos.

Eu não aceito, pura e simplesmente não aceito a discriminação que está na base e na origem das ideias que a Maçonaria defende, especialmente neste caso.

Elas são a negação da Liberdade, e do verdadeiro governo do Povo, pelo Povo e para o Povo.
Título:
Enviado por: fgomes em Outubro 06, 2006, 09:56:03 pm
O meu avô paterno foi nos últimos tempos da monarquia um republicano, mas após um 5 de Outubro, em poucos meses tornou-se monárquico, devido às razões que o Papatango descreve. Uma faceta do regime republicano, menos conhecida foi o seu anticlericalismo, melhor dizendo intolerância religiosa, que levou a diversas perseguições e violências, como por exemplo, aqui na minha região, no Bombarral a igreja paroquial foi incendiada.
A degeneração do regime chegou ao ponto, segundo o meu avô, de um proxeneta do Bairro Alto derrubar governos! Era o célebre "Ai ó linda".
Devo esclarecer que a mudança política do meu avô lhe saiu cara, pois teve que fugir para o Brasil para escapar à prisão, tendo ficado exilada durante vários anos. Outros familiares não tiveram tanta sorte...
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Outubro 06, 2006, 10:45:26 pm
Citação de: "C. E. Borges"
Mas o que o Sr Pereira Marques há-de gostar de saber é que o revolucionário comandante do velho «Adamastor» que, a partir do Tejo, deu o «sinal» para se desencadear o 5 de Outubro de 1910 - e cujo nome não menciono aqui por uma questão de cortesia - é exactamente o mesmo que vamos re-encontrar em 1926  na qualidade de primeiro Primeiro-Ministro da Ditadura Militar.

Não, não foi o "Pai Natal" que o elegeu Primeiro-Ministro de uma Ditadura Militar. Quem poderá ter sido ?


Penso que se estará a referir ao Mendes Cabeçadas...Sempre pensei que o Mendes Cabeçadas fosse considerado um líder de transição, o poder foi-lhe delegado pelo Presidente Bernardino Machado, e que acabou por ser ser afastado pelos "ultras" militares, como Gomes da Costa e Óscar Carmona...

Pelo menos é o que aparece nas várias biografias...

Cumprimentos
B. Pereira Marques
Título:
Enviado por: C. E. Borges em Outubro 06, 2006, 10:47:34 pm
O Artigo 288 b) da actual Constituição, é de facto, espantosa ironia, a maior e a melhor homenagem que o «sistema republicano» alguma vez pôde prestar à Instituição Real e à histórica Monarquia Portuguesa. Nem sequer é preciso dizer mais nada.
Mas também é verdade que precisávamos de muitas mais pessoas informadas, des-preconceituosas - mesmo em relação à Maçonaria que, na minha opinião, não devemos "diabolizar" - e, entre os próprios monárquicos, precisávamos de um «ar fresco» clarividente e desassombrado de que um tal de Miguel Castelo Branco é um excelente porta-voz. Eu sou daqueles que gostava de ver reinstaurada a Monarquia Portuguesa. Como Agostinho da Silva e tantos outros ...
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Outubro 06, 2006, 10:59:39 pm
Citação de: "papatango"
A ditadura de João Franco, foi o resultado da anarquia a que o país havia chegado.

O Rei, não tinha mais saidas, a situação tinha chegado a um ponto de rotura e a instituição de um governo que não caísse 15 dias depois era absolutamente necessária.

É claro que nem todos os repúblicanos são maçónicos, nem todos os esquerdistas são comunistas, mas a critica é para um sistema, o actual, que comemora um golpe, que não teve apoio popular e esquece uma data que merecia mais que ser lembrada num fórum na Internet.

A Maçonaria repúblicana (e não os republicanos) foi das principais beneficiárias com a instabilidade politica e com o golpe de 1910.

Isto não coloca em causa a República com o instituição ou forma legítima de governo.

Mas se a República em democracía é legítima, também o é a Monarquia constitucional.

E a actual República, com a actual Constituição. PROÍBE outra forma de governo que não seja a forma repúblicana.

Será que alguém coloca em causa a influência de personalidades ligadas à Maçonaria no Portugal de 1910 e no de 1976?

A Constituição de 1976, como a lei que surgiu depois de golpe de 1910, consagra o principio maçónico (muito digno aliás) da Meritocracía.

Ou seja: Para estas pessoas o "Zé", não pode decidir sobre as coisas mais importantes.

É por isso que a Maçonaria VETOU o direito de os portugueses se expressarem por via referendaria, que só numa revisão constitucional passou a ser permitida.

Se não fosse estarmos nos anos 70 do século 20, nem as mulheres tinham direito de voto, nem os analfabetos.

Eu não aceito, pura e simplesmente não aceito a discriminação que está na base e na origem das ideias que a Maçonaria defende, especialmente neste caso.

Elas são a negação da Liberdade, e do verdadeiro governo do Povo, pelo Povo e para o Povo.


Sim, de certa forma as suas afirmações correspondem também a minha opinião, o que eu dúvido é da influência assim tão grande da Maçonaria...até porque existe o correspondente Contra-Poder: a Opus Dei...

O que eu me insurgi foi contra as visões maniqueistas, simplistas, de considerar a parte pelo tudo...aliás como já devem ter reparado, quando me insurgo contra algo aqui no fórum é normalmente ao nível da "deshonestidade intelectual"...

Cumprimentos
B. Pereira Marques
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Outubro 06, 2006, 11:06:59 pm
Citação de: "C. E. Borges"
precisávamos de um «ar fresco» clarividente e desassombrado de que um tal de Miguel Castelo Branco é um excelente porta-voz.


Fiquei precisamente com a opinião contrária, mas cada um sabe como organiza a sua "hoste" :lol:

Cumprimentos Portugueses
B. Pereira Marques
Título:
Enviado por: C. E. Borges em Outubro 06, 2006, 11:17:39 pm
Pois é ... o Presidente da República Bernardino Machado delegou o poder executivo «transitório» numa Ditadura Militar.
O Rei D. Carlos I, que pagou com a sua própria vida e a do seu filho primogénito, é que não podia nomear João Franco (já com novas eleições democráticas marcadas).
Para maniqueísmo não estamos mal ...
Eu fico-me por aqui.
Saudações amistosas.
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Outubro 06, 2006, 11:44:12 pm
E alguma vez viu-me a defender o regicido? Ou dizer que a Monárquia era o mal de todos os problemas do país? Ou negar que houve um aproveitamento oportunístico do ultimato inglês? :roll:

Eu simplesmente quero escolher o nosso Chefe de Estado e não sujeitar-me a que um qualquer "pateta alegre" seja o Chefe de Estado só porque nasceu numa determinada família...

Quero lá saber o que fizeram uns determinados indivíduos no fim do século XIX/princípio do século XX...

Que haja referendo à vontade, se precisamente o que eu defendo é uma melhor Democracia, por isso é que acho "ilógico" voltar à Monárquia...

Aliás ,se precisamente o Rei não manda nada numa Monárquia Constitucional, qual é que é a possível "utilidade" dum Rei?

Cumprimentos
B. Pereira Marques
Título: Re: 5 de Outubro: Tratado de Zamora / Independência de Portu
Enviado por: Paisano em Outubro 07, 2006, 01:22:52 am
Citação de: "papatango"
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5 de Outubro, 1143: Tratado de Zamora

Comemora-se hoje, dia 5 de Outubro de 2006, o 863º aniversario do tratado de Zamora.

Nesta data, naquele ano do século XII, os selos reais, reconheciam pela primeira vez o Reino de Portugal, e D. Afonso Henriques como seu suserano.


Parabéns a Portugal e a todos os irmãos portugueses. :G-beer2:
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Outubro 07, 2006, 10:37:01 am
Uma data para relembrar!  :wink:
Título:
Enviado por: C. E. Borges em Outubro 07, 2006, 04:53:37 pm
«Quero lá saber o que fizeram uns determinados indivíduos no fim do século XIX/princípio do século XX».

Mas nós falávamos de acontecimentos desses tempos ...

A sua pergunta "qual é a possível «utilidade» dum Rei" e aqueloutra injunção de que "eu simplesmente quero escolher o nosso Chefe de Estado", levaram-me a escrever o apontamento que segue e que eu espero não o aborreça ou me leve a mal .
Mas, o Sr é que escolhe o seu Presidente da República ? Ou o escrutínio dos candidatos é feito no interior das oligarquias ideológico/partidárias ?

Seja como for os argumentos a favor ou contra a Chefia do Estado por um Presidente da República ou pela Instituição Real, são conhecidos e estão mais do que debatidos pelas «elites intelectuais».
Há muitas questões que se entrecruzam nesses debates, e o que, pela minha parte pude compreender, é que o ponto fulcral centra-se nisto :

- Deve a res-pública preservar no topo do Estado um espaço de representação histórico da Nação, de um tempo que é tríbulo (passado, presente e futuro), consensual por oposição à conflictualidade do pluralismo democrático, um espaço de origem e formação eminentemente nacional, genuínamente neutral e não-partidário ?

As opiniões dividem-se.

Mas não resta a menor dúvida de que o sistema republicano de representação, pela própria natureza do acto eleitoral, transporta para o topo do Estado a conflictualidade ideológico-partidária do pluralismo democrático, ocupando-o com uma representação que é metade, e uma metade que não é sequer a metade da Nação, mas apenas e só a metade de um eleitorado que não esgota a Nação.
É exactamente aí que nasce a extraordinária metafísica de um «Presidente de todos os Portugueses». Como assim, se metade dos cidadãos votaram noutro candidato - ou vários outros - e não se revêm no eleito ? E as subreptícias  consequências de um tal fenómeno, largamente conhecidas no quotidiano da vida dos executivos, quando não da própria Assembleia Legislativa ?
Por exemplo :
Qual foi a Constituinte que autorizou a Assemblaia Legislativa a modificar a Constituição Portuguesa, expressamente para adaptá-la à Constituição da União Europeia ? Quem era o Presidente da República que permitiu, sem consulta popular, alienar a Soberania de Portugal ?
Quem é esta gente ?

Acresce que  Povos com o maior índice de desenvolvimento e cultura, como por exemplo o Povo Sueco e outros, souberam preservar esse espaço consensual de representação das suas Histórias Nacionais, sem qualquer prejuízo da democracia e do pluralismo das suas instituições republicanas.

Nós temos uma dificuldade (geralmente de origem mesquinha, o que mais atrapalha a inteligência dos factos) em perceber  que a Instituição Real é genuínamente um espaço de todos, e a mais autêntica continuidade da nossa quase milenar res-pública.

Se a Monarquia pode ter inconvenientes ? É claro que pode.
Há séculos que estão previstos e minuciosamente enquadrados.

Melhores cumprimentos.
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Outubro 07, 2006, 10:19:33 pm
Citação de: "C. E. Borges"
Qual foi a Constituinte que autorizou a Assemblaia Legislativa a modificar a Constituição Portuguesa, expressamente para adaptá-la à Constituição da União Europeia ? Quem era o Presidente da República que permitiu, sem consulta popular, alienar a Soberania de Portugal ?
Quem é esta gente ?

Acresce que  Povos com o maior índice de desenvolvimento e cultura, como por exemplo o Povo Sueco e outros, souberam preservar esse espaço consensual de representação das suas Histórias Nacionais, sem qualquer prejuízo da democracia e do pluralismo das suas instituições republicanas.

Correndo o risco de ser mal interpretado e sem procurar achincalhar, esse tipo de argumentação é "anedótico", alguém sabe o que é que o Rei da Suécia ou Rei de Espanha ou a Rainha de Inglaterra pensam sobre a União Europeia, ou sobre a Política Externa ou Interna dos seus países?, parece-me que não...Não passam precisamente de "esfinges", que ninguém conhece, nem sabe o que pensam...Além de ninguém saber o que pensam, mesmo que "pensem" também não podem fazer nada, ao contrário do nosso sistema "parlamentar, mas com uma componente semi-presidencialista". O argumento "sueco" nem vale a pena comentar, Finlândia, Suíça, EUA, França, etc., é todo países sub-desenvolvidos...Em relação ao aspecto político-partidário, claro que é um aspecto negativo, deve-se procurar evoluir para uma democracia mais directa e mais participativa, ainda que isso seja de execução complexa.

Citação de: "C. E. Borges"
Deve a res-pública preservar no topo do Estado um espaço de representação histórico da Nação, de um tempo que é tríbulo (passado, presente e futuro), consensual por oposição à conflictualidade do pluralismo democrático, um espaço de origem e formação eminentemente nacional, genuínamente neutral e não-partidário ?


A questão da história, da tradição e da unidade nacional...pena tenho eu dos países que sentem a necessidade de preservar esses valores através de uma determinada família, para mim esses valores vêm precisamente do Povo e não necessitam de ser consubstanciados na figura de um determinado indíviduo ou família, família cujas relações/ligações familares estão frequentemente mais próximas de outras famílias reais estrangeiras do que precisamente da "massa popular" dos seus países de origem...mas nesse aspecto muitas Casas Reais até que têm evoluído c34x .
Título:
Enviado por: C. E. Borges em Outubro 07, 2006, 10:58:55 pm
«Além de ninguém saber o que pensam, mesmo que "pensem" também não podem fazer nada».

São eles e eu.
Paciência.

Um abraço para si, Sr Pereira Marques.
Título:
Enviado por: papatango em Outubro 07, 2006, 11:39:24 pm
Na realidade a questão Monarquia/República é complexa.

Eu concordo no entanto com a ideia de que na essência, um sistema republicano, fará mais sentido que um sistema monárquico.

No entanto, não sou fundamentalista, e se amanhã alguém me disser (e explicar muito bem explicado) que é vantajoso para Portugal voltar a ser uma monarquia, então eu passarei a ser monarquico.

No entanto, até lá, ficarei à espera...

As minhas criticas à República, são à República em Portugal e à forma atabalhoada como foi "implantada", contra a vontade da maioria das pessoas.

Eu, pessoalmente vejo a monarquia como o mais puro regime parlamentar.

A Monarquia Constitucional, é o parlamentarismo levado a um extremo tal que não são necessários dois poderes, porque o sistema funciona bem e auto regula-se. O Rei não é um árbitro, é apenas um entidade que tem funções do ponto de vista protocolar, porque o primeiro ministro precisa de ser empossado por alguém.

Não vejo a monarquia como viável neste momento em Portugal, porque tal exigiria que fossemos um país muito mais desenvolvido do ponto de vista intelectual/cultural.

Estamos num país em que quando o Santana Lopes substituiu o Barroso, parte das pessoas pensou que tinha votado no Barroso e que por isso eram precisas novas eleições.
Grande parte das pessoas não entende o que são os poderes do primeiro ministro, ou o que é um sistema parlamentar.

A fraca consciência politica da opinião pública torna necessária a existência de um presidente, com poderes, para poder desbloquear os problemas que numa sociedade históricamente conflitiva como a nossa, ocorrem com muita frequência.

A um Rei faltaria a legitimidade politica para demitir um primeiro ministro que era legitimo.

Já Jorge Sampaio, no caso Santana/Barroso, sendo eleito, e tendo a legitimidade que decorre de ter sido escolhido por mais de 50% dos eleitores, tinha a legitimidade necessária para demitir o primeiro ministro.
= = =

Posto isto, acho que não deveriam ter mudado a bandeira, e acho-me mal representado pelas cores vermelho e verde, ainda mais quando são as cores do iberismo e do positivismo do irmão Auguste Comte.

Acho também que sería útil dar um pontapé nos simbolos do iberismo e do espanholismo rançoso, que é hoje personificado por "certa" esquerda que se habituou ao Filet Mignon e não quer largar.


Cumprimentos
Título:
Enviado por: C. E. Borges em Outubro 08, 2006, 01:35:50 am
Dos poderes do Rei :

«Mais adiante, o bondoso Beneditino recomenda estes preceitos àquele que havia de ser o Rei D. João V:

“Aplique-se V. R. A. a ouvir a todos, e a não responder a tudo: ouça mais e fale menos...”».
Título:
Enviado por: papatango em Outubro 08, 2006, 11:48:06 pm
Err....

Mas Um Rei absoluto, não pode ser considerado, penso eu de que.

A discussão do tema Monarquia/República, em minha opinião só tem razão de ser e só pode ser entendida em face das ideias e ideais posteriores à revolução francesa.

Muitos dos países europeus, adaptaram-se e adaptaram os seus sistemas, deram poderes ao parlamento e este foi-se tornando cada vez mais importante e preponderante.

A Rainha Vitória, era uma monarca sem poderes efectivos, mas ainda tinha uma influência muito determinante. Já a actual rainha Isabel II, embora tenha naturalmente influência, já não tem a capacidade de influenciar por exemplo decisões de politica externa como chegou a ter a rainha Vitoria.

Portanto, temos que separar as monarquias constitucionais - que são caracteristicas de grande parte dos países europeus e as quais souberam adaptar-s aos tempos e às ideias liberais, das outras.

As outras, que não souberam, não quiseram ou não puderam mudar ficaram no absolutismo do século XVIII. Essas, são as tristemente celebres monarquias do médio oriente, ou da Ásia, parte das quais ainda hoje subsistem, algumas delas (como a Coreia do Norte) disfarçadas de repúblicas.

Em Portugal apressámo-nos - por culpa da capacidade e facilidade que a Maçonaria francesa teve de atacar em Portugal - o país onde, a seguir à revolução liberal, as coisas chegaram mais longe em termos de aplicação das ideias liberais (embora depois tenha havido recuos).

Nem sequer podemos dizer que seguimos um caminho que era inevitável.
Afinal, em 1910, que outro país europeu tinha um sistema republicano além da França?

Alguém acredita que havendo comprovadas relações entre elementos maçónicos dos dois países, é apenas uma coincidência Portugal ter sido o segundo país da Europa a implantar uma República?

Eu, não acredito em bruxas, nem em coincidências.

O que parece que é, cheira e faz barulho como se fosse, então, é porque é mesmo!

cumprimentos
Título:
Enviado por: C. E. Borges em Outubro 09, 2006, 01:25:36 pm
«O Rei não deve governar nem administrar, mas deve chefiar tudo o que não seja discutível no plano nacional – a Diplomacia, as Forças Armadas, a Justiça».

In «Razões Reais» de Mário Saraiva.
Universitária Editora
Título:
Enviado por: papatango em Outubro 09, 2006, 02:12:04 pm
Citar
«O Rei não deve governar nem administrar, mas deve chefiar tudo o que não seja discutível no plano nacional – a Diplomacia, as Forças Armadas, a Justiça».


Que o Rei represente o país, em termos de politica externa, tudo bem, mas que tenha a seu cargo a gestão das questões de politica externa?

Teriamos em Bruxelas um representante do Rei?
Teriamos um Rei a determinar que compras militares o país faria?
Teríamos um Rei a nomear o Procurador Geral da República (ou do Reino) ?

O problema do regime, no fim do século XIX e inicio do século XX tiveram exactamente a ver com a intervenção do Rei.
Quando o Rei tem uma intervenção em qualquer area, inevitavelmente toma partido, e o Rei não pode tomar partido.

Tudo o que seja ultrapassar o aceitável, dentro do ordenamento legal de uma Monarquia Constitucional, será dar demasiados poderes ao Rei, e retirar-lhe a isenção que o tem que caracterizar.

É por isso que, embora eu não seja fundamentalista e aceite uma monarquia em Portugal (se os interesses do país o justificarem), acho que neste momento a República faz mais sentido.

Posto isto, naturalmente considero que o lugar do "pretendente" ao trono deve ser reconhecido pela Lei da República e que esta não pode em nenhuma ciircunstância criar impedimentos legais para a existência de uma Monarquia Constitucional, se essa for a vontade dos cidadãos.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: C. E. Borges em Outubro 09, 2006, 02:53:01 pm
«Teriamos em Bruxelas um representante do Rei?
Teriamos um Rei a determinar que compras militares o país faria?
Teríamos um Rei a nomear o Procurador Geral da República (ou do Reino) ?»

Os espanhóis é que costumam colocar essas questões e problemas.
E não encontram resposta ... coitados.
Título:
Enviado por: papatango em Outubro 09, 2006, 03:08:16 pm
Mas C.E.Borges, veja bem:

Os Espanhóis não têm nem Rei em Bruxelas, nem um Rei com poder legal sobre as forças armadas ou sobre as compras militares, nem com qualquer poder de decisão sobre a máquina judicial.

Logo, evidentemente a questão não se coloca.
Não se coloca no caso da Espanha, como não se coloca no caso de qualquer outra monarquia constitucional europeia.

Além disso, no caso da Espanha, o Rei tem outras funções e existe por razões muito complexas, que estão ligadas à visão que Franco tinha da Espanha, que não poderia ser concretizada sem a monarquia.

Portanto, a monarquia constitucional, como disse anteriormente, caracteriza-se por ser um regime absolutamente parlamentarista, sem intervenção do Rei, a não ser como figura representativa do Estado.

Daí decorre que numa sociedade como a portuguesa, o mais provavel é que o Rei se tornasse num eterno aceitador de demissões dos primeiro ministro (como acontecia no fim do século XIX e inicio do século XX).
Quando se farta de aceitar demissões, o Rei acaba por intervir e quando intervêm, está a ultrapassar os seus poderes constitucionais.

Ao fazê-lo, inevitavelmente toma partido, deixa de representar todo o país e como não tem o respaldo do voto popular, as suas decisões acabam por pecar por falta de legitimidade.

Faz-me lembrar uma situação de pescada de rabo-na-boca.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: Luso em Outubro 09, 2006, 03:33:48 pm
Papatango, com o nosso historial, parece-lhe que a "legitimidade" é, por si, uma qualidade que tudo justifica?
Até onde estamos dispostos a ir em busca de um alegado controlo "popular" que visivelmente não existe?
E lhe lhe diz isto é alguém que já andou metido nesse mundo...

Há quem faça gestão danosa e se escude na "legitimidade democrática" e encontre, por este motivo, defensores credenciados. Quantos exemplos destes precisamos para ilustrar esta ideia?

O que fazer, por exemplo, de um eleito que o foi devido às mentiras que contou?
Tem legitimidade ou não?
E é tão fácil mentir...
Título:
Enviado por: C. E. Borges em Outubro 09, 2006, 05:01:19 pm
O Papatango quer «empurrar-me» para a «média via» do Integralismo que postula a re-organização da res-pública de acordo com a «Lusitana antiga Liberdade». Não tenho uma opinião formada acerca desse assunto.
Não acho que os poderes do Rei que acima mencionei  ponham em causa a origem neutral da Instituição Real e o sistema republicano de poderes e contra-poderes. Quanto à legitimidade, essa decorre, segundo julgo saber, da convocação de Cortes Gerais. A Instituição Real, na minha opinião, vale sobretudo pela continuidade da identidade histórica nacional.
E particularmente hoje, em que o «soberanismo» ou os «soberanistas» adquirem no discurso do Poder o valor de um anátema ... porra, ao que isto chegou !
Título:
Enviado por: papatango em Outubro 09, 2006, 05:51:04 pm
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Papatango, com o nosso historial, parece-lhe que a "legitimidade" é, por si, uma qualidade que tudo justifica?
Até onde estamos dispostos a ir em busca de um alegado controlo "popular" que visivelmente não existe?
E lhe lhe diz isto é alguém que já andou metido nesse mundo...

O problema da legitimidade da maioria, é complexo, mas é por isso que dizem que a democracia é o menos mau dos regimes.

Se vamos colocar barreiras ao direito da maioria, então onde é que vamos parar?

Inevitavelmente vamos acabar por concluir que não há direito da maioria, e logo, acabaríamos por cais no oposto.

Pessoalmente, não acredito ser aceitável a limitação do direito da maioria, a não ser num ponto, que considero a fronteira máxima, que nem mesmo a maioria tem o direito de ultrapassar.

Essa barreira, é aquela que proibe a maioria, de votar o fim do próprio sistema que institui o direito de a maioria governar.

Exemplo:
Em 14 de Julho de 1933 houve um referendo na Alemanha sobre a instituição do regime de partido único.
Do meu ponto de vista, esse referendo foi ilegitimo, e sería ilegítimo mesmo com 100% dos votos a favor do sim, e mesmo que não houvesse fraude eleitoral.

A razão, e o argumento, é o de que as sociedades, os países, os povos ou as nações, são constituidos por pessoas e essas pessoas existem existiram no passado e vão existir no futuro.

Aqueles que vivem hoje, não têm o direito de coartar a liberdade daqueles que hão de vir, e que ainda não têm o direito de se expressar.

= = =

O problema que o Luso coloca, não é o problema da legitimidade da maioria, mas sim o problema da justiça, e do facto de a justiça não actuar no sentido de sancionar aqueles que, tendo o poder o utilizam mesmo contra aqueles que deveriam servir.

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Há quem faça gestão danosa e se escude na "legitimidade democrática" e encontre, por este motivo, defensores credenciados. Quantos exemplos destes precisamos para ilustrar esta ideia?

Num sistema democrático que funciona, ninguém se pode esconder por detrás da legitimidade democrática ou a legitimidade da Maioría.

Se em Portugal temos casos como o de Fátima Felgueiras, onde muita gente achou que os alegados crimes foram limpos com uma eleição, isso não é culpa da democracia ou do principio da legitimidade da maioria, mas sim porque a maioria não entende coisas simples como a separação dos poderes.

É um problema de educação e não um problema de regime.


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O que fazer, por exemplo, de um eleito que o foi devido às mentiras que contou?
Tem legitimidade ou não?
E é tão fácil mentir...


Utilizar a Lei.

Mas para utilizar a Lei, não necessitamos de alterações de regime, monarquias ou repúblicas ou salvadores da pátria, precisamos apenas de racionalidade, organização e respeito pelas regras que estão escritas.

A questão Democracía/Ditadura ou Monarquia/República, não é por isso para mim o problema, o problema são as pessoas.

Lembro que até o Salazar, já próximo do fim em 1966 ou 1967 dizia que o país já não respeitava a lei. Não a respeitava em 1966 da mesma forma que a não respeitava antes de 1910, e da mesma forma que a não respeitou depois de 1910, como continuou a não a respeitar depois de 1974.

A educação cívica, é o nosso principal cancro e o principal problema da sociedade portuguesa.

Penso eu de que...

Cumprimentos
Título:
Enviado por: Luso em Outubro 09, 2006, 09:29:32 pm
Pt, e quando a justiça tem o seu desempenho cerceado pelos políticos que controlará?
É uma pescadinha de rabo de boca, como diz.
E não me parece que as novas geraçõs estariam condenadas a coisa nenhuma. Imagine, com o sistema actual - democrático a caminhar para o libertário no pior sentido da palavra - as novas gerações estão borrifando-se para o que quer que seja e as suas posições políticas são limitadas ao pouco que fica da escola (o vintecincodoá que foi muito bom ou coisa parecida). E este é o resultado de um sistema plebiscitado em toda a sua estrutura principal. E onde nada custa, porque tudo aparece feito.
Título:
Enviado por: Luso em Outubro 10, 2006, 08:14:32 pm
http://doportugalprofundo.blogspot.com/ ... culto.html (http://doportugalprofundo.blogspot.com/2006/10/o-poder-oculto.html)

Terça-feira, Outubro 10, 2006  
O poder oculto



"Understand, Father? Ours is a country of arrangements"


Principe Don Fabrizio Salina (Burt Lancaster)
Il Gattopardo, Luchino Visconti (realizador), Giuseppe Tomasi Di Lampedusa (romance), Suso Cecchi d'Amico (guião), 1963



O arq. José António Saraiva na sua coluna "Política à Portuguesa" do semanário Sol de 7/10/2006, intitulada "Os poderes ocultos", segue argumentação já exposta no Queijo pelo José e também aqui. É uma nova linha de argumentação jamais possível no Expresso de Francisco Pinto Balsemão que antes dirigia. Diz o director do Sol num artigo cujo mote é o cessante procurador-geral da República José Souto de Moura:


Semanário Sol
Política a Sério
"Os poderes ocultos", 7-10-2006
José António Saraiva

"Depois do 25 de Abril, um poder parcialmente oculto emergiu no país.
Esse poder pontificava nas empresas, controlava vários ministérios e mandava na rua.
Tratava-se de um poder parcialmente oculto porque a sua força efectiva de intervenção na sociedade era muitíssimo superior à sua força eleitoral.
Com a progressiva institucionalização da democracia, o Partido Comunista - pois é dele que estou a falar - foi sendo reconduzido à sua verdadeira dimensão.
E julgava-se que os poderes ocultos tinham acabado.
Puro engano.
A história do procurador-geral da República, Souto de Moura, constitui uma óptima prova de que alguns desses poderes continuam vivos e bem vivos.
Goste-se mais ou menos de Souto de Moura, valorize-se mais ou menos a sua falta de jeito para lidar com os media, uma coisa é forçoso reconhecer: com ele a Justiça correspondeu à imagem da Justiça - foi cega.
Os poderosos sentiam não poder abrigar-se à sombra do seu poder.
Os influentes à sombra da sua influência.
Os ricos à sombra da sua fortuna.
Sucede que, sobretudo a partir do momento em que rebentou o escândalo da Casa Pia, o procurador tornou-se vítima de ataques que umas vezes visavam a sua pessoa, outras aquilo que dizia, mas cujo objectivo não era bem claro.
A pouco e pouco, porém, foi-se adivinhando o fim da história.
Começou a perceber-se que, desacreditando-se o procurador, desacreditava-se a Justiça.
E desacreditando-se a Justiça, desacreditavam-se os processos em curso, em particular os mais mediáticos.
E desacreditando-se os processos, punham-se em causa as acusações.
E deitando por terra as acusações, reabilitavam-se os culpados - que passavam de vítimas a réus de um sistema hediondo.
Souto de Moura era, pois, o homem a abater.
Olhando para trás, é possível dizer que um poder oculto esteve na primeira linha do combate ao procurador.
Refiro-me à Maçonaria.
Não digo que todos os que participaram nesse combate fossem maçons.
Como em todas as campanhas, há uma força que organiza, que reúne vontades, e pessoas avulsas que aderem ao movimento e que o engrossam.
Mas o motor da luta contra Souto de Moura foi a Maçonaria.
Talvez porque algum ou alguns dos réus daquele processo fossem maçons - e uma das regras daquela sociedade semi-secreta é a entreajuda.
A bem da transparência, o Presidente da República, Jorge Sampaio, não se deixou ir na onda.
Enfrentando vento e marés, fazendo orelhas moucas, não cedeu às pressões para retirar a confiança ao procurador.
Com isso, prestou um bom serviço à Justiça e à democracia.
Se Souto de Moura tivesse sido demitido, e os processos em curso tivessem andado para trás, quem acreditaria que a Justiça fosse igual para todos.
Se a cabeça de Souto de Moura tivesse rolado pelo chão e os réus do «caso Casa Pia» tivessem saído da prisão a cantar vitória, quem acreditaria ainda na justiça portuguesa?" [realce meu]



Como o arq. José António Saraiva não é inocente nem mal informado, o que escreveu só pode ser avaliado como falsa ingenuidade. Dissequemos o corpo do artigo:
1. José António Saraiva, director do principal semanário português durante mais de duas décadas, não podia ignorar a influência crescente da Maçonaria sobre o poder. E até internamente - como exemplo lembre-se que, na maquetagem do Expresso, durante anos a Igreja vinha da página da Mafia.... Não pode ser uma descoberta recente, uma revelação após sair do Expresso.
2. A tese da verdadeira cabala - a cabala da Maçonaria/PS contra a investigação do processo da Casa Pia - segue, como se disse, o que no Queijo e aqui (e também aqui) se publicou. Não é nova.
3. Todavia, José António Saraiva ficou aquém da explicação da campanha orquestrada da Maçonaria contra Souto de Moura. Não foi - não é! - uma campanha que reúne "pessoas avulsas", inocentes, que ingenuamente aderem à campanha. Esses casos de ingenuidade são raros em política.
4. Mas o erro intencional, o favor macro-sistémico, está no papel inverso que é atribuído pelo director do Sol ao ex- Presidente da República Jorge Sampaio.
4.1. Jorge Sampaio não só se "deixou ir na onda", como a cavalgou e controlou.
4.2. Sampaio não só não "enfrentou", como semeou "ventos e marés", demonstrando ao povo várias vezes o seu incómodo com o procurador-geral.
4.3. Como eu aqui disse há muito tempo já, Jorge Sampaio praticou um estilo diverso do seu antecessor Mário Soares: enquanto este criou o estilo da magistratura de influência, Jorge Sampaio preferiu o modelo de influência da magistratura. Em várias intervenções sempre aqui denunciadas - discursos (lembre-se, por exemplo, o de Braga!), entrevistas (a da RTP a Judite de Sousa), declarações e actos (por exemplo, chamadas consecutivas do PR a Belém) -, o ex-presidente da República, jurista de formação e sócio-fundador de um dos mais poderosos escritórios de advogados do país (que ainda leva o seu nome), pronunciou-se e actuou, directa e indirectamente, sobre um caso jurídico concreto em análise nos tribunais, bastas vezes num sentido favorável aos interesses imediatos de amigos e correlegionários seus, do seu partido e da Maçonaria, organização a que pertenciam ou teriam pertencido alguns dos suspeitos, arguidos, acusados e réus, e ele próprio, exercendo uma influência que sabia ilegítima sobre o poder judicial que a democracia estabelece como independente.
4.4. Creio que Sampaio só não demitiu Souto de Moura porque a iniciativa cabia ao Governo (conforme a alínea m art.º 133.º da Constituição) e Durão Barroso nunca se mostrou disponível para exonerar de Souto de Moura.
4.5. As suas referidas intervenções relativas e relacionáveis com um processo particular foram tão graves que, num país como os EUA, Sampaio seria com certeza objecto de um processo de destituição (impeachment). Um dia, esperamos, Souto de Moura há-de revelar as pressões políticas, directas e indirectas, que terá recebido.
4.6. Jorge Sampaio terá compreendido que a extensão e gravidade horrorosa do caso da Casa Pia era tal que, se não interviesse o regime, controlado pela Maçonaria, seria destruído, erguendo-se um novo, no qual o poder seria redistribuído por novas entidades e personalidades. Lembro que, por muito menos - corrupção no financiamento partidário e não... pedofilia! -, a república italiana foi substituída por uma nova... A resistência do sistema em Portugal deveu-se ao controlo vigoroso da Maçonaria sobre o poder político, poder judicial e os media - em Itália, a magistratura e os media fugiram ao controlo do sistema mafioso.
4.7. Portanto, no que respeita ao escândalo da Casa Pia, Jorge Sampaio não "prestou um bom serviço à Justiça e à democracia", prestou um péssimo serviço. Um serviço inadmissível para um Presidente da República Portuguesa, "garante" do "regular funcionamento das instituições democráticas" (art. 120.º da Constituição), que se quer isento face a processos concretos em análise nos tribunais.
5. Na verdade, a cabeça de Souto de Moura terá "rolado pelo chão" no final do mandato. O procurador-geral não foi reconduzido (podendo ser) por decisão do partido cujos dirigentes (alguns) foram envolvidos no processo de pedofilia.
6. Realmente, os reús do caso da Casa Pia não saíram da prisão "a cantar vitória", mas um arguido saíu da prisão directamente para uma recepção apoteótica no Parlamento.
7. Por isso, cabe então reformular o modo da pergunta do director do Sol: quem acredita ainda na justiça portuguesa?

A crónica de José António Saraiva de 7/10, publicada no mainstream dos media tradicionais, o novo semanário Sol, representa um sinal de que o poder efectivo da Maçonaria atingiu uma evidência repulsiva que certas camadas superiores do sistema político já não toleram e o povo abomina. Conviria, portanto, a esta organização secreta a humildade do saneamento interno, a transparência de procedimentos e a sua recondução a um clube de pensamento em vez do controlo do poder. A democracia portuguesa e o próprio País não suportam um poder oculto perverso e, realmente, anti-democrático.


Post-Scriptum: Aguardei até hoje, quando a edição em papel do Sol já está disponível no sítio do semanário, para transcrever esta crónica crucial de José António Saraiva, serviço único que faço porque, de outro modo, não poderia ser sindicada. Compreendo a opção empresarial, mas conviria deixar os textos pesquisáveis e citáveis na internet, o que com o formato actual, que impede a cópia e dificulta a impressão, não acontece.



Publicado por Antonio Balbino Caldeira em 10/10/2006 09:55:00 AM
Título: Re: 5 de Outubro: Tratado de Zamora / Independência de Portugal
Enviado por: Lusitano89 em Outubro 05, 2023, 04:57:21 pm
A Épica Independência de Portugal | O Tratado de Zamora em 1143