Trata-se de uma exposição bastante correcta e fundamentada.
Na realidade, Viriato é um mito, e é como um mito que deve ser tratado, da mesma forma aliás que a Padeira de Aljubarrota.
Ou seja, são simbolos, incones, mas não nos devemos levar pelas estorias e acreditar que de facto existiu alguém com estas ou aquelas características.
Isto, independentemente de até recentemente Freitas do Amaral ter escrito (creio que um romance) que foi levado ao teatro, sobre a vida do dito.
O mapa apresentado na matéria também é correcto, porque lembra que a Lusitania, não era originalmente a mesma coisa em que depois se transformou a Lusitania Romana, com fronteiras muito diferentes.
Embora antes da divisão romana da peninsula não existirem fronteiras oficiais (elas mudavam mais ao menos ao sabor dos ataques de uns povos aos outros) a verdade é que existiam regiões onde um povo dominava claramente.
Esse é o caso dos Lusitanos.
A tentativa de «espanholizar» o Viriato, que é também referida pelo autor do texto, tem origam no franquismo e naquilo que os franquistas chamaram "Hispanidad" e que para eles incluía naturalmente quer Portugal quer o Brasil, sob a asa protectora da Espanha Imperial.
Na verdade, as alusões dos espanhóis podem ter alguma razão de ser, não pela origem do Viriato, mas sim pelo facto de ele ter lutado contra os romanos, em batalhas que na sua maíoria ocorreram em território do que hoje é a Espanha.
Ou seja, o Virato até pode ter sido originario de uma terra que hoje seja Portugal, mas as principais batalhas em que participou ocorreram em territórios do que hoje é a Espanha.
Por curiosidade, eu tenho alguns livros escolares do ensino primário dos anos 50, 60 e 70, e procurando neles encontra-se algo do que o autor refere.
Num exemplo de livro, como «História de Portugal» da Porto Editora, de Hernani Rosas e Pedro de Carvalho, de 1960, encontra-se praticamente uma única referência a Viriato:
Os Lusitanos, comandados um heróico pastor, chamado Viriato, e depois por Sertório, resistiram muito tempo aos Romanos.
Estes mataram à traição Viriato e Sertório e só assim dominaram a Lusitania.
O livro é ilustrado com mapas, em que se mostra por exemplo a peninsula ibérica com os reinos da Galiza, Leão, Castela, Navarra e Aragao, antes do aparecimento de Portugal.
Numa edição de 1973, e ao contrário do que é referido pelo autor do texto, no pico da guerra colonial o livro de História também da Porto Editora, mas apenas da autoria de Pedro Carvalho, dedica todo o seu primeiro capítulo a Viriato, dizendo aproximadamente que:
Os lusitanos construíam povoações no alto dos montes.
Viviam em casas geralmente redondas, criavam rebanhos e cultivavam os campos.
Os Exércitos Romanos invadiram a Lusitania.
Os Lusitanos elegem Viriato para seu chefe
Viriato conhecia as montanhas e organizou uma luta de guerrilhas.
Os romanos decidiram que não podiam vencer os lusitanos e contratou mercenários para assassinar Viriato
Depois do assassínio de Viriato, a Lusitania foi finalmente dominada.
Na História de 1973, Sertório desaparece completamente.
A História escrita, fala de Salazar na edição de 1960, para referir que foi nomeado para Ministro das Finanças em 1928 e que foram feitas várias obras por ele. Refere noutras duas linhas que Salazar assume a chefia do governo em 5 de Julho de 1932, e é tudo, num livro de história de 150 páginas. No entanto, na ficha de perguntas do capítulo do Estado Novo, três das doze perguntas estão relacionadas com Salazar.
Na edição de 1973, Salazar não aparece mencionado numa única linha.
Logo, sendo Salazar um professor de Coimbra, um individuo recatado e muito pouco dado a militarismos, dificilmente poderia de alguma forma ser identificado com Viriato, um rebelde das montanhas, seminu, que passava a vida a degolar romanos.
Cumprimentos