Faltam meios para combater narcotráfico
O chefe Forças Armadas interino da Guiné-Bissau, Zamora Induta, disse hoje que são precisos meios, coordenação e vontade nacional para combater o narcotráfico, sublinhando que os militares já estão a vigiar aparelhos suspeitos em todo o país.
"Nós precisamos de meios. Não se consegue combater esse fenómeno sem que haja meios", afirmou o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) em entrevista à agência Lusa.
"Mexer com o tráfico é um fenómeno que envolve muito dinheiro, por isso é preciso que haja uma vontade nacional", disse Zamora Induta, acrescentando ser ainda necessária a "interligação de todas as instituições nesse sentido".
"Nas ilhas nós podemos deter, mas não temos competência de julgar e fazer mais", exemplificou Zamora Induta.
"Nesse caso, teremos de remeter a aeronave para as autoridades competentes para o efeito. É preciso que haja uma coordenação e um interesse nacional em combater esse flagelo", salientou o CEMGFA interino guineense.
Zamora Induta revelou também que pelo menos três ilhas do arquipélago dos Bijagós estão a ser utilizadas por aviões suspeitos, nomeadamente Bubaque, Orango e João Vieira.
"Isto tudo acontece por falta de autoridade de Estado nessas ilhas", afirmou.
"Tive uma reunião com autoridades locais das ilhas e todos foram unânimes a afirmar que de facto há um problema grave", disse.
"Até aqui não houve reacção das autoridades competentes para pôr cobro a essa situação", sublinhou Zamora Induta.
Sobre as medidas que tomou para reforçar o controlo nas ilhas, o CEMGFA guinnense disse que na "ilha de Orango está um grupo com um bote e em coordenação com as autoridades locais vão controlar e saber a proveniência dos aviões".
"Na ilha de João Vieira também temos uma unidade militar a vigiar com as autoridades locais", referiu.
"Em Bubaque, continua uma unidade que lá tínhamos, mas que era direccionada para a fiscalização de pesca e agora vai fiscalizar também a aterragem de aeronaves", salientou.
Segundo Zamora Induta, todos os militares têm ordem para apreender aeronaves suspeitas.
"Apreenderem, não há mais conversa. Apreender até estar clara a situação", disse.
Em relação aos operadores turísticos da zona, Zamora Induta pediu para informarem as autoridades sobre os voos provenientes com turistas.
Sobre outros pontos da Guiné-Bissau, Zamora Induta disse que foi tomado "o mesmo procedimento que foi tomado em relação às ilhas".
Disse ainda haver fortes suspeitas em relação a uma pista situada em Boé, no leste do país.
"Alguém a mando de não sei quem mandou limpar a pista. Ainda estamos a investigar e não posso avançar mais informações sobre isso, mas provavelmente era para a aterragem de aviões de narcotraficantes", esclareceu.
"Mandámos encerrar o aeroporto e neste momento está controlado", acrescentou.
A Guiné-Bissau tem sido referenciada como "placa giratória" da entrada de cocaína na Europa proveniente da América Latina.
As autoridades guineenses têm alegado falta de meios para combater o narcotráfico, tendo desde 2006 apenas apreendido pouco mais de uma tonelada de cocaína.
Segundo a ONU, o desenvolvimento da Guiné-Bissau tem sido comprometido devido à instabilidade política desde a guerra civil de 1998 e pela utilização do território para fazer entrar droga na Europa pelos cartéis latino-americanas.
As Nações Unidas consideram igualmente que as dificuldades sócio-económicas do país, o narcotráfico e outros crimes organizados fragilizam a capacidade de manter a paz e estabilidade no país.
Lusa