O Sucesso da Asneira

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dremanu

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O Sucesso da Asneira
« em: Fevereiro 23, 2004, 10:05:56 pm »
O Sucesso da Asneira

"Portugal fez tudo errado, mas correu tudo bem!" Esta é a conclusão de um relatório internacional recente sobre o desenvolvimento português.

Havia até agora no mundo países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Mas acabou de ser criada uma nova categoria: os países que não deveriam ser desenvolvidos. Trata-se de regiões que fizeram tudo o que podiam para estragar o seu processo de desenvolvimento e... falharam.

Hoje são países industrializados e modernos, mas por engano. Segundo a fundação europeia que criou esta nova classificação, no estudo a que o DN teve acesso, este grupo de países especiais é muito pequeno.

Aliás, tem mesmo um só elemento: Portugal. A Fundação Richard Zwentzerg (FRZ), que se tornou famosa no ano passado pelo estudo que fez dos "bananas da república", iniciou há uns meses um grande trabalho sobre a estratégia económica de longo prazo.

Tomando a evolução global da segunda metade do século XX, os cientistas da FRZ procuraram isolar as razões que motivavam os grandes falhanços no progresso. O estudo, naturalmente, pensava centrar-se nos países em decadência. Mas, para grande surpresa dos investigadores, os mais altos índices de azelhice económica foram detectados em Portugal, um dos países que tinham também uma das mais elevadas dinâmicas de progresso.

Desconcertados, acabam de publicar, à margem da cimeira de Lisboa, os seus resultados num pequeno relatório bem eloquente, intitulado: "O País Que não Devia Ser Desenvolvido - O Sucesso Inesperado dos Incríveis Erros Económicos Portugueses." Num primeiro capítulo, o relatório documenta o notável comportamento da economia portuguesa no último meio século. De 1950 a 2000, o nosso produto aumentou quase nove vezes, com uma taxa de crescimento anual sustentada de 4,5 por cento durante os longos 50 anos.

Esse crescimento aproximou-nos decisivamente do nível dos países ricos. Em 1950, o produto de Portugal tinha uma posição a cerca de 35 por cento do valor médio das regiões desenvolvidas. Hoje ultrapassa o dobro desse nível, estando acima dos 70 por cento, apesar do forte crescimento que essas economias também registaram no período. Na generalidade dos outros indicadores de bem-estar, a evolução portuguesa foi também notável. Temos mais médicos por habitante que muitos países ricos. A mortalidade infantil caiu de quase 90 por mil, em 1960, para menos de sete por mil agora. A taxa de analfabetismo reduziu-se de 40 por cento em 1950 para dez por cento actualmente e a esperança de vida ao nascer dos portugueses aumentou 18 anos no período. O relatório refere que esta evolução é uma das mais impressionantes, sustentadas e sólidas do século XX. Ela só foi ultrapassada por um punhado de países que, para mais, estão agora alguns deles em graves dificuldades no Extremo Oriente. Portugal, pelo contrário, é membro activo e empenhado da União Europeia, com grande estabilidade democrática e solidez institucional.

Segundo a FRZ, o nosso país tem um dos processos de desenvolvimento mais bem-sucedidos no mundo actual. Mas, quando se olha para a estratégia económica portuguesa, tudo parece ser ao contrário do que deveria ser.

Segundo a Fundação, Portugal, com as políticas e orientações que seguiu nas últimas décadas, deveria agora estar na miséria. O nosso país não pode ser desenvolvido. Quais são os factores que, segundo os especialistas, criam um desenvolvimento equilibrado e saudável? Um dos mais importantes é, sem dúvida, a educação. Ora Portugal tem, segundo o relatório, um sistema educativo horrível e que tem piorado com o tempo. O nível de formação dos portugueses é ridículo quando comparado com qualquer outro país sério. As crianças portuguesas revelam níveis de conhecimentos semelhante às de países miseráveis. Há falta gritante de quadros qualificados. É evidente que, com educação como esta, Portugal não pode ter tido o desenvolvimento que teve. Um outro elemento muito referido nas análises é a liberdade económica e a estabilidade institucional. Portugal tem, tradicionalmente, um dos sectores públicos mais paternalista, interventor e instável do mundo, segundo a FRZ.

Desde o "condicionamento industrial" salazarista às negociações com grupos económicos actuais, as empresas portuguesas vivem num clima de intensa discricionariedade, manipulação, burocracia e clientelismo. O sistema fiscal português é injusto, paralisante e está em crescimento explosivo. A regulamentação económica é arbitrária, omnipresente e bloqueante. É óbvio que, com autoridades económicas deste calibre, diz o relatório, o crescimento português tinha de estar irremediavelmente condenado desde o início. O estudo da Fundação continua o rol de aselhices, deficiências e incapacidades da nossa economia. Da falta de sentido de mercado dos empresários e gestores à reduzida integração externa das empresas; da paralisia do sistema judicial à inoperância financeira; do sistema arcaico de distribuição à ausência deinvestigação em tecnologias.

Em todos estes casos, e em muitos outros, a conclusão óbvia é sempre a mesma: Portugal não pode ser um país em forte desenvolvimento. Os cientistas da Fundação não escondem a sua perplexidade. Citando as próprias palavras do texto: "Como conseguiu Portugal, no meio de tanta asneira, tolice e desperdício, um tal nível de desenvolvimento?

A resposta, simples, é que ninguém sabe. Há anos que os intelectuais portugueses têm dito que o País está a ir por mau caminho. E estão carregados de razão. Só que, todos os anos, o País cresce mais um bocadinho. A única explicação adiantada pelo texto, mas que não é satisfatória, é a incrível capacidade de improvisação, engenho e "desenrascanço" do povo português. "No meio de condições que, para qualquer outra sociedade, criariam o desastre, os portugueses conseguem desembrulhar-se de forma incrível e inexplicável."

O texto termina dizendo: "O que este povo não faria se tivesse uma estratégia certa?".
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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Ricardo Nunes

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(sem assunto)
« Responder #1 em: Fevereiro 23, 2004, 10:28:06 pm »
:lol:  :cry:  :cry:
Ricardo Nunes
www.forum9gs.net
 

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komet

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« Responder #2 em: Fevereiro 23, 2004, 10:44:43 pm »
LOL realmente...
 :lol:
"History is always written by who wins the war..."
 

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emarques

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« Responder #3 em: Fevereiro 24, 2004, 12:32:32 am »
Mas isso é tão incrivelmente português...

De disparate em disparate até à vitória final! :)
Ai que eco que há aqui!
Que eco é?
É o eco que há cá.
Há cá eco, é?!
Há cá eco, há.
 

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Luso

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Boa!
« Responder #4 em: Fevereiro 24, 2004, 10:29:54 am »
Delicioso post Dremanu!

"De disparate em disparate até à vitória final"

Esse é o lema do Estado Português. Também estou a ver a mudança do escudo das quinas para duas bananas cruzadas enquadradas por duas palmas.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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fgomes

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« Responder #5 em: Fevereiro 24, 2004, 11:20:00 am »
Isto é prova que a existência de Portugal só pode ser explicada por milagre !!!!

Agora falando a sério, é realmente um mistério como é que temos sobrevivido, especialmente nos últimos 200 anos, governados boa parte deste tempo por elites medíocres. A única explicação que me occorre é a capacidade de improviso e o desenrascanço dos Portugueses.
 

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Spectral

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« Responder #6 em: Fevereiro 24, 2004, 10:12:14 pm »
um artigo muito interessante!

mas antes Portugal siga o caminho "de derrota em derrota até à vitória final" do que o da " de vitória em vitória até à derrota final" :nice:

EDIT: esqueci-me de mencionar que o que constitui o português como algo tão "especial" é a sua capacidade para o desenrascanço e improviso, mesmo que tal signifique fazer as coisas da maneira mais difícil, desorganizada e ineficaz. É uma mentalidade de à muito enraizada, que tem as suas vantagens e desvantagens.
« Última modificação: Fevereiro 25, 2004, 01:37:08 am por Spectral »
I hope that you accept Nature as It is - absurd.

R.P. Feynman
 

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dremanu

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O estilo Português
« Responder #7 em: Fevereiro 24, 2004, 11:37:22 pm »
Acho que não é necessário rir nem chorar depois de ler este relatório. Talvez o que se pode deduzir é que existe um sistema unicamente Português que precisa de ser identificado, e entendido. Assim poderemos eliminar do nosso sistemas as partes que não são produtivas e aperfeiçoar as que são produtivas.

Existe muito no nosso país a ideia de adotar tudo o que vem de fora em detrimento do que é feito no país. Tem que se mudar este pensamento, nem tudo o que vem de fora é bom! Quando os Portuguêses se lançaram ao mar, foram pioneiros em tanta coisa, até nos sistemas económicos. Muitas nações aprenderam com a nossa experiência e copiaram os modelos aqui desenvolvidos.

De produtores de ideias, passamos a consumidores de ideias. Vocês não acham que está na altura de reverter-mos esta realidade. Sermos novamente pioneiros em novos conceptos, acreditár-mos naquilo que se produz no nosso país. Não é isto muito mais positivo, do que só querer cópiar os outros.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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Luso

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« Responder #8 em: Março 04, 2004, 10:09:30 pm »
Só queria acrescentar estas linhas porque me pareceram muito interessantes e creio que vêem a propósito...


"THE FALL OF THE ATHENIAN REPUBLIC...

"A democracy is always temporary in nature; it simply cannot exist as a permanent form of government. A democracy will continue to exist up until the time that voters discover that they can vote themselves generous gifts from the public treasury. From that moment on, the majority always votes for the candidates who promise the most benefits from the public treasury, with the result that every democracy will finally collapse over loose fiscal policy, (which is) always followed by a dictatorship."

"The average age of the world's greatest civilizations from the beginning of history, has been about 200 years. During those 200 years, these nations always progressed through the following sequence:

From bondage to spiritual faith; From spiritual faith to great courage; From courage to liberty; From liberty to abundance, From abundance to complacency; From complacency to apathy, From apathy to dependence, From dependence back into bondage."
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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dremanu

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« Responder #9 em: Março 05, 2004, 12:32:47 am »
Tal qual como a vida humana, tem um início, cresce, vive intensamente, acomoda-se, definha, morre. Mas....

Se o último estágio de existência da nação é a caida da dependência para a escravidão, e consequentemente a escravidão dà início a um novo cíclo de crescimento, re-afirma-se que devemos acreditar na ressureição.

Em que estágio estaremos nós, Portuguêses? De uma certa forma este texto aumenta a minha esperança, porque, mesmo se Portugal vir a desaparecer momentaneamente,  de novo virá um ciclo em que a nação renascerá, e a memória Lusitana/Portuguêsa será de novo ressuscitada, pelos povos que no futuro carregarão neles o espírito do povo Lusitano/Português.

Isto já aconteçeu na nossa historia, conquista romana, a Lusitania desaparece. Absorve a influência do conquistador e transforma-se, o conquistador desaparece, é de novo conquistada, absorve novas influências mas o povo continua a existir. Cai por fim o conquistador, e Lusitania renasce, desta vez batizada de Portugal.

Re-inventa-se a si própria, e entra num grande ciclo que lhe tráz uma fantástica glória. Esgota-se o ciclo, de novo ela atravessa o periodo de destruição/re-construção, é conquistada momentariamente, mas de novo se libertará, fresca, renovada, energética, pronta a entrar num novo ciclo de glória.

Hà que ter fé...obrigado Luso por este texto, para mim serviu como ponto de reflexão e inspiração.

Grande abraço,
Dremanu
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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komet

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« Responder #10 em: Março 05, 2004, 12:40:11 am »
Sem dúvida, e basta olhar para as páginas da história para perceber que tudo funciona por essa base, o amor à pátria vem sempre ao de cima, quando é necessária, e quando menos se espera.

 :)
"History is always written by who wins the war..."
 

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alfsapt

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« Responder #11 em: Março 05, 2004, 11:54:45 am »
Texto Excelente que li à alguns anos mas além de não datado peca por não especificar que tipo de cientistas ou de que inclinação teológica provém...

Como já aqui referiram é preciso entender o povo português porque os números não são tudo (o que dificulta a compreensão de cientistas) e só olhando com alguma distância para nós mesmos podemos tirar algum sentido destes números e outros classificações do nosso País.

Pessoalmente a lição que retiro é de que para Portugal o seu maior "Adamastor" é a própria sociedade Portuguesa mas os seus "Velhos do Restelo" têm um papel importante a desempenhar. Estas são as condições únicas favoráveis ao aparecimento de Vascos da Gama que há em cada um de muitos Tugas...
"Se serviste a patria e ela te foi ingrata, tu fizestes o que devias, ela o que costuma."
Padre Antonio Vieira