La Lys - Alemães eram mais que as moscas

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papatango

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La Lys - Alemães eram mais que as moscas
« em: Abril 09, 2005, 10:24:17 pm »
Uma das coisas interessantes sobre a batalha do rio Lys, que em francês se diz "La Lys", como se diz "La Seine", é o numero de alemães que participaram no ataque.

De facto, temos que reconhecer que as tropas portuguesas não estavam nas melhores condições. Tinham falta de oficiais para enquadrar as tropas, assistência deficiente e rotações quase inexistentes, comprovativas do exagero do numero de tropas enviadas para a Flandres.

Mas, estou em crer, que mesmo que nenhuma das conhecidas desvantagens ocorresse, com a quantidade de alemães que nos atacaram (a proporção terá chegado a 12 para 1) provavelmente tería acontecido qualquer coisa parecida.

De aqui, temos que retirar lições. Os alemães atacaram as forças portuguesas, porque estar eram o alvo mais fácil. A verdade, é que os alemães tinham alguma razão.

Confesso que tenho sentimentos muito contraditórios sobre esta batalha, como sobre toda a participação portuguesa na guerra.

O nosso desejo cego de "entrar na Europa"  e de fazer parte do concerto das nações, resultou nisto. Hoje, não lhe chamam concerto das nações, parece que hoje lhe chamam nucleo duro da União Europeia.

Muda a água, mas o rio é o mesmo  :roll:

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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emarques

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« Responder #1 em: Abril 10, 2005, 12:51:49 am »
Existem alguns problemas no artigo, na minha opinião.

Por exemplo, a 1ª Divisão estava, quando começou o ataque, a embarcar em transportes a mais de 10km da frente, por isso a frase "A investida alemã, é tão forte que as forças portuguesas da 2ª Divisão recuam desordenadamente para a segunda linha, onde se encontra a 1ª Divisão, que também começa a debandar." tem algum problema. :)).

Também é interessante notar que enquanto o centro português, formado por batalhões lisboetas, se desmoronou aos primeiros tiros, a "Brigada do Minho" foi a que apresentou maior resistência ao avanço alemão. :mrgreen:

Ai que eco que há aqui!
Que eco é?
É o eco que há cá.
Há cá eco, é?!
Há cá eco, há.
 

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fgomes

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« Responder #2 em: Abril 10, 2005, 02:32:29 pm »
A nossa intervenção na I Guerra Mundial foi o perfeito exemplo de como é que NÃO deve ser a política externa. A intervenção foi, na minha opinião, apenas motivada pelos interesses do partido Democrático, dirigido pelo Dr. Afonso "Racha Sindicalistas" Costa. O que esta gente queria era em primeiro lugar consolidar o seu poder. O pretexto de manter as colónias então invocado, era propaganda. A Inglaterra nunca exigiu a nossa intervenção, muito pelo contrário.
 

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papatango

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« Responder #3 em: Abril 10, 2005, 07:58:37 pm »
Citação de: "emarques"
Por exemplo, a 1ª Divisão estava, quando começou o ataque, a embarcar em transportes a mais de 10km da frente, por isso a frase "A investida alemã, é tão forte que as forças portuguesas da 2ª Divisão recuam desordenadamente para a segunda linha, onde se encontra a 1ª Divisão, que também começa a debandar.



Err  :oops:
emarques, não se trata da 1ª Div. portuguesa, mas sim da 50º Div. britânica, que deveria render o sector central e norte da 2ª Div. portuguesa.

Dá para ver que normalmente os textos que coloco no site, não são cópias, mas muitas vezes sumulas de dados compilados de outros lados. Neste caso houve uma mistura de textos,
As minhas desculpas. A incorrecção foi removida. A versão será colocada online ainda hoje.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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Luso

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« Responder #4 em: Abril 11, 2005, 10:28:47 pm »
"La Lys-Alemães eram mais que as moscas"

Achei graça ao título estilo "24 Horas"... :twisted:
E embora não mereças, Papatango, deixo-te aqui umas curiosidades...





"Sniping in France 1914-18"
Major H. Hesketh-Prichard DSO, MC
ISBN 1-874622-47-7
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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komet

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« Responder #5 em: Abril 11, 2005, 11:38:42 pm »
Excelente texto Luso, obrigado por partilhar  :wink:
"History is always written by who wins the war..."
 

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Luso

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« Responder #6 em: Abril 11, 2005, 11:50:03 pm »
Citação de: "komet"
Excelente texto Luso, obrigado por partilhar  :wink:


- Às ordes! 8)
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Luso

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« Responder #7 em: Abril 12, 2005, 12:12:45 am »
Ó PT, olha que o outro também era de Setúbal!
(essa bela localidade)
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papatango

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« Responder #8 em: Abril 12, 2005, 12:14:05 am »
Muito obrigado Luso.
Vou ter que traduzi-lo para o incluir no tema da batalha.

Até já estou a pensar no título:

PORTUGUESES MASCARADOS DE ARVORE, CONFUNDEM INSTRUTORES INGLESES.

Ou então:

Mira telescópica de oferta, ajuda portugueses a matar cinquenta alemães.
:mrgreen:

Cumprimentos
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Luso

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« Responder #9 em: Abril 12, 2005, 12:17:11 am »
Tens talento para a coisa, PT!
Assim aposto que se conseguia divulgar mais a história!
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Yosy

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« Responder #10 em: Abril 13, 2005, 11:08:08 am »
Muito bom Luso  :G-Ok:
 

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Lancero

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« Responder #11 em: Abril 09, 2007, 04:23:23 pm »
Só para marcar a data. 89º aniversário.

E as entidades tão caladinhas... :?
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

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Benny

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« Responder #12 em: Abril 09, 2007, 08:55:49 pm »
Desde que nós nos lembremos, que importa as autoridades?

Da minha parte, já lá canta um ramo de flores no monumento da Avenida da Liberdade.

Benny
 

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ferrol

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« Responder #13 em: Abril 10, 2007, 03:36:38 pm »
Unha imaxe do cemiterio portugués en Neuve Chappelle que lembra a batalla e onde se atopan case 2.000 tumbas...

http://www.ww1battlefields.co.uk/others/images/nc/nc_portugese.jpg
Algúns comentarios recollidos na rede:
http://www.first-world-war.org/portu.htm
Citar
On April 19th, 1918, a major German offensive began at what was called the Battle of the Lys. One Portuguese division there was hit by four German divisions and the preliminary shelling was so intense that one battalion refused to go forward into the trenches. The division was pushed back, 6,000 prisoners were taken and a three-and-a-half mile wide gap was punched in the British line.

Although this can hardly be blamed on the Portuguese, the collapse of their section of the front did nothing for their already less than great reputation among their British neighbours, who called them "Geese" or "Pork-and-Beans".


Chama tamén a atención o feito de que o xeneral que mandaba aquelas tropas (Gomes da Costa) chegou a ser presidente de Portugal. Tamén a enorme cantidade de homes involucrados nas ofensivas e defensas daquela guerra, onde se movían divisións enteiras a pé ou se agochaban en deceas de kilómetros de trincheiras...
« Última modificação: Abril 16, 2007, 09:14:40 am por ferrol »
Tu régere Imperio fluctus, Hispane memento
"Acuérdate España que tú registe el Imperio de los mares”
 

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Lancero

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« Responder #14 em: Abril 15, 2007, 05:35:35 pm »
Citar
POUCOS ... MAS HERÓIS!        
Escrito por Júlio Magno    
08-Abr-2007  
A DERRADEIRA RESISTÊNCIA PORTUGUESA

na Batalha La-Lys

A JORNADA DE 9 DE ABRIL DE 1918

Reconstituição de Carlos Carneiro - exposta no Museu do Forte George do Regimento Seaforth Highlanders - por memória dos Oficiais e Praças desta unidade, que morreram ao lado dos Portugueses.

Les Lobes - La Couture - Derradeira resitencia portuguesa na batalha de La-Lyz.
 

… o Comando da 2.a Divisão ordenava que as tropas resistissem, consequentemente, demorassem o inimigo dentro do maior tempo possível... E esperava que, ao abrigo das fracções da Brigada de reserva e com a entrada simultânea da 50. e 51.a Divisões britânicas em acção, se pudessem concentrar todos os elementos dispersos aproveitáveis das tropas da retaguarda, os reenviassem à frente e, assim, prolongassem o esforço português, ainda que numa frente de combate limitada.

Vontades férreas se empenham nesta missão, tanto da parte dos oficiais da Missão Britânica como do ten.coronel de infantaria, António Maria Baptista, e major do C. E. M. da Divisão Cesário Viana. «Todos — diz o referido Brigadeiro Vasco de Carvalho — perderam o seu tempo a congregar e a reanimar os fugitivos para os fazer voltar a combater.

Em Calonne, — continua o nosso mais autorizado cronista da batalha — «querendo pôr alguma ordem naquela desordem que ameaçava tornar-se inextricável e perigosa, o Comando fez escoar as viaturas em direcção a St. Ve-nant, enquanto nos terrenos adjacentes à estrada se procurava organizar a massa de fugitivos que ali convergia a cada instante. De tudo se apurou ainda um núcleo de cerca de 200 de infantaria que tinham espingardas.
«Tudo baldado. Uma granada, caindo perto, fez debandar este grupo que dispersou em várias direcções».

«Foi de todo impossível—continua em pungente descrição— a uns e outros conseguirem alguma coisa. A nossa gente retirava completamente desmoralizada e contaminada pelo terror. Para a grande maioria era a primeira vez que tinham verdadeiramente entrado em combate. Nunca tinham visto nem sonhado a guerra assim. Ao pé daquilo, os raids e combates de patrulhas dos outros tempos deviam-lhes parecer brincadeiras de crianças. Aqueles mesmos que o terror não contaminara, dominava-os o sentimento da nossa fraqueza - como pigmeus que se tivessem intrometido em luta de gigantes». A tardia evacuação dos habitantes civis, com a urgência que as circunstâncias impunham, imprimiu em plena batalha um aspecto de desordem e de debandada que mais contribuiu para aumentar as desmoralização dos nossos soldados que pela primeira vez presenciaram aquele estranho e deprimente espectáculo - longos formigueiros humanos seguindo para a retaguarda pelas estradas pejadas de viaturas, como rebanhos açoutados pelo vendaval»

(2ª.Divisão Portuguesa na Batalha do Lys - Brigadeiro Vasco de Carvalho)

Neste ambiente de derrota dramática, no meio de gente contaminada pelo terror... foi que, muito antes do meio dia de 9 de Abril, sob uma barragem implacável e dissolvente, na estrada «To Lacouture», o capitão David Magno se viu abandonado pelas últimas praças da sua companhia. E num gesto de inconformismo com a situação, que as circunstâncias lhe criaram, é que o seu brio decide romper, mesmo sozinho, para a frente.

Não que o capitão Magno não pudesse erguer os braços, complacentemente, como tantos e tantos o fizeram, sem ao menos salvarem as aparências. Não, que não tivesse as mesmas razões para justificar uma retirada, como tantos e tantos o fizeram, forçados pelas emergências da batalha e em circunstâncias menos aprováveis, a quem ninguém tomaria contas...

Mesmo depois de haver sido posto à prova, ter visto a porta aberta da retirada ou do aprisionamento, o capitão Magno obstinou-se em não ser arrastado na torrente do desbarato... e «teve a coragem moral— como diz Vasco de Carvalho — de ficar na linha de batalha já quando nada o obrigava a semelhante sacrifício». Vendo tudo perdido, Vai de cabeça alta oferecer a sua vida às balas da infantaria inimiga. Não se rende aos Alemães .. Não entrega o armamento aos Ingleses... E só retira, sim, depois da verdadeira guerra ter acabado para todos os Portugueses, após 56 horas de combates formais e ver os seus elementos aniquilados e quase desfeitos!

O destino é tão incontrolável que ninguém o sabe escolher. Para a vida ou para a morte, o homem é mero brinquedo nas suas mãos. Aos Britânicos se dirige o capitão Magno, à falta de saber de tropas organizadas. Vai confiado não só na secular fraternidade de armas, como atraído, em admiração obscura, por essa raça orgulhosa que num lapso psicológico acaba de aportar, para a direita da frente, à sua retaguarda.

Os Ingleses, aliados multi-seculares dos Portugueses, sempre nos assistiram na Flandres e estiveram prontos nas horas mais criticas. Todo nos ensinaram e deram todo quanto da soa experiência podia ser aproveitado. Trataram e apreciaram o soldado português com uma atenção que nada ficou a dever aos seus merecimentos. Negar-lhes o método, a organização, a tenacidade, a disciplina, o espírito de sacrifício e o heroísmo, de que Yprés — «Ville Martyre» — com os seus cinquenta mil nomes de mortos esculpidos no arco de mármore do Meningate, são testemunho ciclópico … seria injustiça flagrante. Uma fé inquebrantável nos destinos da sua pátria concatena-se com o que afirmavam nas trincheiras: A nós não nos importa morrer desde que temos a certeza absoluta de que havemos de vencer!

«- O Adido Militar junto da Embaixada de Espanha, em Lisboa (1921), fazia dos oficiais britânicos um conceito "de uma bravura a toda a prova, de absoluto desprezo pelo perigo e de uma inexcedível abnegação. Pelo seu treino e pela sua serenidade, eles constituem uma matéria prima admirável -».

O capitão Magno mede, pois, a profundidade deste abismo. Sente a vertigem das alturas e dos grandes cometimentos. Todavia, não desiste. Precipita-se e coloca-se lado a lado com a capacidade de resistência dessas tropas britânicas de escol.

As avançadas da célebre 51.ª Divisão inglesa atingem a frente de batalha pouco depois das 11 horas. O Batalhão 6 de Seaforth Higlanders (escocês) estende-se já em atiradores, junto da ribeira da Lawe. Neste momento quando marchava de novo para a frente, o capitão Magno, avistando os aliados, segue-lhes no encalço. Não tropeça com os Britânicos… Vai proucrar um lugar à mesa do sacrifício, na ideia de os acompanhar para a frente.

Já os soldados, que restavam da sua 3.ª Companhia, deixavam os abrigos das covas de granadas, quando este oficial procura o Comandante dos Escoceses e tem a honra de apresentar-se ao ten.coronel Samuel MacDonald, da Ordem dos Serviços Distintos.

Calmo e respeitável, não compreende o oficial português ou prefere não se distrair do exercício, que o comando lhe impõe na distribuição das suas praças ao longo do caminho, agora, transformado em 1ª. Linha... Manda-o entender-se com o 2.° comandante, capitão Archibald David fala francês fluentemente. Perante o oferecimento, começa por responder que não precisa de homens, demais, já batidos por longo bombardeamento.

Apenas pretende a metralhadora…

Contrariado nas intenções e melindrado na sua dignidade militar, embora isso se fizesse por outros lados da frente, David Magno replicou :

- Os Portugueses vêm aqui para combater a vosso lado… Não vêm para dispensar o armamento. Se não quereis ou não podeis aceitar, combateremos por aí…

- Mas - acrescentou o oficial britânico - precisamos somente da metralhadora. Com os reforços que esperamos, ainda hoje, queremos repor o inimigo nas suas posições de ontem.

- Por isso mesmo … Como Portugueses, nós temos o direito e a ambição de ajudarmos a reconquistar o terreno que perdemos. DE RESTO, AS ARMAS SÓ AS ENTREGAM OS VENCIDOS AO INIMIGO VENCEDOR …

MacDonald, apruma-se e acede com uma continência e um shake-hand cavalheiresco.

Quem vai acreditar que os nossos soldados, após sofrerem uma barragem temerosa, fora das trincheiras reconfortantes, sintam orgulho diante da oferta das suas vidas, dispondo-se a lutar pela bandeira, cuja honra corria perigo do maior desdouro, nesta batalha da Flandres?!...

Eis, sem dúvida, um dos episódios mais eloquentes, entre todas as odisseias de La Lys, que fez reacender a fé nos nossos soldados, depois de os ver fazer aquilo que muitas praças têm feito, mesmo entre os melhores exércitos!... Possuídos de comoção patriótica que tal oferecimento arranca à sua consciência, os filhos do 13 e do 15 prometem morrer ali, sem arredar pé. E, assim o cumpriram nobremente. Não esquecendo que o sacrifício voluntário é, por si só, um heroísmo!
Entretanto, convoca e intima quantos transviados descobre ao alcance e exorta-os a honrarem o nome português. Mais de cinquenta nomes inscreve no relatório da batalha, entregue a seguir, de cerca de oitenta que se contaram inicialmente. Neste número se compreende o pelotão da 5.a Companhia do 15, que se apresentou por forma modelar. Sem exemplo mais concreto na retirada dos restos das quatro Brigadas da 2.a Divisão, o capitão Magno veio a alargar em muitas horas, a acção do 13 e do 15, — dentro do Plano do Comandante do I Exército, que desejava a combater nos campos da Lawe, os restos da Divisão portuguesa derrotada.

Os soldados, poucos ou muitos, não influem na moral da oferta, depois de cavarem abrigos com material de parque, logo começaram a combater. O valoroso 1.° sargento Matos Bugalho comanda o pelotão do 15. O do 13 é comandado pelo bravo 2.º sargento Álvaro Costa.

Os Alemães, depois de flanquearem La Couture, logo se apresentam nesta frente. Sem demora um português é atravessado por uma bala. O rosário de sacrifícios segue. A senda do martírio é a mais gloriosa. E, assim, decorre a tarde em luta extremamente violenta.

«As três brigadas da. 51ª Divisão dispostas ao longo do canal da Lawe, — diz Vasco de Carvalho — eram violentamente atacadas pela tarde, logo que foram vencidas as ultimas resistências na Linha do Corpo no sector da Divisão».

Já o fogo nutrido esmaga os contendores de encontro à terra empapada pelas chuvas dos dias antecedentes. As depressões do solo abrigam muito mal. Por vezes, só é consentâneo mexer quando as metralhadoras alemãs miram os aeroplanos ingleses que ronronam em reconhecimento rasante. Escoceses e Portugueses são forçados a recuar por falta de condições tácticas. Cobertos por ligeira cortina, ficam a defender, agora, a testa de ponte estrada LÉS LOBES.

Debaixo do crepitar das metralhadoras inimigas, que alternam com o desconcertante estrondo dos morteiros, vão-se apertando os laços de camaradagem entre os dois aliados. Encadeiam-se os combates, uns nos outros. O fogo torna-se mais rijo. Os Escoceses que não puderam entrar na mesma linha, são dizimados atrás dos Portugueses.

Surgem à retaguarda, auto-ambulâncias nossas. O capitão do 13, vai ao encontro delas. Surpreendem-se os condutores de encontrarem gente portuguesa a combater. Dizem que foi dada ordem de retirada à Divisão... Depois se soube, apenas havia ordem de evacuação dos Portugueses da área do I Exército (15 h. 40 m.), em conformidade da qual, todas as tropas da 2." Divisão foram dispensadas por toda a parte — para evitar aos Ingleses, o contágio de tropas batidas e desmoralizadas.

O capitão Magno expede uma nota para o Q. G. da Divisão... Outra, para o Comando do 13. Dá conta da situação e onde se detém a combater o núcleo principal da 3.ªCª. do 13. Reitera ao Comando escocês o seu oferecimento... Por outro lado, não aceita qualquer melhoria que o cavalheirismo de MacDonald proporciona à sua mesa de campanha. Não se subtrai aos sofrimentos das praças que aproveitara e colocara a combater.

Correspondentes de guerra, que cruzam com o capitão Magno, testemunham a luta dos Portugueses contra os Alemães abrigados nas cercanias de La Couture. O «Telegramme» de 12 de Abril regista: « A história um dia falará da heróica resistência dos Portugueses que, às 15 horas, ainda se batiam próximo de La Couture».
As nossas tropas protegem os assaltos sangrentos dos camaradas a cuja indumentária militar, caracterizada pelos kilts — saios pela coxa — e sporrans pendentes dos cinturões, anda presa a alma da nobre Escócia e os mitos marciais deste país.

O cinzento dos uniformes portugueses, ao lado do amarelo torrado das fardas britânicas, realçavam a nossa acção. «The Times» de Londres, do dia 11, arquivava: «Os oficiais britânicos manifestam a sua admiração pela tenacidade portuguesa, espírito de camaradagem e valor com que combatem ao lado dos Ingleses».E o notável livro reeditado em França — «Lê Grand Quartier General Britanique» — põe em relevo : «Elementos portugueses dispersos vieram eles próprios colocar-se a combater ao lado das tropas britânicas, portando-se muito bem».
Pormenorizar cometimentos e ousadias que se arriscaram em presença do inimigo poderoso, por um lado, e a raça mais opulenta e heróica da Grã-Bretanha, pelo outro, torna-se pueril, com a agravante dos subordinados compreenderem que estavam a exceder o limite normal do dever relativo.

Se os assaltos britânicos, apoiados pelos Portugueses, não conseguiram desalojar os Alemães em todo o dia, também, estes não puderam modificar as nossas posições.

Trigo e beterrabas tapetam de verde a planura imensa. Sebes e árvores, braços decepados em maldição, ocultam os contendores. O taque-taque monótono das armas automáticas cansa e enerva. O sol já fugiu para a retaguarda. A fuzilaria avança pela noite dentro. Os clarões que flamejam na escuridão tornam fantásticos os vultos dos soldados. Os Bávaros, simbolizando heróis wagnerianos, estão a umas escassas três centenas de metros da boca das nossas armas, como nós estamos à mercê das deles... Os estômagos permanecem em jejum. Sente-se uma aragem cortante que enregela e obriga a aquecer as mãos nos canos das espingardas sobreaquecidas.
 


Fonte
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito