Dois documentários sobre o Estado Novo

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Xerif3

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Dois documentários sobre o Estado Novo
« em: Abril 29, 2009, 11:23:53 am »
O realizador Rui Simões acaba de reeditar «Deus Pátria Autoridade» e «Bom povo português», dois documentários feitos nos anos 1970 sobre o Estado Novo e a revolução de Abril e que condicionaram até agora o percurso do cineasta.

«São filmes que me impediram que fosse outro cineasta», lamentou o realizador à agência Lusa, 35 anos depois de os ter realizado no calor de um novo tempo político e social no país, acabado de chegar do exílio.

«Deus Pátria Autoridade», primeiro filme de Rui Simões, feito em 1975, aborda, de uma forma mais experimental, os 48 anos do regime de Salazar até ao 25 de Abril de 1974.

Já «Bom povo português», estreado em 1980, é um documentário que descreve a situação política e social portuguesa entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975, testemunho de um tempo conturbado de mudança.

Ambos são reeditados com mais de meia hora de material inédito, entrevistas e comentários do realizador.

Quase trinta anos depois da estreia comercial de «Bom povo português», Rui Simões admitiu alguma «amargura por ter sido penalizado» com este filme, por ter assumido uma «posição individual e crítica de todas as forças políticas em jogo na altura».

O filme, testemunho histórico sobre o primeiro ano de democracia, cruza documentos de arquivo da RTP com imagens feitas pela equipa técnica de Rui Simões e filmagens que outros realizadores lhe cederam.

Com narração de José Mário Branco, o filme mostra imagens de Álvaro Cunhal e Mário Soares juntos no 1º de Maio, da visita de Richard Nixon ao país, discursos de António Spínola, testemunhos de camponeses, comícios de novos partidos, manifestações de rua.

«Eu senti que tinha que filmar aquele momento, percebi que era um momento importante, foi como um íman. Era um jovem exilado, vivi intensamente esse momento e fiz um documentário pessoal. Não tinha pretensões políticas», recordou à Lusa.


O filme só estaria concluído em 1980, ao fim de seis anos de trabalho em que Rui Simões ficou praticamente sozinho, sem equipa técnica e sem dinheiro. «Ninguém acreditava em mim, achavam-me louco», confessa nos comentários a «Bom povo português».

Hoje com 65 anos, Rui Simões conta no currículo apenas com documentários, um género ao qual diz ter-se adaptado porque não consegue fazer ficção.

Fonte: TVI24