Votação

Concorda com a retirada dos Crucifixos das Escolas?

Discordo
14 (48.3%)
Concordo
11 (37.9%)
Não Sei/Não respondo
4 (13.8%)

Votos totais: 29

Votação encerrada: Novembro 26, 2005, 07:38:05 pm

Crucifixos fora das escolas públicas por ordem do Governo

  • 55 Respostas
  • 15972 Visualizações
*

USB80

  • 42
  • +0/-0
(sem assunto)
« Responder #45 em: Dezembro 02, 2005, 10:28:04 pm »
Discordo com a retirada dos crucifixos. Concordo com o Tiger22, o Miguel que está em Paris e o AugustoBizarro que é uma medida adoptada ao reboque de outros países, mais uma sem originalidade para dizer que nós também somos "civilizados" e não precisamos dessas coisinhas de gente inculta como crucifixos, que coisa!, em pleno século XXI!. E também já agora justificar algum trabalho do bloco de Esquerda e companhia, se calhar o crucifixo nas paredes é um dos motivos do nosso subdesenvolvimento, e nós não tínhamos reparado nisso!!!, obrigado BE!
Já agora, se calhar para não desagradar às outras culturas que vivem no nosso país (milhões de pessoas!) deveríamos também pensar em retirar as carteiras e cadeiras das aulas e deixar à escolha o uso de almofadas no chão e também esconder a bandeira porque pode despertar sentimentos nacionalistas. E ainda, como não precisamos de símbolos nenhuns para lembrar no que acreditamos e o que queremos (para isso temos um poderoso cérebro e memória), que tal proibir o uso de fotografias em locais públicos e também esculturas e estátuas. Acho que vamos no bom caminho, finalmente…
Não podemos permitir que a miudagem acredite nalguma coisa superior, em valores éticos e morais um bocado acima do nosso medíocre quotidiano, que afinal é o que está representado na cruz. E que aliás é um símbolo que passou para além da esfera religiosa. Eu não me incomodo de ver uma foto do Dalai Lama, acho que é uma pessoa valiosa e um exemplo para a humanidade. Não me passaria pela cabeça ir estudar para o Tibete e exigir que se retirasse a foto do Dalai da escola por irrespeito à minha liberdade religiosa!. Porquê há de se ter vergonha de mostrar o símbolo de um homem que deu a vida crucificado por uma causa tão nobre como a que ele defendeu, afinal de contas o amor ao próximo?
Se há gente que se incomoda com isto ou tenta dar conotações que o crucifixo não tem pode ser por várias razões, mas nenhuma muito nobre. Pode ser profunda IGNORÂNCIA (mais uma vez) religiosa, que aliás se exibe com orgulho; ou confundir a ideia de Deus com os representantes das religiões, que afinal são homens. Afinal fiquei a saber que a Cruz tem a culpa de tanta coisa, desde a Inquisição até à convivência entre culturas. O pobre do homem que foi lá cravado deve estar ainda mais surpreendido do que eu.
"Common sense is the less common of the senses"
 

*

papatango

  • Investigador
  • *****
  • 7484
  • Recebeu: 962 vez(es)
  • +4591/-871
(sem assunto)
« Responder #46 em: Dezembro 02, 2005, 10:31:44 pm »
No fim disto tudo, estive a ver no dicionário, e há uma curiosodade.

Mandaram retirar os crucifixos, não as cruzes.

Ora, crucifixo, é a cruz, que tem aposta a imagem de Jesus Cristo crucificado.

Moral da história: A não ser que se mandem retirar as cruzes das escolas (e não os crucifixos) técnicamente, podem ficar as cruzes, as quais são simbolos não necessáriamente católicos.
A cruz suastica por exemplo, na india é sinal de vida.

Acho que a medida é bem portuguesa.

Suficientemente ambigua para ser tratada da forma que for julgada mais conveniente.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

*

dremanu

  • Investigador
  • *****
  • 1254
  • Recebeu: 1 vez(es)
  • +7/-18
(sem assunto)
« Responder #47 em: Dezembro 02, 2005, 10:45:13 pm »
Governos que atacam a religião só lhes sai o "tiro pela culatra". Os comunas odiavam a igreja, foram ao ar. Os nazis perseguiram os judeus, foram ao ar. Portugal e Espanha implementaram a inquisição, desde lá até hoje, ficaram para trás. Agora tirem as vossas conclusões.

O direito à crença religiosa é um direito fundamental do homem.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

*

Luso

  • Investigador
  • *****
  • 8528
  • Recebeu: 1621 vez(es)
  • Enviou: 684 vez(es)
  • +938/-7272
(sem assunto)
« Responder #48 em: Dezembro 03, 2005, 12:12:18 am »
Citar
Moral da história: A não ser que se mandem retirar as cruzes das escolas (e não os crucifixos) técnicamente, podem ficar as cruzes, as quais são simbolos não necessáriamente católicos.


 :Bajular:  :Bajular:
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

*

Leonidas

  • Analista
  • ***
  • 618
  • Recebeu: 3 vez(es)
  • +1/-3
(sem assunto)
« Responder #49 em: Dezembro 04, 2005, 12:32:55 am »
Saudações guerreiras
Citação de: "TOMKAT"
Leonidas não me referia à cruz das caravelas, mas à cruz religiosa que ia na mão do Padre que acompanhava os navegantes e convertia os "selvagens" nos territórios descobertos.
A resposta para isto é a mesma que se aplica para as cruzes das caravelas.

De Lembrar que não há simbolo melhor para identificar os cristãos que a cruz, no mínimo. Pode-se ir mais longe, só para ver o impacto que isto tem, ainda nos dias de hoje, a questão da cruz, como simbolo de identificação dos próprios portugueses. Basta ver por onde andaram e por onde mais nenhum cristão chegou em primeiro. Há falta dos pelorinhos vejam qual a melhor solução para se chegar á conclusão que só os portugueses poderam fazer ou estiveram aqui.  

Citação de: "TOMKAT"
Quanto a essa cruz servir de motivo de avanço em todos os sentidos é no minimo discutível.
Estarei sempre a falar sempre para o bem, pelo qual, o motivo religioso se invocou. Outra coisa não pode ser dita. Há que distinguir entre aquilo que são as escrituras sagradas e a Lei de Deus, que nos revelam como havemos de agir, e as ações do próprio homem; colocá-las no seu devido contexto e tempo e compreende-las, para assim termos uma ideia o mais aproximada do que era a mentalidade da época. Não julgá-las de acordo com os padrões civilizacionais de hoje, porque senão dá erro. É sempre condenável quaisquer atrocidades que se cometeram e que se cometem, ainda hoje, seja qual for o deus que se evoque. Nós hoje sabemos mais que qualquer pessoa que viveu até ontem, por exemplo. Vejam então a diferença que não faz 500 anos!!! No entanto, essa sabedoria parece não dar frutos para determinadas pessoas, se calhar, porque não convém.

Somos, assim, capazes de dizer que somos muito evoluidos quando ainda nos dias de hoje atacamos tudo e todos em nome do nosso deus. Isso é notório quando o cheiro do outro é diferente do nosso. Por utilizarmos o sabonete e cheirarmos bem julgamos que pelos outros utuilizarem o sabão ou outro sabonete, é que estão errados. Quanta presunção. Se ficassemos só pelo cheiro, então seriamos bem capazes de nem sequer termos cometido holocaustos. Mesmo assim tenho as minhas dúvidas.
 
Citação de: "TOMKAT"
Se houve avanços foi para os conquistadores  nunca para os conquistados. Civilizações desapareceram devido a esses avanços.
Caro Tomkat, será que está a falar dos portugueses? Aqui você não pode generalizar, porque as coisas não se passaram da mesma maneira para todos os conquistadores e conquistados. É preciso ter cuidado. Os portugueses não foram, não são e - se não se portarem bem, para além de irem para a cama com os pés descalços - não serão também, própriamente uns santinhos á face da terra, por mim falo, mas daí sermos uns extreminadores implacáveis!!!
Tem que indicar uma civilização, porque não tou a ver qual das que subordinámos a eliminámos.

Citação de: "TOMKAT"
Incomodam-me mais certos portadores dessas cruzes.

Se esses são os falsos doutores, então já somos dois.

Cumprimentos
« Última modificação: Dezembro 04, 2005, 02:17:03 am por Leonidas »
 

*

Leonidas

  • Analista
  • ***
  • 618
  • Recebeu: 3 vez(es)
  • +1/-3
(sem assunto)
« Responder #50 em: Dezembro 04, 2005, 01:39:51 am »
Saudações guerreiras.

Citação de: "papatango"
Moral da história: A não ser que se mandem retirar as cruzes das escolas (e não os crucifixos) técnicamente, podem ficar as cruzes, as quais são simbolos não necessáriamente católicos.
Chama-se a isso tapar o sol com a peneira, ou seja, continua a reinar a hipócrisia e, se for-mos um pouco mais longe, acho que se pode afirmar, mesmo, que estão a gozar e isso é uma falta de respeito intolerável, mais uma vez, com o objetivo de se querer atacar os católicos. Esse mesmo procedimento entra também em contradição com a lei desde o 25 de Abril de 1974, porque o estado é laico. No entanto, compreendo onde quer chegar. É como querer matar dois coelhos com uma só cachaporrada (para utilizar uma expressão "sua"). Sem dúvida que, isso assim, já não constitui ofenssa para ninguém cristão, católicos incluídos.

Citação de: "papatango"
Acho que a medida é bem portuguesa.
Suficientemente ambigua para ser tratada da forma que for julgada mais conveniente.

Sem dúvida que sim. Muito gostamos nós de fazer figuras de urso. Até parece que não temos mais nada para resolver. Que isto é um dos muitos sinais, desagregadores, dos tempos, lá isso é.

Cumprimentos
 

*

JoseMFernandes

  • Perito
  • **
  • 394
  • Recebeu: 1 vez(es)
  • +0/-0
(sem assunto)
« Responder #51 em: Dezembro 04, 2005, 12:08:55 pm »
Enfim,  para complementar este assunto que esta sendo interessante e muito bem debatido aqui, um texto de Joao Bénard da Costa no PUBLICO de hoje, 4/12/2005.

Citar
 A Cruz e o trapézio

          João Bénard da Costa



1.Não. Eu não quero acreditar que o Governo do eng. Sócrates queira reacender, sob artificiais pretextos, a chamada "questão religiosa", extinta há cerca de cinco décadas, pelo menos.
Não. Eu não quero acreditar que o dr. Mário Soares, em quem vou votar, a cuja comissão de honra me orgulho de pertencer, subscreva ou aprove o primaríssimo artigo que a sua mandatária para a juventude, Joana Amaral Dias, escreveu no DN de 29 de Novembro, sob o título Crianças e mulheres primeiro. Soares, que tanto contribuiu, no pós-25 de Abril, para evitar "guerras religiosas" ou conflitos com a Igreja Católica, não está certamente envolvido nesta absurda polémica sobre os crucifixos nas escolas. Não pode estar.
Mas é um facto que o alarido, começado em surdina, tem sido assoprado e não apenas por aqueles a que mais convém e que em tal causa obterão triunfo facílimo e demagógico. Não direi que vai de vento em popa (a nota do Ministério da Educação de 27 de Novembro é prudente), mas vai já queimando quanto baste. E "basta" é a ordem que se impõe ouvir.
Até por mero tacticismo, a gente do "cruzes, canhoto" devia ver (ou rever) um filme de John Ford chamado The Long Gray Line. O protagonista (Tyrone Power) aposta, num jogo de basebol, em equipa de um colégio não-confessional contra equipa de um colégio católico. Esta vence e o rapaz perde. Observa-lhe, sábio, o velho pai (o saudosíssimo Donald Crisp): "Meu Filho, nunca apostes contra a Igreja." Os turiferários deviam pensar nesta frase, que até hoje se tem revelado certeira. Parece que houve um deputado comunista que pensou e lembrou que quem quer varrer cruzes acaba crucificado. Mas a questão ultrapassa relações de forças ou histórias de vária táctica. Vai muito mais longe, como tentarei demonstrar.

2. Se, em nome da lei da liberdade religiosa, se começa a banir cruzes de escolas, terão pensado os libertários onde se iria parar, se quisessem ser inteiramente coerentes?
Dou três exemplos, mas podia dar trinta.
a) Em primeiro lugar, era preciso mudar de bandeira. Efectivamente, mesmo a actual Bandeira Nacional, aprovada pela Assembleia Constituinte de 1911, certamente insuspeita de qualquer laivo clerical, mostra a esfera armilar e o escudo com "o campo branco das quinas", que nela figuram desde D. João I e resistiram às mudanças de D. Manuel, D. João VI ou D. Pedro IV. As cinco quinas figuram o quê? Como toda a gente sabe, ou devia saber, figuram as cinco chagas de Cristo, que Este terá mostrado a D. Afonso Henriques quando lhe apareceu em Ourique. A aparição não tem fundamente histórico e foi patranha inventada, vários séculos depois, para justificar a suposta origem divina da independência e do país. Mas o caso pouco interessa a não ser a interesseiros historiadores, com particular relevo para os de Alcobaça em tempos de ocupação espanhola. Com os tempos - e tantos tempos são - tornou-se um símbolo cultural. Abel Botelho, Columbano, João Chagas, José Afonso Pala e Antonio Ladislau Pereira, os autores da Bandeira verde e encarnada, ainda levaram algumas "bicadas". Mas foram muitos mais as dos que queriam conservar o azul e branco (Junqueiro, Braancamp Freire ou António Arroio) do que as dos recordadores de Ourique e das feridas do Senhor. A Bandeira ainda hoje é vulgarmente conhecida por "bandeira das quinas" (o que Pessoa achou providencial) e não recordo, nem mesmo do mais fanático anticlerical (aquele que, na minha infância, me aterrorizava aos gritos de "Viva a República! Abaixo a Padralhada"), qualquer ataque a essa simbologia primacial. Mas, em nome de tal "liberdade religiosa", não faltaria alguma razão aos inflamados de agora, se levassem a lógica às de cabo, em se insurgir contra tal marca no símbolo da Pátria, que, se não erro, ainda vale aos que a desrespeitem uma pena de três meses a um ano de cadeia.
b) A recente revisão da Concordata manteve como feriados nacionais sete datas de conotação obviamente religiosa e obviamente católica. Dois deles (8 de Dezembro e 15 de Agosto) celebram a Imaculada Conceição de Maria e a Assunção da Virgem aos céus, em corpo e alma. São dogmas relativamente recentes (1854 e 1950, respectivamente) e que, mesmo entre ortodoxíssimos católicos, levantaram, à época em que foram proclamados, rijas polémicas. Alguém estremece quando descansa nessas datas, considerando-as absurda intromissão da Igreja na sua vida privada?
E já nem sequer falo do Natal, celebração de acontecimento por demais conhecida, e feriado em quase todo o mundo ocidental. É verdade que o fundamentalismo americano, desde há alguns anos, começou a fazer campanha contra o "Merry Christmas", substituindo-o por "Season"s Greetings". Ouvi dizer que, no ano passado, o presidente Bush, na sua mensagem de Natal, omitiu, pela primeira vez, a palavra "Christmas" para ser mais "politicamente correcto". Não me digam que o Bush=Hitler foi mero lapso, fonte de liberdade e que nele se inspiram os que agora clamam. Já tenho visto contradições maiores.
c) O Presidente da República tem residência oficial em Belém. Não seria de mudar o nome ao sítio que recorda presépios e Meninos virginalmente nascidos? Não será demais que a Belém se some S. Bento, como sede da Assembleia da República e residência oficial do primeiro-ministro? Do Calvário, em Lisboa, à rua da Gólgota, da Agustina, no Porto quantos nomes canónicos ou santificados por essas cidades, vilas, aldeias, ruas ou largos de Portugal? Não é tempo de mudar esses nomes todos que tresandam a sacristia?
Ou será que Cristo e a Cruz só são de banir quando se trata de criancinhas? Fica a pergunta, mas é de bom tamanho.

3. Nos casos evocados, como no caso das cruzes nas escolas, a dimensão do símbolo ultrapassa, de longe, a questão religiosa para ser sobretudo uma questão cultural. Entendam-me bem: para um católico (no caso da Cruz para qualquer cristão, seja ele protestante ou ortodoxo) a Cruz é o símbolo supremo da morte redentora de Jesus, a quem chamavam de Cristo, e, como tal ou enquanto tal, nenhuma outra simbologia se sobrepõe a essa. Mas, para os outros portugueses, mesmo os que mais professem o ateísmo, o símbolo é o símbolo de uma cultura que, goste-se ou não, queira-se ou não, desde a fundação da nacionalidade foi e é critério. Mesmo aqueles para quem Jesus foi só um dos milhares de homens que sofreu uma das mais horríveis formas de morte que homens infligiram a outros homens, mesmo até para aqueles que põem em causa a sua existência histórica, a Cruz é um elemento sociologicamente identificador, que assinala a nossa pertença a uma determinada civilização e a uma determinada cultura. A História que culminou nela e que foi narrada pelos quatro evangelistas (eventualmente por muitos outros que a Igreja Católica não aceita como testemunhos fidedignos e a que continua a chamar "textos apócrifos") é a História sem a qual nada compreenderíamos da História de Portugal e da esmagadora maioria da poesia e literatura portuguesas ou da arte portuguesa. Suponha-se uma leitura de Os Lusíadas, do Crime do Padre Amaro ou da Relíquia, da Mensagem ou do pagão Caeiro, sem referência a essa cultura informadora e formadora. Haveria maneira de compreender algo? E dispenso-me de chegar até José Saramago, obcecado por essa cultura, para não dizer por essa religião. Suponha-se uma visita a qualquer dos nossos museus, sem qualquer familiaridade com a religião católica. O "maravilhoso cristão", para quem o não queira interpretar de outro modo, é a chave de acesso, como chaves de acesso são as mitologias greco-romanas, não conhecendo eu ninguém que creia em Zeus ou em Vénus, em Ares ou em Mercúrio. Suponha-se que era de tradição uma reprodução da Vénus de Milo nas escolas. Assistir-se-ia a um clamor nacional, invocando a liberdade religiosa para varrer a Vénus de peitos desnudos da vista das criancinhas? Só se fosse pelos ditos peitos, em nome de moral assaz reaccionária. Por causa da deusa, não seria certamente.

4. No seu infeliz artigo, Joana Amaral Dias recorda que, de acordo com a Constituição de 76 e suas várias revisões, "o ensino público não será confessional". A presença da Cruz nas escolas determina a confessionalidade? Se assim fosse, a presença do retrato do Presidente da República, em inúmeros edifícios públicos, ofenderia também os monárquicos, que têm tanto direito a sê-lo como qualquer outro português de ser politicamente o que lhe apeteça. Como a presença da coroa (por exemplo no Teatro Nacional de São Carlos) ofenderia os republicanos, diariamente agredidos por armas reais e brasões ou outras insígnias semelhantes, patentes na maior parte dos palácios nos chamados monumentos nacionais.
"Mas a República é laica", observou a jovem mandatária, reconhecendo embora (muito favor dela) que "cada um pode ter as convicções que quiser".
Chegamos a uma palavra que tem sido uma das maiores fontes de equívocos e de interpretações dúbias. Laico (do latim laicu) significa apenas que se não é eclesiástico religioso. Há um clero regular (o clero das ordens religiosas) e há um clero laico (o clero que não pertence a nenhuma dessas ordens e que também se costuma chamar clero diocesano). Depois há os leigos (e laico e leigo são termos equivalentes) que são todos aqueles que não foram ordenados padres, ou seja a esmagadora maioria da população. Os leigos (todos quantos não receberam o sacramento da Ordem) tanto podem ser crentes como não-crentes. Quando a Igreja se dirige aos leigos, dirige-se a todos eles, embora só os que a reconheçam enquanto tal estejam obrigados a obedecer-lhe ou sequer a ouvi-la. Eu sou tão laico como Jerónimo de Sousa ou Francisco Louçã, no sentido em que a palavra nada mais diz senão que nem eu nem eles professámos ou recebemos Ordem.
É certo que, por um galicismo de costas muito largas, laicismo é também a doutrina política que proclama a laicidade absoluta do Estado, entendendo-se por ela, comummente, a neutralidade perante todas as crenças religiosas e perante crentes e não-crentes. Mas, mesmo nessa latíssima acepção (gramaticalmente abusiva), o Estado não está obrigado a fazer tábua rasa dos valores de que é por igual herdeiro. Não está obrigado, e muito menos o deve fazer, sob pena de atentar gravemente contra direitos culturais igualmente reconhecidos e que o impedem de apagar porção relevante do nosso passado e da nossa história. É verdade que a Revolução Francesa o tentou fazer, mudando tudo, desde os nomes dos meses e a numeração dos anos, até à figura do rei no baralho de cartas. Sabe-se no que isso deu, como se viu, nos últimos meses, o que deu a absurda proibição do véu islâmico nas escolas oficiais francesas.
Desculpem-me a expressão, mas, "por amor de Deus", parem com esta loucura ou com este fundamentalismo reverso. A não ser que se queiram imortalizar, como se imortalizou o Gouvarinho de Eça quando acusou os defensores da educação física de quererem substituir a Cruz pelo trapézio. Como se costuma dizer, o ridículo mata. E, só para não invocar o Santo Nome em vão, não termino esta crónica dizendo: "Haja Deus", expressão corrente na boca de tantos ateus. Escritor

 

*

TOMKAT

  • Especialista
  • ****
  • 1173
  • +0/-0
(sem assunto)
« Responder #52 em: Dezembro 04, 2005, 06:36:40 pm »
Citação de: "Leonidas"
Saudações guerreiras
Citação de: "TOMKAT"
Quanto a essa cruz servir de motivo de avanço em todos os sentidos é no minimo discutível.
Estarei sempre a falar sempre para o bem, pelo qual, o motivo religioso se invocou. Outra coisa não pode ser dita. Há que distinguir entre aquilo que são as escrituras sagradas e a Lei de Deus, que nos revelam como havemos de agir, e as ações do próprio homem; colocá-las no seu devido contexto e tempo e compreende-las, para assim termos uma ideia o mais aproximada do que era a mentalidade da época. Não julgá-las de acordo com os padrões civilizacionais de hoje, porque senão dá erro.
...
Leonidas apenas contestei a tua afirmação por colocares a palavra todos na frase.
Concordo quando dizes ser susceptível de erro fazer julgamentos de acções do passado de acordo com os padrões actuais, mas esse juízo tem que ser feito para o bem e para o mal, a isso chama-se história e como a história é sempre escrita pelos vencedores, e sempre susceptível de erros de análise, consequência da posição (vencedora) em que se escreve. Tu próprio estás a fazer juízos de valor ao afirmares que a cruz "serviu de motivo de avanço em todos os sentidos".
Citação de: "Leonidas"
Citação de: "TOMKAT"
Se houve avanços foi para os conquistadores  nunca para os conquistados. Civilizações desapareceram devido a esses avanços.
Caro Tomkat, será que está a falar dos portugueses? Aqui você não pode generalizar, porque as coisas não se passaram da mesma maneira para todos os conquistadores e conquistados.
...
Não Leonidas, não me referia aos portugueses, que apesar de não termos sido própriamente uns "santos", tivemos uma atitude bem diferente da que outros tiveram. Referia-me aos "portadores" da cruz. Não foram só os portugueses que andaram por esse mundo fora de cruz na mão.
Citação de: "Leonidas"
Citação de: "TOMKAT"
Incomodam-me mais certos portadores dessas cruzes.
Se esses são os falsos doutores, então já somos dois.

Cumprimentos


Todas as religiões, e digo todas, regem-se por principios louváveis.
Os principios que estão na génese de qualquer religião são e serão sempre dignificantes para a condição humana.
Os intérpretes desses principios é que deixam muito a desejar,... mesmo muito. Foram esses mesmos intérpretes que me tornaram agnóstico.
Mas já estamos a desvirtuar um pouco o tópico.
Este debate lembra-me velhas discussões sobre relegião que tinha com um professor de Latim, um velho Padre. Já na altura gostava de lhe colocar questões embaraçosas.
Velhos hábitos... :wink:
IMPROVISAR, LUSITANA PAIXÃO.....
ALEA JACTA EST.....
«O meu ideal político é a democracia, para que cada homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado»... Albert Einstein
 

*

Luso

  • Investigador
  • *****
  • 8528
  • Recebeu: 1621 vez(es)
  • Enviou: 684 vez(es)
  • +938/-7272
(sem assunto)
« Responder #53 em: Dezembro 04, 2005, 07:06:52 pm »
Citar
Todas as religiões, e digo todas, regem-se por principios louváveis.
Os principios que estão na génese de qualquer religião são e serão sempre dignificantes para a condição humana.


O Tomkat arranha num ponto que me parece o fundamento da maior parte dos problemas humanos que decorrem de filosofias (os outros serão de natureza criminal - patológica).
É a questão dos princípios.
Os príncipios civilizacionais pretendem optimizar a relação do homem com a natureza e com o exterior, aumentando-lhe o bem estar, a segurança, a esperança de vida e dando mais garantias aos vindouros. Ou seja, uma sociedade com carências económicas precisa de possuir princípios fortes para vencer a adversidade.

Muitos (a maioria?) dos problemas que nos afectam e afectaram sobretudo o último século advêem de criações filosóficas de gente que, por diversos motivos afastados das necessidades básicas de sobrevivência ou incapazes de se integrar na sociedade, tiveram os recursos e dedicação para o fazer. Ou seja, as suas criações tendem a ser artificiais e desligadas da realidade.

Creio que o que assistimos é a substituição de princípios pela sua negação ou por um simples vácuo, vácuo esse que "deverá" ser ocupado pelos destruidores de princípios que em seguida imporão a sua vontade arbitrária e despótica. Porque a esses destruidores apenas interessa o poder - ou a destruição - porque sabem que na realidade nada sabem construir.
« Última modificação: Dezembro 04, 2005, 07:23:04 pm por Luso »
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

*

TOMKAT

  • Especialista
  • ****
  • 1173
  • +0/-0
(sem assunto)
« Responder #54 em: Dezembro 04, 2005, 07:15:50 pm »
Exacto Luso, quando abandonamos os princípios, rapidamente chegamos perto do fim.

Por isso afirmei uns post's atrás que ser cristão, tem mais a ver com um estado de alma, que com a reverência a símbolos religiosos.
Mais importantes que os discursos, sejam eles políticos, religiosos ou de outra índole, são as atitudes, a maneira de estar perante a vida.
IMPROVISAR, LUSITANA PAIXÃO.....
ALEA JACTA EST.....
«O meu ideal político é a democracia, para que cada homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado»... Albert Einstein
 

*

Leonidas

  • Analista
  • ***
  • 618
  • Recebeu: 3 vez(es)
  • +1/-3
(sem assunto)
« Responder #55 em: Dezembro 05, 2005, 02:06:38 am »
Saudações guerreiras.

Citação de: "Luso"
O Tomkat arranha num ponto que me parece o fundamento da maior parte dos problemas humanos que decorrem de filosofias...

Creio que o que assistimos é a substituição de princípios pela sua negação ou por um simples vácuo, vácuo esse que "deverá" ser ocupado pelos destruidores de princípios que em seguida imporão a sua vontade arbitrária e despótica. Porque a esses destruidores apenas interessa o poder - ou a destruição - porque sabem que na realidade nada sabem construir
.


Citação de: "Tomkat"
Exacto Luso, quando abandonamos os princípios, rapidamente chegamos perto do fim.
Por isso afirmei uns post's atrás que ser cristão, tem mais a ver com um estado de alma, que com a reverência a símbolos religiosos.
Mais importantes que os discursos, sejam eles políticos, religiosos ou de outra índole, são as atitudes, a maneira de estar perante a vida
.

Parece que já estamos a chegar a algum lado. Agora não esquecer que os príncipios são postos de lado ou regemo-nos pelos mesmo ou por outros pela prática, pelo nosso modos operandi no dia-a-dia.  :mrgreen:

Citação de: "Luso"
Os príncipios civilizacionais pretendem optimizar a relação do homem com a natureza e com o exterior, aumentando-lhe o bem estar, a segurança, a esperança de vida e dando mais garantias aos vindouros.

Deixo isto para refletir, é sou um de entre muitos outros exemplos que, pelos quais, se pode dar uma resposta e encontrar aquilo que são as "leis do homem" ou princípios pelos quais o homem se rege, ou seja única e excusivamente, os seus:

Citar
Lisboa é das cidades europeias com mais poluição
Lisboa é uma das cidades europeias com maior nível de poluição do ar por benzeno, atrás de Bucareste e Madrid, e Dublin a que regista um menor valor, revela um estudo apresentado hoje em Bruxelas
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=114&id_news=201545

Citação de: "Luso"
Ou seja, uma sociedade com carências económicas precisa de possuir princípios fortes para vencer a adversidade.
Caro Luso, é, certamente, importante esta componente, pois pregar a quem tem barriga vazia é como estar a falar para as paredes. Mas (há sempre um "mas") é de lembrar que "... nem só de pão vive o homem..."

Citação de: "Luso"
Muitos (a maioria?) dos problemas que nos afectam e afectaram sobretudo o último século advêem de criações filosóficas de gente que, por diversos motivos afastados das necessidades básicas de sobrevivência ou incapazes de se integrar na sociedade, tiveram os recursos e dedicação para o fazer. Ou seja, as suas criações tendem a ser artificiais e desligadas da realidade.
Não vou dizer nada de novo e você e demais intervenientes e "espe(c)tadores" deste fórum: O homem teve sempre uma ambição desmesurada e que entra em conflito consigo próprio, pondo em causa a própria existência e das gerações vindouras. Isto tudo, porque no fundo, e deixemo-nos de floreados, quer ele mesmo ser o Deus, quer a sua cadeira. Veja só o erro que está a dar e dará ainda mais no futuro, quando não existem principios bem alicersados na medicina, por exemplo; a agricultura, outro (só dois entre tantos).

á que distinguir aquilo que são os principios ou leis divinas, nas quais o homem se baseia e rege e o ajuste sempre cómodo, falso e ilusório dos principios e leis que são feitas exclusivamente feitas á imagem e semelhançe dele próprio. O que é que temos vindo a discutir neste e em quase a grande maioria dos tópicos neste fórum?

Julgo posssuir-mos inteligência/caoacidade suficiente para enfrentar o futuro e as maiores adversidades que se podem impor á humanidade, desde que não abdiquemos de principios ou leis que terão forçosamente de serem baseadas em algo que nos reja e que tenhamos que aceitar para toda  a eternidade, como superior a nós. Para os não crentes, a natureza, por exemplo. Para o "resto da galéra" é a mesma coisa acrescido de mais "alguma "coisa". Nós somos parte de algo, não somos possuidores desse algo.

É como que de um círculo vicioso se tratasse, ou seja, Ele precisa de nós para que possamos ser uma extensão Dele próprio e nós precisamos Dele para que a vida, mesmo que por muito amarga que seja, faça sentido.  

Citação de: "PapaTango"
Não há Nação Portuguesa sem o cristianismo. Ele faz parte da nossa identidade cultural. É a República, implantada pela Máfia-Maçonaria-Carbonaria, que não gosta desses simbolos, porque no fundo odeia Portugal.
Hoje, por acaso, estive a falar com determinadas pessoas sobre este tema, também. A discusão permitiu algumas conclusões até quando se chegou a uma igual a esta, só que por outra palavras. Isto é cada vez mais uma realidade, só que não se vê, porque oculta e ...

Cumprimentos