AS GUERRAS NAPOLEÓNICAS NA PENÍNSULA IBÉRICA

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quintanova

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« Responder #105 em: Abril 02, 2009, 09:33:32 am »
Apesar de achar estranho comemorarmos um dos mais dramáticos desastres das Invasões Francesas, por outro lado o acidente marca um ponto de viragem fulcral. Explico-me:

A Junta Suprema no Porto, presidida pelo todo poderoso Bispo de Porto, assumiu até esta altura um poder fenomenal que ofuscava o Conselho de Regência recolocado no poder pelos Ingleses após o Vimeiro e a Convenção de Sintra. O populismo do Bispo tornava-se cada vez mais perigoso no que tange à unidade nacional.

O desastre da ponte de barcas no Porto marca o descambar absoluto desta Junta, com a fuga, no dia anterior, do Bispo para a Serra do Pilar. Esta fuga aliás, quando conhecida pelo povo portuense, foi a pedra de toque para o pânico.

Como ponto de curiosidade, os franceses tentaram salvar as pessoas mais próximas da margem. Conta-se de uma rapariga que se recusou a ser ajudada, tal o medo, e afogou-se (provavelmente é apenas propaganda da altura - antes afogada que violada).

Seja como for, depois da queda do Porto, a Junta Suprema do Reino perdeu totalmente o seu poder e Portugal passou a ser governado apenas pelo Conselho de Regência em Lisboa. Neste regência, D. Miguel Pereira Forjaz tomou a Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra e assumiu-se como o principal responsável pela reconstrução do Exército Português que iria crescer brilhantemente até ao Buçaco, em 1810, e depois por Espanha e França.

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drum major

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« Responder #106 em: Abril 02, 2009, 12:10:25 pm »
Ora ai está uma figura chave que passa e tem passado totalmente ao lado que é D. Miguel Pereira Forjaz a história e a sua biografia está totalmente por fazer e penso que era de toda a justiça falar-se dessa figura tão pouco conhecida e peça fundamental em todo este conturbado periodo.

Faz-me lembrar um pouco a figura do Dr. João Pinto Ribeiro , após a Restauração essa importante personagem desaparece, embora exista uma biografia dele editada pela Sociedade Historica da Independência de Portugal (SHIP), seja como for seria interessante publicar-se algo sobre o Pereira Forjaz e a sua acção durante a Guerra Peninsular

Drum Major
 

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quintanova

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« Responder #107 em: Abril 04, 2009, 12:26:54 pm »
Existem biografias de Beresford e de D. Miguel na forma de 2 teses de doutoramento numa universidade na Florida (EUA), mas não estão publicadas. Seria um projecto interessante de alguma editora corajosa.

No brilhante sítio de Manuel Amaral - "O Exército Português em Finais do Antigo Regime", está a biografia de D. Miguel - http://www.arqnet.pt/exercito/forjaz.html.

Numa comparação tosca, mas bem poderosa, principalmente para os amantes da II Guerra Mundial, o Forjaz foi para a dupla Wellington/Beresford aquilo que o Marshall foi para o Eisenhower. Digo eu.

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Lancero

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« Responder #108 em: Abril 07, 2009, 02:15:23 pm »
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Invasões Francesas: 450 voluntários envolvidos na recriação das 70 mortes do massacre de Arrifana  



    Santa Maria da Feira, 6 Abr (Lusa) - O bicentenário das invasões francesas assinala-se em Santa Maria da Feira entre 14 e 19 de Abril, um programa que tem como ponto alto a recriação do "massacre dos quintados", de que resultaram 70 mortes na freguesia de Arrifana.  

 

    Nas diversas iniciativas previstas estão envolvidas 20 associações do município, num total de 450 voluntários, muitos dos quais já com experiência nas recriações da Viagem Medieval em Terras de Santa Maria.  

 

    O principal momento do programa é a encenação que, durante a tarde do dia 19 de Abril, irá reproduzir as execuções levadas a cabo pelos franceses na sua passagem por Arrifana.  

 

    A história a contar remonta a Abril de 1809, quando o morgado Bernardo Cunha, natural de Arrifana, matou o tenente-coronel Lameth numa emboscada de populares às tropas francesas estacionadas em S. Tiago de Riba Ul.  

 

    O oficial era ajudante de campo do General Soult e este ordenou a retaliação: no dia 17 de Abril, o exército francês tomou de assalto a povoação de Arrifana e todos os que ofereceram resistência foram mortos a tiro, à coronhada ou com cortes de sabre e baioneta.  

 

    Grande parte da população procurou refúgio no interior da igreja, mas os franceses obrigaram os homens a abandonar o templo e fuzilaram depois um em cada cinco - daí a expressão "massacre dos quintados", como ainda hoje é referido o episódio que, segundo os registos paroquiais da época, fez 71 vítimas.  

 

    Amadeu Albergaria, vereador da Cultura na Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, afirma que a recriação do dia 19 de Abril pretende recordar "um dos episódios mais trágicos das invasões francesas" em território português.

 

    Dário Matos, presidente da Junta de Freguesia de Arrifana, defende, aliás, que essa "foi a terra mais martirizada pelos franceses" na sua passagem por Portugal.  

 

    "Não houve batalha mas houve massacre", continua o autarca. "Depois disso, durante 10 anos seguidos não tivemos mancebos para mandar para a tropa".  

 

    Amadeu Albergaria reconhece o impacto profundo que esses factos tiveram no município: "Impunha-se assinalar a efeméride com um diversificado programa de actividades, para manter vivo este capítulo da história local e homenagear a coragem e valentia das nossas gentes".  

 

    O programa das comemorações do bicentenário das invasões francesas em Santa Maria da Feira inclui outras actividades, como exposições de armamento, miniaturas bélicas, ilustração, literatura e banda desenhada.  

 

    Haverá também encenações históricas por alunos das escolas do concelho, um acampamento ao estilo da época, exercícios militares e cerimónias religiosas de homenagem aos mártires.  

 

    Estão ainda previstos desfiles de fanfarras, bandas de música e milícias, assim como um recital de poesia por Aurelino Costa, um concerto evocativo pelo maestro António Vitorino de Almeida e o lançamento de duas publicações alusivas à efeméride.  

 

    No programa que assinala o bicentenário das invasões francesas em Arrifana, o investimento da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira é de 25 mil euros.

 

    O evento é organizado pela autarquia e pela Junta de Freguesia de Arrifana, em colaboração com o Exército Português e a Junta Metropolitana do Porto.

 
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

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Lancero

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« Responder #109 em: Abril 17, 2009, 10:52:26 pm »
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Invasões Francesas: Manobra de diversão derrotou duas semanas de resistência pela ponte de Amarante  



    Amarante, Porto, 17 Abr (Lusa) - Uma "manobra de diversão", criação de um facto artificial noutro local para desviar as atenções, permitiu aos franceses, há 200 anos, vencer a resistência das tropas portugueses que durante duas semanas impediram a conquista da ponte de Amarante.  

 

    O episódio histórico, que sábado à noite vai ser recriado na cidade, acrescido do denso nevoeiro gerado no leito do rio Tâmega, foram determinantes para as tropas do general Soult atravessarem a estreita ponte de Amarante na madrugada de 02 de Maio de 1809.  

 

    A travessia da cidade do Tâmega constituía, no desenrolar da II Invasão Francesa, um itinerário estratégico para a fuga a caminho de Trás-os-Montes, depois de os franceses se sentirem acossados pelos ingleses na zona do Grande Porto.  

 

    Carlos Teixeira, quadro da divisão cultural da Câmara de Amarante responsável pelo programa comemorativo da Defesa da Ponte, explica que a resistência dos portugueses durou duas semanas e provocou inúmeras baixas entre os franceses, embora estes nunca o tenham reconhecido.  

 

    Foi a perspicácia de um oficial de engenharia, conta Carlos Teixeira, cujo plano teve o aval directo do general Soult, que conseguiu derrotar os portugueses há dois séculos.  

 

    "Soult percebeu que precisava de destruir a defensiva da ponte e chamou um oficial de engenharia para encontrar um estratagema", refere Teixeira.

 

    Esse "engenheiro" francês [Bouchard], ainda durante a noite, subiu à torre sineira do mosteiro de S. Gonçalo e com um monóculo conseguiu avistar as defesas portuguesas na outra margem e aperceber-se das guarnições instaladas na ponte, nomeadamente a existência de um fornilho [um grande barril de pólvora, com uma arma no interior e um cordel ligado ao gatilho] preso no terceiro arco, pronto a ser detonado à distância quando da passagem das tropas.  

 

    "A armadilha visava destruir o arco da ponte, a exemplo do que foi feito no Marco [de Canaveses], se os franceses tentassem atravessar", refere o também responsável pela programação cultural do museu municipal.  

 

    "Os franceses criaram manobras de diversão a jusante da ponte, no vale dos Morleiros, simulando uma tentativa de passagem para que a atenção e o fogo dos portugueses se concentrasse naquela zona", recorda.  

 

    "Aproveitando o nevoeiro [corriam dias chuvosos e o nevoeiro à noite e madrugada era uma constante] e com as tropas de primeira linha já colocadas na Praça da República, os franceses colocaram três batedores [vestidos com sacos de pano tosco, vulgo serapilheira, os camuflados da época] a rastejar na ponte e a empurrar três barris de pólvora com a cabeça, que previamente foram enrolados em palha para não fazerem barulho na calçada", conta Carlos Teixeira, citando os relatos da época.  

 

    Com os portugueses distraídos e com o nevoeiro, os franceses conseguiram encostar os três barris à paliçada da margem esquerda e detonar os barris, uma explosão muito bem conseguida que permitiu não só cortar a barricada mas sobretudo cortar o fornilho, em que o barril com pólvora desprendeu-se do gatilho e do cabo que permitia accioná-lo.  

 

    Segundo Carlos Teixeira, a artilharia portuguesa nem teve tempo de reorientar as peças para a ponte porque logo de seguida a infantaria e a cavalaria de Napoleão mais avançada atravessaram a ponte e despedaçaram as tropas que tentaram opor-se. A debandada foi geral.  

 

    Os franceses consolidaram depois posições e afastaram os portugueses do monte do Calvário [uma pequena elevação sobranceira à cidade] para que não tivessem posição de tiro. A cidade estava tomada.  

 

    A conquista de Amarante pelos franceses, sugere Carlos Teixeira, advém da sua importância estratégica e militar na época.  

 

    "O general Soult, no Porto, ao ver aproximar tropas inglesas a Sul, na Feira, e as tropas avançadas já na zona de Gaia, percebeu que eles lhes iam cortar a progressão [em círculo] pela Régua, cortando o trajecto de fuga para Trás-os-Montes", refere.  

 

    Percebendo este movimento táctico das forças inglesas, acrescenta o técnico cultural da câmara de Amarante, Soult viu que era necessário assegurar um trajecto de saída o mais rápido possível e manda um corpo abrir a passagem rumo a Norte. Só restava a travessia de Amarante depois de um arco ter sido destruído na ponte de Marco de Canaveses.  

 

    O mês de Abril de 1809 foi extremamente chuvoso e o leito do rio Tâmega levava um caudal de cheia, não permitindo atravessamentos a pé ou a cavalo.

 

    "Só a ponte permitia a passagem da cavalaria e de toda a estrutura militar, os canhões, etc. e sobretudo o saque, ou seja, as carroças com o saque", assegura.  

 

    A "batalha" de Amarante, que tinha cerca de oito a nove mil combatentes de cada lado da ponte, fez baixas em ambos os exércitos.  

 

    Os franceses estavam em fuga e a antiga vila de Amarante foi retomada dez dias depois pelo general Silveira - que terá comandado a resistência algures entre a ponte e o lugar de Padronelo - e que mais tarde foi declarado Conde de Amarante.  

 

    Contudo, são os mesmos relatos da época que proclamam "primeiros heróis" da defesa de Amarante os oficiais Bento de Sá, um exímio artilheiro, e Patrick, um tenente-coronel inglês ferido de morte durante combates corpo a corpo nos primeiros dias da tomada da cidade pelos franceses.  



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Invasões Francesas: Chuva pode condicionar recriação histórica da Defesa da Ponte de Amarante  



    Amarante, 17 Abr (Lusa) - A chuva é o grande inimigo da recriação histórica dos 200 anos da Defesa da Ponte de Amarante, que a autarquia organiza sábado, inviabilizando a deflagração da pólvora e a figuração dos combates entre tropas francesas e portuguesas.  

 

    "Isto foi preparado para um cenário de tempo seco", refere Carlos Teixeira, quadro cultural da Câmara de Amarante e responsável pela coordenação da recriação histórica, um evento que envolve mais de 600 pessoas, sem contabilizar as forças de segurança, bombeiros e socorristas.  

 

    "A recriação vai utilizar pólvora, quer para as armas ligeiras quer para as pesadas, um certo tipo de pólvora adequado ao que se pretende fazer. Mas, num cenário em que chova todo o dia, é impossível fazer-se", afirma o responsável, salientando que com humidade a pólvora não deflagra.  

 

    Carlos Teixeira confia, porém, que surjam abertas, nomeadamente com algum sol, como tem sucedido nos últimos dias e afiançam as previsões de satélite das organizações meteorológicas americanas, que permitam avançar com o programa delineado.  

 

    "O problema é quando cai chuva pesada, nem que seja por um minuto ou dois. Basta cair uma pinga sobre a pedreneira que já não faz faísca. Se a pedra estiver húmida, ao bater não faz chispa e não explode", assegura.

 

    "[A recriação histórica] é um excelente instrumento pedagógico e científico e que só daqui a 100 anos é que tem lógica  voltar a fazer", salienta Carlos Teixeira, admitindo que serão as condições atmosféricas a definir o maior ou menor sucesso do acontecimento, para o qual se aguarda uma grande afluência de público.  

 

    O programa de comemoração do bicentenário da Defesa da Ponte de Amarante, que incluirá muitos efeitos pirotécnicos, sobretudo à noite, compreende uma sessão solene às 15:00, presidida pelo general Ramalho Eanes e com a presença do Chefe do Estado-Maior do Exército.  

 

    Durante a tarde será realizada a recriação da chegada dos franceses à cidade, na zona de Santa Luzia e tendo como palco principal uma ruína dessa época, o Solar dos Magalhães.  

 

    " noite, será recriado o episódio da defesa da ponte, com as paliçadas e a progressão das tropas francesas, a conquista das casas e do mosteiro de S. Gonçalo, terminando no assalto final.  

 

    Os figurantes, cerca de 160 com fardamentos e armamento da época, são elementos do grupo de recriação histórica do Município de Almeida.  

 

    O percurso das tropas e os principais episódios de combate serão objecto de alocuções sonoras explicativas dos factos, de modo a permitir ao público seguir o desenrolar dos acontecimentos vividos há 200 anos.  

 

    O trânsito será fechado em quase todo o centro da cidade durante o sábado e a manhã de domingo, tendo sido disponibilizados gratuitamente todos os parques de estacionamento em redor dos acontecimentos.  

 

    Os locais de assistência para o público estão assinalados pela organização.

 
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

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TOMSK

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« Responder #110 em: Abril 28, 2009, 11:17:21 am »
Anglo-lusos eram melhores atiradores  



Expresso
10:34 Quinta-feira, 15 de Maio de 2008  
José Ventura

Se as armas e equipamentos eram semelhantes, por que razão os exércitos que defenderam Portugal entre 1808 e 1814 acabaram por sair vencedores?

Olhando para os armamentos, tanto ligeiros como pesados, utilizados pelos dois exércitos na Guerra Peninsular não se descortinam diferenças de maior. Então, como se explica que armas e equipamentos semelhantes se revelassem mais eficazes nas mãos dos britânicos e seus aliados portugueses? A resposta foi dada por Sanches Baena, investigador do Centro de História da Universidade de Lisboa, na 7ª sessão do Curso Livre de História Militar. É tudo uma questão de treino, disciplina de fogo e pontaria.

Os mosquetes de pederneira, usados desde o séc. XVIII até à Guerra Civil norte-americana (1861-65), eram pouco precisos, não permitiam pontaria a mais de 70 metros e, sobretudo, o seu carregamento era lento e complicado. Entre deitar pólvora na caçoleta, armar o cão, introduzir o projéctil e a pólvora no cano e calcar com a vareta, passava-se quase um minuto até o soldado poder voltar a disparar. Isto se na pólvora não estivesse húmida, a pederneira desse faísca e ... o inimigo não se tivesse, entretanto, aproximado. Fora as vezes em que, com os nervos, o atirador carregava duas e três vezes seguidas o mosquete ou se esquecia de tirar a vareta do cano, o que originava, quase sempre, explosões fatais aquando do disparo. O que também acontecia nas situações de combate próximo, quando alguém apanhava uma espingarda do chão, deixada por amigo ou inimigo, e, por via das dúvidas a carregava...

Nestas condições, mesmo um soldado veterano, dificilmente conseguiria disparar mais de dois tiros por minuto, no máximo três. Ao contrário dos outros exércitos da época, os britânicos treinavam com munição real e faziam-no vezes sem conta, até todos os movimentos do atirador estarem automatizados. Tudo isto obedecendo a vozes de comando e disparando de forma coordenada com os seus camaradas. Desta forma os ingleses combatiam sempre em duas linhas de atiradores que disparavam por companhias e meias companhias e por salvas. Quando uns acabavam de disparar, já os outros tinham carregado e estavam prontos a fazer fogo e assim sucessivamente. Como explicou Sanches Baena, especialista em armamento, "o fogo era contínuo, sem intervalos e extremamente devastador".

Foi esta superior disciplina de fogo que se revelou fatal para as tropas de Napoleão em momentos decisivos da Guerra Peninsular, como nas Batalhas da Roliça e Vimeiro (Agosto de 1808) ou do Buçaco (Setembro de 1810). Mas a verdade é que no caos em que se convertia o campo de batalha de princípios do séc. XIX, com o fumo da pólvora negra a tapar a visibilidade, os canhões a troar e as balas a caírem por todo o lado, "o soldado de infantaria, muitas vezes não tinha possibilidade de disparar mais que um tiro. O confronto com o inimigo acaba por ser à baioneta ou à coronhada". O conferencista citou o relatório de um médico militar após a batalha do Buçaco que referia ter tratado 12 feridos por bala, 28 por golpes de baioneta... e 220 com traumatismos resultantes de coronhadas. "Bem dizia Napoleão que a verdadeira arma do soldado de infantaria era a baioneta..."

A passagem de algumas cenas do filme "O Patriota" ilustrou as amargas lições aprendidas pelos britânicos na guerra de independência norte-americana. Em vez de travarem batalhas em campo aberto, envolvendo formações geométricas, tiveram de enfrentar colonos motivados a bater-se por uma terra e um ideal, conhecedores do terreno e guerrilheiros exímios. E usando, em vez dos mosquetes de grande calibre, carabinas, derivadas das armas de caça, de cano estriado e devastadora precisão. Isto levou a que os exércitos que Wellington comandou em Portugal tivessem, a apoiar as grandes formações de linha equipadas com mosquetes, tropas ligeiras armadas com carabinas de cano estriado. A maior lentidão do carregamento era compensada pela precisão do tiro, dirigido contra alvos selectivos no dispositivo inimigo: oficiais, artilheiros, guardas-avançadas, etc. A carabina Baker era a arma habitual da infantaria ligeira britânica, da qual vieram, para Portugal, entre 1808 e 1814, 2.300 exemplares para equipar os regimentos portugueses congéneres, os Caçadores. Foi uma arma destas que atingiu o general francês Junot em 1811, perto de Rio Maior, causando-lhe um ferimento da cabeça que o viria a fazer perder a razão.

No meio de tudo isto, os portugueses fizeram valer a sua proverbial capacidade de improviso, adaptando o armamento recebido dos britânicos. As espadas de cavalaria, modelo 1798, perderam uma das guardas para não estorvarem o manejo e passaram a ter a ponta afiada em bico, para não resvalarem em pontos mais duros do equipamento do adversário (medalhas, botões, etc). E, como os atiradores portugueses eram, por regra, mais baixos que os seus camaradas britânicos, tinham problemas a disparar eficazmente os mosquetes Brown Bess que eram quase da sua altura. Era uma arma desequilibrada que, ao fim de algum tempo, devido ao cansaço causado nos braços, tendia a ficar apontada par baixo. O esforço de correcção, levava os soldados a fazer pontarias demasiado altas, por sua vez "corrigidas pelos oficiais que, punham as espadas sobre os canos para não os deixar subir demais".
 

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rpedrot

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musicas marchas no exercito
« Responder #111 em: Maio 05, 2009, 12:54:27 pm »
"Quanto aos toques, realmente existem que eu conheço e possuo as partituras para Infantaria e Cavalaria. Contudo muitas vezes utilizavam-se os britânicos, quando havia tropas combinadas o que era quase geral, marchas militares é que já não é fácil encontrar, do século XVIII tenho, mas é natural que utilizassem essas e outras compostas por Marcos Portugal, desse compositor conheço uma, composta no Rio de Janeiro. "

gostava que elucidassem sobre este ponto: ao que sei marcos portugal fez algumas músicas/colaborou com os franceses da primeira invasão e terá caído em desgraça. foi para o brasil onde morreu na indigência.

e tocavam marchas dele no exército?
"Se se observar sempre uma mesma coisa, não é possível vê-la" Antonio Porchia
 

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Granadeiro

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« Responder #112 em: Maio 11, 2009, 02:32:18 pm »
Para quem não assistui este fim de semana à recriação da reconquista do Porto fica aqui algumas fotos que encontrei:

http://www.flickr.com/photos/insanofoto/sets/72157617874894441/

http://www.flickr.com/photos/11257022@N05/sets/72157617818265925/
 

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TOMSK

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« Responder #113 em: Maio 25, 2009, 07:50:52 pm »
Encontrei isto cá em casa:



 

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Granadeiro

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« Responder #114 em: Maio 27, 2009, 02:24:15 pm »
Tinhas esta gravura?  :shock:  :shock:

Uma das mais fieis que vi até agora, embora o forro devia ser vermelho para ser o RI8.

Segundo o plano de uniformes esta imagem pertence ao RI 7.

Pena que não se consiga ver a mochila, ainda não se sabe bem como era a mochila portuguesa.
 

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Olhadura

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Re: AS GUERRAS NAPOLEÓNICAS NA PENÍNSULA IBÉRICA
« Responder #115 em: Outubro 22, 2009, 07:59:11 am »
Encontro-me a ler algumas obras sobre a assim chamada primeira invasão francesa, e tenho algumas dúvidas em relação a certos termos.
Alguém sabe explicar a um leigo da linguagem militar a diferença entre ordenanças (pelo que percebi havia ordenanças a cavalo), milícias, tropas regulares, veteranos e paisanos?

Outra pergunta: Alguém me sabe confirmar se os pescadores algarvios estavam dispensados de cumprirem o serviço militar na época das invasões francesas? Encontrei esta informação num estudo do final do séc. XVIII sobre a decadência das pescas em Portugal (http://books.google.com/books?id=0-QAAAAAYAAJ&pg=PA313&dq=MEM%C3%93RIA+Sobre+a+decadencia+das+Pescarias+de+Portuga&lr=&as_brr=3&hl=pt-PT#v=onepage&q=&f=false). Segundo diz o autor, exclusivamente acerca do Algarve, "todos os Pilotos, Mestres, Arrais, Marinheiros, Pescadores, Mareantes, Calafates, Carpinteiros, etc, são escusos de todo o serviço do mar e terra".
Nas outras províncias isto não se passava, e acerca do Minho chega o autor a dizer: "O Augustíssimo Príncipe Nosso Senhor [futuro D. João VI] adiantaria[=desenvolveria] muito a pescaria da província do Minho, se fosse servido mandar que a ela se estendesse o mesmo privilégio que têm os do Algarve de não serem recrutados para as suas tropas". E explicava o porquê: "O pescador, que ordinariamente é um  mau soldado, pode ser um hábil marinheiro e um bom piloto da costa, e ainda mesmo exercitando o seu ofício não é menos útil ao Estado do que o soldado com as armas na mão".

O autor daquelas linhas passou em Olhão em 1790, e fez então as suas conclusões. Mas os pescadores olhanenses mostrariam que eram bons soldados (ainda que não tivesse cumprido serviço militar), senão vejamos: revoltaram-se contra os franceses entre os dias 16-19 de Junho de 1808, dando-lhes luta tanto no mar como na terra, fazendo quase uma centena de prisioneiros, pondo em fuga muitos, matando alguns outros, e obrigando mesmo os franceses a tomarem medidas preventivas de chamarem mais tropas e até de quererem acordar umas tréguas com os olhanenses (nem que fosse uma mera estratégia para ganhar tempo de chegarem os novos reforços, veja-se ao que se humilharam os franceses)... E isto para não falar no resto, pois foram também pescadores olhanenses que decidiram rumar ao Brasil numa pequena embarcação e que, assim, foram os primeiros a contar ao príncipe regente, em primeira mão, as suas façanhas, ao ponto do monarca elevar o lugar de Olhão a vila (dizendo no alvará que foi aí que se verificou o primeiro exemplo da luta contra o jugo francês), dando ainda medalhas e outras benesses e promoções a muitos olhanenses.  
Infelizmente estes episódios acabam por passar despercebidos numa história que privilegia vitórias como a Roliça, Vimieiro, Bucaço, Linhas de Torres, exército inglês (quando este era composto por muitos portugueses), Wellington e Beresford, etc, etc...
Quem quiser saber um pouco mais acerca do que se passou em Olhão há 201 anos, pode fazê-lo em http://www.olhao.web.pt/Comemoracao200anos.htm

Edgar
 

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ShadIntel

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Re: AS GUERRAS NAPOLEÓNICAS NA PENÍNSULA IBÉRICA
« Responder #116 em: Novembro 17, 2009, 10:26:00 am »
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Bicentenário das Linhas de Torres começa a ser celebrado em Sobral de Monte Agraço

As comemorações oficiais do bicentenário das Linhas de Torres, estrutura defensiva constituída por 177 fortes e redutos que impediu as tropas francesas de Napoleão Bonaparte de invadirem Lisboa em 1811, arrancam, na próxima quinta-feira, em Sobral de Monte Agraço. As cerimónias, que serão presididas pelo presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, incluem uma sessão evocativa do início da construção das Linhas de Torres, uma conferência sobre a importância desta estrutura defensiva e a apresentação do programa da Plataforma Intermunicipal das Linhas de Torres.

Liderado pelo marechal inglês Wellington, quando já se desenhava uma nova invasão francesa do território português, o processo de construção das Linhas de Torres iniciou-se em Novembro de 1809 e ficou concluído cerca de 10 meses depois. Erguida em "segredo", esta rede de fortes, redutos e baterias estendia-se por duas linhas principais compreendidas entre a zona do Tejo (Alhandra) e a costa atlântica e incluía duas linhas mais pequenas nas zonas de Oeiras e Almada. "Estrategicamente localizadas no alto das colinas, reforçando os obstáculos naturais do terreno", estas fortificações "controlavam os acessos principais para a capital" e as Linhas de Torres são referidas por muitos especialistas como "um dos mais eficientes sistemas de fortificação no campo da história militar".

Certo é que, logo em 1811, as Linhas de Torres tiveram um papel decisivo. Contando com o empenho das populações - que sacrificaram os seus bens para que o exército napoleónico não tivesse condições para se fixar - e com o desconhecimento pelos franceses da existência desta barreira defensiva, as tropas anglo-portuguesas conseguiram travar a sua progressão e obrigaram o invasor a retroceder.

As cerimónias de quinta-feira são organizadas pela PILT e pelo Exército português e realizam-se num pequeno município do coração do distrito de Lisboa onde se situam importantes vestígios das Linhas de Torres, como o forte de Alqueidão e a quinta onde Wellington estabeleceu o seu quartel-general. Incluem uma recepção com guarda de honra a Jaime Gama na Praça do Município, uma cerimónia em honra dos que tombaram no campo de batalha e o descerramento de uma placa evocativa do início da construção dos fortes e redutos das Linhas de Torres.

No cine-teatro de Sobral de Monte Agraço realiza-se a sessão solene evocativa, que inclui intervenções da câmara local sobre os projectos da Plataforma Intermunicipal das Linhas de Torres, uma conferência sobre "As Linhas de Defesa a Norte de Lisboa durante a Guerra Peninsular" e alocuções de Jaime Gama e do chefe de Estado-Maior do Exército.

No quadro dos projectos que a PILT pretende levar a cabo deverá ser criada uma rota histórica, que deverá ficar concluída no final do próximo ano e que pretende vir a atrair turistas e estudiosos britânicos, franceses e espanhóis, atendendo ao envolvimento que estes povos tiveram na Guerra Peninsular.
Público
 

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Miguel Silva Machado

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Re: AS GUERRAS NAPOLEÓNICAS NA PENÍNSULA IBÉRICA
« Responder #117 em: Dezembro 15, 2009, 05:16:54 pm »
O “Operacional” junta-se às comemorações e apresenta hoje a exposição “Guerra Peninsular 1810-1814″ patente no Museu Municipal Leonel Trindade em Torres Vedras. Foi inaugurada no passado dia 11 de Novembro pelo Presidente da República e estará exposta até 2010 e 2012.

http://www.operacional.pt/guerra-penins ... os-depois/

Miguel Silva Machado
http://www.operacional.pt/
 

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Lusitano89

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Re: AS GUERRAS NAPOLEÓNICAS NA PENÍNSULA IBÉRICA
« Responder #118 em: Janeiro 18, 2010, 11:50:35 pm »
Linhas de Torres: Lordes britânicos querem angariar dinheiro na recuperação dos fortes


Um grupo de deputados e lordes britânicos prometeu hoje juntar esforços para ajudar a recuperar as construções militares das Linhas de Torres Vedras, cuja eficácia, alegaram, poderá ter salvo o Reino Unido de Napoleão.

Ajuda técnica e angariação de fundos junto de entidades britânicas foram algumas das formas de auxílio discutidas hoje na Câmara dos Lordes, numa cerimónia promovida por Lorde Roper, onde foi lançado o grupo de Amigos das Linhas de Torres Vedras.

Linhas de Torres Vedras foi o nome dado ao sistema defensivo do qual fazem parte os 152 fortes que há 200 anos permitiram defender a cidade de Lisboa das tropas francesas de Napoleão pelo exército luso-britânico comandado pelo General Wellesley (futuro Duke de Wellington) e que se encontram espalhados por diversos concelhos, de Torres Vedras a Loures e Vila Franca de Xira.

A ideia de promover o bicentenário e a conservação dos fortes surgiu após uma visita de vários parlamentares britânicos a Portugal em Julho, durante a qual observaram os trabalhos de recuperação.

“Por enquanto, é uma minoria de entusiastas”, admitiu à agência Lusa o deputado conservador Tim Boswell, que irá, após abandonar a Câmara dos Comuns nas próximas eleições legislativas, dedicar-se a dinamizar o grupo.

As obras de reabilitação já receberam a doação de 1,5 milhões de euros da Noruega, Islândia e Liechenstein e 500 mil euros do governo português.

Mas o historiador e coronel (aposentado) Gerald Napier incitou os deputados e lordes a convencerem as autoridades britânicas a contribuir para “algo que foi tão importante para o Reino Unido”.

“O Reino Unido beneficiou da criação das Linhas e da derrota dos franceses”, enfatizou.

O sistema defensivo criado pelos ingleses e portugueses, sublinhou, ajudou na capitulação das invasões francesas e na subsequente derrota de Napoleão.

Além do lançamento do grupo de amigos das Linhas de Torres, deu entrada hoje, pela mão do deputado trabalhista Andrew Dismore, uma moção a pedir maior atenção do governo para o aniversário da Guerra Peninsular.

Presente na cerimónia, o presidente da Assembleia da República (AR) portuguesa, Jaime Gama, manifestou o desejo de que esta iniciativa “seja um contributo útil à participação internacional em todos os trabalhos que estão a ser feitos em Portugal para preservar o património histórico”.

Jaime Gama esteve acompanhado pelos deputados José Ribeiro e Castro (CDS/PP) e José Luís Arnaut (PSD), presidentes, respectivamente, da comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas e da comissão parlamentar da Defesa.

Durante o dia, o presidente da AR encontrou-se com os seus homólogos da Câmara dos Comuns, John Bercow, e da Câmara dos Lordes, Baronesa Hayman.

Questionado sobre a disponibilidade manifestada na sexta-feira por Manuel Alegre para candidatar-se pela segunda vez à presidência da República, Jaime Gama, cuja candidatura foi sugerida por alguns socialistas, recusou comentar.

Ionline
 

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Re: AS GUERRAS NAPOLEÓNICAS NA PENÍNSULA IBÉRICA
« Responder #119 em: Fevereiro 06, 2010, 08:48:23 pm »
LINHAS DE TORRES

documentário de Nunes Forte sobre as "Linhas de Torres". Depoimentos do Prof. Veríssimo Serrão, Generais Themudo Barata e Sousa Lucena, Ten. Coronel Pena e Major Fernandes Henriques. Recriações históricas pelo Regimento de Infantaria I e Museu Militar. Mais informações em http://TVPinheiro-noticias.blogspot.com



Ensinam estas Quinas que aqui vês,
Que o mar com fim será grego e romano:
O mar sem fim é português
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.