A "outra" descolonização exemplar

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Carlos Rendel

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A "outra" descolonização exemplar
« em: Janeiro 27, 2014, 09:32:02 pm »
A descolonização de África por parte de potências europeias a partir dos anos cinquenta,foi,afinal,um processo difícil,designadamente  para o colonizador,

embora de relance não seja de imediato perceptível.A França,o Reino Unido e Portugal passaram por traumas e alterações políticas imprevistas que

afectaram  fortemente a sociedade em que viviam.

Exemplo curioso é o da Espanha em que tudo se passou no melhor dos mundos,dado que a Guiné espanhola  e Madrid acordaram fácilmente na transição

e os guineenses foram  preparar-se à nação colonizadora,estagiando em Institutos e empresas privadas a fim de exercerem a liderança técnica e política

 novo  Estado.Aliás refira-se  que a Guiné ex-espanhola era dos países  com melhor nível de vida  em toda a África ,sendo no Continente  um exemplo de

gestão pacífica. A Ilha de Fernando Pó faria parte do novo país,embora os autóctones ,por maioria,regeitassem a integração  na Guiné ex-espanhola.

Já em liberdade,a nova Guiné travou uma campanha eleitoral  dominada por um demagogo populista de seu nome Macías que revoltou a população contra

os técnicos e políticos formados em Espanha,enquanto afundava o país na pobreza  em nome do marxismo.Sob o olhar cobiçoso de Marrocos,único amigo

dos Estados Unidos no Magreb. Caído o Sara nas mãos da Polisário orientada pela FNLA e com o apoio indirecto da URSS e satélites, ficou o reino marro-

quino reduzido a uma ilha rodeada pelo mar sarauí. Os americanos  detestaram a solução que desequilibrava  o "stato quo" regional e,em Outubro o Rei

Hassan divulgou a Marcha Verde pacífica que levou milhares de marroquinos a violar a fronteira e a deitar gasolina no fogo. Juan Carlos I foi a Rabat

falar com o Rei,reiterando o seu compromisso com a paz.Pouco depois era anunciado o Acordo de Madrid que contentava tudo e todos,excepto os  prin-

cipais visados. Pelo acordo a Espanha cedia a Marrocos  2/3  da área da Guiné e à Mauritânia uma terça parte. Houve de imediato uma repressão  sel-

vagem sobre os sarauís por parte de Marrocos. O que se pode dizer é que o Sara ex-espanhol passou das mãos de uma potência hostil para outra  pro-

-ocidental. Para Marrocos foi o chamado tiro no pé,pois por longos anos  se arrastou  uma guerra de guerrilha com perda de vidas e bens de parte a par-

te com a  almejada reconstrução adiada.

Parece que ninguém aprendeu nada com a conferência de Berlin (1844) em que a régua e esquadro dividiram as colónias sem outro critério  que não

fosse o apetite voraz das grandes potências.Portugal,sem voz activa contentou-se com  o que tinha, mais uns restos do repasto.
CR