"Assalto ao BES
"Disseram que me iam cortar a cabeça e mostrar à polícia"
por FILIPA AMBRÓSIO DE SOUSAHoje
A segunda sessão do julgamento de Wellington Nazaré, o assaltante do BES de Campolide que sobreviveu, foi marcado pelo testemunho do subgerente que pediu que o arguido não estivesse presente na sala.
"Disseram que me iam cortar a cabeça e que a punham à porta do banco para a polícia, lá fora, ver". A frase é de Vasco Mendes, subgerente da dependência do BES de Campolide, que, em Agosto passado, foi palco de um assalto seguido de sequestro que resultou na morte de um dos dois criminosos.
Ontem, no Tribunal da Boa Hora, em Lisboa, decorreu a segunda sessão de julgamento de Wellington Nazaré, o assaltante sobrevivente, acusado de roubo de forma tentada, sequestro e detenção de arma proibida. "Vamos ter de matar alguém!", disse o arguido, segundo o testemunho do refém. Tal como acontecera na sessão anterior - que contou com o testemunho de Ana Antunes, também gerente do banco - Vasco Mendes, que foi constituído assistente no processo, preferiu falar sem a presença do arguido na sala de audiência.
O refém, que esteve oito horas sequestrado na dependência bancária, com mais cinco pessoas, contou ainda que os assaltantes estavam bem preparados , sabiam ao que iam e estavam em "total sintonia um com o outro".
Wellington Nazaré foi o único assaltante que sobreviveu à intervenção das forças especiais da PSP. Nilson Sousa morreu no local, atingido pelo disparo de um sniper, Wellington foi alvejado na cara mas sobreviveu aos ferimentos, após internamento hospitalar em São José, onde foi submetido a várias cirurgias de reconstrução facial.
Durante mais de uma hora os três juízes e os oito jurados (ver caixa) ouviram o testemunho do homem que ainda hoje assume que fica assustado quando vê dois homens entrarem na agência e que, durante mais de seis meses, teve acompanhamento psiquiátrico. Este refém e Ana Antunes pediram ambos uma indemnização cível, apensa ao processo, pelos danos físicos e psicológicos causados durante o assalto.
"Vamos morrer todos", dizia o arguido durante as oito horas do sequestro, segundo Vasco Mendes. Mas, ao mesmo tempo, "estavam muito agitados e diziam que queriam sair dali com vida". No final do dia, quando já só estavam os dois reféns - os dois gerentes da dependência bancária - e os restantes quatro, entretanto já libertos, o arguido ameaçava: "assim vão ter de vir quatro caixões para aqui". A audiência de ontem contou ainda com o testemunho do refém, Pedro Figueiredo, que contou que a frase "eu rebento com a tua cabeça" era a mais ouvida ao longo do dia e ainda com o primo do arguido, Rodrigo Nazaré.
O advogado do arguido, João Martins Leitão, já fez saber que vai pedir a reconstituição do crime no local. A próxima sessão está marcada para terça-feira"
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