Otelo e a descolonização

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emarques

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Otelo e a descolonização
« em: Abril 26, 2004, 08:17:22 pm »
Já que comprei a Visão de 22 de Abril, decidi lê-la. :D

E na entrevista com Otelo Saraiva de Carvalho, ele fez uns comentários sobre o processo de descolonização que considero interessantes.

Citar
V: Qual a sua intervenção, e do MFA, no processo de descolonização?
OSC: A nossa intervenção, que não estava programada, foi decisiva. No meu caso, na véspera da partida de Mário Soares (...) para o primeiro encontro com a Frelimo, (...) o Spínola chamou-me e mandou-me ir com ele, como elemento qualificado do MFA.

(...)

V: Qual era a missão de Mário Soares?
OSC: Não regressar sem a garantia de um cessar-fogo. (...) Só que o Samora disse mais ou menos isto: "Cessar-fogo sim senhor. Mas temos de ter garantias de que reconhecem a Frelimo como único representante do povo de Moçambique em armas, (...) Senão, estamos dispostos a continuar a guerra, pois temos os nossos guerrilheiros no terreno, enquanto as tropas portuguesas já estão a abandoná-lo, pois os soldados não querem combater mais." (...)

V: E o que sucedeu?
OSC: Mário Soares só estava mandatado para obter o cessar-fogo, não podia assumir outra posição. Então eu pedi para intervir. E disse que representava ali também o MFA (...) e se estivesse do outro lado da mesa teria a mesma posição, dando assim razão às pretensões da Frelimo. (...)

(...)

V: Mário Soares e Almeida Santos têm afirmado que no processo de descolonização o poder decisório fundamental não foi deles.
OSC: O que é inteiramente verdade.


Um mandatário com poderes demasiado limitados, um tipo um pouco franco demais para diplomata, e está lançado o processo de descolonização...

Comentários?
Ai que eco que há aqui!
Que eco é?
É o eco que há cá.
Há cá eco, é?!
Há cá eco, há.
 

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Luso

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« Responder #1 em: Abril 26, 2004, 08:57:04 pm »
E moles, muito moles.
E de boas intenções anda o inferno cheio.
A História saberá reconhecer o verdadeiro calibre dos seus intervenientes, quando a poeira pairar e as paixões morrerem.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Spectral

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« Responder #2 em: Abril 26, 2004, 09:15:27 pm »
Gostei foi das declarações de um membro do governo regional da Madeira, segundo o qual o Otelo era um "spinolista ferrenho"  :D , mas ainda não vi o cd. E ouvi dizer que o jogo está muito fraco  :evil:
I hope that you accept Nature as It is - absurd.

R.P. Feynman
 

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emarques

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« Responder #3 em: Abril 26, 2004, 10:28:24 pm »
Já não tinham quando comprei a revista, ficaram de encomendar...
Ai que eco que há aqui!
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Há cá eco, é?!
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dremanu

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« Responder #4 em: Abril 27, 2004, 12:48:15 am »
A descolonização foi um desastre, mas que se poderia esperar? Todo o clima de instabiliade política, toda a mudança que o país sofreu de uma forma repentina, só poderia dar no que deu.

Só lamento que mal se reconheça, e se minimize o esforço feito pelos militares Portuguêses durante toda a guerra do ultramar. Acho um ultraje à memória de todos os que morreram ao serviço da pátria, e a todos os que de lá voltaram deficientes.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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Rui Elias

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« Responder #5 em: Maio 07, 2004, 01:51:25 pm »
DREMANU:

Agora é que disse uma grande verdade.

Dadas as condições militares e políticas no Portugal pós 25 de Abril, não havia condições mínimas para manter o status quo nas colónias por mais anos, de modo a preparar uma transição mais pacífica e calma, nem Portugal estava de facto em condições de negociar numa posição de força perante as guerrilhas.

Não esqueça que o PAIGC, a FRELIMO e o MPLA já tinham sido recebidos pelo Papa no tempo do Marcelo Caetano e esses movimentos recebiam apoios do estrangeiro (e  não só da URSS).

Por isso Portugal estava numa posição de fraqueza.

A responsabilidade por isso foi do Estado Novo e dos seus dirigentes, que após o fim da II Guerra Mundial não foram capazes de saber ler os novos ventos da história, nem quando assistiram às descolonizações que Inglaterra e França efectuaram em África.

Continuaram a acreditar na quimera romântica de um Portugal uno e indivisível, do Minho a Timor.
 

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JNSA

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« Responder #6 em: Maio 07, 2004, 04:02:45 pm »
Dremanu e Rui, estou de acordo com vocês - um problema recorrente quando se fala da descolonização é que se tenta mandar sempre as culpas para os líderes políticos do pós 25 de Abril, esquecendo convenientemente que quem deu azo à guerra colonial foi o regime deposto...  :?

Os nosso soldados fizeram o que puderam, e criaram escola na luta de contra-guerrilha, mas a solução tinha sempre que ser política - não se pode lutar contra a maré da história.

Com isto não quero dizer que a descolonização foi boa, mas, tendo em conta a conjuntura, foi a descolonização possível...