Comando da NATO em Oeiras, que futuro?

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FoxTroop

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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #45 em: Novembro 30, 2010, 09:46:15 pm »
Caro João,

A guerra pode ser ganha. Basta querer e estar disposto a pagar o preço que ela vai cobrar. Agora que haja alguém com capacidade de decisão politica para assumir isso, dúvido.
 

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Jorge Pereira

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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #46 em: Dezembro 03, 2010, 11:25:03 pm »
Citação de: "João Vaz"
Entendo perfeitamente a sua correcção política.
Sabe-nos bem seguir a linha de pensamento da tal “potência dominante”.

Nada disso, caro João Vaz. Chamo a isto realismo pragmático e interesses comuns.

Citação de: "João Vaz"
Segundo essa lógica da batata, então o Afeganistão “pacificado” (algo em si mesmo inatingível) iria, por si só, garantir a tranquilidade ao Ocidente. Se bem me recordo, esse foi o argumento para a “libertação” do Iraque...

O problema é que o Paquistão, por exemplo (autêntico problema) ficou “esquecido” e permaneceu fora da equação.

O Paquistão é de facto um enorme problema para o ocidente. Mas apesar de alguma presumível colaboração entre alguns sectores do governo e os grupos extremistas, o Paquistão é um Estado relativamente forte onde os grupos extremistas são oficialmente combatidos e perseguidos e onde estes não gozam de total liberdade de acção.

Citação de: "João Vaz"
Ou seja, a eliminição da mortalidade por bombistas suicidas no Ocidente foi “contra-balançada” pelo aumento de soldados mortos no Afeganistão. O que equivale a dizer que os ocidentais continuam a morrer, cada vez mais, só que na Ásia. E armados. É óbvio que se trata de um preço incomportável.


Uma das características e grandeza da condição militar é precisamente lutar e arriscar a vida a fim de proteger o seu país e compatriotas. Estão armados, treinados e têm as condições mínimas para tentar aniquilar e afastar o mais possível o terror dos seus respectivos países. É precisamente isso que está a acontecer. Ou é preferível esperar sentado que essas baixas sejam de civis desarmados e indefesos da Europa, Estados Unidos ou de outra região ou país que seja alvo potencial desses grupos terroristas?

Citar
Se as acções terroristas necessitassem de uma estrutura de treino fixa (de um campo à moda antiga), seria o equivalente a um Centro de Formação e Emprego. Coisa que, obviamente, não funciona assim. Os malucos das máquinas voadoras do 11 de Setembro tiraram o brevet nos EUA e estudaram em faculdades alemãs. A questão é mais profunda: esconde-se por entre as franjas das segundas gerações, ou descendentes de emigrantes muçulmanos, residentes no Ocidente.


Acção Cirúrgica

Serão as tropas no terreno e o desmantelamento dos campos de treino suficientes para impedir ataques terroristas? Sim, se o Mundo fosse simples e previsível.

Esqueceu-se dos ataques de Mumbai (Índia), por exemplo. Não se iluda. A iniciativa bombástica contra o Ocidente não desapareceu. O objectivo permanece o mesmo: desestabilização social, provocar impacto nas populações e constranger os governos, pressionando-os através do medo com perigos imprevisíveis por autores anónimos.

A questão das lancheiras e os manuais escolares providenciados nos cursos intensivos de terrorismo serem mais ou menos caras não me parece argumento viável. A lavagem de dinheiro e as novas tecnologias asseguram às novas gerações de “would-be” terroristas a agilidade necessária para viajarem e viverem no Ocidente. Simplesmente, os serviços de informações e a sua coordenação global têm impedido os estágios finais desses malandros.

Acontece que os manuais de informações subversivos e os disseminadores do fundamentalismo islâmico já se encontram na Europa há mais de uma década. Compreensível, pois o terrorismo é hoje global e, assim, uma das suas características é a desterritorialização numa rede dispersa. Isto é básico.

Acaso foi nas grutas de Tora Bora que os terroristas do 9/11 obtiveram o seu brevet?
Ou as suas licenciaturas?
E os bombistas de Londres? Estudavam em que província afegã? Ou melhor, em que cidade inglesa?
E já agora, quem controla as províncias de Kandahar e Helmand?
Qual a liberdade de movimentos do pobre presidente Karzai?

Onde está a prometida estabilização do Afeganistão?
O que tem sido feito quanto aos extremistas islâmicos no Paquistão (para além de uns quantos ataques de drones)?

A resistência / “insurgência” sempre existiu na região, contra os Russos no Afeganistão, contra os Indianos em Cachemira, etc., apoiados e baseados no Paquistão pelo próprio Estado e financiado por outros, à socapa (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos). Hoje em dia, a tonelada de papoilas por metro quadrado representa uma segurança valiosa para o financiamento dos Talibans, investido em lavagem ao cérebro produto dos seminários religiosos Paquistaneses.

Na verdade, o que se vê é o reforço da base ideológica dos Islamistas. Nisto foram especialmente ajudados com a estipulação de um prazo para o final da “guerra contra o terror”em 2014, algo inédito na História militar.

Enquanto isso, os principais sucessos são obtidos com aqueles aviõezinhos não tripulados tão eficazes, sobre os céus do Iémen, do Afeganistão e, claro, do Paquistão.


Diagnóstico do Mal

Onde se encontra hoje em dia a justificação para o pseudo-argumento de eliminação de “bases terroristas”?

A questão principal prende-se com as facilidades ou «profundidade estratégica» se quiser, que um país ou território onde o Estado não exista, seja cúmplice ou colabore com os grupos terroristas, dá a esses mesmos grupos terroristas, mas sobretudo, aos seus líderes e “pensadores”.

No mundo moderno, numa sociedade tecnologicamente moderna, é muito difícil conseguir montar uma estrutura necessariamente “pesada” e muito bem organizada, que idealize, recrute, planifique e obtenha os meios necessários para lançar um grande ataque nos países ocidentais.

O controlo electrónico asfixiante, os serviços de inteligência, as forças especializadas no combate ao terrorismo e até a simples consciência cívica dos cidadãos comuns, torna essa tarefa muito complicada.

Precisamente por isso, o Afeganistão era importante para a al-qaeda. Tinham um vasto território, remoto, de difícil acesso que conheciam na perfeição, tecnologicamente na idade média, com uma população analfabeta, reprimida e quase isolada do ocidente. Ainda por cima, tinham também um exército (taliban) que lhes brindava a protecção. Não faltava nada! Não é por acaso que já antes se tinham instalado no Sudão, passaram para o Afeganistão, e agora parece terem escolhido o Iémen.

A protecção das suas lideranças também é um factor fundamental. Ao contrário do que muita gente pensa, estes movimentos são altamente dependentes dos seus líderes e “pensadores”. Para o pé descalço, é fácil chegar à conclusão que um qualquer camião militar é um bom alvo e relativamente fácil de atingir. Já para pensar politicamente e para escolher valiosos alvos ocidentais, para além de toda a sua complexa planificação, só uns poucos estão habilitados. E são precisamente estes indivíduos que estas organizações tentam proteger a todo custo. É que para além disto tudo, são autênticos guias espirituais, símbolos, que diversos estudos (principalmente israelitas) mostram  que uma vez decapitadas tendem para um terrorismo pouco planificado ou tosco, quando não ficam mesmo desprovidas de efectiva capacidade operacional.

Não é por acaso que os israelitas praticam a eliminação selectiva. Também os norte-americanos o fazem agora regularmente com os meios aéreos não tripulados.

E onde é que estes líderes e respectivas organizações podem ficar em maior segurança? Principalmente em Estados falhados, colaborantes com o terrorismo ou em regiões remotas ou tribais, como acontece em algumas zonas do Paquistão.

É precisamente esta a primeira linha de combate ao fenómeno global do terrorismo, que tem inúmeras vertentes, não só de combate e repressão armada, mas também de aspectos socioculturais e económicos.
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






Cumprimentos
 

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papatango

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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #47 em: Dezembro 04, 2010, 02:40:37 am »
Citar
Entendo perfeitamente a sua correcção política.
Sabe-nos bem seguir a linha de pensamento da tal “potência dominante”.

Mas a autópsia revela outra realidade, menos “dominante”.

Escalpelizemos:
Segundo essa lógica da batata, então o Afeganistão “pacificado” (algo em si mesmo inatingível) iria, por si só, garantir a tranquilidade ao Ocidente. Se bem me recordo, esse foi o argumento para a “libertação” do Iraque...

A paciência que é preciso ter...
Eu não sei se a sua lógica é da batata ou da alface. Provavelmente é a do pepino ou da cenoura, pouco importa porque aliás acho que já tivemos várias amostras da sua lógica e já a conhecemos  :roll:  :roll:  :roll:

Citar
Acaso foi nas grutas de Tora Bora que os terroristas do 9/11 obtiveram o seu brevet?
Ou as suas licenciaturas?
E os bombistas de Londres? Estudavam em que província afegã? Ou melhor, em que cidade inglesa?

A doutrinação e o estabelecimento de contactos foi feita no Afeganistão. Estiveram ali todos os ou quase todos os participantes nos ataques terroristas de 11 de Setembro.
A saída, além de permitir a reinstalação das bases, tornaria a luta ainda mais romântica, pois seria uma vitória para o Islão Jihadista.

O mundo não pode correr o risco de ver isso acontecer. Por alguma razão até os russos pretendem permitir a passagem de meios para o Afeganistão. Os terroristas do 11 de Setembro dirigiam-se à Chechénia para lutar e só depois foram recrutados para o Afeganistão, onde aceitaram a ideia do martírio.

Citar
Mais concretamente, a Operação Enduring Freedom ascende a 336 biliões de dólares, representando um acréscimo de 63% no orçamento do Departamento de Defesa, enquanto os novos efectivos mobilizados representam um aumento de 70%. segundo um rcente relatório do Congresso para análise do financiamento militar do Departamento de Defesa (Setembro de 2010): The Cost of Iraq, Afghanistan, and Other
Global War on Terror Operations Since 9/11 (http://www.fas.org/sgp/crs/natsec/RL33110.pdf), elaborado quando ainda se pensava candidamente no início retirada do Afeganistão em Junho de 2011.

Por favor leia primeiro, mas acima de tudo TENTE PERCEBER o que está escrito.

O que os documentos que refere afirmam é:

«For Afghanistan, the average DoD spending grew from 3,5 billion to 5,7 billion, a 63% change, while troop strength grew by 70%».

O relatório refere-se ao valor mensal afirmando igualmente haver um aumento de 63% nos valores destinados a pagar a criação de novas forças de segurança afegãs.
O valor de 336,000 milhões para o Afeganistão, representa 30% do total das despesas destinadas às várias operações (onde o Iraque leva 67% do total). Não há nenhum aumento de 63% no orçamento de defesa. O que houve foi um aumento de 63% no mês de Junho (de 3500 milhões para 5700 milhões de dólares)
Para 2011 prevê-se um aumento de 35,4% nos custos das operações no Afeganistão, que atingirão 455,000 milhões, passando a representar 35% do total, contra 30% no ano de 2010.

Você dedica-se tanto ao documento propriamente dito, que perde a visão de conjunto, e isso condiciona todas as suas conclusões.
(Admito que como eu já tinha lido o documento, foi-me mais fácil perceber que o seu raciocínio partia de premissas completamente erradas).

Citar
Aliás, Petraeus foi claro: não há solução militar possível no Afeganistão.

Não seja ingénuo meu caro Vaz.
Há sempre uma solução militar para qualquer conflito.
A guerra é a continuação da politica por outros meios, e pode sempre apresentar a solução definitiva.
Não há outra.

O que não parece haver e uma solução politica, porque militar HÁ ! ! !
O problema, é que resolver o problema militarmente, tem custos políticos que ninguém quer assumir.

E esse é o problema
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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João Vaz

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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #48 em: Dezembro 05, 2010, 07:56:59 pm »


Falsa segurança

Também o Vietname do Sul parecia ter "solução" militar e o General Westmoreland, entre outros, conseguiu convencer o Congresso a despejar 206.000 tropas para reforço no terreno (atingindo 650.000 homens em 1969). Penso não ser necessário recordar o que se seguiu...

Começando sinteticamente pelo final do "post" acima: o que o relatório do Congresso norte-americano contabiliza é o aumento crescente da despesa militar no Afeganistão. Esses números confirmam a desproproção dos meios no terreno e a sua obesidade financeira. Basta adicionar a crise em que se encontram as economias do Ocidente e a contínua falta de segurança no terreno de operações para reforçar a evidência e a escala do fracasso da NATO no Afeganistão.

Porque razão o fracasso aconteceu?

Entre outras razões, temos os seguintes ingredientes:

- Já não há guerras como há 60 anos, de contornos facilmente definidos e nas quais ninguém se incomoda muito com os índices de mortalidade no campo de batalha.
- Já não há inimigos como há 60 anos, fáceis de identificar/confrontar/derrotar.
- Já não há economias no Ocidente como há 50, nem 40 anos. O Ocidente conhece actualmente a pior situação dos últimos 80 anos.
- Já não há política como as do pós-guerra. Leiam-se as opiniões de Obama e dos ministros da Defesa / Presidentes da maioria dos Estados europeus, membros da NATO.

O atoleiro tem as suas razões...que o Ocidente (des)conhece

Quanto ao confronto com os mal-afamados Taliban e seus aliados jihadistas de fim de semana, insurgentes, narco-traficantes, e respectivas famílias: todas as tentativas de "reformar" a população afegã rural conservadora e dividida numa dúzia de etnias, e de "estabilizar" nos últimos 200 anos resultaram em mais violência, com a única excepção da década de 1970.

Se, por um lado, os combatentes locais neste contexto tribal não dispõem obviamente da capacidade de derrotar militarmente os exércitos ocidentais, por outro, no cenário da guerra "assimétrica" contemporânea, estes maltrapilhos portadores do Al-Corão de 50 cêntimos beneficiam do próprio terreno, das populações locais e jogam com o tempo a seu favor para incutir algo indiscutivel: a guerrilha não derrotada é... vitoriosa. Ora, na quase-década de intervenção da NATO, os Taliban não cessaram de ampliar a sua influência através do território afegão. Não constitui qualquer surpresa perceber que 9 anos com este tipo de resultados tem apenas uma conclusão: fracasso.

O argumento das bases já se extinguiu há muitos anos. Isso e as tretas infantis dos "nation-buildings" que só engole quem não possui neurónios (ou quem não tem escolha).

Ultimamente, a chefia militar norte-americana tem invocado a estratégia de "hearts and minds" (sob o malogrado McChrystal), invertendo a estratégia de intervenção agressiva aplicada desde o início da ofensiva aliada.

Hoje fala-se em “transferência de poder” para poder agarrar-se a algo que não soe a assunção de fracasso. Trata-se de uma operação de relações públicas, com o embaraço natural de quem não resolveu grande coisa. Enquanto os líderes "insurgentes" se mantiverem longe do alcance das forças ocidentais, e a população ligada directa ou indirectamente ao cultivo/tráfico de ópio/heroína ganhar mais dinheiro ao final do mês do que um soldado afegão, a coisa simplesmente não funciona.

Enquanto a coisa não é resolvida no terreno, tal como apontei anteriormente, a micro-guerra no cenário regional (Operações Especiais e vôos de drones) tem providenciado os melhores resultados, sendo que, no Ocidente a necessária coordenação bem sucedida dos serviços de informações entre Europa e EUA e entre Estados da UE tem prevenido, desde 2005 e até ver, novos atentados. A este nível, as coisas têm realmente corrido pelo melhor e é aí que o investimento se revela produtivo. Já existe tecnologia fiável e uma alta especialização em prática na guerra moderna.

A NATO não incluiu os parceiros “civis” no Novo Conceito Estratégico por inspiração divina: já percebeu que não basta músculo para resolver problemas. E não há bombas que cheguem para pulverizar as cordilheiras montanhosas no Afeganistão.

Resultados?

Do lado dos insurgentes:
Bin Laden, Al-Zawahiri, Mullah Omar a monte…
Um Estado corrupto e ineficaz, frágil.
Desde 2006, recrudescimento do movimento islâmico.

Do lado dos “pacificadores”:
Tropas ocidentais encontram-se confinadas às bases, mais ocupadas em defender-se a si próprias.
Pela primeira vez na História, decretou-se publicamente o prazo para o final da guerra.
O treino das forças de segurança locais permanece um poço sem fundo.



E o que acontece quando a estratégia aliada não funciona?

Negociações directas com os Taliban. É isso que tem vindo a ser prosseguido no terreno (embora discretamente) neste último ano. Karzai, Petraeus e os líderes Taliban à mesa. E muito dinheiro por debaixo da mesma. Talvez agora se entenda inteiramente o absurdo do real valor das baixas em combate actuais, tornadas absolutamente desnecessárias e supérfluas.    

(algo "estranhamente" parecido com a "Peace with Honor" e subsequente abandono do Vietname do Sul em 1973)

Só uns exemplos, para que conste:

http://www.thelocal.de/politics/20101119-31281.html

http://www.telegraph.co.uk/news/uknews/1567309/Stirrup-No-military-solution-in-Afghanistan.html

http://www.defencemanagement.com/news_story.asp?id=14710

http://www.ipinst.org/events/speakers/details/236-un-envoy-no-military-solution-in-afghanistan-and-taliban-knows-it.html

http://patdollard.com/2010/07/there-is-no-military-solution-obama-shifts-afghanistan-strategy-toward-peace-talks-with-taliban/

Como é óbvio, o Paquistão tem responsabilidade no inferno afegão, pois alberga a etnia maioritária Pashtun que constitui a maioria dos Talibans. Recorde-se, ainda nas últimas eleições parlamentares (2007), como a candidata Benazir Bhutto, associada ao Ocidente, foi assassinada.  Sem um compromisso político claro e consistente de Islamabad, a NATO bem pode continuar a somar mortos no terreno e alimentar ilusões de domínio e controlo, mas só se enterra mais no atoleiro.

Enquanto isso, a guerra não se resume ao arcaico conceito de Clausewitz, mas tem raízes simples e fortememente económicas. A indústria de armas e os recursos energéticos são sempre dominantes nas estratégias e fazem, por sua vez, da política uma mera extensão dos seus interesses.  Não há guerras grátis.

Em 20 anos, mesmo com alguma sorte e muita boa vontade, talvez o Afeganistão seja um pouco menos do que a amálgama instável, desesperadamente pobre e desigual, e estupidamente violenta em que consiste há demasiado tempo.
Porém, também pode ser que tenha tido a tal hipótese que durante séculos falhou por se encontrar entalado entre grandes potências regionais e mundiais. Mas não com estas estratégias.
"E se os antigos portugueses, e ainda os modernos, não foram tão pouco afeiçoados à escritura como são, não se perderiam tantas antiguidades entre nós (...), nem houvera tão profundo esquecimento de muitas coisas".
Pero de Magalhães de Gândavo, História da Província Santa Cruz, 1576
 

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papatango

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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #49 em: Dezembro 06, 2010, 03:31:12 pm »
Citar
Falsa segurança

Também o Vietname do Sul parecia ter "solução" militar e o General Westmoreland, entre outros, conseguiu convencer o Congresso a despejar 206.000 tropas para reforço no terreno (atingindo 650.000 homens em 1969). Penso não ser necessário recordar o que se seguiu...

Mais uma para a colecção de patetices...

O general Westmoreland, achava que a solução militar DELE poderia ser vencedora.
A guerra do Vietname tinha uma solução militar  e TEVE uma solução militar, que foi a derrota total do sul, a morte do próprio presidente e destruição total do país.

Há sempre uma solução militar. É SEMPRE o último recurso.
O Vietname é apenas mais um exemplo disso.

Mas o Vietname é também um exemplo do que acontece quando aqueles que acreditam nas negociações pedem a retirada negociada (como aconteceu no Vietname) e os governantes aceitam negociar a qualquer preço.
Depois da negociação entre as duas partes, toda a gente sabe que o lado comunista não cumpriu nenhum acordo, fez letra-morta dos acordos e voltou à guerra.

Achar que é possível negociar com os talibã ou com os senhores da guerra afegãos, é uma patetice e uma criacice, para aqueles que acreditam nela claro.

Há apenas duas coisa que o senhores da guerra e os talibã  entendem:

- Uma bala na cabeça do senhor da guerra e de preferência na cabeça de todos os membros do clã.
- Um maço de notas no bolso.

São as únicas coisas que os podem parar...

O resto é romantismo.
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João Vaz

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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #50 em: Dezembro 06, 2010, 05:29:04 pm »
E Viva Chuck Norris

É chato lembrar erros passados, mas de facto os Estados Unidos não obtiveram a vitória militar no Vietname. Pelo menos, neste nível de realidade.

Pensava que o "romantismo" de que fala tão convictamente o Papatango fosse apenas o dos... bombistas  c34x

Vê-se assim contrariado pelo conjunto das chefias militares e políticas da própria aliança, cujo objectivo é precisamente zarpar e em força. Isto porque não é possível ganhar esta guerra contra o "terror" com recurso à bomba. Releia os "links" e reclame com os próprios decisores da guerra. Cujo sócio maioritário é a sua potência "dominante", à sombra da qual pretende viver em segurança total e isolado dos maus.


We're not ready for this...

Obviamente, e apesar da rigidez hegemónica norte-americana, nem eles próprios estão dispostos a ficar mais dez anos ou vinte, o que seria necessário para colocar a "bala na cabeça" que refere em todos os pés descalços com AK-47 (isto, se entretanto não se tivessem escapulido de volta para o Paquistão). Se fosse assim tão fácil, já estaria resolvido...

O pragmatismo de que carece está presente na mesa das negociações, quer goste ou não. Isto só sucede porque tudo o resto... falhou. E enquanto a negação o impedir de perceber o que toda a gente envolvida já percebeu, verá sempre inimigos fáceis de abater como se de um jogo se tratasse. Lamento, meu caro. A realidade é mesmo feia. Mas é melhor enfrentá-la do que negá-la.

No heartfeelings
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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #51 em: Dezembro 07, 2010, 06:04:36 pm »
Citar
Pensava que o "romantismo" de que fala tão convictamente o Papatango fosse apenas o dos... bombistas

Pensava mal, e interpretou pior, como aliás é já seu timbre.

O romantismo de um terrorista islâmico, não tem nada a ver com os romantismos da esquerda europeia, que está disposta a «dar certa parte recôndita da anatomia a qualquer um» para garantir o seu nível de vida e para garantir que não a chateiam.

A guerra é uma coisa chata. Ou se ganha ou se perde !
Se os criminosos Talibã forem deixados no Afeganistão sem uma força que os controle, ou para ser mais claro: SEM UMA FORÇA QUE OS EXTERMINE, eles vão voltar.
É por isso que se aceita o Karzai. Porque se for possível dar-lhe dinheiro par manter uma força militar minimamente fiel, paga a bom preço, ele continuará a atacar os Talibã, impedindo assim que o Afeganistão seja utilizado como base.

Caso contrário, são eles que ganham a guerra e mais tarde ou mais cedo voltaremos a ter criminosos islâmicos a rebentar-se nos Estados Unidos, na Europa, ou onde quer que seja que alguém diga alguma coisa que possa ferir a moralidade dos Mulahs assassinos.

NÃO HÁ GUERRAS COM SOLUÇÃO POLÍTICA ! ! !
Esta é a realidade. Não importa o que dizem os que querem desistir ou os que já encheram os bolsos com comissões ou negociatas.
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João Vaz

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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #52 em: Dezembro 09, 2010, 05:40:24 pm »
Os filmes de guerras ganhas no cinema podem até ser um bom entretenimento, mas não passam disso.

Se a Europa não está a ser "chateada" pelos seus alegados "românticos" bombásticos, tal não se deve a bases primitivas nos vales afegãos, mas sim à coordenação global dos serviços de informação e segurança. Se não passasse tanto tempo na Playstation teria percebido que, desde Dezembro de 2009, foram interceptados e anulados pelo menos 3 atentados nos Estados Unidos e outros tantos na Europa. Tudo malta nova, ciber-orientada e residente no Ocidente.  

Citação de: "papatango"
A guerra é uma coisa chata. Ou se ganha ou se perde !

Lapalissada afirmativa, caro papatango. E qual é o status actual da Guerra no Afeganistão?
Aliás, qual foi a guerra alguma vez ganha pelo Ocidente em terras afegãs nos últimos 200 anos?

Citação de: "papatango"
Se os criminosos Talibã forem deixados no Afeganistão sem uma força que os controle, ou para ser mais claro: SEM UMA FORÇA QUE OS EXTERMINE, eles vão voltar.

Acredita mesmo que todas as baratas deste mundo podem ser fisicamente exterminadas?

Citação de: "papatango"
É por isso que se aceita o Karzai. Porque se for possível dar-lhe dinheiro par manter uma força militar minimamente fiel, paga a bom preço, ele continuará a atacar os Talibã, impedindo assim que o Afeganistão seja utilizado como base.

Dizia, portanto, que os "românticos" eram os terroristas...?  :roll:

Então acha mesmo que o Karzai não tem enchido os bolsos à conta de Wahington?
Citando apenas uma das últimas wiki-fugas, esse fraco fantoche depositou numa das suas visitas aos Emirados Corruptos Unidos a modesta quantia de 52 milhões de dólares. Isto confirma tudo o que se vai sabendo por "portas travessas". Digamos que, se ele chegar vivo e numa só peça até ao final do seu mandato, terá uma reforma à la PT.  

Citação de: "papatango"
Caso contrário, são eles que ganham a guerra e mais tarde ou mais cedo voltaremos a ter criminosos islâmicos a rebentar-se nos Estados Unidos, na Europa, ou onde quer que seja que alguém diga alguma coisa que possa ferir a moralidade dos Mulahs assassinos.

Ainda não lhe ocorreu que o principal Mullah ainda não foi capturado?
Nem, acaso, que a ideologia extremista e o "romantismo" suicida continua a ser propagado Ocidente adentro via internet?

Citação de: "papatango"
NÃO HÁ GUERRAS COM SOLUÇÃO POLÍTICA ! ! !
Esta é a realidade. Não importa o que dizem os que querem desistir ou os que já encheram os bolsos com comissões ou negociatas.

Receio bem que as haja... A não ser que exclua o primeiro Tratado de Paz Europeu baptizado em 1648 com o nome de Tratado de Wesfália, embora assinado em Munster, pondo fim à Guerra dos Trinta Anos entre as principais potências continentais.

Além disso, a solução política pode até fazer melhor do que isso... prevenir a guerra, como na Crise dos Misseis de Cuba ou no caso mais recente com a Coreia do Norte e o Irão.
Mas isso são outras histórias e o off-topic já vai longo...
"E se os antigos portugueses, e ainda os modernos, não foram tão pouco afeiçoados à escritura como são, não se perderiam tantas antiguidades entre nós (...), nem houvera tão profundo esquecimento de muitas coisas".
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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #53 em: Dezembro 10, 2010, 09:00:42 pm »
Caro João Vaz,

Dois protagonistas de tentativas recentes de atentados terroristas de grande envergadura passaram por bases de treino no Afeganistão e em regiões tribais do Paquistão:

Richard Reid, o “bombistas dos sapatos” passou por bases de treino no Paquistão ente 1999 e 2000.

Faisal Shahzad, o “bombista de Times Square” esteve numa base de treino numa região tribal do Paquistão.

Apesar desse treino, falharam por razões imputáveis à falta de perícia e impreparação.

Um terrorista eficaz não se forma pela internet. Isso é absurdo. A história do IRA, da ETA, e a tentativa das FARC de entrar nesta área de actuação, mostram isso mesmo. Para além de que a internet não é um meio de todo confiável para passar informação por eles considerada classificada. A al-qaeda sabe-o, e por isso mesmo faz tudo para transmitir as suas informações mais importantes de forma pessoal.

Por tudo isto, as bases de treino de terroristas são fundamentais para estas organizações. Sem elas, os actos terroristas tenderão a ser deficientemente planificados e executados, para além de seus operacionais serem mais facilmente vítimas dos serviços de informações e inteligência.

Numa recente entrevista concedida ao Expresso pela antigo director da CIA entre 2006 e 2009, Michael Hayden, quando lhe perguntaram pelo Bin Laden, ele respondeu:

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Ele gasta toda a sua energia a proteger-se e a lutar para sobreviver, em vez de se envolver no planeamento diário dos ataques da al-qaeda.

Óbvio! ele e todos os outros líderes terroristas.

Se os líderes mundiais fracos e as opiniões públicas sonhadoras quiserem abandonar este caminho, o problema será inevitavelmente delas.
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #54 em: Dezembro 11, 2010, 02:45:28 pm »
Ilustre Jorge Pereira.

Citação de: "Jorge Pereira"
(...)
Richard Reid, o “bombistas dos sapatos” passou por bases de treino no Paquistão ente 1999 e 2000.

Faisal Shahzad, o “bombista de Times Square” esteve numa base de treino numa região tribal do Paquistão.

Tem razão: no Paquistão. Como tal, refere-se ao tal país que nem os apoios militares, nem os subornos dos EUA conseguem reequilibrar (e que é absolutamente indispensável na erradicação do terrorismo em território afegão). E porque é que a toda-poderosa administração norte-americana ainda não encostou à parede o governo de Islamabad? Nem sequer o tarado do Bush chegou perto de o fazer. E o mesmo se diga em relação ao financiamento de grupos terroristas a partir da Arábia Saudita.  

Ainda este ano, Ahmed Sidiqi, cidadão alemão de ascendência afegã, foi detido no Afeganistão depois de ter partido de Hamburgo com 10 outros fanáticos para as áreas tribais do Paquistão, onde quase todos se reuniram ao Movimento Islâmico do Uzbequistão (IMU), seguindo um plano abrangente de um cidadão francês de ascendência argelina supostamente sob o beneplácito de Bin Laden. O plano consistia em ataques coordenados em várias capitais europeias, à imagem dos de Mumbai (2008). Pelo menos metade foi obliterada por um drone no Norte do Waziristão (região mais perigosa do Paquistão, na fronteira com o Afeganistão).

Ora, toda esta malta islâmica proveniente da Alemanha foi recrutada na mesquita Taiba, em Hamburg, a mesma que na década de 1990 albergou Mohamed Atta, entre outros, o principal terrorista do 9/11. Por estas razões, a mesma foi encerrada há meses.

Também Faisal Shahzad, o bombista falhado de Times Square (N.Y.), sentenciado em Maio passado a perpétua é um emigrante paquistanês naturalizado norte-americano (financiado pelos Taliban paquistaneses e treinado no Waziristão paquistanês).

Estes e outros aprendizes de terroristas felizmente falharam, mas não foram de forma alguma unicamente preparados no Afeganistão, nem sequer principalmente no Afeganistão. A mais recente ameaça surgiu de outro "Estado falhado": o Iémen (herança, entre outros, do fracasso colonial inglês), de onde partiram as bombas nos tinteiros de impressoras que percorreram vários aviões de passageiros e de carga até serem descobertos por denúncias.

Outros atentados, como Fort Hood no Texas mostraram que nem sequer as próprias bases militares em solo norte-americano estão a salvo de asiáticos fundamentalistas "ocidentalizados".

Enquanto isso, no terreno de combate afegão, os IEDs constituem a adaptação dos "insurgentes" às forças da NATO. Mais uma vez: é barato, é eficaz e nem necessita de mentalidade suicida.

Citação de: "Jorge Pereira"
Um terrorista eficaz não se forma pela internet. Isso é absurdo. A história do IRA, da ETA, e a tentativa das FARC de entrar nesta área de actuação, mostram isso mesmo. Para além de que a internet não é um meio de todo confiável para passar informação por eles considerada classificada. A al-qaeda sabe-o, e por isso mesmo faz tudo para transmitir as suas informações mais importantes de forma pessoal.

É verdade, mas isso apenas se aplica à formação integral, sendo que isso não impede o recrutamento nem a difusão de giga-bytes de informação sensível, tais como manuais de explosivos, tácticas subversivas e as mais diversas dicas sobre pontos fracos nas sociedades ocidentais. Simultaneamente, providencia uma base barata e eficaz garantido uma alta mobilidade, fácil financiamento e baixo perfil. É por isso que o ciber-terrorismo não se limita a uma ameaça virtual e a própria NATO o incluiu no seu Novo Conceito Estratégico. Isto não é controlável, porque simplesmente não há leis na Internet (ainda), tal como ficou patente nas wiki-fugas.

Citação de: "Jorge Pereira"
Por tudo isto, as bases de treino de terroristas são fundamentais para estas organizações. Sem elas, os actos terroristas tenderão a ser deficientemente planificados e executados, para além de seus operacionais serem mais facilmente vítimas dos serviços de informações e inteligência.

De acordo, mas onde estão as "bases" de que tanto se fala hoje em dia no Afeganistão? E então o Paquistão, o suposto grande aliado/parceiro dos EUA/NATO? e o Iémen? e o Sudão?

Repare: falando em ameaças, já há muito que não se fala no terrorismo que compensa, ou seja, a pirataria no Índico, apesar de todos os meios mobilizados e que frequentemente não conseguem efectivar toda a sua capacidade operacional devido a constrangimentos legais e simples falta de meios face a um espaço marítimo tão vasto e ao simples volume de tráfico de marinha mercante. Então continuam-se a pagar resgates e ninguém fala disso? Ou será que teremos de esperar por mais wiki-fugas?
Aliás, os ataques planeados contra várias capitais europeias em Outubro passado serviriam para lembrar o aniversário do maior atentado bem sucedido contra forças militares das duas últimas décadas (desde a destruição em 1983 do quartel dos Marines em Beirute, no Líbano), no qual uma pequena força suicida fez explodir o destroyer USS Cole (Outubro de 2000) no porto de Adém, no Iémen.

Contra estes terroristas "menores" não há "bases" que sirvam de argumento, mas o facto é que já há demasiado tempo têm mantido ocidentais presos durante meses ou anos, matam quem quer que não cumpra as suas ordens e já encaixaram dezenas de milhões de dólares. A chatice é que eles se baseiam na Somália, a terra de onde os norte-americanos saíram de cabeça baixa depois da pequena tragédia que deu origem ao Black Hawk Down.

Citação de: "Jorge Pereira"
Numa recente entrevista concedida ao Expresso pela antigo director da CIA entre 2006 e 2009, Michael Hayden, quando lhe perguntaram pelo Bin Laden, ele respondeu:

Citar
Ele gasta toda a sua energia a proteger-se e a lutar para sobreviver, em vez de se envolver no planeamento diário dos ataques da al-qaeda.

Óbvio! ele e todos os outros líderes terroristas.

Se os líderes mundiais fracos e as opiniões públicas sonhadoras quiserem abandonar este caminho, o problema será inevitavelmente delas.

O problema é que o velho Bin-Laden não precisa de surgir para servir de exemplo aos mártires fanáticos. Desde há muito, a Al-Qaeda encontra-se tanto no Afeganistão, como em Marrocos, no Iémen, onde quer que haja populações pobres para explorar. O perigo dispersou-se, o que o torna incontrolável. Por isso, a NATO foi forçada a expandir o seu raio de acção e deslocar-se para cada vez mais longe. Mas uma ameaça terrorista não se combate só com meios convencionais, nem sobretudo com tácticas de guerra. Os resultados estão à vista. Uma década de ofensivas combinadas no Afeganistão ainda não resultaram e todos os aliados estão de acordo nisso. Quando uma táctica não funciona, tenta-se outra e isso não é mais do que lógico. Saber alterar a estratégia, ainda que possa parecer embaraçoso, não é forçosamente uma derrota. Convém é não perder tempo com tácticas desproporcionadas, dispendiosíssimas e sem garantias.

Finalmente, quanto às soluções políticas, elas também existiram por exemplo para o terrorismo do IRA, depois de décadas de mortandade num ambiente em que intervieram as forças militares britânicas contra para-militares fanáticos. Também já não se fala nisso, o que é bom sinal. A coordenação de políticas de segurança / informação também tem dado excelentes resultados, aprisionando e desmembrando a ETA, tanto em França, como em Espanha e Portugal. É aí que se encontram os melhores resultados. Se o mesmo acontecesse quanto a terrorismos extra-europeus, se tais medidas tivessem sido implementadas antes de 2001, poder-se-ia ter evitado muito provavelmente a principal vaga de atentados. Quanto a mim, prevenir guerras é melhor que tentar remediá-las.
"E se os antigos portugueses, e ainda os modernos, não foram tão pouco afeiçoados à escritura como são, não se perderiam tantas antiguidades entre nós (...), nem houvera tão profundo esquecimento de muitas coisas".
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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #55 em: Dezembro 11, 2010, 11:22:52 pm »
Caro João Vaz,

Citação de: "João Vaz"
Tem razão: no Paquistão.

Houve um engano meu no caso do terrorista Richard Reid: queria dizer Afeganistão e não Paquistão.

Mas isso pouco importa. O que eu tento dizer é que não podemos permitir a existência de santuarios terroristas seja lá onde for: Estados falhados, regiões tribais, etc. É a linha de frente na guerra global contra o terrorismo.

Citação de: "João Vaz"
E porque é que a toda-poderosa administração norte-americana ainda não encostou à parede o governo de Islamabad?

Potência nuclear com os respectivos arsenais sob duvidosa vigilância e controlo, onde, para piorar tudo, pensa-se que os serviços secretos e uma facção do exército está, ainda por cima, a colaborar com os grupos extremistas. Neste cenário, todos os cuidados são poucos. Para já, vai-se atacando com recurso aos UAV e a pequenas incursões com forças especiais.

Citação de: "João Vaz"
Mas uma ameaça terrorista não se combate só com meios convencionais, nem sobretudo com tácticas de guerra. Os resultados estão à vista. Uma década de ofensivas combinadas no Afeganistão ainda não resultaram e todos os aliados estão de acordo nisso. Quando uma táctica não funciona, tenta-se outra e isso não é mais do que lógico. Saber alterar a estratégia, ainda que possa parecer embaraçoso, não é forçosamente uma derrota. Convém é não perder tempo com tácticas desproporcionadas, dispendiosíssimas e sem garantias.

Correctíssimo. Este é um tipo de guerra de multiplas dimensões, onde todas elas devem ser consideradas equilibradamente. Se descurarmos alguma dessas dimensões, o resultado final será necessariamente comprometido. E atenção, a repressão é só uma dessas dimensões. Há alguns anos atrás, falando com um alemão da antiga RDA em Portugal, ele com total convicção, disse-me o seguinte: Quem derrubou o muro não foi a iniciativa de defesa estratégica nem a NATO, quem derrubou o muro foram os Bon Jovi, a PEPSI COLA e a BMW. Tão bem que o percebi! :wink:
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #56 em: Dezembro 16, 2010, 12:39:53 pm »
Af-Pak Tour 2010

Actualização do off-topic...

Pois nem as Coca-Colas, nem os Bon Jovi chegaram aos vales do Afeganistão  c34x  
E, sem vislumbre de economia (ainda que importada do Ocidente), não há grandes alternativas ao mesmo clima que alimenta o narco-tráfico e os senhores da guerra locais.





Afeganistão-Paquistão, a dupla perspectiva inseparável. Inseparável no problema e na solução, não só porque partilham etnia e religião (e respectivas facções extremistas), mas também porque cada um deles é apoiado por superpotências antagónicas.  

A melhor garantia de um acordo político (negociado) poderá ter ficado adiada pela recente morte de Richard Holbrooke, Enviado Especial da principal superpotência (administração norte-americana), o diplomata apelidado de Bulldozer, responsável pelo acordo de Dayton em que encostou Milosevic à parede. Não por acaso, Holbrroke serviu no Vietname e participou nas negociações de paz com Hanoi.

No dia de hoje será anunciada pela Casa Branca a Revisão Anual de Estratégia da Guerra no Afeganistão (com o governo enredado a contra-gosto numa injecção de tropas de última hora com prazo oficial de início da retirada dentro de apenas 6 meses), que consiste numa espécie de bailout: toma lá mais tropas (capital) para ver se os terroristas ou insurgentes (mercados) acalmam....

Simultaneamente, surge nova confirmação da insuficiência da solução militar para o Afeganistão. Segundo dados da última National Intelligence Estimate - elaborado pelo National Intelligence Council que reune 16 agências de informação dos EUA - aponta, por um lado, a existência do ninho Taliban no Paquistão e da conivência do respectivo governo, por outro, o recrudescimento da insurgência, sem esquecer a fraca concretização do desenvolvimento institucional prometido (e necessário) por Washington e coligados.  

Nas conclusões, óbvias, de ambos os documentos, surge a mesma constatação: o Paquistão não faz o suficiente para conter a ameaça no terreno. Isto é ser simpático. O Paquistão alberga e promove, a vários níveis, o tal inimigo que tem desgastado a superpotência norte-americana. E, mesmo ocupando cidades isoladas sem controlar as fronteiras, não será mais do que uma questão de tempo até a paciência e o dinheiro ocidental se esgotarem.

“the war cannot be won unless Pakistan is willing to obliterate terrorist safe havens in its lawless tribal areas bordering Afghanistan.  The new report on Pakistan concludes that the Pakistani government and military ‘are not willing to do that,’ says one U.S. official briefed on the analysis.”

E quem é que vai visitar Islamabad nos próximos dias? O Primeiro-Ministro chinês, seu aliado tácito.


Uma Alegre Convivência


A questão foi claramente cartografada no The Washington Post

Resumindo, a conveniência do Paquistão coloca-o na mó de cima, recebendo o melhor de vários mundos: encaixa apoios financeiros substanciais dos EUA (mesada anual de 2 bilhões de dólares), enquanto recebe importantes infra-estruturas e acordos comerciais da China na sua expansão asiática. Tudo isto, sem esquecer de ir alimentando esperanças àqueles fundamentalistas de chinelo.  

Não admira que, após colocar o pé na Ásia, Alexandre o Grande se tenha confrontado com o nó górdio original.
Assim como também não surpreende o epíteto do Afeganistão como cemitério de impérios.
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sergio21699

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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #57 em: Junho 07, 2011, 08:24:01 pm »
Portugal em vias de perder comando da NATO
Proposta do secretário-geral da Aliança Atlântica prevê apenas a colocação em Oeiras de uma esquadra norte-americana e de uma escola de sistemas de comunicação.

A proposta da NATO para a reforma dos seus comandos e agências não prevê um comando operacional da Aliança Atlântica sediado em Portugal, avança a agência Lusa. O documento também não contempla a possibilidade de um comando de componente naval, que era o objectivo inicial do Governo português
 
A proposta prevê apenas a colocação em Oeiras de uma força da sexta esquadra da Marinha americana e traz para Portugal a escola de sistemas de comunicação e informação da NATO.
 
Segundo disseram fontes aliadas à agência Lusa, a proposta que o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, vai apresentar quarta-feira aos ministros da Defesa dos países-membros, num jantar no quartel-general, em Bruxelas, está a localização de uma força marítima dos Estados Unidos em Oeiras, que funciona na dependência do Comandante Supremo das Forças Aliadas (SACEUR, em inglês), almirante James Stavridis, que é em simultâneo Comandante das Forças Americanas na Europa.
 
A sexta esquadra norte-americana, com responsabilidades no Atlântico e Mediterrâneo, participou, por exemplo, no início das operações da NATO no Kosovo, em 1999, ou nas operações na Líbia, já este ano, sendo que esta nova estrutura a situar em Oeiras continua ser financiada por todos os países da Aliança Atlântica, à semelhança do comando conjunto (JFCL, em inglês) que ainda lá está.
 
Uma das fontes notou que esta será a proposta apresentada aos 28 países aliados no âmbito da reunião ministerial e poderá vir a sofrer alterações, dado que, na NATO, todas as decisões são alcançadas pela via do consenso.
 
Além desta mudança, a proposta contempla a vinda para Portugal da escola de sistemas de comunicação e informação da NATO, actualmente nos arredores de Roma.
 
Manutenção assegurada tem o centro de lições aprendidas e análise conjunta, estrutura da NATO localizada em Monsanto, Lisboa.

Trata-se, para já, de uma proposta que terá de ser avaliada pelos 28 Estados-membros e pode ainda, por isso, sofrer alterações. Recorde-se que o Governo em exercício sempre definiu como objectivo a manutenção do comando da Aliança Atlântica em Oeiras.

http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=92&did=159502
-Meu General, estamos cercados...
-Óptimo! Isso quer dizer que podemos atacar em qualquer direcção!
 

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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #58 em: Junho 09, 2011, 04:35:44 pm »
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9 Junho, 2011 - 08:05
Portugal mantém bandeira da Aliança mas perde peso nos comandos da NATO

A Aliança Atlântica decidiu num encontro realizado na quarta-feira à noite que o comando da NATO em Oeiras será substituído por um comando operacional responsável pela força marítima de reacção rápida, a "Strikfornato", actualmente em Nápoles, tornando-se um comando operacional. O ministro da Defesa português mostrou-se satisfeito com a decisão lembrando que Portugal atingiu assim os três objectivos definidos.


Portugal perdeu mesmo peso na NATO, depois dos 28 Estados-membros terem decidido que o actual comando em Oeiras seria substituído pela "Strikfornato", um comando operacional responsável pela força marítima de reacção rápida que comanda forças navais de vários países, nomeadamente a sexta Esquadra dos Estados Unidos.

O corte no comando surge ao abrigo de novas estratégias de contenção de despesa da NATO e redução de efectivos da Aliança, e prevê que a estrutura de comando conjunto de Oeiras seja substituída por um comando operacional marítimo com dependência directa do Comandante Supremo das Forças Aliadas (SACEUR).
 
A Escola de Sistemas de Comunicação e Informações da NATO, actualmente sediada perto de Roma, será também transferida para Oeiras, e mantém-se o Centro de Lições Aprendidas e Análise Conjunta (JALLC, em inglês) em Monsanto.
 
Augusto Santos Silva lembrou à saída da reunião que Portugal está satisfeito com a decisão que cumpriu os objectivos nacionais de contribuir "activamente para a reforma de comandos da NATO", mantendo a "bandeira" da Aliança em território nacional e reforçando o número de entidades presentes em território português, revelou à TSF.

http://noticias.portugalmail.pt/artigo/ ... os-da-nato
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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Re: Comando da NATO em Oeiras, que futuro?
« Responder #59 em: Junho 19, 2011, 01:30:02 am »
"Almirante lamenta despromoção de base de Oeiras para comando marítimo.

Apesar de lamentar esta despromoção, Reis Rodrigues diz que «faria muito pouco sentido que o país passasse a alojar e a apoiar um comando de uma força na qual não participa».

O almirante Reis Rodrigues, antigo vice-chefe do Estado-maior da Armada, lamentou a despromoção da base da Oeiras da NATO para comando marítimo e defendeu que a haver uma força naval da NATO deveria incluir meios portugueses.

Para este militar, que chegou a comandar a base de Oeiras, «faria muito pouco sentido que o país passasse a alojar e a apoiar um comando de uma força na qual não participa», problema que acha que vai acabar por se pôr.

«Portugal sempre participou nas forças navais da NATO e terá de arranjar maneira também de contribuir, porque doutra forma não parece fazer sentido associar Portugal a este comando».

Reis Rodrigues indicou ainda que preferia que o comando conjunto fosse mantido, até por causa das razões apresentadas por Portugal de que a manutenção deste comando significaria uma «janela da NATO virada para o Atlântico Sul, onde se conciliam interesses de vários países-membros da NATO».

«Nestas coisas, há sempre um jogo de influências e interesses que têm de ser ponderados globalmente. Prevaleceram outros interesses. Não acho que seja uma coisa que não se possa compreender com alguma facilidade», sublinhou."

http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portuga ... id=1874849


Boa noite.
Décadas de desinvestimento nas Forças Armadas Portuguesas redundaram nisto.
Pior, parace que querem estacionar cá meios nos quais nós nem sequer participamos, o cumulo dos cúmulos caso se venha a confirmar a noticia.
Falta saber se vão transformar a BNL numá espécia de Barehin europeu alocado à sexta frota americana.
Ou pior, se vamos ter que comer, sei lá, por exemplo com um porta aviões espanhol?
Então, esta ultima opção seria muitissimo interessante para Portugal e para os Portugueses, muito bom mesmo. Eu já não digo nada.
Abraço.
"... sem Força Aérea, Marinha e Exército não há qualquer política no Ministério dos Negócios Estrangeiros."

Henrique Medina Carreira.