Invasão de Goa, Damão e Diu - A guerra esquecida?

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komet

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« Responder #15 em: Junho 28, 2005, 05:01:42 pm »
LOL
Bem dito alfsapt  :wink:
"History is always written by who wins the war..."
 

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Yosy

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« Responder #16 em: Junho 29, 2005, 04:04:02 pm »
Citação de: "alfsapt"
Citação de: "Yosy"
Provavelmente um pouco de ambas. Mas isto parece muito uma teoria da conspiração.

Realmente...

Um País mínimo de nem 10 milhões de habitantes dizer-se controlar territórios em dois continentes com a área digna de uma superpotência enquanto trava uma guerra de guerrilha essencialmente na selva em 3 frentes e uma União de Nações noutra frente, sob bloqueio da ONU e em plena Guerra Fria, acaba por sofrer uma revolução liderada por oficiais de baixa patente...

...realmente cheira a filme de 2ª categoria totalmente iverossímel.

Graças a Deus que estamos num País onde impera a transparência da nossa classe política que nada tem a ver com o passado longíquo de 75.


 :lol: Tem razão.
 

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emarques

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« Responder #17 em: Julho 18, 2005, 12:40:23 am »
Um artigo da Revista da Armada: "Acção da Marinha Durante a
Invasão do Estado da Índia (1961)"

http://www.marinha.pt/extra/revista/ra_ ... pag20.html
Ai que eco que há aqui!
Que eco é?
É o eco que há cá.
Há cá eco, é?!
Há cá eco, há.
 

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Luso

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« Responder #18 em: Julho 18, 2005, 09:56:22 am »
Citação de: "alfsapt"
Citação de: "Yosy"
Provavelmente um pouco de ambas. Mas isto parece muito uma teoria da conspiração.

Realmente...

Um País mínimo de nem 10 milhões de habitantes dizer-se controlar territórios em dois continentes com a área digna de uma superpotência enquanto trava uma guerra de guerrilha essencialmente na selva em 3 frentes e uma União de Nações noutra frente, sob bloqueio da ONU e em plena Guerra Fria, acaba por sofrer uma revolução liderada por oficiais de baixa patente...

...realmente cheira a filme de 2ª categoria totalmente inverossímel.

Graças a Deus que estamos num País onde impera a transparência da nossa classe política que nada tem a ver com o passado longínquo de 75.



Leiam o livro de Reiner Daehenhardt "Traídos e Burlados". Quando o li torcei um pouco o nariz mas Há medida que o tempo passa...
Não percebo como é que um povo capaz de fazer o que fez consegue ser reduzido a este estado de indigência mental e de carácter e de falta de memória.

http://aeterna.no.sapo.pt/lusophia/publ ... rainer.htm
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Spectral

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« Responder #19 em: Julho 21, 2005, 08:49:31 pm »
olá a todos ;)
I hope that you accept Nature as It is - absurd.

R.P. Feynman
 

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luis filipe silva

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« Responder #20 em: Agosto 30, 2006, 12:04:00 am »
Este é um dos tópicos que eu não gostaria de ver morrer. Por isso aquivão mais umas achegas.
http://www.bharat-rakshak.com/NAVY/Hist ... /Kore.html
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saudações:
Luis Filipe Silva
 

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Luso

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« Responder #21 em: Agosto 30, 2006, 12:18:16 am »
Citar
From 1955 to 1961, the Goans and the Indian political parties organised public meetings and adopted resolutions condemning Portuguese rule, giving wide publicity to the happenings in Goa and made the people in India aware of the terrible conditions prevailing in Goa.


 :roll:

De facto o tema é interessante. Já tinha lido esse texto, no entanto.

Mais uma vez lembro: há que documentar as relações entre o PCP e os auto-designados "Freedom Fighters"...

Lendo a biografia de Mao que estou constantemente a citar, vemos movimentações diplomáticas "estranhas", ou a favor da índia, ou contra esta. O PC "português" teve mão nisto também.
Já agora, e desviando-me do tema para um assunto lateral: dizem que os serviços secretos chineses tiveram acesso ao plano francês para Dien Bien Phu. Cortesia do PC "francês"...
O PC, o PC...
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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komet

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« Responder #22 em: Agosto 30, 2006, 12:47:14 am »
São tão iguaizinhos uns aos outros... lol
"History is always written by who wins the war..."
 

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Yosy

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« Responder #23 em: Agosto 30, 2006, 12:38:32 pm »
Citação de: "Luso"
Já agora, e desviando-me do tema para um assunto lateral: dizem que os serviços secretos chineses tiveram acesso ao plano francês para Dien Bien Phu. Cortesia do PC "francês"...
O PC, o PC...


Isso parece mais uma teoria da conspiração. Além de que não era difícil perceber para que servia Dien Bien Phu. Não tinha nada de secreto.
 

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TOMKAT

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« Responder #24 em: Agosto 31, 2006, 03:06:46 am »
Dois textos retirados de um site interessante, presumo com origem na comunidade goense em Portugal...
http://www.supergoa.com/pt/

Citar
"Só soldados vitoriosos ou mortos"

Na véspera da queda da Índia, Salazar pediu o sacrifício da vida aos três mil militares portugueses. Não os queria prisioneiros.

José Manuel Barroso
Arquivo DN


A 3 de Janeiro de 1962, António de Oliveira Salazar, o líder e fundador do regime do Estado Novo, não leu o mais doloroso discurso da sua vida política. Perante uma Assembleia Nacional aturdida pela queda da Índia Portuguesa, um Salazar afónico "com as emoções das últimas semanas" teve de recorrer ao presidente do parlamento, Mário de Figueiredo, para a leitura de um texto de reconhecimento e de justificação de uma derrota, que iniciava o fim do Império Colonial Português, sem sequer poder invocar a gesta patriótica dos milhares de soldados mortos.
A 14 de Dezembro de 1961, três dias antes da invasão e ocupação do Estado Português da Índia (Goa, Damão e Diu) pelas forças da União Indiana, Salazar pedira aos soldados e marinheiros portugueses nos territórios um último sacrifício, o da vida.

Mal armados e em número reduzido (cerca de 4 mil efectivos), perante as forças indianas invasoras (cerca de 50 mil militares do Exército, Marinha e Força Aérea), resistir significava uma cruel e inútil auto-imolação para os efectivos portugueses. Nos dois dias da invasão, resistiram o que puderam, morrendo 26 militares. Mas o contingente português acabou por se render, a 19 de Dezembro, tendo o governador, general Vassalo e Silva, ordenado a "suspensão do fogo" às suas tropas.

Mais de 3 mil militares portugueses foram feitos prisioneiros pelo Exército indiano (entre os quais se encontrava o general Vassalo e Silva), os prisioneiros que Salazar não queria. Por isso puniu e perseguiu alguns dos oficiais em serviço na Índia - o que abriu dolorosa ferida nas Forças Armadas portuguesas e foi uma das raízes do derrube do regime de Salazar, doze anos depois da queda de Goa, Damão e Diu.

Na mensagem que enviou, a 14 de Dezembro de 1961, ao governador e comandante-chefe português do Estado da Índia, Vassalo e Silva, o chefe do governo de Lisboa reconhecia a "impossibilidade de assegurar a defesa plenamente eficaz" dos territórios, mas pedia ao general que organizasse essa defesa "pela forma que melhor possa fazer realçar o valor dos portugueses, segundo velha tradição na Índia". E ainda: "É horrível pensar que possa significar o sacrifício total, mas recomendo e espero esse sacrifício como única forma de nos mantermos à altura das nossas tradições e prestarmos o maior serviço ao futuro da Nação".

Sendo "impossível" a defesa "eficaz" dos territórios, dado a Índia poder multiplicar "por factor arbitrário" as suas forças de ataque - conforme Salazar reconhecia na sua mensagem - a ordem dada ao general Vassalo e Silva revelava-se inequívoca. "Não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos". O telegrama de Salazar a Vassalo e Silva, ao reconhecer a "impossibilidade de assegurar a defesa", exigia mártires, que pudessem ser exibidos interna e externamente, em nome de uma política de intransigência que tinha como horizonte o futuro dos territórios ultramarinos de África - onde a guerra começara já (em Angola) nesse ano de 1961.

Por isso, na sua mensagem à Assembleia Nacional, a 3 de Janeiro de 1962, Salazar invoca o princípio da soberania nacional, tal como o definia o ordenamento jurídico da Constituição do Estado Novo. "Nós não podemos negociar, sem nos negarmos e sem trairmos os nossos, a cedência de territórios nacionais, nem a transferência das populações que os habitam para soberanias estranhas", disse Salazar. Era o fundamento de uma política de resistência.

A "questão da Índia" começara uma dezena de anos antes, com a independência da União Indiana. Desde 1948 que, directa ou indirectamente, as autoridades do novo país - a "jóia da Corôa" do império britânico - reclamavam a integração na grande Índia dos territórios que Portugal detinha sob sua administração, desde há quase cinco séculos (ler cronologia). Em 1950, o governo indiano solicita, formalmente, a Lisboa, a abertura de negociações, quanto ao futuro dos territórios portugueses. Portugal recusou sempre qualquer diálogo com a União Indiana.

Em 1953, o primeiro-ministro indiano, Nehru, afirma que, face à recusa portuguesa, o seu país não vê outra solução que não seja "a tranferência directa que assegure a fusão daqueles territórios com a União Indiana".

No seio do regime português discute-se a possibilidade de outras soluções, para preservar a autonomia dos territórios. Mas Salazar, reconhecendo embora que Goa (o maior dos três territórios) é, ele próprio, militarmente indefensável, entende que um plebiscito ou mesmo a independência não constituem soluções, uma vez que Nehru declara já as não aceitar.

A ideia do plebiscito atraía, então, um sector importante do regime, como forma de demonstração, por parte de Portugal, do respeito pela vontade das populações da Índia Portuguesa e como argumento perante a comunidade internacional. Mas o precedente que abria, para o Ultramar, solidificou a intransigência de Oliveira Salazar - e levou à humilhação na Índia.

http://www.supergoa.com/pt/40anos/rec_inv01.asp


Citar
Breve descrição dos acontecimentos

Nos dias 17/18 de Dezembro de 1961, durante a denominada Operação Vijaya, 50 000 tropas indianas apoiadas por blindados, artilharia, meios aéros (aviões de combate Canberra) e navais (1 porta-aviões) ocuparam militarmente Goa, Damão e Diu.

Os 3500 militares portugueses e goeses tinham ordens de Salazar para lutar até à morte, sendo que o chefe-de-estado português comunicou que só esperava como resultado do combate "militares vitoriosos ou mortos".

Contudo, o Governador Vassalo e Silva apercebeu-se da situação desesperada e perante o avanço dos indianos mandou recuar as forças e destruir todas as pontes e meios militares pelo caminho.

Sem meios aéreos portugueses, a aviação indiana teve tarefa fácil ao destruir a torre de telecomunicações em Bambolim e a base militar em Dabolim. Pouco depois entravam em território de Goa, Damão e Diu as tropas da União Indiana, que ao contrário do que se esperava ainda se depararam com resistência de alguns militares portugueses, nomeadamente em Vasco da Gama, onde 500 militares fortemente armados obrigaram as forças indianas a combate.

Também a fragata Afonso de Albuquerque entrou em combate à frente da barra de Mormugão, mas foi presa fácil para os modernos navios indianos que a afundaram.

A destruição de pontes por parte dos portugueses fez também com que a ocupação total se tenha prolongado por mais de 2 dias, porque as tropas indianas não tinham meios para passar os rios de Mandovi (á frente de Pangim), e Zuari (a sul de Pondá). Como tal tiveram de pernoitar à espera de prosseguir em condições e para aceitarem a rendição das forças portuguesas em 19 de Dezembro de 1961.


http://www.supergoa.com/pt/40anos/vijay2.asp
IMPROVISAR, LUSITANA PAIXÃO.....
ALEA JACTA EST.....
«O meu ideal político é a democracia, para que cada homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado»... Albert Einstein
 

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Doctor Z

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« Responder #25 em: Setembro 04, 2006, 05:44:18 pm »
Parece que estão a esquecer uma coisa : a invasão da India portuguesa
pela a União Indiana comecou em 1954, com a anexão do territórios de
Dadra e Nagar-Haveli, perto de Damão ...
Blog Olivença é Portugal
"Se és Alentejano, Deus te abençoe...se não
és, Deus te perdoe" (Frase escrita num azulejo
patente ao público no museu do castelo de
Olivença).

:XpõFERENS./
 

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Lancero

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« Responder #26 em: Dezembro 17, 2006, 01:22:57 pm »
Estamos a chegar a 19 de Dezembro...

http://www.youtube.com/watch?v=uXJ3WK9Il6Y
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

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Rui Elias

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« Responder #27 em: Dezembro 18, 2006, 09:42:07 am »
Citar
Efeméride  
Goa assinou primeira frase do epitáfio do Império Colonial

Estado Português da Índia foi ocupado há 45 anos pela União Indiana, dando início a uma década negra para o Estado Novo. Salazar reconheceu que território era militarmente indefensável, mas recusou negociação com Nehru e exigiu sacrifício total

Paulo Martins / http://jn.sapo.pt/2006/12/18/mundo/


Batia o meio-dia quando as fragatas indianas entraram no porto. Cunha Aragão, comandante do navio "Afonso de Albuquerque", mandou picar a amarra e abrir fogo.

Manobrava, porém, numa área restrita. E aos 60 tiros por minuto da artilharia invasora só podia responder com dois. Estava escrito que não teria condições para rechaçar o inimigo.

O 1.º grumete telegrafista Rosário da Piedade pagou com a vida a supremacia das forças navais de Nehru. Gravemente ferido, o capitão-de-mar-e-guerra Cunha Aragão seria mais tarde promovido a comodoro. Um prémio para a ousadia demonstrada na (impossível) defesa militar do Estado Português da Índia, desaparecido nesse dia 19 de Dezembro de 1961.

Contrastante com a sanha persecutória que se abateu sobre o governador-geral Vassalo e Silva e 23 outros militares alvo de punições.

Não durou mais de 36 horas o primeiro golpe sério no Império Colonial Português, premonitório de uma década de guerras de libertação, cujo embrião fora, em Fevereiro desse ano de 1961, o ataque de nacionalistas angolanos à prisão de Luanda.

O contingente militar nos longínquos - e dispersos - territórios de Goa, Damão e Diu fora reduzido, dada a necessidade de reforçar Angola. Não ultrapassaria 3500 efectivos, apoiados por 900 indo-portugueses mal armados e duas companhias de polícia, quando à meia-noite de 18 de Dezembro a União Indiana desencadeou a invasão.

A "operação Vijay", que envolveu 45 mil tropas, apoiados por blindados, aviões de combate e até um porta-aviões, matou à nascença qualquer veleidade de defesa. Bombardeado o aeroporto e silenciada a estação radionaval, seria uma questão de tempo até à rendição sem condições. No terreno, ficaram 26 cadáveres.

Os restantes militares foram feitos prisioneiros.

Erguer a bandeira branca era a única opção que Oliveira Salazar recusava liminarmente. Quatro dias antes, enviara a Vassalo e Silva uma mensagem clara. "Não prevejo a possibilidade de tréguas, nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos", escreveu o ditador, exigindo ao governador-geral, também comandante militar, que aguentasse oito dias, tempo considerado necessário para que o Governo mobilizasse instâncias internacionais.

Negociar, nunca

Bem sabia Salazar que nenhum país sairia em seu socorro. Nem os Estados Unidos de John Kennedy, a que pedira uma declaração pública susceptível de dissuadir Nehru de abocanhar a Índia Portuguesa. Era, portanto, a imolação o que pedia, por nunca ter aceitado a alternativa negocial proposta por Nova Deli.

Nehru, ponta-de-lança do Movimento dos Não-Alinhados, com o indonésio Sukarno e o egípcio Nasser, apresentara como pacifista a sua Índia, libertada em 1947 do jugo britânico. ´

A comunidade internacional percebera que não abdicaria de completar a descolonização, o que envolvia territórios sob soberania portuguesa e francesa. Ao contrário de De Gaulle, Salazar supunha poder manter intocável o extenso império, herança das Descobertas. A sua intransigência era política, não económica. Desse ponto de vista, Goa valia muito pouco; Damão e Diu ainda menos.

Em conjunto, habitavam os territórios 625 mil pessoas. Como se tratou de uma invasão "anunciada", quem quis saiu a tempo, por via naval ou aérea. Ignorando o apelo de 13 de Dezembro da Emissora de Goa: "Se nos atacarem, ficaremos aqui sepultados".
 

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JoseMFernandes

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« Responder #28 em: Dezembro 23, 2006, 10:12:04 am »
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18 de Dezembro de 1961: o princípio do "fim"
Paulo Varela Gomes


Houve uma manhã em que fiquei um momento em silêncio perante esta bandeira no deserto cinzento da sala do museu. O guarda, lá ao fundo, dormitava. Olhei para o pedaço de pano poeirento e disse mais uma vez adeus ao Portugal de que gosto e que já não existe

No dia 18 de Dezembro de 2006 terão passado 45 anos sobre a queda do estado português da Índia. A data, como qualquer data que dizemos histórica, é importante apenas simbolicamente. Esta data em particular é mais importante para a história da ideia de Portugal do que para a história política do país (embora tenha assinalado o início do fim do império colonial). De facto, é possível que a invasão de Goa, Damão e Diu pelas forças armadas indianas e a rendição de quase todos os militares portugueses que aí serviam tenha sido um factor de destaque na afirmação de um certo pessimismo português, uma "ideia de fim" que é hoje dominante em muitos sectores intelectuais, para além de ter fundo impacto popular.
Há já alguns anos que vários comentadores - mas também historiadores, filósofos e outros profissionais das ideias - vivem como que fascinados pelo pensamento apocalíptico da Geração de 70 do século XIX e glosam interminavelmente temas anterianos e queirozianos acerca da decadência de Portugal como nação ou como entidade colectiva digna de existir. A procura de citações de Eça ou Ramalho para aplicar à situação presente do país tornou-se uma espécie de jogo de sociedade.
A esta deriva autofágica responde a deriva tecnocrática da crença no P"rá frente Portugal, no Portugal em Acção, protagonizada pelos dirigentes do PS e do PSD e pelos respectivos governos.
Nem uma nem outra destas duas narrativas sobre o destino pátrio são novas, como se sabe, embora a segunda exiba todos os tiques irritantemente saloios do novo-riquismo. Para não ir mais atrás, provêm do século XIX. E para simplificar, têm origem nas gerações de 70 e 90, respectivamente. O pessimismo de Antero - confirmado pelo ultimato britânico de 1890 - foi confrontado pelo optimismo voluntarista da pequena burguesia republicana, que viu a revolução de 1910 como a redenção da pátria pela modernidade.
Deste modo, entre a época de Antero, Eça ou Ramalho e a daqueles que agora os citam para dizer que o país "está na mesma", passou cerca um século de I República e de Estado Novo, em que o país não ficou "na mesma", mas, pelo contrário, esteve dominado por narrativas optimistas (a do Estado Novo pelo menos até à década de 1960) que mobilizaram opiniões públicas também elas crentes nas virtudes e no progresso de Portugal.
Foi sobretudo a oposição republicana anti-salazarista que repegou no discurso catastrofista da Geração de 70 para com ele castigar o Estado Novo, culpando-o pela manutenção do "atraso secular" da pátria e conseguindo, como efeito colateral, apagar da história, como se tivesse sido somente propaganda, o optimismo que se exprimiu, por exemplo, nas comemorações dos centenários na década de 1940.
Aquilo que justifica o retorno em força do pessimismo é o descalabro da legitimidade do presente regime, a III República (ou a República de Novembro, como também se lhe pode chamar): em primeiro lugar, o falhanço económico representado pelo último lugar que o país ocupa na União Europeia, apesar de anos a fio a receber subsídios, ou seja, apesar de uma economia toda ela subsídio-dependente e assente naquilo que milhares e milhares de portugueses percebem como tendo sido práticas fraudulentas nas quais participaram e das quais beneficiaram. Depois, a suspeita ética que pesa sobre as elites políticas centrais e locais como um manto de chumbo e a ideia generalizada de que vivemos num país onde a lei não é respeitada. Finalmente, a noção difusa de que "não somos capazes" e de que somos todos mais ou menos corruptos e ladrões.
A tudo isto se vem acrescentar periodicamente - agora, por exemplo, a propósito das memórias de Almeida Santos - a ideia de que alguma coisa correu drasticamente mal na descolonização, tendo assim acabado de uma forma cobarde a narrativa mais heróica da história de Portugal - a dos Descobrimentos.
Talvez o pessimismo tenha começado a renascer em 18 de Dezembro de 1961, ou melhor, algumas semanas depois, quando, ultrapassando a censura salazarista, se soube em Portugal da rendição das tropas portuguesas na Índia e dos episódios dignos de uma ópera-bufa que a acompanharam: Salazar a exigir aos militares que morressem em combate, depois de os ter desarmado sistematicamente durante anos... Pode ter sido de facto então, há 45 anos, que teve início o "fim de Portugal", só interrompido pela revolução do 25 de Abril estrangulada em Novembro.
Em 1961, caiu sem glória e sem orgulho a Índia de Vasco da Gama e Albuquerque, a Índia do mito lusíada. Em 1975, o resto do império. Depois, a crença na "Europa".
O entusiasmo patriótico-futebolístico e o agitar histérico das bandeiras a que assistimos em 2004 e no corrente ano só pode ser compreendido neste quadro histórico. O grito colectivo de "Somos os maiores!" é como que uma "denegação" (para usar o vocabulário psicanalítico): gritamo-lo, porque sentimos que não somos "os maiores". A escolha popular-televisiva do "maior português" e os debates a que tem conduzido inscrevem-se nesse mesmo ambiente de crise de legitimidade.
Talvez não fosse pior que, em Dezembro de 2006, 45 anos depois do fim, nos lembrássemos dos portugueses que, na Índia, não se renderam. Sem armas, sem munições, já sem legitimidade histórica, esmagados pelo potencial indiano, não se renderam: a guarnição de Damão que resistiu durante muitas horas com elevadas baixas. O primeiro-grumete telegrafista Rosário da Piedade que morreu quando o navio Afonso de Albuquerque enfrentou em condições desesperadas a armada indiana na barra de Goa. O comandante do navio, capitão-de-mar-e-guerra Cunha Aragão, que ficou gravemente ferido, mas ainda conseguiu transmitir ao oficial imediato, capitão-de-fragata Pinto da Cruz, a ordem de assumir o comando e não se render. O comandante da lancha Vega, Oliveira e Carmo, que morreu em combate com dois dos seus homens ao largo de Diu, metralhado pelos aviões indianos, contra os quais, cumprindo o seu dever, abriu fogo (três outros tripulantes ficaram feridos e a lancha destruída). A guarnição do forte Aguada em Goa. Os combatentes da ilha de Angediva.
E de cada vez que sentirmos a tentação de ir buscar a bandeira por causa do futebol ou de mais uma inauguração de um troço de auto-estrada, lembremo-nos de que, exposta numa vitrine da sala do Património Marítimo do Museu Nacional de Deli, capital da Índia, está a bandeira verde e vermelha do Afonso de Albuquerque, capturada pela marinha indiana, quando o navio, quase completamente destruído, deu à costa.
Houve uma manhã em que fiquei um momento em silêncio perante esta bandeira no deserto cinzento da sala do museu. O guarda, lá ao fundo, dormitava. Olhei para o pedaço de pano poeirento e disse mais uma vez adeus ao Portugal de que gosto e que já não existe. Historiador


no jornal PUBLICO de 23/12/2006
 

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Luso

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« Responder #29 em: Dezembro 23, 2006, 11:50:23 am »
Excelente texto!
A este propósito recordo o documentário apresentado na 2 e que considero excelente mas também vos deixo aqui um texto mais cáustico:
(nota: não concordo que Mário Crespo seja um imbecil, mas o resto do texto é muito interessante)

GOA
Correm 45 anos sobre a brutalidade da invasão do território português de Goa e sobre o tema acabo de ouvir a palavra autorizada de Adriano Moreira, uma vez mais apesar das interrupções impertinentes, desta feita não da idiota da Campos Ferreira, mas daquele homem de óculos cujo facies poderá indiciar o que o Lombroso definiria como imbecilidade compulsiva. Mas valha o mérito de alguém (neste caso, o canal balsemónico) se recordar do assunto e convidar o Ministro do Ultramar da altura para ensinar os brutos e avivar a memória dos esquecidos. Entre o que ouvi e o que me lembrou (e houve outro confrade que não esqueceu), decidi-me não só a reeditar abaixo o que há um ano, por esta altura, escrevi sobre o mesmo assunto, mas também algo mais, a acrescer ao que não mudou.
Em primeiro lugar, o livro de M.J. Stocker, Xequemate em Goa, interessante e informativo, mas aquém do que se esperava e se sabe poder ser extraído da monstruosidade documental existente no arquivo do MNE e do Arq. Histórico Ultramarino. Sobretudo, não fica suficientemente sublinhado o facto referido por Adriano Moreira: o clamoroso atentado ao Direito e à Moral internacional assim praticado pela pacifista U. Indiana e o miserável papel da ONU durante toda a crise. Vem de longe. Depois, o facto de ao clássico de história militar, A queda da Índia portuguesa: crónica da invasão e do cativeiro, do ilustre militar Carlos Alexandre de Morais, se terem seguido mais um ou dois títulos de relevo que lamentavelmente donde escrevo me não é possível citar com rigor, mas cujo mérito, entre muitos, é de quebrar o monopólio da galhardia e do testemunho da resistência desse ferrabraz do General Azeredo, ex-ordenança do macróbio Soares e menos conhecido pelo comportamento indigno e ordinário que teve como carcereiro de dignatários do antigo regime na ilha da Madeira. Um outro apontamento, é o da confirmação do fraco salário do crime dos "patriotas" goeses, um bando de marmanjos formado e alimentado por Portugal, gerado nesse grupo racista dos auto-definidos "brâmanes católicos" de Margão, que dias passados sobre aviltantes vassalagens às autoridades portuguesas estavam já a facilitar e a festejar a entrada dos militares sikhs no território. Convenceram-se que a União Indiana lhes daria um estatuto privilegiado de indiática Atenas, quando afinal Nehru (conhecendo a pinta da bicharada) lhes pagou com o desprezo e a humilhação de colocar o território sobre a tutela do governo central, onde se manteve até 87, quando, pela influência de Jack Sequeira junto de Rajiv Ghandi, se tornou efectivamente um Estado autónomo. Que aliás, para lá do negócio do turismo selvagem, em nada se impôs, a não ser pela fama de inépcia e corrupção dos sucessivos governozecos locais. Nada digo sobre os milhares de goeses dignos e leais, que por aqui se exilaram, ou os outros que lá ficaram, que não falam para as câmaras e que, como durante a visita do Dr. Soares, foram empurrados para os cantos das estradas e dos palmares para abrir espaço aos salamaleques das elites locais. Por diversas razões, sobre o destino dos "patriotas" e da carreira "heróica" dos freedom-fighters, também nada digo; o comunóide pai do Ministro António Costa já passou a melhor mundo, mas que falem o nababo tonto do Dr. José Blanco, que anos a fio os andou a apajar com as benesses da FCG, os cúmplices dos traficantes nacionais de antiguidades pilhadas nos templos goeses ou aquele jesuíta renegado e bombista, que hoje, casado e com o passaporte luso nas unhas sobrevive a dar aulas numa das univ. privadas da capital.
Enfim, gostava de ser mosca do Mandovi e, à sombra do velho Palácio do Hidalcão, testemunhar de visu qual vai ser o tom do nosso Presidente e a eventual erupção de postura ideológica e sapatológica da Primeira Dama, quando em Janeiro, ao som dos mandós, dos fados dos Mirandas de Margão, e nos requebros da chula com caril, visitarem a terra que foi a sede política, administrativa e diplomática do Estado Português da Ásia, cabeça do Patriarcado das Índias e Mãe das Missões do Oriente. Suspeito que tudo um pouco demais para os gorgomilos do casal de Boliqueime. Oxalá, durante a genuflexão da praxe na Igreja do Bom Jesus, a vetusta imagem do Santo Xavier prodigiosamente se animasse e lhes desse na tola com o bastão dos Vice-Reis que ainda conserva nas mãos. Em justa paga a este bando de ingratos que por aqui ficou a vegetar no torrão.

A Nossa Velha Goa (post de 17.12.05)

A atenção devida e equanimemente partilhada entre os meus cães, os meus livros e dois ou três mapas cuja vetetusta papelaça os faz carentes de atenção, privaram-me da possibilidade de confirmar as mais sinistras previsões de MCB nas Combustões sobre as alusões comemorativas em mais um aniversário decorrido sobre a invasão do Estado Português da Índia pela União Indiana. Espero que não. Ou que sim, porque tal lembrança constituiria uma pungente dúvida sobre a coerência no desatino da consciência nacional, que considero programático e infalível.
O choroso romance goês continua, mas hoje confinado às gavetas das Necessidades, nos nédios processos das inépcias consulares lusas, nos desmandos majestáticos das Fundações lá deixadas à redea solta, no oportunismo de freedom fighters reconvertidos à esperteza de sugar a teta das bolsas, dos apoios, et al. que a tradicional palermice correctamente pensante por cá prodigaliza com medo de parecer mal...
Entretanto, a memória do que interessa pelas águas cálidas do Mandovi se dilui... Ó jus-historiadores e jus-internacionalistas e mais peritos (tantos, ó céus!) das Relações Internacionais! Para quando um estudo completo e objectivo sobre o que foi a nobre campanha travada em Haia, no Tribunal Internacional de Justiça sobre os nossos direitos na Índia? Para quando a justiça feita a Galvão Telles, Silva Cunha e ao quase esquecido Alexandre Lobato que, sozinhos, arcaram com as responsabilidades da batalha? Porque de resto, já sabemos tudo da bondade, da ternura e das lágrimas de Vassalo e Silva ou da habilidade do último Patriarca das Índias, tanto quanto da dignidade das forças que se quiseram bater e o que fizeram e tantas outras a quem esse direito sonegaram. Dizem-me que jovem doutora granjeou o grau escorada em imponente tese sobre a queda do nosso Estado da Índia. Xeque-mate em Goa é o título. A ver o que dali sai. A imagem xadrezística promete.
Entretanto, não sei se alguém notou, passaram este ano os 400 sobre a fundação do Estado da Índia por D. Francisco de Almeida. Não notaram, já calculo. E é pena porque entre tanta comemoração que não vale a casca acarvalhada de um melão de Almeirim, ninguém se lembrou de picar uma dessas fundações da av. de Berna ou do Salitre e levá-las a fazer ao menos o que qualquer nação de marchantes anafados, como a Holanda, fez com as estrondosas comemorações da sua malfadada VOC. Perdão, parece que houve alguém, mas lá das bandas das Necessidades disseram que era melhor estar quieto para não ofender os Indianos...".


Para que a história não se repita.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...