O presidente da Liga de Chineses em Portugal (LCP), Y Ping Chow, considera que a repressão usada na manifestação da praça de Tiananmen, em 1989, em Pequim «foi um mal necessário para evitar um mal maior».
Em declarações ao tvi24.pt, na celebração dos vinte anos da manifestação pró-democrática, Y Ping Chow, descendente da primeira família de chineses residente em Portugal, referiu que se as autoridades chinesas «não tivessem tomado uma decisão drástica» o resultado «seria uma revolta incontrolável».
Apesar de «compreender a posição dos manifestantes», que reivindicavam uma reforma democrática, acredita que os 100 mil estudantes, professores e intelectuais que rumaram à principal praça de Pequim, no dia 4 de Junho de 1989, «não escolheram a melhor altura para o fazer». Por isso mesmo «houve uma decisão forçada por parte das autoridades chinesas» para intervir.
Liberdade política «vem com o tempo»
Mesmo sendo a favor da liberdade política, Y Ping Chow acredita fundamentalmente que a população necessita, antes de tudo, de estabilidade financeira. «O povo não tem interesse em liberdade política, quer sim viver bem», só depois «de ter dinheiro para comer, para beber e para bens materiais é que pode preocupar-se com outras coisas».
Chow acredita que nestes últimos vinte anos, o regime chinês «acelerou a abertura económica» e tem a certeza de que «com o tempo as coisas vão abrir mais» no que toca à liberdade política e à liberdade de expressão.
Depois de todos estes anos, o responsável pela LCP não acredita que «outra manifestação fosse possível de acontecer agora». Para Y Ping Chow «os chineses agora vivem bem» e «as pessoas satisfeitas não pedem mais».
Repressão ainda não diminuiu
Outro entendimento tem Teresa Nogueira, responsável pela secção China da Amnistia Internacional (AI) em Portugal, que afirma que a repressão ainda não diminuiu e que o motor económico chinês «cresce com base na exploração dos trabalhadores», recorrendo a «mão-de-obra barata».
Ainda que para a responsável a revolução não esteja terminada, nos vinte anos após os protestos na maior praça do mundo, a população chinesa foi adquirindo «uma maior consciencialização pelos direitos humanos», com cada vez «mais pessoas envolvidas» em actos de sensibilização.
No entanto, o regime chinês ainda «continua com a repressão». Teresa Nogueira denuncia o caso de um «antigo soldado presente na praça que pediu às autoridades para reconsiderar o que aconteceu» e «está desaparecido desde 20 de Março».
Refere ainda o facto de três pessoas que estiveram presentes no «massacre» continuarem detidas, «acusados de crimes contra-revolucionários». Outro caso é o do primeiro signatário da Carta 08, um manifesto que apela à democratização do regime, «que também foi detido».
Ocidente «dobrado perante regime chinês»
Algo que considera «uma vergonha» é a passividade de Portugal e dos países Ocidentais que «têm-se dobrado perante o regime chinês para obter lucros a curto prazo e de curta duração».
Esta «crise de valores» já levou à «falência de empresas portuguesas», resultado da abertura a um tipo de «comércio que não é justo» e que recorre ao «trabalho de escravos». Para Teresa Nogueira, esta forma de agir revela uma «estreiteza de visões por parte de Portugal, da União Europeia e dos Estados Unidos, ainda que em menor grau».
A manifestação de Tiananmen, denominada por alguns como massacre, teve origem nas reformas económicas de Deng Xiaoping em 1978. No entanto foi a morte do ex-Secretário Geral do Partido Comunista, Hu Yaobang, que desencadeou os primeiros protestos.
Com início no dia 14 de Abril de 1989, as manifestações tomaram proporções mais drásticas no dia 4 de Junho. O número de vítimas ainda deixa dúvidas. Fontes do Governo chinês referem 100 feridos e 30 mortos, no entanto médicos da Cruz Vermelha relatam a entrada de milhares de mortos e feridos nos hospitais no dia da investida militar.
TVI24