Alguns colegas foristas notadamente contrários à aquisição do KC-390 pela FAP, a meu ver, desperdiçam muito tempo e energia com afirmativas sem cabimento e frágeis demais para ser levado a sério.
Qualquer um que acompanha atento o mundo da tecnologia militar, especialmente relacionado à aviação militar, deve saber que:
O KC-390 foi projetado em sua concepção para operar em pistas semipreparadas (pelo menos na FAB será uma constância, notadamente no ambiente amazônico).
Vou explicar melhor: o trem de pouso principal do KC-390 é do tipo bogie de quatro rodas que oferece operação eficiente em pistas semipreparadas de solo macio (categoria CBR-4), assim como capacidade de absorção de impacto para operações em pistas danificadas, suportando a aeronave em locais remotos e sem suporte.
Como os opositores sempre recorrem às comparativas com o C-130 J, julgo salutar elencar algumas determinantes para ilustrar melhor a questão:
Diferentemente do que ocorre com o C-130 J, os motores turbofan fornecem velocidade inigualável ao KC-390. O avião da Embraer é o
cargueiro tático (com vocação para missões estratégicas) mais rápido atualmente existente no mercado.
Diferentemente do que ocorre com o C-130 J, um projeto cuja a gênese remonta a década de 50 do século passado, o KC-390 incorpora as mais avançadas e comprovadas tecnologias e conceitos de projeto. Equipado com tecnologia de ponta, proporciona carga de trabalho reduzida para a tripulação, com eficiência e precisão para o cumprimento da missão. Além disso, a aeronave da Embraer possui head-up display duplo com sistema de visão avançado, o que permite consciência situacional melhorada em cenários de operações críticas, como em condições de baixa visibilidade.
Diferentemente do que ocorre com o C-130 J, uma única célula do KC-390 fornece versatilidade para desempenhar uma gama muito maior de missões.
Diferentemente do que ocorre com o C-130 J, o KC-390 dispõe de Fly-by-Wire que fornece excelente manobrabilidade em baixa velocidade.
Diferentemente do que ocorre com o C-130 J, o KC-390 pode ser reconfigurado para todas as missões em 3 horas ou menos.
Diferentemente do que ocorre com o C-130 J, o KC-390 é equipado com um avançado radar tático, com as funcionalidades Spot SAR (Radar de abertura sintética Spotlight), modos de meteorologia, ar-ar, navegação, ar-terra e de alta resolução.
Diferentemente do que ocorre com o C-130 J, para missões de lançamento de cargas, o KC-390 dispõe do algoritmo de lançamento de carga computado continuamente (CCDP) que utiliza a altitude, velocidade e vento para definir o ponto de lançamento ideal para atingir a zona de salto. Este algoritmo permite lançamento de carga manual e automática.
Diferentemente do que ocorre com o C-130 J, o sistema avançado de manuseio de cargas (“Cargo Handling System” - CHS) do KC-390 é projetado para reconfiguração simples e rápida para diferentes missões, sem a necessidade de ferramentas especiais.
Diferentemente do que ocorre com o C-130 J, o CHS do KC-390 é totalmente compatível com os equipamentos de transporte aéreo militares já existentes, como plataformas tipo V, paletes 463L, fardos A-22 CDS (Container Delivery System) e carregadores terrestres.
Diferentemente do que ocorre com o C-130 J, o compartimento de cargas do KC-390 pode ser configurado entre piso plano para configuração de cargas em roletes em menos de 30 minutos, devido à capacidade flip-over do piso.
O KC-390 pode ser equipado com um conjunto completo de equipamentos para apoio a missões de Busca e Salvamento: POD Infravermelho / Eletro-óptico Removível (EO / IR); Quatro posições para observadores; Macas laterais e/ou assentos para tripulação; Tanques de combustível internos removíveis para aumento do alcance ou tempo em em missão de busca e salvamento, por exemplo.
Enfim, é inegável que o C-130 J está mais do que provado como aeronave robusta e confiável. Entretanto, o que o C-130 J faz, o KC-390 também o faz e melhor.
E isso tem seu preço. Mais: o que torna por si justificável a provável aquisição do KC-390, valendo a pena o considerável investimento a ser alocado, é a expressiva participação e envolvimento da engenharia aeronáutica lusa no projeto. Trata-se de um fator que não se pode desconsiderar.
Portanto, alguns que se opõem ao KC-390 no inventário da FAP, sem nenhuma ofensa, é preciso elevar um pouco mais o nível do debate.