Os mitos da Economia Brasileira
(*) Valter Pereira Appas
A Economia Brasileira sempre foi permeada de MITOS desde os seus primórdios, que acabam afetando-a de uma forma ou de outra. O primeiro mito criado, tem autor e foi documentado: Pero Vaz de Caminha eufórico com a beleza e abundância da nova terra, escreveu ao rei que aqui em se plantando tudo dá.
Não é bem assim, se não implantarmos sofisticados sistemas de irrigação na caatinga do Nordeste por exemplo, não colheríamos nem mandacaru. No Centro-Oeste, que nos últimos anos vivencia um boom na agricultura, se não se corrige o solo antes, qualquer plantio é inviável.
Caminha deveria ter escrito que aqui, se corrigindo o solo, se irrigando e utilizando-se muita tecnologia, aí sim, em se plantando, tudo dá.
Outro MITO que prevaleceu por séculos, é que éramos um país de vocação eminentemente agrícola, que nosso destino era de sermos eternos exportadores de produtos primários. Esse mito, alimentado pela oligarquia rural dominante até a década de 30 do século passado, começou a ser sepultado por Vargas, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional e da Petrobrás e, teve sua última pá de cal lançada por J.K., com a implantação da indústria automobilística dentro do seu famoso plano de metas.
Com a industrialização já em curso, surgiu a onda de que o produto nacional não tinha qualidade, só o que vinha de fora era bom. Hoje, o mundo consome de sapatos a automóveis feitos no Brasil, e não há reclamações.
Mais recentemente, fomos afetados por interpretações equivocadas, que, de tão repetidas, tornaram-se novos mitos sobre a economia. Um deles é que a década de 80 foi a “década perdida”. Afirma-se isso, como se o país tivesse retrocedido em sua trajetória política e econômica durante esse período.
Muito pelo contrário. Nesses anos, fizemos uma transição política da ditadura para a democracia, sem derramarmos uma gota de sangue. Além disso, promulgamos uma das constituições mais liberais do mundo e, todos os indicadores sociais melhoraram, da educação ao saneamento básico. O crescimento econômico foi menor que nas décadas anteriores, mas foi acompanhado de modificações estruturais que permitiram a auto-suficiência do país em vários setores, como siderurgia, papel, celulose, alumínio e outros, permitindo inclusive a exportação desses produtos, e tendo como conseqüência a obtenção dos superávits comerciais gigantescos obtidos nesse período. Portanto, a chamada “ década perdida”, é somente mais um mito equivocado dos muitos que povoam nossa trajetória como nação.
As consequências dessas visões equivocadas para o país são enormes.
Bilhões de dólares deixam de serem investidos na economia exatamente pelas distorções de percepção que essas análises míopes fazem sobre os investidores.
Nos últimos anos, com o processo de globalização e a proliferação de agências classificadoras de risco, é recorrente que qualquer crise que ecloda na mais remota região do planeta, o país mais afetado será sempre o Brasil.
Na recente crise do Iraque, que culminou com a invasão desse país pelos Estados Unidos, o nervosismo por aqui era tanto, que a impressão é que Brasília, e não Bagdá, é que seria bombardeada. Pois bem, a guerra começou e acabou e por aqui não houve nenhum reflexo, pelo contrário, o fim do conflito coincidiu com a melhora de todos os nossos indicadores, a queda do preço do petróleo, permitiu, inclusive, uma baixa nos combustíveis, ajudando no refluxo da inflação.
É difícil diagnosticar as razões sociológicas e históricas desse tipo de comportamento coletivo de um povo. Nos últimos 50 anos passamos do 46o. lugar para nos colocarmos entre as dez maiores economias do mundo, e, politicamente, nos consolidamos como uma democracia exemplar. Mas a sensação é que fracassamos, apesar das evidências em contrário.
Reverter esse sentimento, através da informação isenta de nossa realidade, e mostrando claramente os avanços significativos alcançados até aqui, talvez seja o primeiro passo para afastar o derrotismo infundado que se disseminou entre nós.
(*) Valter Pereira Appas, autor desta coluna, é historiador, especializado em História Econômica do Brasil, professor de Geopolítica e Economia