Em jeito de balanço, na ZOT para que lado pendia o conflito?
É provavelmente muito cedo, para se fazerem análises sobre a situação.
Em minha opinião, a ofensiva do Tete foi por um lado, uma tentativa de desviar as atenções das forças portuguesas que tinham sido transferidas para o norte durante a operação Nó Górdio.
Do ponto de vista táctico a operação Nó Górdio foi eficaz, mas do ponto de vista estratégico, se fosse possível demonstrar que os terroristas podiam atacar noutras áreas com facilidade, então seria possível dar a impressão de que Nó Górdio tinha sido um completo fracasso e um gasto inutil de recursos.
Por outro lado a ofensiva no Tete, pretendi demonstrar a capacidade dos terroristas para minar ou impedir a construção da barragem de Cabora Bassa, que era vista como uma afirmação portuguesa de que os portugueses estavam para ficar e por isso faziam ali grandes investimentos.
Tanto quanto se sabe, a FRELIMO nunca conseguiu atrasar significativamente a construção da barragem que ficava bem no centro da província do Tete.
A conclusão que podemos retirar, é que a ofensiva do Tete, foi acima de tudo uma vitória estratégica da FRELIMO, que foi posteriormente utilizada para minar a moral dos portugueses, quer dos militares quer dos cidadãos na Metropole.
A ofensiva, justificou durante muito tempo a já estafada tese de que a guerra estava perdida.
A verdade, é que por um lado no norte, a FRELIMO teve as suas redes desarticuladas, mas como elas tinham a sua base na Tanzania, puderam ser redirigidas através do Malawi.
As relações entre Portugal e o ditador do Malawi, eram muito boas, pelo que se o tempo tivesse permitido, o corte desse tentáculo seria quase certo.
Um dos problemas que a FRELIMO tinha era o atravessamento do Malawi, o outro, eram os militares da Rodésia, que também actuavam na região. A via através da Zambia era mais complicada, porque a FRELIMO não tinha o mesmo tipo de facilidade por parte do governo de Kennet Kaunda da Zâmbia, que tinha do governo tanzaniano de Julius Nierere.
Aliás, li algures (não me lembro onde) que os rodesianos chegaram a queixar-se da ineficiência das tropas portuguesas, que eram muito mais numerosas que as deles, mas que pouco ou nada faziam. Os militares da Rodésia agiam contra os insurgentes da ZANU, mas alegadamente entravam em território português com facilidade. Esta última informação foi-me dada há bastante tempo, por pessoas que ficaram em Moçambique vários anos após a independência.
Aparentemente, os guerrilheiros negros contrários ao governo da Rodésia, tinham o apoio do Kennet Kaunda, mas a FRELIMO não tinha esse apoio. Portugal e a Rodésia fizeram esforços para coordenar operações contra os dois movimentos, com o apoio logistico da Africa do Sul que fornecia helicópteros PUMA, porque Portugal tinha apenas seis desses helicópteros em Moçambique e só parte podiam ser permanentemente utilizados.
(nota: Foi a pensar neste tipo de operações que Portugal comprou mais de 20 aviões CASA AVIOCAR, que como grande parte do material adquirido não chegou de facto a ser utilizado na tal guerra que estava perdida)
Na verdade, acredito que muitos dos comandos portugueses achavam que não precisavam fazer praticamente nada.
Ocorre que ao optar por atacar no TETE, a FRELIMO cometeu o mesmo erro que o MPLA e a FNLA cometiam em Angola:
Para realizar uma operação os insurgentes tinham que percorrer centenas ou milhares de quilometros e carregar o armamento às costas. Uma força com este problema, acaba vendo a sua operacionalidade muito reduzida. Eventualmente esta análise e apreciação táctica da situação, faria com que fosse preferível deixar a FRELIMO andar de um lado para o outro a carregar armas, porque o efeito real na vida das populações era mínimo.
No máximo eles realizavam uma operação de vez em quando e o objectivo dessas operações, é o de desonortear os militares ocidentais, e po-los a caçar gambusinos.
Foi a táctica utilizada contra os americanos no Vietname.
Os portugueses aparentemente fosse por inércia, fosse por falta de meios, fosse para evitar mais operações nó górdio, fosse por achar que não valia a pena, acabaram por não seguir essa via.
A ideia de que a guerra podia ser ganha, tentando ganhar o apoio das populações, enviando médicos e dando auxilio às aldeias isoladas, estava a começar a ser aceite por muita gente.
Era aliás o maior terror dos instrutores soviéticos, que nunca desenvolveram uma estratégia eficaz contra esta táctica.
Não precisaram.
Ganharam a guerra na secretaria em Lisboa, em 25 de Abril de 1974