Caro Miguel Silva Machado,
Em primeiro lugar parabéns pelo texto e pelo site.
Em comparação com 1998, poderíamos identificar um novo e preocupante elemento: narco-tráfico. Um narco-estado não depende tanto da ajuda exterior como a Guiné dependia em 1998. Motivo suficiente para que possa ocorrer uma guerra sangrenta e sem condescendência para com cidadãos estrangeiros no território. Pior: pode ser aproveitada pelas facções para eliminar os elementos incómodos.
Escusado será dizer que, nessa situação, os cidadãos portugueses poderão encontrar-se abandonados perante a nossa impotência militar.
Também há outra dimensão: a situação na Guiné-Conakry, país que durante muito tempo teve ambições territoriais sobre a Guiné-Bissau, e onde o fim do regime de Lansana Conté (patrocinador de Nino Vieira) é uma das principais causas da actual crise.
Do ponto de vista técnico existem algumas hipóteses no ramo mais debilitado para uma eventual intervenção:
- Aprontar uma FF, ainda que correndo o risco de afectar a nossa participação/comando da SNMG1. Uma situação que seria lamentável, mas first things first...
- Requisitar um dos paquetes de bandeira portuguesa (Funchal, Arion...) ou o ferry Lobo Marinho, que faz a ligação Madeira-Porto Santo, para transporte de uma força de fuzileiros e eventual evacuação de nacionais.
- Desviar duas das corvetas em função SAR, usando os navios oceanográficos em seu lugar.
O problema mais grave é se localmente não obtivermos a neutralidade, nem do Senegal e Guiné-Conakry.
É uma vergonha, mas há muito tempo previsível: 11 anos depois, continuamos sem um único navio anfíbio, nem nada que se pareça com uma capacidade anfíbia credível.
Além do mais, parece-me por demais evidente, sobretudo colhendo ensinamentos de 1998, que o navio que a Marinha precisa é um LHD e não um LPD. Custa um pouco mais, mas faz um mundo de diferença, sobretudo para um país com recursos limitados como é o nosso.
JQT