É algo absolutamente mais que evidente que um dos problemas do país, desde há muitas e muitas décadas é a não existência de uma classe média empreendedora.
Muitos dos nossos empresários habituaram-se a que seja sempre o Estado (ou seja o contribuinte) a pagar a conta e em muitos casos nem sequer se dão ao trabalho de apresentar resultados ou justificar custos.
O projecto de míssil da guarda, é algo de interessante, mas como em muitos outros casos é algo de interessante mas que como foi dito acima está a anos-luz do que quer que seja que possa estar no mercado a preços módicos.
Em vez de gastar os 15 ou 20 milhões de Euros necessários para produzir modelos de teste acha que o exército prefere o quê?
Protótipos ou 200 misseis Spike ?
É muito complicado construir qualquer coisa e para fazer qualquer coisa, é necessário dinheiro em quantidade e um mercado potêncial que justifique o investimento.
Garanto que são necessárias muitas coisas, mas nos planos de negócios e nos mapas de projecções não há uma quadricula para o factor Fé.
Lamento muito, mas no mundo real dos negócios, a Fé não é quantificável. Quando temos que apresentar uma ideia a um banco, ou temos qualquer coisa palpável, ou somos corridos.
Isso é assim em Portugal como é noutros lugares, excepção feita naturalmente ao capital de risco, mas isso é outra coisa.
Notar que a maioria das empresas de armamento estrangeiras são ou foram resultado da iniciativa privada.
Nós tivemos algumas industrias, mas que estavam inicialmente preparadas para produzir tractores agricolas (como a MDF) e que passaram a produzir Berliets por necessidade.
Quando acabou a guerra, já não havia mercado e o exército não tinha como colocar encomendas para a quantidade de Berliets que seriam necessárias para garantir que a empresa continuava a funcionar.
Com os UMM, aconteceu algo parecido. A iniciativa privada sem garantias efectivas do Estado, pura e simplesmente fugiu com o "traseiro" à seringa. Provavelmente não tiveram Fé.
Não devemos pedir Fé nos negócios ao Estado, mas sim aos empresários e a realidade do país, é que os nossos empresários parecem não ter Fé nenhuma. Pelo menos os empresários à antiga. Porque há muitos que já entenderam que é necessário investir com pés e cabeça, mas mesmo assim nota-se ainda o problema do passado.
O resto meus senhores é conversa. Conversa barata de político. Fé vontade etc...
É o mesmo tipo de conversa que criou todos os elefantes brancos deste país.
Mas como ninguém pede nunca responsabilidades, continuamos com estes discursos estéreis que apenas dão lucros a empresários desonestos que apenas pretendem meter dinheiro ao bolso.
Vide o caso patético da central nuclear, que para ir para a frente tinha que ser o Zé a pagar...
Eu sou absolutamente a favor de investimentos, sou a favor de uma economia liberal e até acho que em situações específicas pode e deve haver intervenção do Estado. Mas isto não é um estado de economia planificada do estilo soviético com planos quinquenais.
Quem quiser que avance com o dinheiro e que invista, mostrando ideias boas. Não me venham dizer que não há nada, porque há em Portugal muita gente que tem seguido em frente sem ter o apoio do Estado. Mas é preciso saber separar o Trigo do Joio e não se pode apoiar toda e qualquer ideia de investimento apenas porque é portuguesa.
Há muito produto português que não presta e o dinheiro do contribuinte não pode servir para financiar empresários que não são capazes de produzir produtos com qualidade.