Depois de termos aqui por diversas vezes discutido o assunto, vem o
jornal O Publico descobrir aquilo que à muito sabiamos, mas os politicos e muitos "entendidos" querem ignorar, as forças armadas precisam urgentemente de meios de "protecção".....
Portugal sem meios para proteger tropas no Líbano
Manuel Carlos Freire
O "grau de protecção" das tropas constitui o elemento crítico na preparação de uma força militar de interposição para o Líbano, disseram ontem especialistas militares ao DN.
"Mais importante do que [saber quais] as forças é o tipo de equipamento" blindado que há para proteger os soldados, num conflito com a intensidade do que está a opor Israel e o Hezbollah desde o passado dia 12 deste mês, enfatizou uma das fontes, enquanto outra observou estar-se perante "um dos cenários mais complicados" para actuar porque "o barril de pólvora pode alastrar" ao Irão.
No caso português, em que o Governo admite participar numa força da UE para intervir no Líbano, um porta-voz do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) disse ao DN que "nada está a ser equacionado a nível militar" para aquele teatro de operações, dada a indefinição que ainda há no plano político.
Contudo, é possível tirar algumas ilações sobre o que é que Portugal - querendo assumir-se como um "produtor de segurança e estabilidade" na cena internacional - pode ou não empenhar (meios e pessoal) numa missão destas. No plano dos equipamentos, frisaram as fontes ouvidas sob anonimato, seria necessária uma lei de reequipamento militar específica - para equipar carros de combate da Brigada Mecanizada de Santa Margarida ou para adquirir Humvees blindados, como os que estão a ser usados no Afeganistão.
Uma opção dessas (assumida quando se enviaram tropas para a Bósnia ou Timor) exige verbas significativas, o que equivaleria a mais um investimento extraordinário e não contabilizado no Orçamento do Estado para este ano - como não o foram os custos de enviar tropas para a República Democrática do Congo ou de prolongar a estada da força militar estacionada no Afeganistão, cujos montantes continuam no segredo dos deuses. Por isso, e porque o Executivo mantém o compromisso de reduzir para 4,6% o défice público, as implicações financeiras têm forçosamente de ser tidas em conta.
Lembre-se que Portugal, alegando razões financeiras, decidiu retirar as suas forças militares do Kosovo (2000) num momento em que a situação se agravava - e a NATO pedia maiores contribuições dos países membros. E que, pouco depois e pelas mesmas razões, o então comandante operacional das Forças Armadas, general Alvarenga Sousa Santos, cancelou as cerimónias do Dia das Forças Armadas - uma cerimónia semelhante, embora significativamente mais pequena, à do desfile de tropas e exibição de meios que se realizou no passado dia 10 de Junho (com custos também não contabilizados nos orçamentos militares).
Botas no terreno
No plano das forças terrestres passíveis de ser enviadas para o Líbano, e em função do tipo de forças que têm estado empenhadas no estrangeiro (ver infografia), está praticamente fora de questão destacar qualquer unidade dos Pára-quedistas - uma componente da Brigada de Reacção Rápida (BRR) do Exército que está neste momento em trânsito para missões no Afeganistão e no Kosovo.
Em relação aos Comandos, que também pertencem à BRR, a situação é quase inversa: uma das duas companhias regressa nas próximas semanas do Afeganistão, donde a primeira saiu em Fevereiro passado. Como uma unidade dificilmente descansa apenas quatro meses entre duas missões no estrangeiro, é praticamente inviável usar aquela tropa no Líbano, admitiram algumas das fontes. Mas pode acontecer, perante "situações inopinadas" como a da constituição de uma força da UE para o chamado "País dos Cedros", assinalou um oficial superior com experiência de operações no exterior.
Entre as forças especiais, restam os Fuzileiros - mas sem viaturas blindadas de protecção, cuja utilização iria encarecer bastante a participação portuguesa (dadas as exigências logísticas e de manutenção). Sobram, em princípio, aviões (um C-130?) ou alguns controladores, já que meios navais para servirem como força de bloqueio parecem fora de questão.