Bem, é uma "thread" antiga, mas existem alguns desenvolvimentos interessantes.
Depois de tanta conversa dos milhões todos bla, bla, bla, que ainda niguém viu, qual é a triste realidade da ciência em Portugal?
Devido ao não pagamento das quotas, Portugal foi suspenso do ESO (Observatório Europeu do Sul), perdendo o direito de voto e vendo o acesso aos telecóspios ameaçado, até que as quotas de 2003 e 2004 sejam pagas.
Como se já não bastasse este escândalo, agora também não aparece o dinheiro comprometido para a participação portuguesa no LHC (Large Hadron Collider) no CERN, talvez o maior projecto científico europeu nos últimos 20 anos.
Parabéns, exma. ministra Maria da Graça Carvalho ! Com que proeza nos quer brindar a seguir ( humilhar quero eu dizer) ?
Portugal Não Está a Cumprir Compromissos com o CERN
Sábado, 26 de Junho de 2004
Problema arrasta-se há dois anos
Atraso nos pagamentos pode comprometer parte do novo acelerador de partículas europeu
Teresa Firmino
O Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN), em Genebra, na Suíça, está a construir um novo acelerador de partículas. É o Large Hadron Collider (LHC), que deverá começar a funcionar em 2007, acelerando partículas subatómicas e fazendo-as colidir, para desvendar os mistérios mais ínfimos da matéria. Mas para entrar no mundo do muito pequeno, os aceleradores têm de ter detectores que analisam as partículas resultantes dos choques - é no desenvolvimento de um desses detectores, o CMS, que participam cerca de 25 cientistas portugueses. O problema é que não receberam as verbas previstas para 2003 e 2004, destinadas à construção de componentes vitais do CMS. Por isso, o director-geral e o presidente do Conselho do CERN planeiam visitar Portugal em breve.
Para o físico João Varela, o coordenador do grupo português na experiência CMS, esta situação é "grave". "Portugal está em vias de perder a face", diz o professor do Instituto Superior Técnico (IST) e investigador no Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), ambos em Lisboa.
A participação no LHC de Portugal, um dos 20 países-membros do CERN, desde 1985, foi acordada em 1995. O país assinou um acordo de colaboração na experiência ou detector CMS, que é composto por quatro detectores (o de fotões e electrões, o de muões, o de hadrões e o de partículas carregadas).
Para se perceber a importância do CMS, nele participam 2500 cientistas de 120 instituições de várias partes do mundo - o LIP, que lidera o grupo português, é uma das 120. Desde universidades e institutos de investigação até empresas, dos países-membros do CERN e de outros países com acordos de colaboração, como os EUA, o Canadá ou Rússia, participam na construção do CMS.
Portugal comprometeu-se a contribuir com 2800 milhões de francos suíços (1848 milhões de euros), seguindo um calendário até 2007, destinados à construção do sistema de selecção e aquisição de dados do detector de fotões e electrões do CMS. Deste montante, 400 mil francos (264 mil euros) seriam em dinheiro e já foram pagos. Os restantes 2400 milhões de francos (1584 milhões de euros) seriam em equipamentos desenvolvidos pelos cientistas e pela indústria portugueses. "As verbas começaram a ser transferidas em 1996, e não houve percalços até 2002. Até agora, foram transferidos 1600 milhões de francos suíços", diz João Varela.
Mas em 2003 e 2004, as verbas previstas - 700 mil francos suíços, ou 462 mil euros - não chegaram à equipa portuguesa, composta por investigadores do IST e do Instituto de Engenharia e Sistemas de Computadores (Inesc) de Lisboa, além do LIP. Também participaram cientistas do Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial (Inegi), no Porto, que já concluíram a sua parte. Entre 2005 e 2007, a equipa deverá ainda receber 500 mil francos (330 mil euros).
"O problema é que as verbas de 2003 e 2004 não chegaram, nem se sabe quando vão chegar", diz João Varela. Tem falado com o director do LIP, o físico e ex-ministro da Ciência José Mariano Gago. "Pergunto-lhe o que se passa, mas ele também não sabe."
Com essas verbas, a equipa ia passar a construir, em colaboração com a indústria, entre 2003 e 2005, os protótipos que desenvolveu. "Corremos o risco de não ter financiamento para construir a instrumentação que nos responsabilizámos a construir. Tem de ser construída agora", sublinha o físico. "O grupo português responsável pela construção de componentes vitais para a experiência CMS no LHC não tem condições de respeitar os compromissos por falta de verbas", alerta.
Credibilidade portuguesa em causa
Que consequências podem ter essa falta de verbas, que deviam ter sido pagas pelo Estado português? "Podem ser muito desagradáveis. Se Portugal não construir este sistema, a experiência CMS não funciona", responde João Varela. "É impensável que Portugal não respeite este compromisso. Seria um golpe demasiado rude na credibilidade da ciência portuguesa. Os 2500 cientistas que participam na experiência CMS não se privariam de espalhar a notícia. Espero que o Governo compreenda a tempo o que está em jogo", alerta ainda.
"Se não solucionarmos o problema, a nossa credibilidade baixa a um ponto mínimo e a possibilidade de integrarmos outras colaborações reduz-se. Ninguém vai querer colaborar com uns tipos que depois não cumprem os compromissos. E vai afectar outras áreas, porque estas coisas sabem-se."
O CERN está a par deste problema, até porque Portugal também não pagou parte das quotas de 2003 e as de 2004. Ontem, o assessor de imprensa do CERN, James Gillies, referiu que a organização espera a "resolução amigável" do problema. O director-geral do CERN, Robert Aymar, e o presidente do conselho, o órgão de decisão máxima, Enzo Iarocci, planeiam vir a Portugal em breve, acrescentou.
Para já, o país vai ter de pagar juros pelas quotas de 2003 e se, até ao fim de Dezembro, não saldar a contribuição de 2004, não só terá de suportar esses juros como perderá o direito de voto no conselho do CERN. É isso que acontece quando se falha o pagamento das quotas por dois anos.
O Ministério da Ciência e do Ensino Superior (MCES) garantiu, também ontem, que pagará: "Está já a decorrer no âmbito do Ministério das Finanças a tramitação para o pagamento das contribuições em dívida, as quais integram algumas experiências no âmbito do CERN e nas quais se inclui o projecto que é referido." Os pagamentos serão feitos com verbas do Plano de Investimento e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC) do MCES, e já foi pedida autorização para tal ao Ministério das Finanças.
http://jornal.publico.pt/2004/06/26/Ciencias/H01.html