O primeiro submarino com baterias de lítioo passado dia 04 de outubro deste ano, foi lançado à água em Kobe nos estaleiros Mitsubishi Heavy Industries (MHI), o submarino ORYU (SS-511), o décimo primeiro submarino da classe SORYU (SS-501).
A classe SORYU (“Dragão Azul”)
A classe SORYU de submarinos japoneses foi buscar o nome de um porta-aviões afundado na batalha de Midway. Todos os navios têm nomes que se referem a dragões. Esta classe, o projecto S131, também conhecido por projecto SS2.900 t devido à tonelagem, ou ainda por 16SS, tem previstas 14 unidades. Constituem uma versão melhorada da classe OYASHIO (com hidrodinâmica muito semelhante), e constituem actualmente os maiores submarinos do mundo (4.200 tem imersão e 2.950 t à superfície) de propulsão convencional (os designados SSK).
O ORYU na cerimónia de lançamento à água, que ocorreu no passado dia 4 de outubro de 2018, em Kobe (foto JMSDF)
Os 10 submarinos iniciais da classe possuem o sistema AIP (Air Independent Propulsion – as siglas em inglês que referem o sistema de Propulsão Independente do Ar atmosférico) assegurado por quatro motores Stirling – Kawasaki Kockuns V4-275R
Os 10 submarinos iniciais da classe possuem o sistema AIP (Air Independent Propulsion – as siglas em inglês que referem o sistema de Propulsão Independente do Ar atmosférico) assegurado por quatro motores Stirling – Kawasaki Kockuns V4-275R (que são fabricados sob licença da Kockuns Naval Solutions). Os motores Diesel são dois Kawasaki, modelo 12V 25/25 SB-type. Estima-se serem capazes de atingir os 500 metros operacionais em imersão. Têm sido construídos tanto pela MHI, como pela Kawasaki Shipbuilding Corporation.
O submarino ORYU (“Dragão Fénix”)O ORYU (SS-511), ao contrário dos dez submarinos iniciais da classe, não possui os motores Stirling para AIP. Em vez disso, está equipado com baterias de iões de lítio de grande capacidade (é anunciada o dobro da energia armazenada), face às tradicionais de chumbo e ácido sulfúrico. Elas ocupam o espaço ocupado anteriormente pelas baterias convencionais, mais o espaço livre criado pela ausência dos motores Stirling, o que levou a uma remodelação interna do navio.
O novíssimo submarino ORYU em corte
A “performance” do sistema AIP com os motores Stirling é referida como sendo capaz de 15 dias em imersão, capacidade que agora se prevê semelhante com estas baterias de lítio, antes de ser necessário fazer “snort” para o seu carregamento. Portanto, uma baixíssima taxa de indiscrição. E, se as baterias corresponderem ao esperado, acrescenta-se ainda mais discrição ao conjunto, pois eliminam-se as baixas vibrações dos motores Stirling e qualquer possível assinatura térmica resultante do seu funcionamento. Pormenores que certamente terão incrementado ainda mais as já avançadas características furtivas destes submarinos.
As baterias de iões de lítio
As baterias são fabricadas pela conhecida GS Yuasa Corporation (empresa que resultou da fusão da GS com a Yuasa), sendo a GS o mais antigo fabricante japonês de baterias recarregáveis, fundada em 1895 em Kioto. No tocante a baterias de iões de lítio, é ainda de salientar que recentemente a própria GS Yuasa, a Mitsubishi Corporation e a Robert Bosch, estabeleceram uma parceria para o desenvolvimento de uma nova geração de baterias de iões de lítio para veículos eléctricos ou híbridos Plug-in. Essas baterias têm vindo a caracterizar-se pela elevada capacidade de carga e aumento da autonomia, aliada ao peso e dimensão muito mais reduzidos. As baterias manufacturadas para o submarino, certamente que terão beneficiado destas melhorias.
As expectativas japonesas sobre o projecto
Para os japoneses, esta inovação aplicada aos submarinos constituía também a esperança de uma grande exportação militar. Certamente que não demorará muito a ser copiada. Eles pretendiam ser os escolhidos pela Austrália, para a construção dos 12 submarinos que irão substituir a classe COLLINS. Para grande surpresa de todos os que acompanharam este concurso, os australianos optaram pelo “Shortfin Barracuda”, um projecto francês (mas ainda sem qualquer exemplar) derivado da nova classe Barracuda de submarinos nucleares. Depois, os japoneses também não terão ficado muito satisfeitos, porque “abriram demasiado o jogo” sob as totais capacidades dos submarinos, depois de embalados pelos elogios de Primeiro-Ministro australiano Malcolm Turnbull, que não se concretizaram em compra.
Há um gigante a recear, a nova China, que infelizmente também já possui a tecnologia Stirling, de igual modo cedida pelos suecos da Kockuns, e que tudo fará para conhecer ao pormenor estes submarinos.
Há um gigante a recear, a nova China, que infelizmente também já possui a tecnologia Stirling, de igual modo cedida pelos suecos da Kockuns, e que tudo fará para conhecer ao pormenor estes submarinos. Para já, correm rumores do interesse da Índia (“adversário” da China), que manifestou interesse em construir seis unidades sob licença, e de Taiwan. Quanto a esta última, e sabendo-se das pressões de todo o tipo que a China exerce sempre sobre os países que se atrevam a vender-lhe material militar, vamos aguardar pela evolução dos acontecimentos.
https://revistademarinha.com/o-primeiro-submarino-com-baterias-de-litio/?fbclid=IwAR0klITGomQsAgEJNzj5AvbMEsP1IrO6hAqPlJDaWb4Q8DsGzXelQqi2Pjs