Seria possivel darem a vossa opinião ou indicar-me algum website sobre as hipotéticas teses de uniões ibéricas, decorrentes durante o periodo da guerra civil de espanha?
Basicamente os problemas das "uniões ibéricas" vêm de dois lados:
Os iberistas-federalistas repúblicanos de esquerda e os fascistas de origem castelha à direita.
Em Portugal ocorre um golpe de Estado em 1926, e posteriormente ocorre em 1933 a institucionalização da Ditadura, com a aprovação da constituição, que leva ao Estado Novo.
Trata-se de um estado autoritário, embora ao contrário do que muita gente afirma, tenha muito pouco a ver com o fascismo italiano, e muito menos com o nazismo, que são acima de tudo ideologias revolucionarias e não ideologias conservadoras.
Em Espanha, ocorre um movimento inverso, que acaba por levar a esquerda ao poder. Este movimento das "esquerdas" espanholas é influenciado por várias facções que vão desde os comunistas aos democratas moderados (hoje chamariamos de Social Democratas em Portugal).
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Em Espanha, surgem assim duas facções: Uma de Esquerda e outra de Direita.
O problema, do ponto de vista português é que todas elas apresentam intenções contrárias à existência de Portugal.
A Esquerda espanhola
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No lado comunista espanhol, não nos podemos esquecer de que o Partido Comunista Português, está subordinado ao PC Espanhol. É assim que desde Mosvoco vêm a Peninsula Ibérica.
O PCP, funciona nessa altura como uma espécie de delegação portuguesa do Partido Comunista Espanhol, (como aliás ainda recentemente afirmou o Santiago Carrilho) com relativamente pouca autonomia, e por isso o PC é visto como uma perigosa forma de influência não só sovietica, como ainda por cima espanhola.
Continuando nas esquerdas o PSOE, é fortemente influênciado pelo ideario das lojas maçónicas espanholas, que são um dos sustentáculos da II República.
Assim, temos que a juntar à unificação ibérica que o PCE vê como natural, porque se adequa à sua própria organização interna determinada por Stalin desde Moscovo, que adicionar o iberismo espanhol republicano e federalista de origem maçónica, que também vê a necessidade da criação de uma república federal, que naturalmente para os espanhóis, deveria incluir Portugal.
Logo, para Salazar, por duas ordens de razões, a esquerda espanhola republicana e comunista, é um perigo para a independência.
A Direita radical espanhola
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Como na esquerda, a direita espanhola é dividida em vários blocos. Também como em Portugal, existe a extrema direita que olha para a Italia e para a Alemanha como modelos.
Esta, é a extrema direita «revolucionaria» que pretende uma revolução de costumes, que permita a reconstituição do império espanhol.
Temos que notar, que para a extrema direita espanhola, a independência de Portugal, foi um infeliz acaso da história, que eles têm o dever de resolver, pura e simplesmente suprimindo o Estado Português, como ocorreu anteriormente durante o periodo da chamada guerra da sucessão com a Catalunha.
Esta corrente é atentamente vigiada pelos portugueses, que estudam minuciosamente toda e cada palavra que sai dos discursos dos lideres da extrema direita espanhola durante a primeira metade dos anos 30.
De notar -
e isto é importante - que desde 1933, que Salazar considera que um conflito com os espanhóis pode ser inevitável, e muitos militares do exército têm exactamente a mesma opinião. Isto é algo que hoje se sabe e que está em todos os livros sobre a politica e as forças armadas portuguesas durante os anos 30.
A Direita conservadora espanhola
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Embora a direita radical, seja especialmente visivel no movimento da Falange, que copia tudo da alemanha hitleriana, existe também a outra direita espanhola, que é aquela com que Salazar mais se identifica.
Essa é a Espanha conservadora, obviamente não revolucionária e católica, que é vista por Salazar como o menor dos males.
Quando a guerra civil em Espanha começa, o que Salazar vê, são estes dois grandes grupos, onde num (a esquerda) as duas grandes famílias tendem a favorecer a anexação de Portugal, e no outro (a direita), há apenas um grupo claramente favorável à anexação, enquanto que o outro por ser mais conservador permitiria um dialogo mais facil, além de permitir também com mais facilidade jogar com o apoio dos ingleses.
Assim:
A opção portuguesa por apoiar os nacionalistas, parte do principio de que se o lado da direita ganhar, o equilibrio dentro da direita espanhola, poderá evitar problemas com os espanhois no seu todo.
Ao contrário, um apoio de Portugal ou um alinhamento neutral que ajudasse a República Espanhola, acabaria por resultar num país com um governo de extrema esquerda em Espanha, onde a influência de qualquer das partes (Socialistas, Anarquistas, Sindicalistas ou Comunistas) acabaria por ser sempre perigosa.
Portugal optou por apoiar o menor dos males.
Não podemos também confundir a OPERAÇÃO FELIX, com os pedidos por parte da Falange em 1939, logo a seguir ao fim da Guerra Civil, para que a Espanha invadisse Portugal para criar a Espanha Imperial.
Estes pedidos e estas pressões existiram de facto, mas aí, jogou a pressão portuguesa e a ajuda e influência dos ingleses, que Portugal se esforçou para que não hostilizassem Franco durante a Guerra Civil.
Há algumas passagens interessantes sobre as pressões portuguesas sobre Londres, no livro sobre a correspondência secreta entre Salazar e o embaixador de Portugal em Londres, Armindo Monteiro.
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Os pedidos para invadir Portugal, seriam os mesmos se tivesse ganho a República. O PCE teria uma importância determinante em Espanha, e o PCP era apenas uma delegação sua. Seria perfeitamente natural, que na Espanha Repúblicana, depois da guerra civil, houvesse os mesmos pedidos dos sectores radicais para unificar a peninsula.
Como temos já vindo a discutir longamente, o problema é que para uma parte consideravel dos espanhois, e por causa da forma como aprendem história, as elites tendem a considerar Portugal como um caso por resolver. Isso não é dito abertamente, mas é a mensagem que fica.
Isto não quer dizer que os historiadores espanhóis queiram invadir Portugal, apenas demonstra a realidade que existe na peninsula ibérica desde o tempo dos romanos e dos Visigodos: Um confronto entre as unificações forçadas e os extremos de separatismos e de autogoverno.
Espero não ter sido demasiado exaustivo...
Cumprimentos