Portugal comecerá a recuperar?

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mafets

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #585 em: Outubro 21, 2016, 03:00:27 pm »
Concordo.

Relativamente ao Durão Barroso, também não aprecio muito o homem, mas ele foi massacrado em público e ainda por cima por pessoas que fizeram pior que ele, como o caso do Junker!!!! Na Goldman Sachs já trabalharam: Mario Draghi, Mario Monti, Lucas Pademos, Mark Carney, Peter Sutherland, Karel Van Miert, Otmar Issing, etc.... e alguns deles comissários europeus e não vimos nenhum ataque como o que sofreu o português. Não tenho ilusões sobre o nosso poder na UE, mas não tenho dúvidas que estamos muito melhor dentro que fora. Eu lembro-me bem como era o país antes de 1986. Passamos foi do 8 para o 80! Não estavamos preparados para juros de quase 0 por cento!!!!!!! Por isso endividamo-nos a muito longo prazo! O que nem é necessariamente mau, aliás, não é por acaso que os bancos preferem de longe emprestar dinheiro a quem compra casa do que as empresas, é que os primeiros, apesar de margens bem mais pequenas, ficam presos ao banco por muito tempo e dificilmente deixam de pagar ou perdem a casa, já as empresas...... 17% dos empréstimos a empresas portuguesas é dinheiro perdido!!!!! É um grande problema!
Por alguma razão a esquerda "do fora com o Euro e fora com a UE", viabiliza um governo PS, deixando essas e outras "revindicações" na gaveta. Uma coisa é o discurso ideológico para as massas e outra é a realidade. Sobretudo o PCP sabe até pelo peso autárquico no país que muita coisa parava de imediato se não fosse o dinheiro de Bruxelas.  E o Bloco de Esquerda que depois tinha de ter passaporte para ir às "free shops" de Amesterdão, também sabem que não dava jeito nenhum. :P :D

Citação de: Viajante
O mais irónico disto tudo, é o Mario Draghi que até trabalhou no banco do demónio Goldman Sachs, é quem mais está a ajudar Portugal e os países do sul, a contragosto da Alemanha (talvez por ele ser italiano). Vejamos, desde Junho deste ano, permite que os bancos portugueses levantem mais de 30 mil milhões de euros a 0% de juros!!!!! Dinheiro "dado"!!!! Para os bancos portugueses emprestarem a quem entenderem!!!!! Para além disso, e enquanto a Canadiana DBRS mantiver o rating de Portugal acima da linha de água, o BCE compra toda a dívida que Portugal emitir e os bancos estrangeiros não emprestarem!!!!! Mais ajudas que estas eu não vejo que seja possível!!!!!!!
Draghi independentemente de algumas críticas percebeu a crise das dívidas soberanas (A Itália é quem tem o maior risco sistémico no que diz respeito aos Bancos, e ele sabe disso perfeitamente). E tem feito por ajudar a resolver como Presidente do BCE, até porque conhece o que é necessário para estabilizar a zona euro (acesso barato ao dinheiro para capitalizar bancos e colocar as empresas a andar,  por exemplo), ao contrário do Sr. Shaulb que até entregou o Deutche Bank às urtigas e deu uma "nega" à ajuda estatal (se a VW se ver à rasca depois do "escândalo das emissões", também tem que se desenrascar sem o estado que o dinheiro é para guardar no colchão. Até as F.A. estão na penúria e regressam antes dos exercícios da NATO por "excesso de trabalho" em carga horária util...  ;D ).  Imagino se um Ministro das Finanças português fosse responsável por as acções do 4º maior banco mundial atingirem um mínimo Histórico o que se diria por essa Europa fora. Mas como diz Junkers,  a "Alemanha é a Alemanha" (só disse isto em publico da França mas algo me diz que deve dizer muitas vezes também em privado sobre a terra da tia Merkle)  :P

Citação de: Viajante
Tb tenho um carro alemão e tirando o chato do sensor do air bag, em 230.000km não tenho a menor queixa a fazer do carro! Também é preciso ter sorte :)

Abraço
Na maior parte dos casos os carros são muito bons (este tem 12 anos). A assistência técnica é que é uma desgraça. Podia ser do pais, mas quando são os próprios a dizer que levam 4 meses a fazer uma peça, não respondem aos Emails e tratam o cliente como dispensável, comigo têm azar que vou comprar a outra banda, pois não merecem os bons carros que produzem nem os clientes que o reconhecem. Os outros não são tão bons mas a assistência técnica dá menos dores de cabeça quando falha, baixa o preço ou dá um carro de substituição, não ignoram o problema. Pelo menos no meu caso tem sido assim ;)

Saudações

P.S. Já agora, Junkers e Merkle demonstraram com Guterres aquilo que na realidade são (e como dominam a UE): Fizeram o joguete "Kristalina". lixaram a Bukova e depois vêm dar ares de "felicidade" com a eleição do Português para a ONU. Uma miséria. Esperemos que o Mário e a sua equipa que ainda "capiscam" alguma coisa disto fiquem longos e bons anos, sobretudo com abeclas daquelas a por lá pairar.  ::)
« Última modificação: Outubro 21, 2016, 03:07:22 pm por mafets »
"Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos." W.Churchil

http://mimilitary.blogspot.pt/
 

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Cabeça de Martelo

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #586 em: Novembro 22, 2016, 03:32:32 pm »
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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Viajante

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #587 em: Novembro 22, 2016, 04:42:03 pm »
Podendo, Portugal deve antecipar o pagamento de toda a dívida do FMI que nos custa 3,5% de juros em 7 anos, ao contrário da Europa que nos cobra 2 e 2,9% de juros a 20 anos!!!!!!

"Qual a taxa de juro do empréstimo da troika?

O boletim de Setembro de 2014 do IGCP permite actualizar a resposta à pergunta “Qual a taxa de juro do empréstimo da troika?“. Em bom rigor, não se trata de um empréstimo mas de vários. O IGCP indica que há três taxas de juros diferentes associadas às diferentes tranches do empréstimo total que é de €76,097 mil milhões (empréstimo efectivamente recebido).

Em concreto, o empréstimo desembolsado oriundo do FMI, num total de €26,350 mil milhões tem uma taxa de juro de 3,5% sendo dos três o mais elevado. Este é também o empréstimo que deverá ser pago mais rapidamente: dentro de 7,25 anos.

Um segundo empréstimos com origem no Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e cujo valor desembolsado é praticamente idêntico €26 mil milhões, tem uma taxa de juro de 2,0% e deverá ser pago durante os próximos 20,8 anos.

 Finalmente há um empréstimo do European Financial Stabilisation Mechanism (EFSM) cujo montante desembolsado é de €23,748 mil milhões, com taxa de juro de 2,9% e cuja maturidade se atinge dentro de 19,5 anos.

Em termos globais, os €76,097 mil milhões em dívida têm, em Setembro de 2014, uma taxa de juro média de 2,8%.

Recorde-se que a 22 de Setembro de 2014 a taxa das obrigações do tesouro a 10 anos era de cerca de 3,17% no mercado secundário enquanto a taxa de juro a 5 anos para o mesmo tipo de dívida no mercado secundário rondava os 1,78%."

Fonte: http://economiafinancas.com/2014/qual-taxa-de-juro-emprestimo-da-troika/

Ao contrário do que muitos imaginam, a Europa não está a sacar dinheiro aos portugueses! Nem os americanos conseguem financiar-se a 2% a 20 anos! Nem a 10 quanto mais a 20 anos!!!!! (Os americanos pagam cerca de 2,3% a 10 anos: https://www.bloomberg.com/quote/USGG10YR:IND). Ou perguntem aos Brasileiros quanto é que eles pagam por empréstimos a 10 anos :)  (o Brasil paga 12% por empréstimos a 10 anos: https://www.bloomberg.com/quote/GEBR10Y:IND). Resta-nos cumprir com o que acordamos, se queremos que nos levem a sério!!!!!!
« Última modificação: Novembro 22, 2016, 04:49:05 pm por Viajante »
 

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perdadetempo

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #588 em: Novembro 22, 2016, 07:24:46 pm »
Para inadvertidamente não estar a encher mais o Tópico da substituição dos F-16 com a Dívida Pública deixa-se aqui um site (que espero não nos esteja a induzir muito em erro) com alguns dados sobre o assunto para indivíduos mais avessos  às tabelas da contabilidade publica ou com tendência a ler as coisas na diagonal como eu:

http://dividapublicaportuguesa.blogspot.pt/

Para os mais pacientes, conhecedores ou sofredores, mas que não se dediquem profissionalmente a estas áreas têm o site do IGCP já mencionado no post imediatamente anterior:

https://www.igcp.pt/pt/

A parte das estatísticas tem umas folhas de Excel, uma das quais é o movimento da divida directa do estado, que também inclui os valores ao FMI, CEE e outros.

Já agora um pequeno detalhe, parece-me que todos valores apresentados são em relação à Administração Central e EP, parece que não inclui as Autarquias e as Empresas Municipais. Alguém sabe quais são as dividas dessas entidades?

Cumprimentos

 

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Viajante

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #589 em: Novembro 22, 2016, 09:56:38 pm »
O tratamento da dívida pública em Portugal nunca se preocupou em informar o cidadão comum, e mesmo a informação que chega ao público é deturpada pelos políticos!

Um dos aspectos muito positivos pela vinda da Troika (não foram só más notícias), foi a incorporação de toda a dívida de todas as instituições públicas, nacionais, regionais, locais e até empresas participadas pelo estado. Por esse motivo a dívida disparou! Não porque ela surgiu do nada, mas porque a troika obrigou a contar toda a dívida do estado, instituições públicas, administração regional (a dívida escondida da Madeira, foi descoberta pelos auditores da troika, quando investigavam os bancos e descobriram cartas de conforto emitidas pelo Governo Regional da Madeira a empresas de construção, para estas pedirem empréstimos nos bancos. Mas essas dívidas não estavam contabilizadas no Governo Regional, nem tão pouco existiam facturas das obras, para não haver compromissos) e local. Fez mais, obrigou a fechar todas as empresas municipais e intermunicipais que serviam para esconder dívidas.

O melhor site para acompanhar as estatísticas nacionais é a Pordata (Fundação Francisco Manuel dos Santos, dos donos da Jerónimo Martins), em www.pordata.pt. É um site com avaliação científica, que pode ser usado em artigos científicos, teses e dissertações, sem problema.

Os 225 mil milhões de euros incorporam toda a dívida pública, incluindo os municipios e as empresas municipais, por isso se chama de dívida das administrações públicas. Antes da troika não faziam parte, neste momento não há alternativa.

Existem ainda 2 dívidas monstruosas, a das empresas privadas e dos particulares. Ao todo, Portugal deve ao exterior qualquer coisa como 700 mil milhões de euros! Esse é o problema, se só fosse a dívida pública que preocupasse.............

http://www.jn.pt/economia/interior/cada-portugues-deve-70-mil-euros-5163337.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%ADvida_p%C3%BAblica_de_Portugal
http://www.pordata.pt/Portugal/Administra%c3%a7%c3%b5es+P%c3%bablicas+d%c3%advida+bruta+(base+2011)-2783
 

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perdadetempo

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #590 em: Novembro 22, 2016, 10:34:09 pm »
O tratamento da dívida pública em Portugal nunca se preocupou em informar o cidadão comum, e mesmo a informação que chega ao público é deturpada pelos políticos!

Um dos aspectos muito positivos pela vinda da Troika (não foram só más notícias), foi a incorporação de toda a dívida de todas as instituições públicas, nacionais, regionais, locais e até empresas participadas pelo estado. Por esse motivo a dívida disparou! Não porque ela surgiu do nada, mas porque a troika obrigou a contar toda a dívida do estado, instituições públicas, administração regional (a dívida escondida da Madeira, foi descoberta pelos auditores da troika, quando investigavam os bancos e descobriram cartas de conforto emitidas pelo Governo Regional da Madeira a empresas de construção, para estas pedirem empréstimos nos bancos. Mas essas dívidas não estavam contabilizadas no Governo Regional, nem tão pouco existiam facturas das obras, para não haver compromissos) e local. Fez mais, obrigou a fechar todas as empresas municipais e intermunicipais que serviam para esconder dívidas.

O melhor site para acompanhar as estatísticas nacionais é a Pordata (Fundação Francisco Manuel dos Santos, dos donos da Jerónimo Martins), em www.pordata.pt. É um site com avaliação científica, que pode ser usado em artigos científicos, teses e dissertações, sem problema.

Os 225 mil milhões de euros incorporam toda a dívida pública, incluindo os municipios e as empresas municipais, por isso se chama de dívida das administrações públicas. Antes da troika não faziam parte, neste momento não há alternativa.

Existem ainda 2 dívidas monstruosas, a das empresas privadas e dos particulares. Ao todo, Portugal deve ao exterior qualquer coisa como 700 mil milhões de euros! Esse é o problema, se só fosse a dívida pública que preocupasse.............

http://www.jn.pt/economia/interior/cada-portugues-deve-70-mil-euros-5163337.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%ADvida_p%C3%BAblica_de_Portugal
http://www.pordata.pt/Portugal/Administra%c3%a7%c3%b5es+P%c3%bablicas+d%c3%advida+bruta+(base+2011)-2783

Ok ainda bem que lá está o bolo todo das divida publica, do mal o menos. Obrigado.

Cumprimentos
 

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Cabeça de Martelo

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #591 em: Novembro 23, 2016, 12:08:28 pm »
Autarquias portuguesas estão a seduzir a Tesla

Várias autarquias em Portugal estão interessadas e preparadas para receber a fábrica europeia da marca norte-americana, tendo já iniciado contactos para atraírem a construtora de carros eléctricos.



Várias autarquias portuguesas estão a mexer-se com o objectivo de atrair o investimento da construtora de carros eléctricos Tesla. A marca norte-americana já se reuniu com o Governo português sobre a possibilidade de instalar no longo prazo a sua fábrica europeia em Portugal, conforme avançou o Negócios.

Perante a possibilidade de a empresa liderada por Elon Musk escolher Portugal como a sua base europeia, algumas câmaras municipais já se colocaram no terreno para mostrarem que estão dispostas a receber a gigafábrica, onde são produzidos os carros eléctricos e as baterias de iões de lítio da marca.

O tiro de partida foi dado por Torres Vedras, com o autarca Carlos Bernardes (PS) a mostrar disponibilidade para receber este investimento junto do Executivo de António Costa. "O presidente da Câmara Municipal manifestou total interesse e disponibilidade, junto do Governo, para que o gigante da indústria automóvel se instale no concelho de Torres Vedras, numa política de captação de investimento e de emprego", anunciou a autarquia nas redes sociais.

Torres Vedras disponível para receber fábrica da Tesla.

A marca norte- americana Tesla está a estudar a... https://t.co/1qFxAl2CoM
— Torres Vedras CM (@TorresVedrasCM) 19 de novembro de 2016


O presidente da Câmara Municipal manifestou total interesse e disponibilidade, junto do Governo, para que o gigante da indústria automóvel se instale no concelho de Torres Vedras.
CARLOS BERNARDES AUTARCA DE TORRES VEDRAS

Mas Torres Vedras não está sozinha para atrair um investimento que significa muitos postos de trabalho. O concelho onde está localizada a  maior fábrica automóvel em Portugal, a Autoeuropa, acena com vários argumentos de peso para receber este investimento.

"Desde logo o nosso posicionamento estratégico na península de Setúbal, a dois passos de Lisboa, com a possibilidade de ligação a grandes eixos de indústria, ao porto de Setúbal, assim como as ligações ferroviárias existentes para o Norte e Sul de Portugal", diz ao Negócios o autarca de Palmela, Álvaro Amaro (CDU).

Palmela já deu assim início a uma ronda de contactos para perceber como é que pode "contribuir para que este investimento se torne possível", confessou Álvaro Amaro.

Mangualde é outro dos concelhos portugueses que conta com uma relevante fábrica automóvel – a PSA Peugeot Citroen –, e a sua autarquia está atenta a todos os desenvolvimentos. "Nós queremos que a Tesla venha para Portugal. Estamos muito atentos, mas neste momento o segredo é a alma do negócio", disse João Azevedo (PS). O autarca também sublinhou que o "interior do país é uma grande opção" para a Tesla.

"Temos a certeza absoluta que a exposição solar do nosso país é um factor decisivo", disse o autarca, referindo-se ao facto de a gigafábrica produzir parte da energia que consome através das centenas de painéis solares instalados no telhado. E destacou que Portugal é um dos principais produtores mundiais de lítio, minério que é precisamente usado pela Tesla para produzir baterias.


Fábrica na Europa só no longo prazo

No início de Novembro, o líder da Tesla, Elon Musk, revelou que a companhia estava a planear instalar uma fábrica na Europa e que o país seria escolhido no próximo ano.

Contactada pelo Negócios, a Tesla apontou que uma fábrica europeia só avança no longo prazo: "Sempre dissemos que faria sentido no longo prazo ter uma fábrica próxima dos mercados principais (Europa e Ásia), a juntar às nossas fábricas nos EUA. No entanto, actualmente não estamos à procura de uma localização", disse o porta-voz da marca.

Só para construir a gigafábrica nos EUA foram investidos 5 mil milhões de dólares para criar 6.500 empregos directos e 22 mil indirectos entre os fornecedores.

 :arrow: http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/automovel/detalhe/autarquias-portuguesas-estao-a-seduzir-a-tesla
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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Doctor Z

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #592 em: Dezembro 02, 2016, 09:40:35 am »
Acho que Portugal ganhava o Euromilhões se a Tesla viesse para cá.

E já que estamos, porque não instalar a fábrica na zona de Bragança, sabendo
que a autarquia quer tornar a cidade num cluster automóvel?

Seja onde fosse em Portugal, o pais todo ganharia muito com isso!
Blog Olivença é Portugal
"Se és Alentejano, Deus te abençoe...se não
és, Deus te perdoe" (Frase escrita num azulejo
patente ao público no museu do castelo de
Olivença).

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #593 em: Dezembro 03, 2016, 02:02:03 am »
Golpe do regime na Caixa Geral de Depósitos

Estivemos todos a ver o filme ao contrário. A principal razão para a guerra dos últimos meses na Caixa Geral de Depósitos não se deve à recusa dos administradores em entregar as declarações de património. Deve-se à iminência de aplicação de uma nova política de gestão de risco de crédito. Demorei várias semanas a perceber isto, mas agora julgo que tudo ficou muito mais claro. Houve um golpe do regime caduco em que vivemos, que levou à saída de António Domingues e da maior parte dos membros da sua equipa profissional. Já nem Marcelo, nem Costa, nem Catarina, nem Jerónimo, nem Passos, nem Cristas, o queriam no lugar onde estava. Uns por umas razões, outros pelas razões contrárias, estavam unidos no mesmo objetivo – correr com ele.

António Domingues tornou-se demasiado incómodo. Não pelo que fez até agora ou deixou de fazer; mas sim pelo que ia começar a fazer.

E o que ia começar a fazer era cortar créditos de favor aos amigos dos bancos do regime, que sempre viveram de dinheiro fácil. António Domingues ia fazer na CGD o que sempre fez no BPI, mas o Regime político-partidário nacional, que teima em não mudar, cortou-lhe as pernas.

António Domingues saiu consciente disso, ao dizer que foi “vítima de um turbilhão mediático politicamente instrumentalizado: Tudo o que fez a partir de Setembro foi altamente criticado, tudo o que viesse a fazer a seguir seria queimado na praça pública.

Para perceber este complexo golpe do Regime, em que houve ingénuos, falsos ingénuos, idiotas úteis, cabeças maquiavélicas e aproveitadores profissionais de oportunidades alheias, temos de voltar a ver o filme dos últimos nove meses na Caixa Geral de Depósitos.

Ainda no primeiro trimestre do ano, o Governo começou a deixar cair a informação de que os bancos estavam em muito pior situação do que parecia e, além do Banif, havia problemas na Caixa Geral de Depósitos. Era preciso reconhecer mais imparidades e fazer um volumoso aumento de capital.

A Administração anterior, de José de Matos, já tinha ultrapassado o mandato e mostrado várias vezes que queria sair.

A escolha de António Domingues para novo presidente foi revelada pelo Expresso no dia 16 de Abril. Nesse mesmo dia, apurou depois a SIC, o então vice-presidente do BPI enviou por e-mail ao Ministério das Finanças um memorando onde especificava as cinco condições para assumir a presidência da CGD:

-Escolher livremente uma equipa de gestores profissionais sem ligações partidárias;

-Serem todos dispensados de apresentar declarações de património ao Tribunal Constitucional para evitar a exposição pública das respetivas fortunas ganhas nas várias atividades que desenvolveram ao longo da vida profissional antes de chegarem à Caixa;

-Ver alterado por iniciativa do Governo o RGIC, Regime Jurídico das Instituições de Crédito, de forma que vários lugares de administrador dentro do mesmo grupo económico contassem como um só para efeitos de avaliação de idoneidade pelo BCE (para incluir Ângelo Paupério da Sonae e Leonor Beleza da Fundação Champalimaud, o que acabou por não acontecer porque o RGIC nunca foi mudado).

-Ganhar o mesmo que estava a ganhar, no seu caso no BPI, cerca de 420 mil euros anuais acrescidos de prémios de produtividade;

-Estabelecer um pré-acordo com o Governo que lhe permitiria entrar em funções se, e só depois de a DGComp ter aprovado o plano de recapitalização da CGD pelas regras de mercado.

O Ministério de Mário Centeno e Mourinho Félix concordou com estas condições e agiu em conformidade.

Em meados de Maio, o Governo deixava cair a informação de que a necessidade de recapitalização da CGD era superior a 4 mil milhões de euros, para criar a perceção pública da urgência da negociação de uma solução em Bruxelas e Frankfurt; em meados de Junho era aprovado o decreto-lei que retirava a CGD do Estatuto do Gestor Público, promulgado logo a seguir pelo Presidente da República;

Em Julho já decorriam negociações com as instituições europeias a toda a velocidade e na noite de 24 de Agosto as 21 horas era aprovado o plano de recapitalização da CGD pela Comissária Europeia da Concorrência, Margrethe Verstager.

A posse de António Domingues aconteceu a 31 de Agosto de 2016.

Esta é a data que representa o momento de viragem na perceção do papel de António Domingues na CGD. Até aí, era o desejado, o salvador, o Messias; a partir de 31 de Agosto, tudo se complicou.

- A guerra por causa do seu elevado salário subiu de tom e atingiu proporções de escândalo nacional;

- Foi questionada a contratação de duas equipas de assessores para avaliar a situação da Caixa, a consultora multinacional McKinsey e o gabinete de advogados português Francisco Sá Carneiro e Associados, alegadamente por mais de três milhões de euros, quando o valor ficou pouco acima de um milhão de euros;

- Foi divulgada a desobrigação de os novos gestores da CGD apresentarem declarações de rendimento e património no Tribunal Constitucional (Na SIC, por Marques Mendes, que assim prestou um relevante serviço público dado o manifesto interesse da informação).

- Foi acusado de ter tido acesso a informação privilegiada da CGD quando ainda era vice-presidente do BPI, ignorando os acusadores que a informação que usou está nas contas e nos anexos às contas da própria CGD. (António Domingues tinha mesmo chegado a fazer uma conferência na Universidade Católica, a 25 de Janeiro, onde já descrevia ao pormenor o problema das imparidades em todos e em cada um dos grandes bancos incluindo a CGD).

Mas um conjunto de manifestas fragilidades ou erros no acordo entre o gestor e o Governo, que já tinham tido paralelo no caso da colaboração entre o advogado Diogo Lacerda Machado e o seu amigo António Costa e que acabaram por ser resolvidas de forma relativamente fácil, neste caso alimentaram uma polémica crescente que nunca mais parou até levar à saída do gestor e da maior parte da sua equipa.

Porquê?

Por causa de uma não entrega de declaração de património no Tribunal Constitucional?

Não parece ser o caso, uma vez que o próprio sempre disse que cumpriria a Lei. Primeiro ia argumentar razões para a dispensa junto do TC e, se este insistisse, acabaria por entregar a declaração, o que curiosamente acabou por fazer no momento da saída, ele e outros administradores como Pedro Norton…

Porquê então tanta polémica?

Porque é que o CDS e o PSD vieram exigir a entrega imediata da declaração e Pedro Passos Coelho entrou mesmo numa guerra pessoal com António Domingues acusando-o de estar a atirar areia para os olhos dos portugueses?

Porque é que uma parte do PS liderada por Carlos César, o PCP e o Bloco de Esquerda vieram a público fazer um ultimato ao gestor e à sua equipa?

Porque é que António Costa disse sibilinamente que entregou sempre a sua declaração ao Tribunal Constitucional?

Porque é que o Presidente da República se veio imiscuir numa questão de gestão corrente de assuntos de governação emitindo mesmo uma nota a sugerir uma iniciativa legislativa para obrigar à entrega da declaração sem apelo nem agravo (depois de ele próprio ter promulgado o novo Estatuto do Gestor Público)?

E porque é que o discreto e sinuoso presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Faria de Oliveira, o banqueiro conhecido há muito por fazer a ligação entre a Banca e a Política em Portugal, sentiu necessidade de vir a público falar de um “ruído ensurdecedor profundamente negativo” e dizer que “é chegada a hora de pôr um ponto final em todas estas questões”, acrescentado que “a interpretação da lei apontará nesse sentido” (da obrigação de entrega das declarações de património)?

Parecia complicado, mas afinal é simples perceber o porquê da viragem da perceção de António Costa, de Marcelo Rebelo de Sousa e de outros responsáveis políticos sobre o papel de António Domingues na Caixa Geral de Depósitos.

Por causa do que ele tem andado a fazer desde que assumiu funções. Por ter posto toda a máquina gigantesca da Caixa a trabalhar para detetar as suas próprias ineficiências e para construir as bases de um novo Plano Estratégico de Médio Prazo

Envolveu todos os diretores em reuniões sucessivas para avaliar as zonas de risco dos créditos da Caixa ao cêntimo e começou a desenhar um plano para resolver um problema que se aproxima dos 7 mil milhões de euros de créditos em risco.

As conclusões do Estudo sobre a real situação da CGD mostram que este não é um banco das PME: é um banco no qual pouco mais de três dúzias de grandes clientes concentram mais de três quartos do crédito concedido às empresas.

Mas está escrito no novo plano Estratégico da CGD até 2020 que as regras da concessão de novos créditos vão ser muito mais apertadas, a recuperação de créditos em incumprimento vai ser muito mais agressiva, vão aumentar os pedidos de reforço de garantias aos empréstimos concedidos no passado e vão ser reduzidos os financiamentos correntes às empresas e aos grupos económicos com maior risco.

Por causa deste plano, os gestores dos grandes grupos económicos que devem centenas de milhões de euros à Caixa e continuam a precisar de injecções permanentes de financiamento ficaram muito preocupados.

As exigências de novas garantias aos créditos concedidos vão aumentar; as diligências para recuperar pagamentos em atraso vão apertar;

Os financiamentos correntes vão secar:

Os novos créditos vão desaparecer para alguns dos beneficiados do Regime.

E podemos pôr nomes nestes grandes devedores à CGD: Grupo Lena, José Berardo, Grupo EFACEC de Isabel dos Santos, Vale do Lobo, grupo Artlant (La Seda), Auto Estradas do Douro Litoral do Grupo Mello, que também tem outros créditos da CGD, Grupo António Mosquito dono do DN e JN, etc., etc.

Os políticos que gravitam em relação de proximidade (e em muitos casos de promiscuidade) com os grandes grupos económicos perceberam rapidamente o filme: se a CGD apertar a malha do controlo do crédito concedido, exigindo novas garantias, e cortar financiamentos correntes e novos créditos, muitos grupos económicos que se encontram num limbo de pré-insolvência podem entrar numa zona de clarificaçao acelerada, ser obrigados a fechar empresas, despedir pessoal, vender activos e, no fim da linha, os seus donos e gestores que ainda são muito influentes podem perder muito poder.

Estas serão as consequências da nova política de gestão de risco de crédito que está incluida no novo plano estratégico da CGD, terminado por António Domingues há poucas semanas e entregue no Ministério das Finanças, negociado na Direcção Geral da Concorrência Europeia e em fase de negociação com o Banco Central Europeu.

Mas as consequências não se ficam por aqui.

Se a CGD aplicar mesmo esta nova política de gestão de risco do crédito, os critérios que usar vão ter de ser seguidos pelos outros bancos, em espelho: terão de apertar os mecanismos de recuperação de malparado, redobrar exigências de garantias e, em consequência, de reconhecer mais imparidades, resolver mais situações de pré-falência e reclamar mais colateriais. De caminho vão aumentar as falências e o desemprego. O efeito a médio e longo prazo será muito mais benéfico para a economia porque os bancos vão fazer reentrar esses colaterais no ciclo económico produtivo.

Mas no curto prazo os indicadores económicos mais sensíveis vão piorar.

E o problema político é o curto prazo.

Como é que António Costa pode gerir esta transição profunda e traumática da relação entre a finança e o mundo empresarial num ano de eleições autárquicas e com uma frágil base de apoio parlamentar de esquerda ao seu Governo?

Como é que Marcelo Rebelo de Sousa vai gerir um país de afetos fáceis a mergulhar novamente em crispação, pessimismo e recriminações?

No centro deste complexo golpe do regime político-partidário caduco em que vivemos houve um comportamento que foi determinante para que o o golpe do Regime na Caixa tivesse sucesso – o cinismo.

O notável cinismo de uma classe política que ousa aparecer em público a defender um conjunto de objetivos e que na sombra desfere golpes de mestre para os destruir e conseguir alcançar outros objetivos exatamente contrários aos primeiros.

Que fina e orientada inteligência existe por detrás deste cinismo!

Visto de uma perspetiva unicamente estética, o cinismo político é como a grande música ou as equações matemáticas: evolui em espirais belas e harmoniosas. Neste caso, perigosamente destrutivas.

Na verdade, em muitas cabeças de esquerda (e talvez acima) cresceu a ideia maquiavélica de que António Domingues era excelente para conseguir luz verde da Europa para a recapitalização pública da CGD (sem ter de passar por uma resolução que cortasse os depósitos acima de 100 mil euros), mas tinha de ser descartado logo a seguir – o que acabou por acontecer.

Na direita do CDS e sobretudo no PSD, que até contribuiu decisivamente para derrubar o anterior Dono Disto Tudo, acendeu-se a luz da facilidade de fazer oposição despedindo um banqueiro fragilizado. Acabando a direita por contribuir para o mesmo objetivo da esquerda.

Problema maior para a nova administração da CGD que, se as negociações para formar equipa correrem bem deverá ser presidida por Paulo Macedo depois do convite de António Costa:

Paulo Macedo terá de invocar a sua paciência de chinês e a sua habilidade de mestre da conjugação dos impossíveis para afinar na mesma orquestra os humores sensíveis dos grandes empresários zombies, a pressão do Governo para não cortar a direito tão depressa e a exigência do BCE e da Comissão Europeia para a Caixa ser muito mais rigorosa na concessão de crédito e muito mais dura na recuperação do que já foi atribuído.

Essa exigência está escrita no acordo com as instituições europeias e é condição sine qua non para a recapitalização pelas regras de mercado ser concretizada com dinheiro exclusivamente dos contribuintes portugueses.

Fonte: http://sicnoticias.sapo.pt/opiniao/2016-12-01-Golpe-do-regime-na-Caixa-Geral-de-Depositos
 
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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #594 em: Dezembro 08, 2016, 11:25:14 pm »
As maiores asneiras na CGD foram feitas entre 2005 e 2010
(6 de Dezembro de 2016) - vídeo da SIC
Citação de: Expresso
José Gomes Ferreira afirma que os maiores erros na gestão da Caixa Geral de Depósitos foram feitos entre o período de 2005 e 2010, tendo em conta que o banco público concedeu créditos sem critério e com uma noção de risco desfasada. Por esta razão, o sub-diretor de informação da SIC considera que muita gente não pretende que se investigue o passado da CGD e que este assunto é uma questão de regime.
Fonte: http://expresso.sapo.pt/economia/2016-12-06-As-maiores-asneiras-na-CGD-foram-feitas-entre-2005-e-2010

Cumprimentos,
:snip: :snip: :Tanque:
 

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #595 em: Dezembro 09, 2016, 12:45:14 pm »
A criar paquidermes desde 1143 (de João Pires da Cruz)

Como é costume, vamos já começar a recolher a palha para alimentar mais este paquiderme, a Caixa, porque nada se vai saber fora do círculo de pessoas que vai encontrando forma de esconder a realidade.

Não foi assim há tanto tempo que o estado português foi salvo na tesouraria por um sindicato caritativo a que se convencionou chamar de troika. Como várias vezes repetido, provado e demonstrado, o estado português já tinha entrado num ciclo onde não seria possível continuar a arranjar dinheiro para as suas despesas da forma como tinha feito até aí: recorrendo à emissão de dívida que era absorvida no mercado financeiro pelos vários “consumidores” desse tipo de instrumento financeiro.

O sindicato formado para nos emprestar dinheiro exigia, no memorando que assinou com o governo de então e com o acordo de quase todos os partidos, a consolidação contabilística da dívida pública. Por outras palavras, queriam que toda a dívida do estado, a que estava à mostra e a que estava escondida, passasse a constar de um único número. Se essa exigência fosse feita a mim, à minha empresa ou a qualquer empresa, seria algo de muito grave. Significava que eu tinha sido desonesto ao ponto de esconder dos outros – acionistas, empregados, credores, clientes, etc. – a verdadeira situação da empresa.

Como resultado, a dívida soberana da república portuguesa subiu 40 mil milhões de euros em dois anos. Não que tenham entrado mais 40 mil milhões de euros em dois anos. Se assim fosse, o crescimento na medida do PIB seria enorme com a entrada de quase 1/3 daquilo que é o produto anual. Em termos numéricos, a “economia” portuguesa teria que ter “crescido” cerca de 14% em cada um dos dois anos, com a circulação de tanto dinheiro. E a verdade é que o crescimento foi negativo nesses dois anos. Isto significa que havia 40 mil milhões de euros de dívida escondidos que foram sendo trazidos aos livros do estado durante esse período. Mais ou menos o triplo do que estava escondido na fraude da Enron nos EUA que gerou um dos maiores escândalos financeiros do sec. XX.

A defesa dos mais fracos, dos portugueses a quem essa informação foi sonegada para proveito daqueles que detiveram o poder durante décadas, exigiria que responsabilidades fossem apuradas. Afinal, os políticos só podem reclamar legitimidade democrática se quem os elegeu estiver na posse de toda a informação presente. Até podem mentir com todos os dentes nas promessas para o futuro, mas os dados do presente não podem ser escondidos. Esconder dívida é por isso ainda mais grave no estado do que numa empresa porque além da questão financeira, há uma questão de regime.

O que aconteceu foi que se montou uma nuvem em torno da coisa. O primeiro-ministro da altura anda a ser acusado de irregularidades na ordem da dezena de milhões de euros enquanto que aquilo em que os portugueses foram enganados é mil vezes mais e, quase certo, da responsabilidade de vários primeiros-ministros. O elefante continua a passear-se pelo meio da sala, sem que ninguém com responsabilidades na defesa do interesse público dê uma palavra que seja sobre a questão e já lá vão seis anos. E, até que surja um milagre qualquer, vai ser assim até que o assunto se desvaneça no tempo e na memória e o elefante morra. Se os administradores da Enron estão ainda na cadeia, junto com os auditores, é porque nos EUA a autoridade que protegia os mais fracos no assunto agiu, coisa que entre nós parece ser opcional para as nossas autoridades que, supostamente, até são independentes do poder político.

Veio-me à memória o assunto porque já anda outro paquiderme a passear-se entre a mobília chamado CGD. É relativamente óbvio para toda a gente que as autoridades portuguesas estão a cumprir ordens, no que à Caixa Geral de Depósitos diz respeito. O porquê de andarmos às ordens do BCE/Comissão Europeia e qual a verdadeira dimensão do escândalo em que o estado português está envolvido parece assunto em que ninguém quer tocar, apesar de escaparem sinais todos os dias.

Desde que a crise estoirou em 2008 que o BCE parece gerido por estagiários. Hoje o negócio da banca por toda a Europa é um não-negócio, no sentido em que não vale a pena investir nele. Ao contrário do que a regulação norte-americana conseguiu, o BCE fez com que não seja proveitoso para um banco ter clientes como eu ou como a esmagadora maioria das pessoas que estão a ler-me e que recebem salário pelo seu trabalho. Economicamente, a medida racional do meu banco seria mandar-me ir ao banco do lado.

Adicionalmente, disseram-me há uns dias que o Banco de Portugal, a sucursal do BCE em terras lusitanas, se prepara para multar 49 bancos portugueses por deficiências de reporte, aquilo para que serve um banco nos dias que correm – reportar. E os problemas dos bancos vão-se reproduzindo por essa Europa fora e, com eles, o “sucesso” do modelo do BCE que se arrisca a ficar para a história como a maior estupidez conhecida ao transformar os motores da liquidez na economia em enormes centrais de produção administrativa.

Agora, porque carga d’água um estado soberano se submete ao BCE na definição dos caminhos daquela que é a sua maior participação empresarial? É que os caminhos da CGD estão a ser definidos, não com o contribuinte português como acionista, mas sim com o BCE como dono. E esta parece-me ser a questão à qual as autoridades portuguesas, as presentes e as anteriores, andam a fugir a responder, apesar de ser inquestionável o dever de informar os cidadãos.

Não querendo tecer considerações sobre os nomes que têm sido escolhidos para gerir o banco, até porque nada me indica que não sejam merecedores do maior respeito e consideração, pessoal e profissional, faz-me uma certa confusão a necessidade dos nomes terem que ser escolhidos fora da CGD. Se me dissessem que os problemas do passado vieram dos gestores terem sido escolhidos no interior, eu até podia aceitar. Mas a esmagadora maioria dos gestores da CGD no passado eram pessoas que tinham tanto a ver com banca como eu com lagares de azeite. Ou seja, vinham quase todos de fora, pelo que o problema, hoje, não poderia ser esse.

E se a necessidade era assim tão grande de encontrar um nome fora da CGD, porque não procurar num banco maior que a CGD na Europa? Até a seleção nacional de futebol já foi treinada por estrangeiros e as condições financeiras oferecidas para gerir o banco não são exatamente modestas. E não há um ou dois nomes de gente “dos nossos”?

Não sei se repararam, mas deve ser a primeira vez que a CGD tem uma administração executiva limpa de nomes associados a partidos. À qual devemos adicionar o convite a Paulo Macedo, um independente acusado pelos políticos do governo atual de “destruir o SNS”. Se tudo o que tinha dito antes não lhe parecia estranho e ainda não o tinha convencido de que não são os políticos a decidir sobre a CGD, esta convence-o de certeza.

O meu ponto é que o leque de escolhas não era assim tão apertado como a confusão que se seguiu parece indicar. A não ser que a escolha esteja a ser condicionada de fora. E o consenso em torno da CGD é tão alargado sem que exista uma razão óbvia, que ninguém quer mesmo dar explicações a ninguém. Pior, qualquer questão que seja levantada publicamente sobre a gestão da CGD é vista como crime de traição.

A outra questão prende-se com a recapitalização da CGD, cuja necessidade, curiosamente, não constava de nenhum documento oficial. Até há poucos meses, ninguém diria que a CGD era um banco com problemas relevantes. Mas, ainda assim, o montante conhecido até agora, de 5 mil milhões de euros, não seria um montante relevante atendendo aos montantes envolvidos com BPN, BES e BANIF. Apesar da minha certeza que aumentar capital não contribui em nada para a resiliência do sistema financeiro e que isso é uma demonstração de não se perceber a mecânica da economia; comparando com os outros bancos, 5 mil milhões de euros seria um montante perfeitamente razoável e perfeitamente ao alcance do estado português. O que adensa a minha dúvida. Porque está o estado português a fazer aquilo que o BCE quer e ninguém questiona o porquê?

Como é costume, vamos já começar a recolher a palha para alimentar mais este paquiderme porque nada se vai saber fora do círculo de pessoas que, consensualmente, vai encontrando forma de esconder a realidade. Lança-se o nome do banco na lama, atira-se o rating para baixo, menoriza-se os profissionais que deram uma vida inteira pelo banco, colocam-se as culpas neles e vai-se tirar-lhes o emprego; tudo vale para que a verdadeira natureza do problema seja escondida dos donos disto tudo que, embora não vá parecendo, ainda somos nós.

Os assuntos de quem ninguém quer falar vão-se multiplicando na sociedade portuguesa, sempre com as mesmas consequências. Os mais fortes ficam mais fortes e os mais fracos ficam mais fracos. Os elefantes na sala de quem ninguém fala, esses, estão cada vez mais rechonchudos, prontos a tocar o sino a quem lhes mande uma moedinha.

Fonte: http://observador.pt/opiniao/a-criar-paquidermes-desde-1143/
 

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #596 em: Fevereiro 17, 2017, 04:02:40 pm »
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #597 em: Fevereiro 21, 2017, 12:01:41 pm »
De resto, tudo bem! (de João César das Neves, Diário de Notícias)

Portugal vive um clima de serenidade e optimismo. O consumo das famílias cresce, o défice orçamental está em mínimos históricos, a sociedade sente-se esperançosa. Depois dos anos terríveis de crise e crispação, o actual Governo conseguiu este ambiente, notável e inesperado, que há muito não se via, e é verdadeira bênção de que todos beneficiamos. É verdade que os enormes problemas do país não foram resolvidos, e até se agravam debaixo da aparência positiva. Mas, de resto, tudo bem.

A economia recupera há três anos da grande recessão de 2011-2013, mas sem ultrapassar um crescimento anémico, até desacelerando em 2016. O investimento é mínimo e nem chega para repor o desgaste do capital nacional. Como a população activa perdeu 400 mil pessoas na crise, a capacidade produtiva portuguesa está em degradação. Mas, tirando isto, a economia é excelente.
Num campo, pelo menos, o sucesso económico mostra-se estrondoso: o desemprego caiu de 17,5% no primeiro trimestre de 2013 para 10,5% no último de 2016. Isto acompanhou a recuperação da população activa, que finalmente começou a crescer no ano passado, aumentando mais de 50 mil pessoas. Claro que, em grande medida, isso deve-se à odiada liberalização das leis laborais imposta pela troika e governo anterior, que a actual maioria anseia por inverter. Mas, esquecendo isso, é um grande êxito.
A banca vive assombrada por décadas de euforia e má gestão e crescentemente estrangulada pela referida apatia produtiva. Precisa urgentemente de profundas reformas e injecção de capital fresco, cada vez mais difícil na actual conjuntura. O único sector onde o crédito tem dinamismo significativo são as famílias: o montante de novos empréstimos para consumo mais que duplicou, e para habitação triplicou desde inícios de 2013. Entretanto os novos financiamentos a empresas estagnam em valores mínimos. Este panorama desenha claramente uma bolha consumista, semelhante à que nos levou ao colapso de 2011, alimentada desta vez por uma banca mais frágil. Mas, fora isto, as finanças estão sólidas.

Politicamente, o grande contributo do Governo está em ter conseguido demonstrar que "Afinal havia, e há, alternativas melhores do que a austeridade excessiva". Este é o título de um artigo escrito, faz hoje precisamente dois anos (18/Fev/2015; Jornal de Negócios), pelo professor Caldeira Cabral, agora Ministro da Economia; a mesma ideia foi colocada na boca do senhor Primeiro-ministro pelo reputado Financial Times há mês e meio (2/Jan). Aqui, ao menos, existe um triunfo sólido que tem, não apenas efeitos nacionais, mas um alcance estratégico, teórico e global. Temos de dizer que se trata de uma mentira rematada, mas tirando isso, tem grande alcance.

Os problemas da frase começam logo na comparação implícita: a austeridade foi imposta quando o défice orçamental era 11% do PIB, em 2010, e, graças a ela, foi reduzido para os 4,4% que o actual Governo herdou. Falar de alternativas agora é fácil, mas não significa que elas existissem na altura. Só esquecendo este detalhe é que a frase tem enorme significado.

A ideia é enganadora pois a austeridade, não só não foi invertida pela nova orientação, mas até se aprofundou e alargou. Só assim se explica que o desequilíbrio tenha continuado a descer para os 2,4% que o Governo promete ter conseguido o ano passado. Não é razoável orgulhar-se, ao mesmo tempo, de acabar com a austeridade e reduzir o défice. Boa parte desta redução é ilusória, usando medidas extraordinárias que, pelos vistos, só são boas nos governos da esquerda. Mas existem também cortes reais e dolorosos. Isso nota-se pouco porque eles foram feitos, não nos grupos mediática e politicamente mais influentes -pensionistas, funcionários e afins-, mas nos contribuintes, empresas e funcionamento dos serviços, com a famigeradas captivações. Em alguns casos a carga foi até desviada para os mesmos, como na substituição do IVA da restauração pelo imposto das bebidas. Assim, a tese do fim da austeridade não passa de uma genial operação de cosmética financeira, com o alarde à volta dos alívios pontuais ocultando os apertos acrescidos. Isso é possível sobretudo graças à cumplicidade da imprensa domesticada, que ultimamente acha sempre que anda tudo bem.

Pior de tudo, a frase é ainda mais falsa porque, mesmo mantendo a austeridade, o problema está a agravar-se. Os mercados internacionais estão virtualmente fechados à nossa divida pública, e o Estado só não faliu graças às compras do BCE. Mesmo assim, os juros a 10 anos da nossa dívida já estão a níveis semelhantes de finais de 2010, meses antes do anterior colapso. Fora isto, a política orçamental é um êxito.

Portugal vive um clima de serenidade e optimismo graças ao desvio dos poucos meios disponíveis para certos grupos privilegiados pela esquerda, o que pelos vistos aclama a opinião pública e disfarça a situação. Esta é terrivelmente alarmante, mas, de resto, tudo bem.

Fonte: http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/joao-cesar-das-neves/interior/de-resto-tudo-bem-5675948.html
 

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #598 em: Julho 03, 2017, 10:13:42 pm »
Morreu Medina Carreira, antigo ministro das Finanças

O antigo ministro das Finanças, Henrique Medina Carreira, morreu esta segunda-feira, aos 85 anos. A notícia é avançada pela SIC Notícias.



Henrique Medina Carreira, ministro das Finanças do I Governo constitucional, morreu esta segunda-feira, aos 85 anos, no hospital, onde se encontrava internado há cerca de um mês.

No plano político, exerceu o cargo de subsecretário de Estado do Orçamento, durante o VI Governo Provisório o qual deixou de exercer para assumir, logo de seguida, as funções de ministro das Finanças do I Governo Constitucional (1976-1978). Foi nessa condição que negociou com o FMI um empréstimo no valor de 750 milhões de dólares.

Em 1978 abandonou o PS, por divergências quanto à política económica adoptada pelo partido no poder, vindo a aproximar-se do PSD. Em 2006 apoiou publicamente a candidatura de Aníbal Cavaco Silva à Presidência da República.

Nascido em Bissau em 1931, acabou por se licenciar em Direito em 1962, na Universidade de Lisboa. Medina Carreira havia sido, nos últimos tempos, um feroz crítico da política financeira governamental.

http://24.sapo.pt/atualidade/artigos/morreu-medina-carreira-ex-ministro-das-financas
 

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Re: Portugal comecerá a recuperar?
« Responder #599 em: Julho 13, 2017, 11:35:02 pm »
António Barreto. “O PCP percebeu há dois ou três anos que era agora ou nunca”

António Barreto fala sobre a reforma agrária e salta 40 anos para dizer que o PCP está igual. Ao Observador, diz que governantes apanhados no Galpgate são "tontos" ou escondem alguma coisa.



António Barreto, ministro da Agricultura do I Governo Constitucional e grande responsável pela Lei de Bases da Reforma Agrária de 1978, esteve esta quinta-feira na redação do Observador para uma entrevista conjunta. O primeiro presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos acaba de lançar mais um livro, a reedição do seu estudo clássico Anatomia de uma Revolução, livro editado em 1987 e há muito esgotado. Este foi um pretexto para uma entrevista aberta, à redação e aos leitores, sobre tudo: da política atual à política de há 40 anos, dos fogos de Pedrógão Grande ao caso Galpgate, passando pelos problemas da Justiça, que vive “um dos momentos mais drásticos”, e da comunicação social, que considera “complacente” com o atual Governo.

Mas, antes, começa pelos “mitos” associados ao período de ocupações de terrenos agrícolas que marcou o período pós-25 de Abril. E, claro, pela relação com o PCP. Para António Barreto, os comunistas, há 40 anos como agora, sempre souberam que a sua posição dependia da “correlação de forças” entre os vários blocos partidários e adaptaram-se permanentemente às circunstâncias. “Reparem que Jerónimo fala sempre em nova correlação de forças. Tal como fez Cunhal. É esse o carácter essencial dos comunistas”, nota. Muito crítico da solução da “geringonça”, que “nunca devia ter acontecido”, Barreto contesta o facto de PS e PCP quererem caminhos diferentes e, apesar disso, apanharem “bocadinhos” do mesmo comboio.

Sobre a tragédia de Pedrógão Grande, ou o assalto em Tancos, defende que a culpa tem de ser mais dividida. Porque o partido que está no Governo no momento da tragédia dirá sempre que é “a natureza, o sol, a meteorologia”, e o partido que está na oposição dirá sempre que a culpa é do Governo. Seria igual fosse PS ou PSD, diz. Quanto ao Galpgate considera que ou os secretários de Estado que se demitiram são “tolos” por aceitarem aqueles presentes, e por isso “não merecem a pasta”, ou “escondem mais alguma coisa”. Fica a dúvida lançada.

A reforma agrária foi, na revolução portuguesa, a transformação mais revolucionária que já tivemos. Pode dizer-se isto?
Pode-se pôr a Reforma Agrária em paralelo com a nacionalização dos grandes setores económicos e financeiros, de um dia para o outro. A nacionalização de toda a banca, com exceção da banca estrangeira, curiosamente. Toda a banca nacional e os seguros foram nacionalizados, assim como os grandes grupos industriais e de serviços. Com exceção das questões políticas, como a criação de uma Constituição, foi na Reforma Agrária que se foi mais longe, a par das nacionalizações.

Havia ocupações e havia, sobretudo, uma região inteira do país ocupada ou nacionalizada. Mas o que mostra no livro é que, de alguma forma, essa ocupação não foi tão espontânea quanto parece.
De todo. Eu cheguei a fazer uma estatística do número de ocupações, pessoas envolvidas e área das herdades ocupadas. Talvez as duas primeiras ocupações, logo em dezembro de 1974 e janeiro de 1975, como a da Herdade do Outeiro, que foram produto de um conflito local, essas, sim, foram espontâneas.

Mas, a partir de janeiro/fevereiro de 1975, as ocupações passaram a ser organizadas. Pelo sindicato, pela câmara municipal, depois o Grémio da Lavoura, que dava apoio logístico, depois os serviços do Ministério da Agricultura, que foram vitais. Posteriormente, foram criados centros da reforma agrária em cada um dos distritos, com extensões para os municípios, e esses centros tinham os agentes técnicos, financeiros e administrativos necessários. A seguir veio a banca e as Forças Armadas, que foram fundamentais.

Chegou a haver uma brigada da Reforma Agrária, com as herdades que iam ser ocupadas e quando iam ser ocupadas, para os militares se prepararem. Até o Governo apoiava, mas as leis que vêm legalizar as ocupações só entram em vigor no mês de abril. As leis fazem explodir as ocupações. Sobretudo depois do decreto agrícola de emergência: foi criado um sistema em que, se uma pessoa ocupa a terra e coloca lá todos os trabalhadores que entende, a partir desse dia vai-se inscrever no centro da Reforma Agrária, no Ministério, no banco local e no Banco de Portugal, e a partir desse dia os salários são pagos e garantidos.

Entretanto, Portugal vivia uma crise política profunda, havia vazio de poder em varias regiões, havia proprietários que não queriam investir e queriam fugir com as máquinas. Então, começou a criar-se uma situação de instabilidade. E houve um regresso de muitas pessoas ao Alentejo, malta nova, ou que vivia nas colónias, que passa a ver na Reforma Agrária que há um emprego seguro e condições de vida melhores.

Mas, apesar de tudo, há ocupações de movimentos de base e há uma forte componente social. Havia uma vontade de intervir na distribuição de propriedade. O problema era mais ao nível da sazonalidade do trabalho, da grande diferença de classes sociais. É muito mais um movimento social do que um movimento de reforma agrícola, não?
Já tocou em dois ou três mitos que, sendo mitos, têm pouca base real. Primeiro, no Alentejo, em 1973/1974, havia praticamente pleno emprego. A ideia de que havia muita gente desempregada não corresponde à verdade. O Alentejo sofria de falta de mão de obra. Havia criação de emprego em grandes quantidades. E os salários subiam: entre 1973 e 1974 os salários subiam porque não havia mão de obra que chegasse. Outro mito é o das terras abandonadas. Conseguiu criar-se a ideia de que um montado é uma terra abandonada, o que é uma estupidez absoluta. O montado é uma solução reexaminada por muita gente, da esquerda à direita, absolutamente indicada para as zonas áridas e quentes do Alentejo.

Ao contrário do trigo que se tentou por lá e deu cabo de tudo.
Deu cabo de tudo. É interessante porque, poucos anos antes do 25 de abril, houve uma polémica muito interessante entre duas pessoas que prezo muito, uma de esquerda outra de direita: o professor Mariano Feio, geógrafo e proprietário no Alentejo, e o professor Henrique de Barros, professor de agronomia e homem de esquerda. O Mariano Feio defendia o sequeiro e o montado, o Henrique de Barros defendia a intensificação do regadio. E fizeram uma polémica elevadíssima no tom e nos argumentos, por escrito, que chegou a ser impressa como livro, mas que nunca chegou a ser publicado. Naquela altura eu tinha simpatia pela solução do Henrique de Barros, mas o Mariano Feio tinha argumentos importantes. A dada altura, o Henrique de Barros dizia: “o senhor Mariano Feio tem bons argumentos a favor do montado, mas na sua herdade rega”. E era verdade. Em estudos independentes e internacionais o Alentejo teria 4%, 5%, 6%, 7%, 10% de terras abandonadas, apenas.

Há levantamentos feitos pelos serviços do Estado, que depois são marginalizados, sobre o que é que está abandonado, e é quase nada.
Chegou a fazer-se uma lista, a dizer: as herdades x e y estão subaproveitadas. Mas isso são 5% ou 10%. Simplesmente criou-se a mitologia de que o Alentejo estava abandonado, que o montado era um abandono, mas não. Para que serve o montado? Para os ricos irem viver para os casinos em Lisboa e sacarem o dinheiro da cortiça de nove em nove anos.

.......................................... (tive de cortar, porque chega quase aos 40.000 caracteres)

http://observador.pt/especiais/antonio-barreto-o-pcp-percebeu-ha-dois-ou-tres-anos-que-era-agora-ou-nunca/

Uma entrevista interessante de um ex-político e que não tem qualquer problema em criticar a Geringonça, mas fundamentalmente com uma visão do país e do mundo muito acima da média.
 
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