Portugal reforça força de combate na República Centro-AfricanaAs Nações Unidas já autorizaram Portugal a reforçar o contingente militar português na República Centro-Africana (RCA) com mais 20 militares e seis viaturas blindadas Pandur, soube o
DN.
O porta-voz do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), comandante Coelho Dias, confirmou que a informação chegou na sexta-feira à noite e que os 20 militares - das guarnições das viaturas e para a área das informações - vão partir rapidamente para Bangui.
Mais demorado será o envio das viaturas Pandur, de oito rodas, pois vai ser necessário negociar com a ONU qual a melhor forma de as projetar - via aérea ou marítima - para o teatro de operações, adiantou Coelho Dias.
Este reforço do contingente português na RCA foi aprovado em julho pelo Conselho Superior de Defesa Nacional (CSDN), mas a sua concretização estava dependente da ONU porque esta organização financia parte das despesas e da presença das tropas no terreno - além de ter um limite máximo de pessoal autorizado a estar no terreno.
Na base da proposta militar esteve a manutenção da conflitualidade elevada por parte dos grupos armados em vários pontos da RCA, onde a força portuguesa - agora de paraquedistas - atua como força de reserva do comandante da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA), o tenente-general senegalês Balla Keita.
Flagelação com armas ligeiras e lançamento de granadas de mão ofensivas contra as forças da ONU têm sido uma constante na RCA, pelo que a atividade operacional dos militares portugueses tem sido intensa e com o inerente desgaste das viaturas.
As seis Pandur, além de reforçarem as viaturas Humvee em uso na RCA desde o início da missão (2017) ao nível do transporte e do poder de fogo, vão oferecer agora uma nova capacidade: retirar militares feridos do terreno de forma rápida, segura e no decorrer da própria operação, destacaram fontes militares ao DN.
"Com os Humvee não é possível extrair feridos" do local porque essas viaturas não têm espaço interior para o efeito, explicou um oficial.
Além dessa Pandur ambulância, vai ser enviada uma viatura para reboque e reparação, duas para transporte de tropas e outas duas equipadas com uma metralhadora pesada de 12,7 mm operada por controlo remoto (a partir do seu interior) - todas, à exceção da Pandur oficina, com placas adicionais de blindagem para proteção balística e antiminas.
As Pandur, pintadas de branco e com as letras UN em destaque, já foram usadas durante a fase de aprontamento do atual contingente de paraquedistas que chegou à RCA em meados de setembro, a exemplo dos militares que vão reforçar a componente das informações.
Os portugueses atuam na RCA como Força de Reação Rápida (FRR) do comandante da MINUSCA, cujo segundo-comandante é, desde setembro, o major-general português Marco Serronha (Exército).
Por outro lado, vão regressar a Portugal os jipes abertos com metralhadoras - levados pelos Comandos -, porque essas viaturas não oferecem qualquer tipo de proteção aos militares no seu interior, adiantaram as fontes.
Condições pioram no terrenoO reforço da Força Nacional Destacada (FND) na RCA, que passa a ter 179 efetivos, ocorre poucas semanas antes da visita a Portugal do representante especial do secretário-geral da ONU na RCA, Parfait Onanga-Anyanga, para encontros com as autoridades nacionais.
No terreno, onde o clima de instabilidade tem exigido a intervenção das tropas paraquedistas em operações de combate na cidade de Bambari (no centro da RCA), os confrontos - maioritariamente entre grupos armados de Selekas e Antibalakas - estenderam-se também no início deste mês às localidades de Batangafo (norte) e a Zémio (sudeste), levando milhares de civis a fugir.
A situação social também tende a piorar: segundo alertou há dias o Programa Alimentar Mundial (PAM), das Nações Unidas, "a deterioração contínua de uma situação já extremamente grave no terreno tem uma implicação direta sobre a segurança alimentar".
Com 60% dos 620 mil deslocados na RCA a viver em famílias de acolhimento, dois milhões dos 4,6 milhões de habitantes do país precisam de uma "ação alimentar urgente", alertou o PAM.
Aliás, o seu último estudo sobre segurança alimentar no país - apresentado em setembro - revelou "os piores resultados desde 2014, com 1,9 milhões de pessoas a precisarem de uma ação alimentar urgente", de acordo com o porta-voz do PAM, Hervé Verhoosel.
É neste contexto que, em março de 2019, chegará à RCA o 5.º contingente de tropas portuguesas assente numa força do Regimento de Comandos que já iniciou a fase de aprontamento e onde se incluem alguns controladores aéreos táticos da Força Aérea.
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/12-nov-2018/interior/portugal-reforca-forca-de-combate-na-republica-centro-africana-10163463.html?fbclid=IwAR393twWpsbEJ1aqWVczyEde-OX9w7FCMlRHkCWTgBVl1d-J72pY3fpj2gs