Reaberto dossier de japoneses raptados por norte-coreanos
A Coreia do Norte aceitou reabrir o delicado dossier sobre os japoneses raptados nos anos 70 e 80 para treinarem espiões norte-coreanos. Em contrapartida o Japão prometeu levantar várias sanções contra o regime comunista.
Ao final da tarde de hoje, o Primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, anunciou solenemente o desbloqueamento do dossier que envenena as relações entre os dois países há décadas. Na sequência disso, o ministro porta-voz do Governo nipónico, Yoshihide Suga, anunciou que Tóquio irá retirar um certo número de sanções contra a Coreia do Norte a partir do início efetivo dos inquéritos prometidos por Pyongyang sobre o dossier. Suga especificou que a Coreia do Norte prometeu constituir a sua comissão de inquérito "daqui a três semanas".
Estas declarações surgem após três dias de discussões entre os dois países, na Suécia, centradas nos japoneses raptados em plena guerra fria para formar espiões norte-coreanos na língua e costumes japoneses.
"Na sequência das discussões (bilaterais), a Coreia do Norte prometeu conduzir um inquérito exaustivo sobre o caso dos japoneses raptados ou desaparecidos, em relação aos quais não podemos excluir que também tenham sido raptados", declarou Abe à imprensa.
"A nossa missão não estará terminada até ao dia em que as famílias de todas as pessoas raptadas tiverem a possibilidade de segurar os seus filhos nos braços", continuou o Primeiro-ministro, esperando desta vez por "uma solução completa" deste dossier, que impede os dois países de estabelecerem relações diplomáticas.
Em relação ao levantamento de certas sanções, o secretário-geral do Governo japonês esclareceu: "Assim que a Coreia do Norte tiver lançado a comissão especial de inquérito, o Japão decidiu levantar as restrições de viagens, a obrigação de se apresentarem às autoridades para controles, ou ainda àquelas que visam a transferência de dinheiro. O Japão decidiu também retirar a interdição de os navios registados na Coreia do Norte entrarem nos portos japoneses por razões humanitárias". Na última segunda-feira, a Coreia do Norte e o Japão haviam terminado os três dias de conversações num hotel em Estocolmo. As duas delegações, cada uma composta por oito pessoas, tinha como missão principal tentar desbloquear este delicado dossier dos homens raptados e desaparecidos.
Tóquio nunca considerou estes raptos como um assunto fechado e há anos que faz dele uma condição sine qua non para uma eventual normalização das relações com a Coreia do Norte. Todavia, a Coreia do Norte considerou até aqui que a questão dos raptos, de 13 pessoas segunda o país, tinha já sido resolvida com o regresso ao Japão de cinco detidos e o anúncio que os outros oito estavam mortos. Mas Tóquio, que se refere a pelo menos 17 raptados, nunca se deu por satisfeito com as explicações dadas, segundo o japão, sem prova alguma.
As negociações na Suécia, país que tem relações com a Coreia do Norte desde 1973, representa os interesses consulares americanos e é tido como um país neutro tanto por Tóquio como por Pyongyang, focaram também o programa nuclear norte-coreano, um assunto que gera grande inquietação ao Japão, país a que a Coreia do Norte tinha, no passado, prometido "fogo nuclear".
"Também pedimos à Coreia do Norte de se abster de qualquer ação, como o desenvolvimento de mísseis ou de armas nucleares, que fazem crescer a tensão na península coreana", declarou na quarta-feira o chefe da delegação japonesa, Yoshihide Suga, no final das discussões.
DN