A nação do mar

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dremanu

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A nação do mar
« em: Novembro 21, 2004, 09:33:58 pm »
Até que enfim alguém fala do óbvio. Será que alguém vai prestar atenção???

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Do Expresso

A nação do mar

O alargamento da UE a 25 países coloca Portugal perante um dilema - a União Europeia está cada vez mais continental e o nosso país cada vez mais periférico. O clube europeu ganhou novos Estados-membros com um nível de desenvolvimento semelhante ou superior ao nosso e outros que ambicionam lá chegar rapidamente, porque têm vantagens competitivas na geografia, na cultura de organização, no ambiente empresarial, no nível de educação e qualificação dos seus cidadãos. E a pergunta é inevitável: o que pode Portugal oferecer de diferente aos outros 24 parceiros comunitários que seja uma mais-valia para a UE?
 
Mesmo em actividades económicas onde somos mais fortes - o turismo, a indústria automóvel, o vestuário e calçado, a fileira florestal - a concorrência dos nossos parceiros mediterrânicos e da Europa central está a criar-nos crescentes dificuldades porque, em muitos casos, produzimos e oferecemos no mercado internacional o que os outros produzem e oferecem.
 
E, no entanto, temos bem à nossa frente, ao longo dos 800 km de costa, um recurso natural de enormes potencialidades, escasso na Europa continental mas abundante entre nós: o mar. É um recurso desprezado que nos liga a África, ao Brasil, à América Latina, aos EUA, e que pode ser uma das alavancas para nos tirar da periferia e nos tornar centrais na estratégia de afirmação da UE no mundo, em especial na sua vertente atlântica.
 
Megalomania? Talvez não. Algumas condições de partida parecem excelentes:
 
- Na geoestratégia, porque Portugal tem a maior Zona Económica Exclusiva (ZEE) da UE e a quinta maior do mundo, graças à sua grande frente atlântica, aos arquipélagos dos Açores e da Madeira.
 
- Na ciência e tecnologia, porque os mares dos Açores são considerados um dos laboratórios marinhos naturais mais ricos e diversificados do mundo, e a nossa vasta plataforma continental oceânica tem imensas riquezas minerais por explorar.
 
- Nos transportes, comunicações e turismo, porque as principais rotas marítimas internacionais - de mercadorias, passageiros e náutica de recreio - passam ao largo da sua costa.
 
- No seu passado, porque Portugal foi «o primeiro poder global da História» - como disse recentemente ao EXPRESSO o académico norte-americano George Modelski, da Universidade de Washington -, graças à criação de um sistema global de frotas, bases, alianças e rotas de comércio marítimo; à liderança política global deste processo; e à organização do projecto colectivo das Descobertas.
 
Mas, tal como no passado, «só mobilizando a opinião pública e transformando os oceanos num projecto nacional conseguiremos ser bem sucedidos», afirma Mário Ruivo, presidente do Comité Português para a Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO. E este desígnio «requer persistência, tempo e continuidade». Foi por falta destas qualidades que sectores como as pescas, os transportes marítimos e a construção naval entraram em decadência nas últimas décadas. E pela ausência de uma aposta no desenvolvimento sustentável que se chegou ao actual desastre ecológico da orla costeira.
 
«Ficámos admirados com o distanciamento dos portugueses em relação ao mar», conta Tiago de Pitta e Cunha. O jurista e coordenador da Comissão Estratégica dos Oceanos, que apresentou publicamente esta semana o seu relatório final, diz que «noestrangeiro a imagem de Portugal associada ao mar é imediata e natural. Isso é um valor e temos que tirar partido dele».
"Esta é a ditosa pátria minha amada."