Exército: blindados holandeses ‘Leopard 2’ debaixo de olho
À PROCURA DE NOVOS TANQUES
Com o Exército a marchar para a reestruturação a grande questão agora são os números, os custos da transformação de uma força. E um dos objectivos é dotar a Brigada Mecanizada de uma força pequena mas credível, que permita manter a chamada ‘escola de armas combinadas’ de Santa Margarida. O maior problema é a falta de efectivos mas a situação do material também preocupa, em particular os carros de combate.
Carlos Ferreira
Daí que esteja a haver contactos entre Portugal e a Holanda para a cedência de blindados ‘Leopard 2’, uma vez que este país reduziu no seu Exército as brigadas mecanizadas de três para duas. O efectivo de 186 carros desceu assim para 110.
EXCEDENTE
A Holanda vai extinguir uma das suas três brigadas mecanizadas, o que cria um excedente de 76 carros de combate ‘Leopard 2’ – de 186 para 110 – e parece ser para estes veículos que Portugal vira as suas atenções, se bem que o Governo holandês encare negociações com a Noruega para a cedência dos veículos, por troca de outro equipamento, segundo o documento da reestruturação das Forças Armadas produzido pelo Ministério da Defesa holandês.
Aliás, Portugal já sondou também a Holanda para efeitos de aquisição de aviões P-3. Os custos não são conhecidos, nem as condições em que o negócio poderá ser feito ou o seu enquadramento na Lei de Programação Militar, mas o preço teórico de um ‘Leopard 2’ poderá rondar 1,4 milhões de euros (700 mil contos).
O eventual interesse português surge associado a uma renovação muito parcial da Brigada Mecanizada Independente – no âmbito mais vasto da reestruturação do Exército – uma vez que os números apontados referem apenas a necessidade de 20 blindados, os suficientes para constituir um esquadrão de carros e um esquadrão de reconhecimento.
M-60 A3 SUBSTITUÍDOS
Estas subunidades serão agregadas a um batalhão mecanizado, com viaturas M-113 (também à espera de modernização ou substituição), para constituir um agrupamento mecanizado, que pode congregar entre 400 e 600 homens.
Os ‘Leopard 2’ – a virem para Portugal – deverão substituir igual número de M-60 A3, cujo processo de modernização parece ter sido assim abandonado, mas se bem que possa constituir uma lufada de ar fresco para a BMI, levanta, no entanto, dúvidas a nível de manutenção e de logística, uma vez que os dois carros são completamente diferentes. Há mesmo receios de que a necessidade de criação de duas linhas paralelas de manutenção e logística, por um lado, e de instrução, por outro, possa agravar a situação da BMI, com consequências também nos custos de operação.
São números que, no seu conjunto, são bem mais modestos que os preconizados pela meta do Exército, que aponta para a BMI um número da ordem dos quatro mil homens em termos de efectivo, mas há alguma urgência em manter a imagem da BMI como ‘escola de armas combinadas’, conceito de que o projecto de reestruturação do Exército não abdica e que terá que ser necessariamente conjugado com os custos de manter uma grande unidade mecanizada.
BAI REDUZIDA
Mais segura mantém-se a intenção de redução em efectivos da Brigada Aerotransportada Independente (BAI) – em termos orgânicos de brigada passa de três mil para dois mil homens – e os comandos abandonam a ideia de batalhão, ao manterem as duas companhias, mas sem um estado-maior.
A ser assim, poderá desaparecer o próprio conceito de brigada, substituído por ‘força’, uma vez que na orgânica são extintos os batalhões de apoio de combate e de apoio e serviços.
FACTOS EM TORNO DA REESTRUTURAÇÃO DO EXÉRCITO
MUDANÇA
A reestruturação do Exército foi apresentada esta quarta-feira pelo general Valença Pinto, Chefe de Estado-Maior do Exército, no Instituto de Altos Estudos Militares, perante os oficiais generais e comandantes do Exército. A reestruturação do ramo terrestre das Forças Armadas está a ser anunciada desde há dois anos.
CONTRATOS
O Exército está autorizado por lei a contratar 12 mil soldados, oficiais, sargentos e praças. O número actual de efectivos ronda os 24 mil homens. É actualmente constituído por três brigadas (Brigada Aerotransportada Independente, Brigada Ligeira de Intervenção e Brigada Mecanizada Indepedente) e unidades de apoio.
EXTINÇÃO
A reestruturação do Exército anunciada por Valença Pinto aponta para a criação de unidades de apoio e serviços comuns à Brigada Aerotransportada Indepentente e à Brigada Ligeira de Intervenção. Aponta-se ainda para a extinção das Regiões Militares e para a distribuição de valências de comando por vários pontos do País.
INTERVENÇÃO
Na ideia de Valença Pinto está a criação de uma força de intervenção rápida que vai congregar dois batalhões de pára-quedistas, um batalhão de apoio aero-terrestre, duas companhias de comandos e elementos de operações especiais. Está ainda prevista a criação orgânica de uma companhia com elementos de patrulhas de longo raio de acção.
Carlos Varela
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Noticia do CM de hoje.