« Responder #51 em: Maio 26, 2004, 10:20:20 am »
DN
Tropas, petróleo e fundos suscitam onda de críticas
CADI FERNANDES
A presença das forças da coligação por um período mínimo de um ano no Iraque, o controlo dos recursos petrolíferos e a gestão dos fundos destinados à reconstrução do país são os principais engulhos no conceito de «soberania total» plasmado por americanos e britânicos no projecto de resolução apresentado na segunda-feira ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A tal ponto que Washington e Londres se chegam a contradizer. O secretário de Estado americano, Colin Powell, assegura que, mesmo após 30 de Junho, data para a transferência de soberania, os militares dos EUA vão continuar a obedecer apenas às ordens do seu comando, o que implica o direito de se defenderem quando se sentirem atacados. Direito com o qual a «estreita cooperação» com o Governo transitório iraquiano não pode interferir.
Ao falar assim, directamente, Powell não foi apanhado de surpresa. Ao contrário do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que, questionado sobre o mesmo assunto, começou por dizer tratar-se de uma «questão difícil», avançou pela perspectiva de que as tropas ficarão sob comando americano e «consentimento» iraquiano, e acabou a reconhecer o «direito de veto» de Bagdad. «A decisão final cabe ao novo Governo iraquiano.» Até porque «é isso que significa a soberania».
Idem para o controlo dos recursos petrolíferos. Relegando o texto anglo-americano para a categoria de «boa base de discussão», o Presidente francês lembrou precisamente ao seu homólogo americano, no telefonema que este lhe fez, que urge definir sem subterfúgios quem controla o quê. O petróleo e a segurança. E nem o facto de se aproximar a passos largos o 60.º aniversário do desembarque dos Aliados na Normandia, que levará Bush a França a 5 e 6 de Junho, inibiu Jacques Chirac de vincar a sua posição. Secundada, a milhares de quilómetros de distância, pelo presidente em exercício do Conselho de Governo transitório iraquiano. Ghazi al-Yauar, para além das reservas que lhe suscita a questão militar, entende que deve ser Bagdad a controlar o petróleo e os fundos internacionais destinados à reconstrução e ao desenvolvimento do país, actualmente sob a alçada americana.
Já a Rússia fica à espera. Não comenta o projecto de resolução antes de ser revelada a composição do novo Governo iraquiano.
EXPLOSÃO. No terreno, já caem obuses sobre mausoléus. Aconteceu ontem em Najaf: a queda do projéctil, cuja origem - americana ou das milícias - ainda é desconhecida, causou a morte de sete pessoas e danificou a parte superior de uma das portas, cobertas de ouro, do mausoléu onde se encontra o túmulo do imã Ali, um dos principais locais santos para os xiitas.
Em Kerbala, soldados americanos dinamitaram o que restava da mesquita de Al-Mokhayam, depois de a terem praticamente destruído em combates com as milícias.