Engesa EE-11 Urutu

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Vitor Santos

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Engesa EE-11 Urutu
« em: Julho 23, 2019, 08:29:07 pm »
Viatura Blindada de Transporte de Pessoal EE-11 Urutu (EE-11 Urutu)


História e Desenvolvimento

A história do EE-11 Urutu e toda a família de blindados e veículos militares nacionais tem sua gênese em 1958 com a fundação da  ENGESA (Engenheiros Especializados S/A) empresa que foi  criada por José Luiz Whitaker Ribeiro, a trajetória desta organização é o da obra de um empresário altamente dotado de inteligência, bagagem técnica e cultural, acurada visão de futuro e aptidão para selecionar valores humanos e que levou uma modesta firma de fabricação de componentes para exploração petroleira a se transformar num complexo industrial-militar, o qual disputou mercados com os maiores e mais tradicionais produtores de armamentos de alta tecnologia mundiais. Em fins da década de 1960 um dos seus principais clientes era a Petrobras, estatal que havia contrato a Engesa para o fornecimento de componentes para a exploração de petróleo. Ao ter seus caminhões enfrentando estradas de terra e barro para chegarem ao destino no litoral, desenvolveu, “de motu próprio”, uma caixa de transferência com tração total, aplicada com sucesso em seus veículos nacionais. Neste mês período o estavam em  estudo desenvolvimento no Parque Regional de Motomecanização, da 2ª Região Militar (PqRMM/2), dos primeiros veículos blindados com tração 6X6. A especialização e grande capacidade técnica da Engesa não passara despercebida aos olhos do comando do Exército Brasileiro, resultando assim em um convite formal da empresa para participar do desenvolvimento destes novos projetos de cunho estratégico. Como citado, no início da década de 1970 O Parque Regional de Motomecanização da Segunda Região Militar de São Paulo estava focado prioritariamente no projeto da VBB-2 (Viatura Blindada Brasileira 2), veículo este destinado a substituir os já obsoletos Ford M8 Greyhound, porém paralelamente dedicava esforços ao desenvolvimento de um Carro de Transporte de Tropas Anfíbio (CTTA).

Este novo carros visava despertar o interesse do exército em um provável substituto para os antigos meia lagartas M2, M2A1, M3, M3A1 e M5 Carros Blindados de Transporte de Tropas. Os trabalhos foram iniciados com a construção de um mock up em escala 1:1, prevendo um carro de tração 6X6 a exemplo do VBB-2, porém  análises preliminares invalidaram o projeto conforme fora aprovado anteriormente, pois este carro apesar de almejar o exército também atenderia  a uma demanda prioritária da Marinha do Brasil que neste momento buscava um substituto para os antigos caminhões anfíbios GMC DUWK adquiridos em fins da década de 1960 destinado ao transporte de tropas no Corpo de Fuzileiros Navais. Com as premissas revistas, este novo projeto receberia a designação de Carro de Transporte sobre Rodas Anfíbio (CTRA). Seu primeiro protótipo foi completo em maio de 1971, e se tratava se um veículo 6x6 transporte de pessoal, dotado de duas camadas de blindagem, sendo a externa é composta de aço duro, e a armadura interna apresentando maior viscosidade. Ainda na intenção de proteger os ocupantes optou-se pela instalação do motor na parte frontal, visando assim proteção passiva.  A frente do casco estava preparada para absorver impactos de munições perfurantes, com as demais partes protegidas contra projéteis de armas leves, estilhaços de minas e fragmentos de artilharia, estava ainda equipado com  quatro snorkels rebatíveis para operação no mar garantindo o suprimento de ar para os ocupantes e davam vazão aos gases do escapamento, contavam ainda com hélices na traseira para facilitar a manobrabilidade na água e apresentavam capacidade de transporte de 12 a 14 soldados totalmente equipados, além da tripulação.


O modelo fora projetado para desenvolver alto desempenho em terra e na água, com um sistema de tração total, ou seja, possibilidade de tração 6x4, 6x6 e bloqueio do diferencial traseiro, este montado com um sistema de boomerang, e suspensão dianteira independente. Este tipo de suspensão, tanto traseira como dianteira, permite a Engesa EE-11 Urutu enfrentar terrenos de difícil deslocamento. Curiosamente este primeiro modelo a tração na água se dava apenas pela movimentação das seis rodas.  Entre 1971 e 1972 o primeiro protótipo entregue ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil foi exaustivamente testado, com algumas alterações do projeto sendo demandas, com a aplicação destas foi gerado o primeiro contrato de fornecimento para a Marinha do Brasil, com as primeiras unidades sendo entregues em 1974. Os primeiros contratos de exportação foram celebrados logo em seguida com 40 unidades vendidas para a Líbia, e 37 carros para o exército chileno.  Sua versátil plataforma possibilitou a Engesa a oferecer o veículo nas versões porta morteiro, apoio de fogo, oficina, antimotim, ambulância, carro comando e antiaéreo. Dentre estas destaca se a variante Uruvel, que dispunha de um canhão de 90 mm montado na mesma torre do EE-9 Cascavel, inicialmente seu casco recebeu uma configuração frontal em forma de quilha, conceito abandonado posteriormente com o retorno ao casco normal, este modelo foi submetido a diversas concorrências internacionais, no entanto só logrando êxito em um contrato de fornecimento de 12 carros para o Exército da Tunísia.

O Uravel denominado “Hydracobra”, chegou a participar de uma concorrência para as forças armadas do Canadá e disputou uma licitação do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha dos Estados Unidos (US Marines), mas infelizmente não foi escolhido. O Segundo protótipo do Uruvel foi severamente avariado em uma demonstração na Malásia. Como era algo inédito, este teste provocou grande preocupação entre os engenheiros da Engesa, mas foi um sucesso. Sua blindagem foi avaliada com tiros reais de armas leves (calibre 5,56m 7,62 mm) disparados a distancias curtas de 30 metros e 100 metros. Outra versão testada ao extremo foi um M7, fabricado em 1985 e que estava equipado com redutores planetários nas rodas, foi enviado para a Índia. Percorreu trilhas com até um metro de neve, a 5.359 metros de altitude e sob uma temperatura de 10º C negativos, nas montanhas de Tanglang La. A seguir, no lago Tso Moriri, navegou a 4.500 metros de altitude e enfrentou temperatura de 18º C negativos. Alguns destes protótipos de testes foram preservados pela Engesa e, após a falência, um deles acabou sendo adquirido ( em meio a um grande estoque de veículos e componentes da extinta fabrica de São José dos Campos) pela empresa Universal, que ainda o mantém em sua sede na cidade do Rio de Janeiro – RJ.


O emprego do mesmo sistema de suspensão “boomerang” e diversos componentes mecânicos comuns ao EE-9 Cascavel simplificava em muito a logística de peças de reposição, sendo este um atributo positivo que atraiu o interesse de uma grande gama de países já usuários do carro de reconhecimento da Engesa.  Ao todo entre 1973 e 1983 foram produzidas 888 unidades  do EE-11 Urutu, que foram dispostas em 12 versões, com exportações realizadas para as forças armadas de Angola, Bolívia, Chile, Colômbia, Emirados Árabes Unidos, Equador, Gabão, Iraque, Jordânia, Líbia, Paraguai, Suriname, Tunísia, Venezuela e Zimbábue. A grande maioria destes carros ainda se encontra em operação e sucessivos processos de repotencialização e modernização implementados por diversas empresas irão garantir seu emprego por mais duas décadas no século XXI.

Emprego no Brasil

O Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil começou a receber suas primeiras unidades do contrato de seis EE-11 Urutu em fins de 1973, com os carros sendo postos em serviço no ano seguinte junto ao Batalhão de Transporte Motorizado (BtlTrnpMtz). No entando este processo de implementação se mostrou tortuoso principalmente pela não padronização dos veículos recebidos, isto em função de não serem produzidos em série.  Desta maneira seu emprego operacional apresentou muitos problemas, apesar de serem importantes para construção da doutrina operacional de transporte blindado anfíbio os EE-11 Urutu foram rapidamente desativados do CFN em 1986 sendo complemente substituídos pelos novos M113 recebidos a partir de 1976, mais adequados para desembarque anfíbio por se tratar de veículos de esteiras. A versão da marinha se distinguia do projeto original por possuir tubos rebatíveis nos flancos da carroceria, que quando levantados, asseguravam o suprimento de ar aos tripulantes, serviam ainda como snorkel ao motor e davam vazão aos gases dos escapamentos. A problemática apresentada na operação do veículo no Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, levou a Engesa a proceder uma série de melhorias no projeto original criando assim a versão Modelo 2 Série 1 que receberia em 1974 o primeiro contrato de fornecimento para o Exército Brasileiro. Esta encomenda contemplava a aquisição de 40 unidades que passaram a ser entregues a partir de 1977, começando a substituir os carros blindados de transporte de tropas meia lagarta M2, M2A1, M3, M3A1 e M5 que ainda se encontravam em serviço.

Os primeiros EE-11 Urutu M2 Série 1 começaram a ser recebidos a partir do ano seguinte e apresentavam 6,15 m de comprimento, 2,65 m de largura, 2,20 de altura com um peso vazio na ordem de 11 toneladas, podendo atingir 95 km/h em estradas e 2,5 km/h em águas calmas. Nesta versão a tração na água se dava apenas pela movimentação das seis rodas, no entanto este sistema se mostrou insatisfatório em operações na agua, levando a devolução de todo o lote de veículos a Engesa que procedeu a aplicação do kit de marinização do Urutu, com a adoção de hélices e lemes a exemplo dos carros adquiridos pelo Corpo de Fuzileiros Navais. A este se seguiram mais dois contratos envolvendo a aquisição de 45 unidades da versão Modelo 2 Série 2 em 1977 e 60 carros da versão Modelo 2 Série 5 em 1977 que passaram a contar com um redesenho do casco e por último mais 10 veículos das versões Modelo 2 Série 6 em 1980.  A partir de 1982 uma nova versão aprimorada o Modelo 5 Série 3 equipada com freios a disco e cambio automatico Alisson AT-545 começou a ser recebida totalizando 20 carros, sendo seguido em 1988 por mais 45 unidades agora da versão Modelo 6 Série 4 e por fim quatro unidades das versões Modelo 8 Série no ano de 1989. Além da versão básica de transporte de tropas foram adquiridos em menor número alguns veículos na versão comando e socorro, sendo este último dotado com um guindaste hidraulico . Em 2006 foram incorporadas seis unidades novas que estavam armazenadas pela empresa Universal Ltda que eram oriundas da massa falida da Engesa, elevando para 230 a quantidade de carros recebidos.


Além de equipar os Regimentos e Esquadrões de Calavaria Mecanizados, os Urutu foram empregados em situações reais de combate quando deslocados para participação nas missões de paz da ONU em Moçambique e Angola na década de 1990, os os EE-11 tiveram destacada atuação nos 13 anos em que as forças armadas brasileiras estiveram comprometidas na força de paz da ONU no Haiti na missão MINUSTAH. O emprego do carro da Engesa em um cenário de combate urbano descortinou a necessidade de algumas adaptações, como a inclusão de uma torre blindada para o operador da metralhadora e motorista, pelo menos dois Urutu receberam uma lâmina frontal do tipo buldozer, hidráulica, cujo trabalho foi realizado pela Centigon Blindagens do Brasil Ltda dentro do próprio Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP). Mesmo assim verificou se que no cenário atual a blindagem original do veículo não oferece a proteção adequada contra munições perfurantes, levando o Corpo de Fuzileiros Navais a deslocar algumas unidades dos MOVAG Piranha para o emprego em áreas de maior risco. Ao longo dos últimos 20 anos diversos processos de repotenciamento foram conduzidos pelo Arsenal de Guerra de São Paulo e por empresas privadas visando a manutenção de aceitáveis níveis de operacionalidade dos EE-11 Urutu.

Ao longo de sua fabricação, a VBTP EE-11 Urutu sofreu algumas modificações, sejam mecânicas ou estruturais. A primeira versão, era dotada de um sistema eletropneumático responsável pelo acionamento mecânico da tração dianteira, reduzida, bloqueio do diferencial traseiro, bomba de porão, pressurização da transmissão e sistema de navegação. Estes sistemas são de ordem vital para o bom funcionamento do veículo, assim a partir de 2005 um complexo estudo foi elaborado pela equipe técnica do Parque Regional de Manutenção da 3ª Região Militar (PqRMnt/3), visando assim visando minimizar falhas e diminuir os custos com a manutenção da viatura. Com base em um veículo recebido na unidade verificou-se que boa parte apresentava os seguintes sistemas danificados: caixa de transferência e redução com engrenagens quebradas, engrenagens do boomerang quebradas, semi-árvores da tração traseira quebradas, diferenciais danificados, conjunto de acionamento eletropneumático danificados, entre outras avarias na viatura. Das análises feitas, foi observado que os interruptores elétricos responsáveis pelo acionamento elétrico dos solenóides e estes responsáveis em mudar o sentido dos diversos atuadores da viatura URUTU, criavam uma oxidação e esta vinha a fechar o contato de acionamento involuntário de um determinado sistema, quando em movimento, danificando um determinado sistema. Também, boa parte dos solenoides elétricos, estavam com seu dispositivo de acionamento interno emperrado, devido à umidade e, assim acabavam provocando vazamento de ar, quando algum sistema era acionado. Os interruptores do painel localizavam-se em posição muito próxima da direção, tornando-os vulneráveis ao acionamento involuntário por parte do motorista. A resolução deste problemas foi efetivada com a incorporação de um sistema de acionamento mais simples, composto por um painel com válvulas de controle direcional de fluxo de ar, tubulações flexíveis e engates rápidos nos atuadores, desta forma, tornou-se um sistema mais operacional, mais acessível para as atividades de manutenção, maior confiabilidade e fácil aquisição de peças, eliminando-se os interruptores elétricos, válvulas solenoides, fiação elétrica.


Entre os anos de 2013 e 2014 o Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) em conjunto com a empresa carioca Universal S/A desenvolveu o Projeto Urutu Ambulância, com o objetivo de modernizar os veículos Urutu mais antigos do Modelo 2 transformando em Urutu Modelo 6 "Plus". O protótipo desta nova versão foi todo montado no AGSP com base em uma carcaça zero quilômetro que se encontrava em estoque da empresa, sem qualquer componente interno, que pertencia ao espólio da Engesa. Além de estar equipada com todo o aparato médico este modelo especiliazado dispõe caixa blindada com vidros à prova de balas para o motorista melhorando a visibilidade para condução em campo de batalha, com base neste protótipo foram convertidos mais 18 carros do Modelo 2. Soluções como esta aliadas ao processo de recuperação de viaturas em curso no Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP)  visam estender a vida útil dos Engesa EE-11 Urutu até a sua total substituição pelos novos veículos blindados de transporte de tropa nacionais Iveco Guarani que se encontram atualmente em processo de recebimento no Exército Brasileiro. Este processo levaria ainda no ano de 2018 a cessão de pelo menos três  EE-11 para a Policia Militar do Rio de Janeiro a fim de serem empregados pelo Batalhão de Operações Policiais Especiais, o BOPE, sendo estes veículos operados anteriormente na operação MINUSTAH (Haiti) e posteriormente repatriados. esses carros apresentam uma capacidade de proteção balística bem maior que um EE-11 Urutu standard.

FONTE: https://www.armasnacionais.com/search?updated-max=2019-05-25T11:07:00-03:00&max-results=1&start=2&by-date=false
« Última modificação: Julho 23, 2019, 08:30:23 pm por Vitor Santos »
 

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Re: Engesa EE-11 Urutu
« Responder #1 em: Julho 23, 2019, 08:40:15 pm »




 

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Re: Engesa EE-11 Urutu
« Responder #2 em: Julho 23, 2019, 08:49:25 pm »