Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

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papatango

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(sem assunto)
« Responder #15 em: Novembro 15, 2004, 12:21:55 pm »
Pois aqui está a minha opinião.

Há no Brasil, e eu conheço o Brasil, essencialmente no que respeita a São Paulo, Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais, (embora não só) uma quantidade de “ideias feitas” muitas vezes veiculadas por jornalistas que ou nunca foram a Portugal, ou então, foram, mas como não encontraram as diferenças que pensavam encontrar, acabam inventando.

Hoje, o estereotipo do português padeiro, semi-analfabeto, continua a existir, embora na realidade, os emigrantes portugueses no Brasil, tenham na sua maioria dificuldade em identificar Portugal como o país que deixaram, e eu não estou a dizer que isso é uma coisa boa.

Há uns anos atrás, uma familiar minha, (Tia) veio pela primeira vez a Portugal, depois de 35 anos de ausência. Gostou muito, mas não deixei de notar que, embora conhecesse parte dos familiares e as pessoas que ficaram em Portugal, mas que nunca mais tinha visto, não foi capaz de reconhecer quase nenhum marco antigo. Esteve na região onde cresceu, e só conseguiu reconhecer a igreja, que era a mesma. De resto, algumas ruas nas áreas mais antigas e pouco mais. O país que tinha deixado, no fim dos anos 50, não existia. Foi impossível não notar essa nostalgia, tão portuguesa. Enquanto não se volta a Portugal, mantém-se na ideia a memória que se tem. Quando se volta, o inevitável acontece: A nostalgia desaparece com um choque. É como que a aceitação de que um familiar querido, morreu e nunca mais vai voltar.

Quando me dei conta de que:
-Algumas vezes há comentários em jornais brasileiros sobre as diferenças linguísticas, entre Portugal e o Brasil.
-Que quando vemos essas diferenças nós, os portugueses ficamos absolutamente desconcertados, com as palavras que nos põem na boca, fiquei sem entender.

Hoje, não tenho duvidas: A razão pela qual, alguns jornais brasileiros continuam a dar aos seus leitores este tipo de imagem “estereotipo” tem a ver com o facto de compararem o português do Brasil, com o português dos emigrantes portugueses no Brasil, que guardaram religiosamente o léxico das regiões onde viviam antes de emigrar, e que ainda hoje o utilizam. Eles não foram a Portugal. Entrevistaram o padeiro.

Os exemplo:

A água lisa, pode até ser utilizada, em algum lugar de Portugal. Mas basta comprar uma simples garrafinha ou latinha para ver o que lá está escrito.

O Colibri, não é uma ave típica de Portugal. Como é que vamos dar nome a pássaro, quando nem conhecemos o pássaro?
É que não há Beija-flores em Portugal. No Inverno, morreriam todos se vivessem em liberdade..

No Brasil, que inventou o avião e a aeromoça, a comissária veio depois. O ofício contava com hegemonia feminina, mas, quando chegaram os aeromoços, logo foram denominados comissários. Por concordância, irrompeu a comissária.

Então, mas não é “Hospedeira de Bordo ?”.
Em todas as cidades, especialmente em Lisboa, quem varre as ruas não são os garis, são os almeidas
O termo Almeida, está em desuso. Seria estranho que se chamasse “Gari” que não é uma palavra de origem portuguesa. (Curiosamente estive uma vez no nordeste e não ouvi falar de Gari. Eles usavam outro nome, mas não lembro). Hoje não temos Almeidas, temos funcionários dos serviços de limpeza. (é mais fino :mrgreen:

O “Jantar”
Aqui não entendo o que é que o autor do texto pretende provar ou indicar.
O termo Jantar, foi utilizado atá há relativamente pouco tempo, (anos 50) como uma refeição ao inicio da noite, e a qual se distinguia da Ceia, que era tradicionalmente a última refeição da noite.

Ainda hoje, o termo “Jantar de Natal” não substituiu completamente a “Ceia de Natal”, que é uma refeição ao fim da noite.
E Adivinhem?
Ceia de Natal, também existe no Brasil.

Já jantei no Brasil, centenas de vezes, e nunca deixei de comer, em lugar nenhum, nem nunca confundi ninguém, por chamar jantar ao jantar.

O pequeno-almoço vem na mesma tradição. O "café da manhã", não faria sentido em Portugal, onde o café era uma coisa cara. Os pobres, ou seja, a maioria da população não podia sonhar em ter dinheiro para comprar café. Nunca poderia haver em Portugal “café da manhã”. Em Portugal, utilizava-se um termo, hoje completamente esquecido chamado de "mata bicho".

 O Brasileiro médio, só não está habituado ao sotaque português, mas depois de algumas horas, de habituação, (e falo por experiência própria) não tem qualquer dificuldade em entender as palavras, quando se habitua à sonoridade. Isso ocorre porque a língua é a mesma.

A esmagadora maioria das palavras utilizadas no Brasil, (e que os brasileiros utilizam para mostrar as diferenças) também são ou foram utilizadas em Portugal e portanto tanto faz utilizar uma palavra ou outra. Todos nós estamos tão familiarizados com o facto de os nossos pais, e avós, utilizarem palavras diferentes daquelas que nós utilizamos hoje, que comparar palavras para os portugueses não é sinal de diferença, muito pelo contrário.

Há muitas diferenças entre o português falado em Portugal e no Brasil, mas para as conhecer é necessário conhecer Portugal e o Brasil. Não só Lisboa e o Porto, mas também Carrazeda de Ansiães, Estói, Castro Marim, ou o Fundão. Não só o Rio de Janeiro e São Paulo, mas, Moji das Cruzes, São João D’el Rei, Uruguaiana, ou  Aparecida(rj).

Depois de conhecer, fica-se com a ideia de que por cada palavra diferente, há pelo menos mil, que embora faladas com sotaques diferentes, são exactamente iguais.

As diferenças estão, onde os termos das línguas indígenas são utilizados. Em nomes de carros de combate que nos acostumámos a ouvir. Como Cascavel, Urutú, Sucuri e outros de origem africana como Ógum (protótipo). Há ainda nomes de localidades que adoptaram designações indígenas.

Há também as diferenças decorrentes da pressão do inglês. Das mais conhecidas, destaco o mouse do computador, que em Portugal se chama rato, a camiseta, que em Portugal, quase toda a gente apelida de T-Shirt, ou o sinal de PARE, que em Portugal, está por todo o país, com a mesma cor mas com a palavra STOP.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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Paisano

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« Responder #16 em: Novembro 15, 2004, 03:19:04 pm »
papatango, concordo com vc em gênero, número e grau.

Só para dar um exemplo sobre o que vc escreveu: Meu avô saiu de Portugal para o Brasil em 1911, caso ele ainda fosse vivo e retorna-se com certeza acharia estranho o modo de falar dos parentes portugueses.

Aliás, só o modo de falar não, mas também uma série de outras coisas, pois o que ele me contava sobre Portugal em nada bate com que se vê na tv e se lê nos jornais.

E apenas para completar: Dois dos motivos que levaram a família do meu avô sair de Portugal foram a miséria e a completa falta de perspectiva quanto ao futuro.
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Migas

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« Responder #17 em: Maio 16, 2008, 01:32:32 pm »
Parlamento aprova entrada em vigor de Acordo Ortográfico

Citar
A proposta de resolução do Segundo Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico foi aprovada esta sexta-feira no Parlamento, com os votos favoráveis da maioria dos deputados, apesar de alguns votos contra de registo, como o do deputado Manuel Alegre, do PS, o dos populares Nuno Melo e António Carlos Monteiro e ainda o da não inscrita Luísa Mesquita.

Quanto às abstenções, registaram-se as do líder do CDS, Paulo Portas, e dos deputados da sua bancada Abel Baptista e José Paulo Carvalho, assim como dos parlamentares do PCP e dos Verdes.

Este protocolo abre a possibilidade de adesão de Timor ao Acordo Ortográfico, já que na data em que foi assinado ainda não era existia como Estado soberano.

O acordo assinado em São Tomé e Príncipe aponta que o acordo «entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte à data em que três Estados membros da CPLP tenham depositado, junto da República Portuguesa, os respectivos instrumentos de ratificação ou documentos equivalentes que os vinculem ao Protocolo».

No hemiciclo do Palácio de São Bento esteve o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, que salientou a importância deste acordo, por «regular a forma de escrever de uma mesma língua usada por mais de 220 milhões de pessoas». «É preciso compreender que língua portuguesa é de todos os seus utilizadores», disse o governante.

Na defesa deste acordo, a deputada socialista Teresa Portugal realçou que «o português é a única das quatro línguas de relações internacionais que não têm um código ortográfico comum».

O líder da bancada do PSD, Pedro Santana Lopes, também sublinhou neste sentido: «Não podemos ser fixistas nem rigidistas». E disse ser uma «honra» poder votar favoravelmente este acordo.

No registo da oposição a este acordo, o deputado do CDS, Nuno Melo salientou: «Não será pelo acordo, que por cá se vai usar o infinitivo menos, do que lá se usa o gerúndio. Ou que atacador deixará de ser cadarço, apelido, deixará de ser alcunha, assobio deixará de ser silvo, biberão deixará de ser mamadeira, imposto deixará de ser propina, cueca deixará de ser calcinha, ou que gira deixará de ter muita graça».


http://diario.iol.pt/politica/acordo-or ... -4072.html
 

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komet

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« Responder #18 em: Maio 20, 2008, 06:34:05 pm »
Aos Srs. Moderadores, este tópico foi iniciado também aqui http://forumdefesa.com/forum/viewtopic. ... 2&start=90

Para não perdermos o seguimento talvez se pudessem juntar.

Obrigado
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Paisano

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« Responder #19 em: Maio 24, 2008, 04:25:49 am »
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« Responder #20 em: Junho 02, 2008, 10:13:15 am »
Citar
Acordo Ortográfico
Presidente da República recebe signatários do Manifesto «contra»

Um dossier com pareceres «de índole fundamentalmente linguística», alguns dos quais inéditos, vai ser entregue hoje ao Presidente da República, Cavaco Silva, por signatários do Manifesto em defesa da Língua Portuguesa contra o Acordo Ortográfico

Fará a entrega um grupo constituído por Vasco Graça Moura, Jorge Morais Barbosa, Maria Alzira Seixo e António Emiliano. A diligência ocorre precisamente um mês depois da elaboração do Manifesto.

O Manifesto, que circula online e conta já - segundo os seus signatários - mais de 44.000 pessoas, foi anteriormente entregue ao presidente da Assembleia da República, Jaime Gama.

Em declarações à Lusa, Vasco Graça Moura referiu que, entre os pareceres, figuram os elaborados pela Comissão Nacional da Língua Portuguesa (CNALP), entretanto extinta, e pela Associação de Professores de Linguística e um inédito de António Emiliano.

Os signatários pretendem agora que o documento, que cumpriu já os «requisitos legais mínimos» - nomeadamente, o de ter mais de 4.000 assinaturas - seja analisado e discutido na Assembleia da República.

«O nosso Manifesto terá de ser analisado e discutido na Assembleia», disse Graça Moura, esclarecendo que outras acções, designadamente «junto do governo», se seguirão para fazer valer as razões da oposição ao Manifesto.

O Manifesto, que começou por ser uma iniciativa de 19 personalidades da cultura, política e economia, pretende - como argumentam os seus autores - «contribuir com um poderoso movimento de reflexão, apoiado pela opinião pública, sobre os defeitos do Acordo Ortográfico e a necessidade de o bloquear».

Na avaliação dos signatários, o texto do Acordo contém «inúmeras imprecisões, erros e ambiguidades».

O Acordo Ortográfico, que visa unificar a escrita do português, foi alcançado em finais de 1990 e deveria ter entrado em vigor em 1994.

Lusa/SOL


http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Cultur ... t_id=95983
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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papatango

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« Responder #21 em: Junho 02, 2008, 04:40:19 pm »
Duplicação de tópico
A bem da verdade este tópico é mais antigo, mas como foi criado um tópico com pesquisa que entretanto somou muito mais comentários, optei por encerrar este tópico, continhando aqui:

http://forumdefesa.com/forum/viewtopic.php?t=6582&start=90
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